Mais Reflexões

Mais Reflexões

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 3.13-15

O BATISMO DE JESUS

“Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galiléia para o Jordão, a fim de que João o batizasse”. (v. 13)

 

Aprendam a ter esta festa em alta estima. O fato de Cristo ter-se revelado aos magos por meio de uma estrela foi, sem dúvida, uma grande revelação; mas essa aqui é muito maior. Estes são os verdadeiros três reis: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, que se fazem presentes por ocasião do batismo de Cristo. Se fosse de sua vontade, essa revelação poderia ter acontecido no deserto ou no templo de Jerusalém. Mas, tinha de acontecer por ocasião do batismo, para o nosso ensino, para que tenhamos o batismo em alta conta, e, uma vez que somos batizados, nos consideremos pessoas que foram transformadas, sim, recriadas em santos.

Assim, essa revelação supera em muito aquela outra, pois a estrela apareceu somente aos magos. Agora, da presente revelação todos os cristãos têm necessidade, enquanto que naquele caso apenas alguns gentios tiraram proveito da mesma. Por isso, essa festa deveria, com toda razão Ter o nome de festa do batismo de Cristo e ser chamada “o dia em que Cristo foi batizado”.

Por isso, vocês devem aprender e notar bem como nesse dia Deus se revelou, fazendo uma bela pregação a respeito de seu Filho: que ele tem prazer em tudo o que Filho diz e faz. Pois quem segue o Filho e vive segundo sua palavra, esse também será seu filho amado e terá o Espírito Santo, que também se manifestou por ocasião do batismo de Cristo numa forma bonita, amável e pacífica. Assim, também o Pai se fez ouvir de forma muito amável, dizendo: Aqui vocês têm, não um anjo, um profeta ou apóstolo, mas meu Filho e a mim pessoalmente. Que revelação maior poderia Deus Ter feito de si mesmo? E que melhor serviço poderíamos prestar-lhe senão dar ouvidos a seu FILho, nosso Salvador, e atendo-nos ao que este nos prega e ordena? Quem, porém, não quiser dar-lhe ouvidos e segui-lo para sua salvação, este pode muito bem dar ouvidos ao apóstolo do diabo para sua condenação eterna. Por isso, agradeçamos a Deus por esta graça e peçamos que nos conserve nesta fé e nos salve. Amém.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 2.1-3

O REINO DE HERODES E O REINO DE CRISTO

“Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes e, com ele, toda Jerusalém”.(v.3)

 

Aparentemente Herodes era um rei poderoso, vitorioso no campo de batalha. Em qualquer direção que brandisse a espada, era bem sucedido. Era sábio, sensato, poderoso e rico no que diz respeito ao exterior. Mas em questões internas, em sua casa, era totalmente fraco e infeliz. Assim, por fora, Herodes era feliz; mas por dentro, totalmente infeliz. Agora, Cristo, que é o nosso verdadeiro rei, era bem pobre e miserável, desprezado e rejeitado no que diz respeito às aparências externas; entretanto, interiormente, estava pleno de alegria, consolo e coragem.

Portanto, devemos lutar para que Herodes, que é bem sucedido em questões desse mundo, não nos roube a Cristo, o Rei verdadeiro e gracioso. E embora esteja ele deitado na manjedoura qual criança pobre e miserável, é para lá que temos que ir.

Por isso, se quisermos ser salvos e ter uma consciência tranqüila e feliz, devemos pôr de lado o modo de viver do rei Herodes e aceitar um outro rei, Cristo. Isto significa que não devemos imaginar que podemos salvar-nos por meio das obras, e também não depositar nelas a nossa confiança, e, sim, imprimir em nossos corações unicamente a imagem do bondoso Senhor Jesus Cristo, que vem a nós sem pompa alguma. Pois quando os três santos reis desistiram de todas as obras e ajuda humana e, confiando em Deus e apegando-se à profecia de Miquéias 5.2, foram a Belém, imediatamente tornaram a ver a estrela.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 2.1-12

EPIFANIA

“E vendo eles a estrela, alegraram-se com intenso júbilo. Entrando na casa, viram Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro incenso e mirra”. (vv. 10s.)

