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Os Paulicios

Os Paulicios

                                       Os Paulicios, Paulianistas ou Paulicianos

 

Os Paulicianos um dos mais antigo grupo cristão que se conhece. A falta de dados sobre o seu princípio, e o falso relato e acusações da igreja romana contra eles dificultam uma data exata para o inicio desse movimento.

Um relato interessante é o do professor Wellhausen, na biografia que escreveu sobre Maomé, na Enciclopédia Britânica, XVI, pg 571, pois ali os paulicianos são chamados de "sabian", que é uma palavra árabe que significa "batizador".       

Na enciclopédia acima mencionada diz que os sabianos encheram com seus adeptos, a Siria, a Palestina, e a Babilônia. O motivo de escolherem este lugar de tão difícil acesso é a perseguição movida contra eles pelas igrejas gregas. Enquanto Novacianos e Donatistas eram perseguidos mais pelas igrejas romanas, as igrejas gregas perseguiam os paulicianos no oriente.

Acerca deste movimento, Gibbon diz; “…muitos catolicos foram convertidos…por seus argumentos (Constantino de Mananali, um lider Paulicio); e pregou com muito éxito nas regiões de Pontus e Capadocia, regiões que haviam absorvido a religião de Zoroaster” (Declive e queda do Império Romano, Gibbon, pg. 389). Em 872 houve um massacre militar sobre os paulicios da Armenia; então muitos deles fugiram para os Balcans.

Já os donatistas e novacianos, após a investida de Roma e Constantinopla sobre eles, foram obrigados a se refugiar na região dos Pirineus, sul da Franca. Também os paulicianos a partir do século XI se fixaram nestes lugares. Foi exatamente assim que Deus guardou sua igreja pura e viva, para descobri-la novamente ao mundo e pregar as boas novas.

No primeiro concilio em Nicéia, os Cânons dos 318 bispos reunidos nessa cidade da Bítinia (325 dC); Mostra quão primitivo é esse grupo cristão.

Cânon XIX - Os Paulianistas devem ser rebatizados. Se alguns são clérigos e isentos de culpa devem ser ordenados. Se não parecem isentos de culpa, devem ser depostos. As diaconisas que se desviaram devem ser colocadas entre os leigos, uma vez que não compartilham da ordenação.

A Igreja Católica os acusavam de hereges, maniqueístas e como sempre criavam suas próprias razões para apoiar suas perseguições. Acusava-os de gnósticos e de toda a sorte de perversidade, porém a  verdade é bem outra. Gregório, considerado um dos “Pais da Igreja”, e inimigo dos Paulicianos, escreveu: “não são acusados de perversidade de vida, mas sim de livre pensamento e de não reconhecer autoridade. De uma posição negativa quanto à igreja, eles tomaram uma posição positiva, e começaram a examinar o próprio fundamento, as Escrituras Sagradas, procurando ali um ensino puro, e direção sadia para a sua vida moral” (The Pilgrim Church, pág. 59-60).

As tradições narradas pelos monges da igreja grega, dizem que os paulicianos surgiram na segunda metade do século sétimo, tendo como fundador um tal Constantino. Realmente Constantino, um pastor pauliciano, existiu. Mas era simplesmente um pastor que, em 690 foi morto por apedrejamento. 

Constantino (que mais tarde adotou o sobre nome de Silvano). Este foi convertido no ano de 653, quando passou pela casa dele um armênio que fora prisioneiro dos turcos, fora libertado e estava no caminho de volta para casa. Ele ficou muito grato a Constantino pela hospitalidade e deu-lhe um manuscrito contendo os 4 evangelhos e as epístolas de Paulo. Constantino leu, converteu-se e tornou-se um obreiro incansável. Fixou residência em Quibossa, na Armênia, mas passou a viajar muito para vários lugares ao redor. O resultado deste esforço foi a conversão de muitos católicos e pagãos.

Após trinta anos de trabalho incansável foi Constantino Silvano denunciado a Constantino Pognotus, imperador da parte oriental do Império Romano, o qual emitiu um decreto em 684 determinando a morte daquele fiel servo do Senhor. Um oficial chamado Simeão foi enviado para cumprir o decreto. Este colocou pedras nas mãos dos próprios amigos de Constantino Silvano e determinou que eles executassem o apedrejamento do mestre tão amado, julgando com isto dar um significado especial àquele ato. Todos, porém, com uma única exceção, arriscando as suas próprias vidas, negaram-se a atirar as pedras. Então foi chamado um jovem por nome Justo (que de justo só tinha o nome), que fora criado por Constantino e da parte dele fora agraciado com especial bondade, arremessou uma pedra que atingiu e matou o seu benfeitor, recebendo com isto grande louvor das autoridades. Assim, o falso “Justo” transformou-se em verdadeiro Judas.

