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Os Donatistas

Os Donatistas

                                                                   Os Donatistas

 

Este movimento começou quando Donato de Casa Nigra bispo de Numídia (270-335) juntou-se ao grupo de Cartago contra a eleição do bispo daquele lugar. 70 bispos da Numídia (Norte da África, atual Argélia) se reuniram em Cartago e elegeram Majorino, ao qual sucedeu em 315 Donato Magnos (o grande 315-355), como bispo em Cartago, homem de notável eloquência e muito estimado, apoiado pelos bispos daquelas regiões.

O motivo do cisma foi simples: não concordaram com a consagração de Ceciliano como bispo de Cartago após a morte do bispo Mensúrio. Pois os que o havia consagrado eram os traidores: Félix de Aptunga, Fausto de Suburbo e Novelo de Iyzica - esses traidores tinham entregue os livros sagrados aos perseguidores, durante a perseguição de Diocleciano, Felix, Fausto e Novelo sacrificaram aos ídolos e ao imperador. Muitos fiéis morreram na mesma época por recusar agir da mesma forma. Donato bispo na cidade de Cartago por volta do ano 311 solicitou a sua deposição, pois, sustentava que o fato de não terem sido fiéis no tempo da perseguição invalidava a possibilidade desses homens ordenarem algo de Deus (batismo e santa ceia, consagração de ministros etc. ).

Esta solicitação é justa e bíblica. Se um pastor é deposto de seu cargo por cair na apostasia que direito ele terá de ordenar alguém?

Apoiado pelos bispos das grandes igrejas do ocidente, liderada por Roma, Felix e os demais permaneceram nos seus cargos e seus ofícios foram validados. Desapontados em ver as escrituras sendo atropeladas, os cristãos fiéis do norte da África fizeram o mesmo que os do Oriente, Ásia Menor e do Ocidente, excluíram da comunhão os bispos e igrejas obedientes a Roma.

Os que assim agiram foram conhecidos como Donatistas. Os autores que mais influenciaram os donatistas, em termos de doutrina, foram Tertuliano e Cipriano de Cartago.

Novacianos e Donatistas eram idênticos em sua doutrina e disciplina. Crispim, historiador francês, diz deles que concordavam:

Primeiro, pela pureza dos membros da igreja, por afirmarem que ninguém deverá ser admitido na igreja senão tais como verdadeiros crentes santos e reais.

Segundo, pela pureza da disciplina da igreja.

Terceiro, pela independência de cada igreja.

Quarto, eles batizavam outra vez aqueles cujo primeiro batismo tinha razão de por em dúvida. 

Não há dúvida de que a maior identificação que liga os três grupos de fiéis primitivos - novacianos, donatistas e paulicianos - foi a recusa em aceitar as heresias pós-apostólicas dos lideres apóstatas. Isso os levou a rebatizar os membros vindos dessas igrejas e consequentemente recusarem a comunhão com as mesmas.

Eles tornaram-se tão poderosos que a corporação católica invocou o interesse do imperador pagão e ao mesmo tempo arianista (simpatizante da ideia de Ario) Constantino I contra eles, pelo que os donatistas inquiriram: “Que tem o imperador a ver com a igreja? Que tem os cristãos a ver com o rei? Que tem os bispos a ver no tribunal?".

O historiador Orchard, relatou que: "tornaram-se quase tão numerosos como os católicos romanos".

O historiador Jones diz na sua Conferencia Eclesiástica, Vol. I, pg 474: "Rara era a cidade ou vila na África em que não houvesse uma igreja donatista".

O clímax da divisão veio no V século com um grande debate, os bispos Agostinho e Aureliano que tentaram forçar todos os cristãos unirem-se debaixo da proteção do estado. O magistrado decidiu, naturalmente, que Agostinho tinha razão. No fim, o Imperador declarou que todos os donatistas não tinham direito nenhum como cidadão e proibiu todos assistirem seus cultos. (Kurtz, Church History, I, pp. 395-396; Leonard Verduin, The Reformers and Their Stepchildren, pp 65-66). O crescimento do grupo Donatista foi espantoso. No concílio feito por Teodósio II que era arianista em 441 na cidade de Cartago, compareceram 286 bispos da igreja romana e 279 bispos donatistas. Como sempre os donatistas foram ameaçados por causa de sua fé.