 

A primeira importante, útil e necessária lição que aprendemos desta história é que os magos, ao procurarem a Cristo, o Rei que acabara de nascer, não o encontraram em Jerusalém como tinham imaginado. Para encontrá-lo, tiveram que consultar e ouvir o que o profeta Miquéias tinha a dizer. Munidos apenas da palavra, e deixando de lado seus próprios pensamentos, voluntariamente, partem da santa capital Jerusalém e rumam a Belém, cidadezinha insignificante, e não se escandalizam nisso. Então, quando tinham deixado Jerusalém, Deus os consola, fazendo reaparecer a estrela, que foi adiante deles até Belém, até a porta da casa onde estava o menino. Eles bem que precisavam desse consolo, pois tudo o que encontram ali é pobreza e mendicância. Aquele não era o lar de José e Maria. O menino está deitado numa manjedoura. Ali existe, quando muito um copo de água. Tudo isso não combina com um rei!

Mas aí essa gente piedosa não se deixa enganar. Ficam firmes naquilo que tinham ouvido do profeta Miquéias e visto na estrela. Por isso, apesar da aparência pobre e miserável, ajoelham-se diante do menino, adoram-no, abrem seus tesouros e lhe dão presentes.

A segunda coisa que deveríamos aprender dessa história é como devemos nos portar diante de nosso amado Senhor Jesus Cristo, a saber: que removamos todo escândalo e, juntamente com os magos, confessemos a Cristo, o Senhor, ao mundo, que o busquemos de coração e o adoremos como nosso Salvador. Além disso, porque nesse mundo seu reino se apresenta tão pobre e miserável, devemos ajudar voluntariamente com o nosso dinheiro, bens e tudo que temos, para que o mesmo seja promovido e cresça, pois esse reino sofre toda sorte de resistência e opressão do diabo e do mundo. Pois podemos muito bem imitar o exemplo dos magos, abrindo hoje nossos tesouros para Cristo e dando-lhe presentes. O motivo para tanto está em Mateus 25.40: “O que fizestes a um desses meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Pedro 2.4-10

REIS E SACERDOTES

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz”. (v. 9)

 

Isto é assim porque, mediante a fé, o cristão é colocado acima de todas as coisas a ponto de, espiritualmente, tornar-se Senhor de tudo, pois, em se tratando de sua salvação, nada pode lhe causar dano. Ao contrário, tudo deve ficar sujeito a ele e cooperar para sua salvação. Isto não significa que tenhamos poder sobre tudo que é corporal ou material, possuindo ou fazendo uso disso como as pessoas desse mundo. Pois todos teremos de morrer corporalmente e ninguém consegue escapar da morte. De modo semelhante temos de estar sujeitos a muitas outras coisas, como nos mostra o exemplo de Cristo e seus santos. Pois esse é um reino espiritual, que exerce seu poder dentro dos limites da submissão corporal, ou seja: No que diz respeito à alma, posso fazer progressos em todos os sentidos, de sorte que até mesmo o sofrimento e a morte terão de ser meus servos e cooperar para minha salvação. Isto é uma dignidade sublime e honrosa, um reinado deveras poderoso, um reino espiritual, onde nada é tão bom ou tão mau que não me venha beneficiar, desde que eu creia. E, então, não preciso de mais nada, porque minha fé me basta. Veja, portanto, que preciosa liberdade e poder têm os cristãos!
Além disso, somos sacerdotes. Isso representa muito mais que ser rei, porque o sacerdócio nos possibilita comparecer diante de Deus, intercedendo pelos outros. Pois estar diante de Deus e orar compete exclusivamente aos sacerdotes. A Cristo devemos esse Dom de interceder e orar pelos outros em espírito, a exemplo de um sacerdote que se coloca corporalmente diante do povo e intercede por ele.

Quem poderia conceber a honra e a grandeza de um cristão? Através de seu reinado tem poder sobre todas as coisas, por meio de seu sacerdócio dispõe de Deus. Pois Deus faz o que o cristão pede e deseja, como está escrito no Salmo 145.9: “Ele acode à vontade dos que o temem; atende-lhes ao clamor e os salva".

 

Leia em sua Bíblia: Êxodo 20.1-6

A CONFIANÇA DO CORAÇÃO

“Eu sou o Senhor teu Deus”. (v. 2)

 

Isto é: Você deve considerar somente a mim como Deus. Qual o significado disso e como se deve entendê-lo? Que significa ter um Deus, ou, o que é Deus? Resposta: Deus é aquilo de que a gente deve esperar todo bem e em que nos devemos refugiar em todas as necessidades. Portanto, ter um Deus outra coisa não é senão confiar e crer nele de coração. É como tenho dito repetidas vezes: Apenas confiar e crer do coração faz tanto Deus como o ídolo. Se a fé e a confiança forem verdadeiras, também o seu Deus será verdadeiro. Por outro lado, onde a confiança é falsa e errônea, aí também não se tem o Deus verdadeiro. Pois estes dois, fé e Deus, não podem ser separados. Pois aquilo a que você se apega e naquilo em que seu coração confia, isso, digo, é propriamente seu Deus.