Mas este não é o fim da história! Simeão, o oficial responsável por aquele assassinato, ficou tão impressionado pelo que viu em Quibossa, que não teve mais paz de espírito quando voltou à corte do Imperador. Após três anos de intenso conflito íntimo converteu-se a Cristo e abandonou tudo, voltando para Quibossa. Ali mudou o seu nome para Tito e continuou o trabalho iniciado por Constantino. Dentro de pouco tempo, porém, Justo, o mesmo traidor que apedrejara Constantino Silvano entregou-o ao Imperador, juntamente com muitos outros cristãos, o qual mandou que todos fossem queimados vivos, esperando com isto infundir terror a todos quantos pertencessem àquele grupo.

Entretanto, aquela medida produziu efeito contrário! Tal foi a demonstração de fé e coragem daqueles na hora da sua morte, que milhares de outros foram encorajados a continuar ousadamente o trabalho!  Na História de Gibbon, VI, pg 543, Gibbon classifica o paulicianismo como a forma primitiva do cristianismo: “De Antioquia e Palmira, deve ter sido espalhada a Mesopotâmia e a Pérsia; e foi nestas regiões que se formou a base da fé, que se espalhou desde as cordilheiras do Tauro até o monte Arará”. Foi esta a forma primitiva do Cristianismo. Estas igrejas se espalhavam na Ásia e na Armênia até além do Eufrates. The Pilgrim Church comenta que eram “igrejas de crentes batizados, discípulos do Senhor Jesus Cristo, que guardavam a doutrina dos apóstolos, num testemunho ininterrupto desde o começo” (pág. 44).

Capitolo V, pg 386, diz ele: "O nome pauliciano, dizem os seus inimigos que se deriva de algum líder desconhecido; mas tenho certeza de que os paulicianos se gloriaram da sua afinidade com o apóstolo aos gentios". No livro A Chave da Verdade, escrito pelos próprios paulicianos, citado por Gregório Magistos no décimo primeiro século, e descoberto pelo Sr. Fred C. Conybeare, de Oxford, em 1891, na Biblioteca do Santo Sínodo, em Edjmiatzin da Armênia, afirma nas páginas 76-77 que são de origem apostólica:

“Submetamo-nos então humildemente à Santa igreja universal, e sigamos o seu exemplo, que, agindo com uma só orientação e uma só fé, nos ensinou. Pois ainda recebemos no tempo oportuno o santo e precioso mistério do nosso Senhor Jesus Cristo e do pai celestial: a saber, que no tempo de arrependimento e fé.

Assim como aprendemos do Senhor do universo e da igreja apostólica, prossigamos; e firmemos em fé verdadeira aqueles que não receberam o santo batismo (na margem: a saber, os latinos, os gregos e armênios que nunca foram batizados); como assim nunca provaram do corpo nem beberam do santo sangue do nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, de acordo com a Palavra do Senhor, devemos trazê-los a fé, induzi-los ao arrependimento, e dar-lhes o batismo”.

Fica claro que eles não se denominavam paulicianos, porém, "A Igreja Santa, Universal e Apostólica". Esses irmãos não aceitavam nenhum nome sectário e chamavam-se uns aos outros simplesmente de irmãos ou cristãos. Contentavam-se em fazer parte da “santa, universal e apostólica igreja de nosso Senhor Jesus Cristo”. Cada igreja era autônoma, diretamente responsável ao Senhor Jesus.

Recusaram-se a manter comunhão com as igrejas romana, grega e armênia por causa da infidelidade delas. Afirmaram que elas não tinham mais o direito de serem reconhecidas como igrejas verdadeiras e apresentaram várias razões nas quais fundamentaram o seu posicionamento.

1.     A união das igrejas com o estado.

2. O “batismo” de crianças.

     3. A permissão da participação de descrentes na Ceia do Senhor.

Esse movimento espiritual continuou por centenas de anos. Quase toda a sua literatura foi destruída, mas permaneceu um livro chamado “A Chave da Verdade”, publicado entre os séculos 7 e 9, o qual apresenta as crenças dos Paulícios de Thonrak daquela época. Apresentamos, abaixo alguns pontos de interesse:


1. O baptismo deve ser ministrado apenas a crentes verdadeiros.

2. Deve ser realizado em rios ou outra água, ao ar livre.

3. O batizando deve ajoelhar-se na água e confessar a sua fé perante o povo.

4. O batizador deve ser um homem moralmente irrepreensível.

5. A reunião do batismo deve ser acompanhada pela leitura da Palavra e pela oração.

Uma última palavra deve ser dita sobre o único livro importante que sobreviveu dos paulicianos, chamado “A Chave da Verdade”. Foi descoberto no final do século 19. Trata-se de uma série de conselhos, escritos para as igrejas por um autor desconhecido. Embora seus ensinos não devem ser tomadas como um credo dogmático, são, em geral, uma clara exposição de sua fé e prática. Eles resistiam ao batismo de crianças e declaravam que estes devem ser criados por seus pais na fé e na piedade segundo o conselho dos anciões da igreja. Isto deve ser acompanhado por orações e a leitura da Escritura.

