Lutero e Zwinglio
Os Reformadores
Martin Luther (Martinho Lutero, 1483-1546) foi um teólogo alemão. É considerado o pai espiritual da Reforma Protestante.
“ A mentira é como uma bola de neve; quanto mais rola, tanto mais aumenta.”(Martinho Lutero)
Martin Luther era filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann... Hans Luther deseja que seu filho viesse a tornar-se um funcionário público, melhorando assim as condições da família. Com este objetivo, enviou o jovem Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.
Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e recebeu o apelido de "O filósofo". O jovem estudante graduou-se em bacharel em 1502 e o mestrado em 1505, o segundo entre dezessete candidatos. Seguindo os desejos paternos, inscreveu-se na escola de Direito dessa Universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade, com descargas elétricas, ocorrida neste mesmo ano (1505): um raio caiu próximo de onde ele estava, ao voltar de uma visita à casa dos pais. Aterrorizado, gritara então: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!"
Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu os seus livros com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Erfurt, a 17 de julho de 1505.
O jovem Lutero dedicou-se por completo a sua vida no mosteiro, empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas.
Dedicou-se intensamente à meditação, às autoflagelações, muitas horas de oração diárias, às peregrinações e à confissão. Quanto mais intentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus pecados.
Johann von Staupitz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de mais trabalhos, para afastá-lo de sua excessiva reflexão. Ordenou, portanto ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507 Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508 começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em Estudos Bíblicos a 19 de março de 1508. Dois anos depois visita Roma, de onde regressa bastante decepcionado.
Em 19 de outubro de 1512, Lutero graduou-se Doutor em Teologia e a 21 de outubro desse ano foi "recebido no Senado da Faculdade Teológica", com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515 foi nomeado vigário de sua ordem, tendo sob sua ordem onze monastérios.
Durante este período estuda o grego e o hebraico, para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras conhecimentos que logo utilizaria para a tradução da Bíblia.
O desejo de obter os graus acadêmicos levou Lutero a estudar as Escrituras em profundidade. Influenciado por sua formação de buscar ir "ad fontes" (às fontes), mergulhou nos estudos sobre a igreja primitiva. Devido a isto, termos como "penitência" e "honestidade" ganharam novo significado para ele, já convencido de que a igreja havia perdido sua visão de várias das verdades do cristianismo ensinadas nas Escrituras, sendo a mais importante delas a doutrina da chamada "Justificação" apenas pela fé. Lutero começou a ensinar que a salvação era um benefício concedido apenas por Deus, dado pela graça divina através de Jesus Cristo e recebido apenas mediante a fé.
Mais tarde, Lutero definiu e reintroduziu o princípio da distinção própria entre o Torá (Leis Mosaicas) e os Evangelhos, que reforçavam sua teologia da graça. Em consequência, Lutero acreditava que seu princípio de interpretação era um ponto inicial essencial para o estudo das Escrituras.
Notou ainda, que a falta de clareza na distinção da Lei e dos Evangelhos era a causa da incorreta compreensão dos Evangelhos de Jesus pela igreja de seu tempo, instituição a quem responsabilizava por haver criado e fomentado muitos erros teológicos fundamentais.
A controvérsia por causa das indulgências
“Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras Sagradas deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias.”( Matinho Lutero )
Além de suas atividades como professor, Lutero ainda laborava como pregador e confessor na igreja de Santa Maria, na cidade. Também pregava habitualmente na igreja do Castelo (chamada de "Todos os Santos" - por causa de ali haver uma coleção de relíquias, estabelecidas por Frederico II de Sabóia). Foi durante este período em que o jovem sacerdote deu-se conta dos efeitos em se oferecer indulgências aos fiéis, como se fossem fregueses.
A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal que alguém permanece devedor por conta dos seus pecados, de cuja culpa tenha se livrado pela absolvição. Naquele tempo qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo, quer para um parente já morto que estivesse no purgatório em suma qualquer pessoa poderia comprar a sua salvação e de seus parentes ( era só pagar as indulgências; não seria isso uma verdadeira heresia? ). O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, promovendo e vendendo indulgências com o objetivo de financiar as reformas da Basílica de São Pedro, em Roma.
Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiro. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, a 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Estas teses condenavam a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgência significavam. Para todos os efeitos, nelas ele não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.
As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas haviam se espalhado por toda a Alemanha e em dois meses por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel primacial, pois facilitava uma distribuição simples e ampla de qualquer documento.
As 95 Teses afixadas por Martinho Lutero na Abadia de Wittenberg a 31 de outubro de 1517, fundamentalmente "Contra o Comércio das Indulgências":
Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade, discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Rev. Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por escrito. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
1ª Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos... etc. certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo e ininterrupto arrependimento.
2ª E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como se referindo ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo dos sacerdotes.
3ª Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de mortificação da carne.
4ª Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até à entrada para a vida eterna.
5ª O papa não quer e não pode dispensar de outras penas além das que impôs ao seu alvitre ou nem acordo com os cânones, que são estatutos papais.
6ª O papa não pode perdoar dívida, senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus, ou então o faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida em absoluto deixaria de ser anulada ou perdoada.
7ª Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao ministro, seu substituto.
8ª Cânones poenitentiales, que são as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas são impostos aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.
9ª Eis por que o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluindo este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema.
10ª Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõe aos moribundos penitências canônicas ou para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.
11ª Este joio, que é o de transformar a penitência e satisfação, prevista pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado enquanto os bispos dormiam.
12ª Outrora canônica poenae, ou seja, penitência e satisfação por pecados cometidos, eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.
13ª Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.
14ª Piedade ou amor imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte, necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menos o amor, tanto maior o temor.
15ª Este temor e espanto em si tão só, sem nos referirmos a outras coisas, basta para causar o tormento e o horror do purgatório, pois se avizinham da angústia do desespero.
16ª Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.
17ª Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, também deve crescer e aumentar o amor.
18ª Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas razões e nem pela Escritura, que as almas do purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.
19ª Parece ainda não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem mais por ela, não obstante nós termos esta certeza.
20ª Por isso o papa não quer dizer e nem compreender com as palavras “perdão plenário de todas as penas” o perdão de todo o tormento, mas tão só as penas por ele impostas.
21ª Eis por que erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante indulgência do papa.
22ª Com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas do purgatório das que, segundo os cânones da igreja, deviam ter expiado e pago na presente vida.
23ª Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muitos poucos.
24ª Logo, a maioria do povo é ludibriado com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.
25ª Exatamente o mesmo poder geral que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d’almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.
26ª O papa faz muito bem em não conceder o perdão às almas em virtude do poder das chaves (coisa que não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.
27ª Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.
28ª Certo é que, no momento em que a moeda soa na caixa, vem lucro, e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.
29ª E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com S. Severino e Pascoal.
30ª Ninguém tem certeza da suficiência do arrependimento e pesar verdadeiros, muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.
31ª Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.
32ª Irão para o diabo, juntamente com os seus mestres, aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
33ª Há que acautelar-se muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dádiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.
34ª Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória, estipulada por homens.
35ª Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.
36ª Tudo o cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.
37ª Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.
38ª Entretanto se não devem desprezar o perdão e a distribuição deste pelo papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão consiste numa declaração do perdão divino.
39ª É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e, ao contrário, o verdadeiro arrependimento e pesar.
40ª O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo; mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para tanto.
41ª É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal, para que o homem singelo não julgue erradamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade, ou melhor, do que elas.
42ª Deve-se ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgências de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.
43ª Deve-se ensinar aos cristãos, proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta ao necessitado do que os que compram indulgência.
44ª É que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e livre da pena.
45ª Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgência do papa, mas desafia a ira de Deus.
46ª Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura, fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.
47ª Deve-se ensinar aos cristãos ser a compra de indulgência livre e não ordenada.
48ª Deve-se ensinar aos cristãos que se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.
49ª Deve-se ensinar aos cristãos serem muito boas as indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência delas, se perde o temor de Deus.