 

“Irmãos, cheios de zelo, disputai pelas coisas que levam à salvação.

Vós vos aprofundastes nas verdadeiras Escrituras Sagradas, que nos vêm do Espírito Santo.

Sabeis que elas não são injustas, nem contêm falsificação. Lá não encontrareis que homens justos foram depostos por homens santos.

Ao contrário, os justos foram perseguidos por pecadores, foram encarcerados por ímpios, foram apedrejados por transgressores da lei, foram assassinados por homens cheios de ciúmes abomináveis e criminosos.” [Carta de Clemente bispo de Roma aos coríntios Cap. XLV.1-4]

 

Donato já houvera declarado aos comissários quando foi exilado 347, "Quid est imperatori cum ecclesia?" (O que tem o Imperador com a igreja?)   

Em observação a assembléia formada contra os donatistas: Emeritus (Emérito) bispo de Cesárea, disse: "As atas indicam se fui vencido ou permaneço vencedor, se fui vencido pela verdade ou oprimido pelo poder". ( Atas do Debate com o Donatista Emérito,  III )

 

                               

 A oposição de Agostinho ao donatismo

 

A grande conferencia que se tornou celebre, realizada em Cartago, em 411, nela Agostinho aparece como autoridade incontestável. Agostinho apresenta sua teoria das duas cidades ou dos dois tipos de pessoas que estão sempre dentro da igreja enquanto estiver neste mundo. Em suas obras antidonatistas, Agostinho apresenta uma pormenorizada argumentação teológica da noção da igreja e dos sacramentos. A igreja é comunidade visível de santos e pecadores, a eficácia dos sacramentos não depende da disposição moral dos ministros. 

Na ideia da igreja romana, crê-se que os sacramentos valem por si, seja o ministro um individuo moral ou não.  A didakhê documento escrito entre os séculos I e II no capitulo VII.4 ensina que deveria haver uma consagração previa tanto do líder, quanto do neófito para o ato do batismo.

“ πρ δ το βαπτσμος προνηστευστω βαπτζων κα βαπτιζμενος κα ε τινες λλοι δναται· κελεεις δ νηστεσαι τν βαπτιζμενον πρ μις δο.

Antes de batizar, tanto aquele que batiza e o batizando, bem como aqueles que puderem, devem observar o jejum. Você deve ordenar ao batizando um jejum de um ou dois dias.”

Observar o jejum: na época primitiva, não era simplesmente abstinência de alimentação, mas, uma entrega em oração e santificação  para a vontade divina ser realizada.  

Para os donatistas, os sacramentos só eram validos se quem os ministrasse fosse digno, fiel a fé cristã.  O núcleo de sua doutrina consistia na exigência de maior rigor em matéria de disciplina eclesiástica, na convicção de que a igreja deveria ser uma assembléia de homens puros. Excluindo dela os imorais, e na crença de que a validez dos sacramentos dependia da pureza moral de seus ministros.

Como ensinou João Crisóstomo bispo em Constantinopla 345 - 407, que os sacerdotes tinham que ter a pureza angelical.

 

“Acerca disto resulta, que o sacerdote deve ser tão puro, como se estivesse nos mesmos céus entre aquelas potestades”.

[ João Crisóstomo, O sacerdócio, Livro III . 4 ]

 

“ Se junta a isto, que o sacerdote deve, não somente ser puro para ser digno de tal ministério, se não também muito prudente...” [ O sacerdócio,  Livro VI. 4 ]  

Um fato interessante da história dos donatistas é a disposição de Agostinho, nesse debate, mais precisamente com o bispo donatista PETILIANUS ( Petiliano ). Agostinho tentou censurá-los em palavras, mas diante da Bíblia não houve como os vencer, pois a Bíblia dava-lhes razão. Perdendo o combate em palavras, então passou a persegui-los com a espada imperial Condenando-os.