Também, ao falar sobre a ordenação de anciões, declara que estes devem ser de perfeita sabedoria, amor, prudência, gentileza, humildade, coragem e eloquência. Devia perguntar-lhes se estavam dispostos a beber do cálice do Senhor e ser batizados com o seu batismo, e sua resposta devia ser uma clara demonstração dos perigos que estes homens deviam enfrentar por causa do Senhor e do seu rebanho:

“Tomo sobre mim os açoites, prisões, torturas, opróbrios, cruzes, aflições e tribulações, e toda tentação do mundo, que nosso Senhor e intercessor da igreja apostólica e universal tomou sobre si mesmo, aceitando-os com amor. Também eu, um indigno servo do Jesus Cristo, com grande amor e imediata vontade, tomo sobre mim tudo isto, até a hora de minha morte”.

Estas palavras demonstram o valente espírito de fé com que estes homens e mulheres se entregavam ao Senhor Jesus Cristo, conscientes de que podiam selar seu testemunho com a coroa do martírio, tal como na verdade ocorreu com centenas de milhares deles.

Este livro retira também qualquer dúvida sobre seu suposto gnosticismo ou maniqueísmo. Nenhum sinal dessas heresias aparece nele. Possivelmente a única passagem controvertida é o que descreve o batismo do Senhor, onde diz que nesse ato, cerca de 30 anos de idade, “Nosso Senhor recebeu o senhorio, o sumo sacerdócio, e o reino... e foi cheio da divindade.” Eles com essas afirmações não negavam a divindade do Senhor antes de seu batismo, mas sim enfatizavam que a partir do batismo, começou a manifestar os atributos divinos (seu ministério), que até então estavam ocultos Nele. 

O crescimento não podia deixar de despertar os inimigos. No ano de 690, o já mencionado pastor Constantino, foi apedrejado por ordem do imperador, e seu sucessor queimado vivo. A imperatriz Teodora instigou uma perseguição na qual, foram mortos na Armênia cerca de cem mil paulicianos.

Eles espalharam-se pela Trácia em 970, pela Bulgária, Bosnia e Servia após o ano 1100. Em todos estes lugares foram como missionários enviados pelas igrejas paulicianas.

O historiador Orchard revela que “um número considerável de paulicianos” esteve estabelecido na Lombardia, na Insubria, mas principalmente em Milão, aí pelo meado do século onze e que muitos deles levaram vida errante na Franca, na Alemanha e outros países, onde ganharam a estima e admiração da multidão pela sua santidade. Na Bósnia, no tempo de Kulin Ban, um dos mais eminentes governantes daquele país. Ele e sua esposa, bem como milhares de Bósnios, deixaram a Igreja Católica. E. H. Broadbent diz no livro The Pilgrim Church: “Não havia sacerdotes; eles reconheciam o sacerdócio de todos os salvos. As igrejas eram guiadas por anciãos (pastores)… vários deles em cada igreja. Reuniões poderiam ser convocadas em qualquer casa, e os lugares de reunião regular eram simples, sem sinos ou altares” (pág. 61).

Em 1154 um grupo de paulicianos emigrou para a Inglaterra, tangidos ao exílio pela perseguição. Uma porção deles estabeleceu-se em Oxford. Willyan Newberry conta do terrível castigo aplicado ao pastor Gerhard e o povo. Seis anos mais tarde outra companhia de paulicianos entrou em Oxford. Henrique II ordenou que fossem ferreteados na testa com ferros quentes, chicoteados pelas ruas da cidade, suas roupas cortadas até a cintura e enxotados pelo campo aberto. “As vilas não lhes deviam proporcionar abrigo ou alimento e eles sofreram lenta agonia de frio e fome.” É interessante lembrar ao leitor, que João Wycliff (1320-1384), considerado a "estrela d’alva" da Reforma, iniciou justamente em Oxford sua luta para reformar a podridão do catolicismo. Sem dúvida ele teve algum contato com algum dos paulicianos.


Um grande abraço na paz do Senhor Jesus!

Aldrain Lima