50ª Deve-se ensinar aos cristãos que se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgência, preferiria ver a basílica de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
51ª Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por um dever seu, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgência, vendendo, se necessário, a própria basílica de São Pedro.
52ª Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências e o próprio papa oferecessem sua alma como garantia.
53ª São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a palavra de Deus nas demais igrejas.
54ª Comete-se injustiça contra a palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da palavra do Senhor.
55ª A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a coisa menor, com um toque de sino, uma pompa, uma cerimônia, enquanto o evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem toques de sino, centenas de pompas e solenidades.
56ª Os tesouros da igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecidos na Igreja de Cristo.
57ª É evidente que não são bens temporais, porquanto muitos pregadores não os distribuem com facilidade, antes os ajuntam.
58ª Também não são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são suficientes, e, independente do papa, operam graça do homem interior e são a cruz, a morte e o inferno do homem exterior.
59ª São Lourenço chama aos pobres, os quais são membros da Igreja, tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.
60ª Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves da Igreja, que lhe foram dadas pelo merecimento de Cristo.
61ª Evidente é que, para o perdão das penas e para a absolvição em determinados casos, o poder do papa por si só basta.
62ª O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus.
63ª Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.
64ª Enquanto isso o tesouro das indulgências é notoriamente o mais apreciado, porque faz com que os últimos sejam os primeiros.
65ª Por essa razão os tesouros evangélicos foram outrora as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.
66ª Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.
67ª As indulgências, apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça, decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.
68ª Nem por isso semelhante indulgência é a mais ínfima graça, comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.
69ª Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda reverência.
70ª Entretanto tem muito maior dever de conservar abertos os olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não apregoem os seus próprios sonhos.
71ª Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.
72ª Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.
73ª Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.
74ª Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob pretexto de indulgências, prejudicam a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agirem.
75ª Considerar a indulgência do papa tão poderosa, a ponto de absolver alguém dos pecados, mesmo que (coisa impossível de se expressar) tivesse deflorado a mãe de Deus, significa ser demente.
76ª Bem ao contrário afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo pode anular o menor pecado venial no que diz respeito a culpa que representa.
77ª Afirmar que nem mesmo São Pedro, se no momento fosse papa, poderia dispensar maior indulgência, constitui insulto contra São Pedro e o papa.
78ª Dizemos, ao contrário, que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o evangelho, dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1 Corinto 12.6-9.
79ª Alegar ter a cruz de indulgências, erguida e adornada com as armas do papa, tanto valor como a própria cruz de Cristo é blasfêmia.
80ª Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas desta atitude.
81ª Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a indulgência, torna difícil até homens doutos defenderem a honra e dignidade do papa contra a calúnia e as perguntas mordazes e astutas dos leigos.
82ª Haja vista exemplo como este: Por que o papa não livra duma só vez todas as almas do purgatório, movido pela santíssima caridade e considerando a mais premente necessidade das mesmas, havendo santa razão para tanto, quando, em troca de vil dinheiro para a construção da basílica de São Pedro, livra inúmeras delas, logo por motivo bastante infundado?
83ª Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para esse fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou prebendas oferecidos em favor dos mortos, quando já não é justo continuar a rezar pelos que se acham remidos?
84ª E: Que nova santidade de Deus e do papa é esta a consentir a um ímpio e inimigo resgate uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não livrar esta mesma alma piedosa e amada por Deus do seu tormento por amor espontâneo e sem paga?
85ª E: Por que os cânones de penitência, isto é, os preceitos de penitência, que faz muito caducaram e morreram de fato pelo desuso, tornam a remir mediante dinheiro, pela concessão de indulgência, como se continuassem em vigor e bem vivos?
86ª E: Por que o papa, cuja fortuna é maior do que a de qualquer Crassos, não prefere construir a basílica de São Pedro de seu próprio bolso em vez de fazê-lo com o dinheiro de cristãos pobres?
87ª E: Que perdoa ou concede o papa pela sua indulgência àqueles que pelo arrependimento completo tem direito ao perdão ou indulgência plenária?