Petiliano bispo de Cirta, contra quem Agostinho debateu, assim exclamou aos bispos presentes:

"Pensai vós em servir a Deus matando-nos com as vossas mãos? Enganais a vós mesmos. Deus não tem assassinos por sacerdotes. Cristo nos ensina a suportar as perseguições, não vingá-la".

 

"Tem perseguido os apóstolos a alguém, ou tem Cristo entregado a alguém"?

“Cada um é filho daquele cuja conduta segue... Não por esta carne mortal e este sangue, se não pelos costumes e as obras".

 "Bem aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus. Vocês como criminosos fingis a paz, e buscais mediante a guerra a unidade”( Réplica as Cartas de Petiliano, Livro II cap. X, 23 – cap. XI, 25 – cap. CLIII).

As respostas de Agostinho foram em manifestações e atitudes humanas e até carnais, forçando as interpretações das sagradas escrituras.

Gaudêncio bispo de Thamugade. Não suportando as perseguições da igreja romana, ameaça fazer um suicídio em massa. Não há certeza se Gaudêncio iria de fato tocar fogo na congregação juntamente com seus seguidores. Mas essa ideia que ele apresentou é no mínimo infeliz e abominável a fé cristã.

Será que ele faria essa loucura? A perseguição aos donatistas não parou e não consta na história da igreja que ele tenha executado o que propusera. Entende-se que ele estava querendo impressionar, chamar a atenção e apelar para a sensibilidade daqueles lideres. Mas lamentavelmente não conseguiu!  

"Se nos tendes por inocentes, como tu mesmo disseste, estando na fé de Cristo, nos alegramos de suportar aos perseguidores". [ Réplica do bispo donatista Gaudêncio, livro I. cap. V. 6 ] 

O teólogo Donatista africano, Ticônio (330 – 390 ) ensinava que as imagens concretas do Apocalipse deveriam ser dissipadas; o comentário de Ticônio é, portanto, claramente antiquiliástico. Para ele, o milênio prometido no Apocalipse começou com a história da Igreja, e não deverá ser um evento concreto desencadeado por uma catástrofe cósmica qualquer.

Convém lembrar que mesmo para autores modernos, a solução de Ticônio é apenas uma entre outras soluções possíveis e igualmente válidas. Tornou-se a doutrina oficial da igreja no que se refere ao assunto, preparando o terreno para uma interpretação “espiritual” do Apocalipse. Mas nesse processo teve papel fundamental no pensamento de Agostinho de Hipona.  Agostinho teve o mérito de aliar uma periodização da história com uma interpretação que associa a escatologia à fundação da Igreja (variante da interpretação “espiritualizada” de Ticônio).

 

Havia também para Ticônio duas cidades, existem ao mesmo tempo: a cidade de Deus, que era presente na Igreja, e a cidade do diabo. A cidade do diabo está presente nos poderes do mundo, simbolizados pelas bestas do Apocalipse. A igreja está empenhada numa luta contra os poderes do diabo, que são capazes de penetrar até mesmo no seu próprio seio.

Apesar de ser um grande inimigo dos donatistas, Agostinho baseou sua interpretação deste capítulo nas obras de Ticônio. O princípio de interpretação não tem um aspecto escatológico, sendo corrente esta luta entre poderes opostos em toda geração.

Foi Ticônio, que sugeriu uma interpretação alegórica de Apocalipse 20 (assim tendo a “honra” de ter se tornado o pai, mesmo que ainda obscuro, tanto do amilenarismo como do posmilenarismo). Agostinho adotou a interpretação de Ticônio com respeito a Apocalipse 20, livro  A Cidade de Deus XX.

Agostinho tanto batalhou contra as doutrinas donatista, mas no decorrer dos anos foi admitindo algumas dessas ideias.  No decorrer da história Agostinho foi desfazendo alguns de seus ensinamentos passados que não condizia com as escrituras sagradas e depois culminou a obra intitulada: “As Retratações” corrigindo outros.