88ª Afinal: Que benefício maior poderia receber a igreja se o papa, que atualmente o faz uma vez ao dia cem vezes ao dia concedesse aos fiéis este perdão a título gratuito?
89ª Visto o papa visar mais a salvação das almas mediante a indulgência do que o dinheiro, por que razão revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, quando tem sempre as mesmas virtudes?
90ª Desfazer estes argumentos muito sutis dos leigos, recorrendo apenas à força e não por razões sólidas apresentadas, significa expor a igreja e o papa ao escárnio dos inimigos e desgraçar os cristãos.
91ª Se, portanto, a indulgência fosse apregoada no espírito e sentido do papa, estas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.
92ª Fora, pois, com todos este pregadores que dizem à igreja de Cristo: Paz! Paz! Sem que haja paz!
93ª Abençoados, porém, sejam todos os pregadores que dizem à igreja de Cristo: Cruz! Cruz! Sem que haja cruz!
94ª Admoeste-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu Cabeça, Cristo, através da cruz, da morte e do inferno;
95ª E desta maneira mais esperem entrar no reino dos céus por muitas aflições do que confiando em promessas de paz infundadas.
Lutero na convenção dos agostinianos em Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e a graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o debate se elevou até ao ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade do Papa, pois as doutrinas de "Tesouraria da Igreja" e "Tesouraria dos Merecimentos", que serviam para reforçar a doutrina e venda e das indulgências, haviam se baseado na bula papal "Unigenitus" (de 1343), do Papa Clemente VI. Por causa de sua oposição a esta doutrina, Lutero foi qualificado como heresiarca e o Papa, decidido a suprimir por completo com seus pontos de vista, ordenou que fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser realizada por motivos políticos.
Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja, negava agora abertamente a autoridade papal e apelava para que fosse realizado um Concílio. Também declarava que o papado não formava parte da essência imutável da Igreja original. Desejando manter-se em relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico, o Sábio.
Uma conferência com o representante papal Karl Von Miltitz em Altenburgo, em janeiro de 1519 levou Lutero a decidir guardar silêncio, assim como seus opositores, como também a escrever uma humilde carta ao Papa e compor um tratado demonstrando suas opiniões sobre a Igreja Católica.
A carta escrita nunca chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação. E no tratado, que compôs mais tarde, Lutero negou qualquer efeito das indulgências no Purgatório.
Quando Johann Eck, em Carlstadt, desafiou um colega de Lutero para um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho-18 de julho de 1519). No curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade de possuir o "poder das chaves", que, segundo ele, haviam sido outorgados à Igreja (como congregação de fé). Negou que a salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a autoridade do Papa.
Lutero cunhou, de forma decisiva, o princípio “democrático” do sacerdócio universal de todos os crentes. Com esse princípio, teve a alavanca para fazer vacilar a Igreja institucional e hierárquica de seu tempo. Igreja era para ele a livre reunião de todos os crentes em Cristo, a comunhão invisível dos que estão ligados pela fé e pelo amor.
A disputa havida em Leipzig em 1519 fez com que Lutero tivesse contato com os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Rotterdam , que por sua vez também influenciara ao nobre Franz Von Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia, em virtude da proscrição papal. Sob estas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (agosto de 1520), onde recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como o Anticristo.
As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, como também aos abusos eclesiásticos: a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal; a abolição das rendas do Papa; o reconhecimento do governo secular; a renúncia da exigência papal pelo poder temporal; a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão; a abolição das peregrinações nocivas; a eliminação dos excessivos dias santos; a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a reforma das universidades; a abrogação do celibato do clero; a união dos boêmios; e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.
Já em 1522, enquanto Lutero estava escondido em Wartburg, alguns de seus colaboradores perverteram seus ensinamentos e passaram a pregar mensagens revolucionárias por toda a Alemanha. Enfatizava-se a formação de um grupo de "santos" (espalharam boatos de que esses santos, seriam a causa da derrota da Igreja Católica), com a tarefa de lutar contra a autoridade constituída e promover a aniquilação dos "ímpios" (a Igreja Católica). Um desses pregadores foi Tomas Müntzer. Lutero, desde cedo, prevenira a nobreza e os próprios camponeses sobre uma possível revolta e, particularmente, sobre Müntzer, classificando-o como um dos "profetas do assassínio" e colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a "Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer", ele apoiou a luta pela ordem contra as desordens dos camponeses.
Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, filha de nobre família , com quem veio a se casar, em 13 de junho de 1525. Dessa união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha.
O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.
Conduta questionável
Lutero era um homem muito perturbado espiritualmente; e, depois de conhecer a Graça, ainda assim sofreu com algumas sequelas de outros tempos. Quando ele se sentia agredido em suas convicções soltava o verbo. Foram essas explosões e impulsos incontrolados que mancharam sua imagem.
"Conversas à Mesa" (Tischreden, em alemão) é a compilação de anotações feitas por alguns alunos e colaboradores de Lutero durante encontros informais, como as refeições, são compilações de frases que saíram da boca de Lutero, mas não de sua pena; Muitos alunos estavam em torno dele. Esses e outros colaboradores tomaram a liberdade de reproduzir frases das mais diversas sobre os mais diversos assuntos. Nunca se sabe em que contexto e por qual razão elas foram ditas. Existem afirmações, às vezes, chocantes e grosseiras. O importante sempre é comparar as afirmações das "Conversas à Mesa" de Lutero com os seus textos, livros, sermões, orações, etc.
É no mínimo temerário e irresponsável usar frases soltas de Lutero que foram anotadas por várias pessoas diferentes (muitas vezes às pressas). A primeira edição das Tischreden foi publicada por Johann Goldschmid Aurifaber, em 1566, vinte anos após a morte de Lutero. A edição completa, porém, só foi publicada em 1836. Há uma tradução para o inglês que o capitão Henry Bell traduziu e publicou por volta de 1650. Outra edição é a de Weimar, Hermann Böhlaus Nachfolger 1912.
Lutero é famoso por seu modo rude e até grosseiro de falar. Para as igrejas oriundas da Reforma Lutero não é nenhum santo. Ao contrário, Lutero sempre procurou reconhecer a sua fragilidade e imperfeição. Se o seu estilo agressivo e ferino aparece em muitas ocasiões, precisamos atribuí-lo a seu temperamento rude. E aqui cabem algumas perguntas: Se Lutero era, de fato, blasfemador e até obsceno, como o acusam, ele seria tão protegido e defendido por tantas pessoas, incluindo intelectuais e príncipes? A teologia de Lutero teria se espalhado pela Europa?
Se ele obteve apoio, não o foi por causa das "Conversas à Mesa", mas sim por seus manuscritos e sermões que caíram fundo nos corações das pessoas.
Como filho do seu tempo ele se equivocou em muitas questões, mas em tantas outras acertou e contribuiu enormemente. Lutero não sentou e nem pode ser colocado na cadeira da infalibilidade.
Existem alguns comentaristas que sua função é tentar denegrir a imagem de Lutero, astutamente usam frases isoladas e incompletas de falas de Lutero, forçando a tradução e dando interpretações dolosamente equivocadas. A grande maioria desses não tem e nem conhecem as obras (fontes) que citam, descuidadamente copiam de outros; exemplo: Lutero blasfemou de Deus o chamando de louco, usam essa frase: “Deus stultissimus est... Tischreden (Conversa a Mesa) livro II cap. 963 pag. 107 ed. Weimar” a pergunta é; e o resto do texto? É fácil, isolar uma frase ou forçar uma interpretação de alguma fala ou texto de alguém e o condenar. Mas o melhor ainda é conhecer todo conteúdo e mostrar a verdade!
Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, coube a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional. A Reforma na Noruega e na Islândia seria uma consequência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios; assim, logo em 1537 ela é introduzida na Noruega e entre 1541 e 1550 na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.
Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelo irmãos Olaus e Laurentius Petri. Foi em larga medida uma forma do rei Gustavo I Vasa cimentar o poder da monarquia face a um clero influente, ao qual confiscará os bens que distribui pela nobreza. O rei rompe com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo penetrara neste país de maneira lenta, tendo a Igreja reformada preservado aspectos do catolicismo, como a organização episcopal e a liturgia. Em 1593, a Igreja sueca adotara a Confissão de Augsburgo.
Ulrich Zwínglio
Ulrich Zwinglio (1484-1531) foi um teólogo suíço e líder da Reforma Protestante na Suíça. Fundador das igrejas reformadas suíças. Independentemente de Martinho Lutero, Zwínglio chegou a conclusões semelhantes pelo estudo das escrituras.
Nasceu numa família rica da classe média, foi o terceiro de oito filhos. Seu pai era o magistrado chefe da cidade e o seu tio o vigário.
Fez os primeiros estudos em Basiléia e Berna, e os estudos superiores em Viena e depois em Basiléia, onde, em 1506, obteve o "Magister Sententiarum" (o título de Mestre das Sentenças de Pedro Lombardo). No mesmo ano foi ordenado sacerdote e destinado à paróquia de Glanora, na qual desempenhou com dedicação suas funções pastorais.
Em 1516 foi transferido para a abadia de Einsiedeln como capelão. Naquele santuário, a exuberância das práticas religiosas, que, nos fiéis, raiava pela superstição e, no clero, pelas práticas simoníacas, chocou profundamente o espírito do jovem sacerdote, preparando-o para as ideias da Reforma Protestante que não tardariam em vir da Alemanha.
Em 1519 foi transferido como cura da catedral, para Zurique, onde em suas pregações começou a criticar com insistência as indulgências e a comentar a Sagrada Escritura segundo o "evangelho puro", inspirando-se nos escritos de Lutero, discordava de Lutero sobre os elementos da santa ceia, pois nem transubstanciação ( pão e vinho transformado no corpo de Cristo, segundo a igreja católica ) e nem consubstanciação ( presença real de Cristo, segundo afirmava Lutero ). Para Zwinglio, a santa ceia é um memorial do sofrimento de Jesus Cristo e que nada tem haver com um sacrifício. Zwinglio afirmava que a expressão “isto é o meu corpo” não deveria ser admitida literalmente. Mais tarde também atacou o celibato eclesiástico e o jejum e começou a conviver com uma viúva, a qual desposou publicamente em 1524.
A partir de 1522 começou a criticar cada vez mais radicalmente a devoção à Maria e aos santos, a autoridade dogmática e disciplina dos concílios e dos papas, o culto das imagens, a missa como sacrifício. Em vista disso, o bispo de Constança proibiu-o de pregar, acusando-o de heresia.
A reforma de Zwínglio foi apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique e levou a mudanças significantes na vida civil e em assuntos de estado em Zurique. O governo de Zurique anulou a proibição do bispo, introduziu a língua alemã na liturgia e aboliu o celibato eclesiástico. A Reforma Protestante propagou-se desde Zurique a cinco outros cantões da Suíça, enquanto que os restantes 5 ficaram firmemente do lado da fé católica romana.
Zwinglio organizou sessões de disputa teológica, nas quais os argumentos dele e de outros protestantes eram confrontados com os argumentos da Igreja católica oficial. Normalmente, os seus argumentos eram mais convincentes e estas sessões acabavam por ser um fortalecimento da reforma. Em Janeiro de 1523, foi organizada uma disputa em Zurique, com a presença de seiscentas pessoas, que assistiram a uma confrontação entre Zwínglio e os enviados do Bispo de Constança. Ao contrário do modelo medieval (disputatio), esta forma de disputação tem lugar em local público e não numa sessão fechada ao público, algures numa universidade. Tem lugar em alemão e não em latim.
Zwínglio foi morto em Kappel em Albis numa batalha contra os Cantões Católicos. Seu cadáver foi esquartejado e dado às chamas.
Um grande abraço na paz do Senhor Jesus!
Aldrain Lima