Por isso, o sentido desse mandamento é exigir fé verdadeira e confiança de coração, que se dirigem ao verdadeiro e único Deus e se apegam unicamente a ele. É como se Deus dissesse: Tome cuidado no sentido de apenas eu ser o seu Deus e não procure nenhum outro. Isto significa: Se lhe falta alguma coisa, espere-a de mim e procure-a junto a mim; se está sofrendo desgraça e aflição, venha para junto de mim e apegue-se a mim. Eu, eu quero dar-lhe o suficiente e livrá-lo de todo aperto, desde que seu coração não se apegue a nenhum outro, nem descanse em outro qualquer.

 

Leia em sua Bíblia: Salmo 118.1-14

O SENHOR É A NOSSA FORÇA

“O Senhor é a minha força e o meu cântico, porque ele me salvou”. (v. 14)

 

Em nada devemos pôr nossa confiança exceto no Senhor, que será nossa força e vai operar tudo em nós. Por isso devemos louvá-lo e agradecer-lhe, para que somente ele seja nosso cântico. Assim certamente seremos abençoados nele. Disso se conclui que esse Senhor é Jesus Cristo, verdadeiro Deus, gerado do Pai na eternidade, e também verdadeiro homem, nascido de Maria na plenitude do tempo, porque nesse salmo ele é louvado como nossa força e poder, nosso cântico e salvação.

Cristo somente pode ser nossa força no momento em que nós não tivermos força nenhuma em nós mesmos e formos crucificados através de toda sorte de sofrimentos. Nesse momento, ele também se torna nosso salmo, hino e cântico. Segue-se então a vitória e a salvação para a vida eterna.

 

Leia em sua Bíblia: Romanos 14.5-12

SOMOS DO SENHOR

“Se vivemos para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor”. (v. 8)

 

Sim, nós pertencemos ao Senhor. É nosso máximo consolo e alegria termos por Senhor aquele a quem o Pai confiou todo o poder no céu e na terra, entregando tudo em suas mãos. Quem, então, poderá prejudicar-nos? Por mais furioso que esteja o diabo, das mãos do Senhor, porém, não nos arrancará. Além disso, nós, os que cremos em Jesus Cristo, nosso Senhor, e vivemos sob sua proteção, somos, igualmente, senhores, e vivemos por meio e em Jesus Cristo – senhores sobre o diabo, o pecado e a morte. Pois Cristo tornou-se homem por nossa causa (para dar-nos esse poder), orou por nós ao Pai e amou-nos de tal maneira, que se tornou maldição em nosso lugar. Ele próprio entregou-se por nós, com seu sangue pagou resgate por nós e nos lavou e purificou dos pecados. Além disso, também nos deu a garantia de nossa herança e salvação, enviando a nossos corações o Espírito Santo, fez-nos reis e sacerdotes perante Deus, em resumo – fez de nós filhos e herdeiros de Deus e seus co-herdeiros. Isso é certamente verdade. Ó Senhor, fortalece-nos a fé, para que jamais duvidemos disso.

 

Leia em sua Bíblia: 2 Samuel 22.1-7

CONFIAR SOMENTE EM DEUS

“O meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu baluarte e o meu refúgio”. (v. 3)

 

Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra. Não deposito minha confiança em homem nenhum deste mundo, nem em mim mesmo, tampouco em minha força, capacidade, bens, piedade ou qualquer outra coisa que eu possua. Não confio em criatura nenhuma, quer no céu, quer na terra.Considero e confio tão-somente no Deus único, invisível, incompreensível, que fez os céus e a terra, e que está acima de todas as criaturas. Também não me assusta a maldade do diabo e sua companhia, pois meu Deus está acima de todos eles. Creio em Deus, mesmo que todos me abandonem ou persigam. Continuarei crendo, mesmo que eu seja pobre, tolo, ignorante e desprezado e careça de tudo. Eu creio, mesmo sendo pecador. Pois esta minha fé deve e precisa estar acima de tudo que é e que não é, acima de pecado e virtude, acima de tudo o mais, para que a fé se apegue única e exclusivamente a Deus, como insiste o primeiro mandamento.

Também não desejo nenhum sinal da parte de Deus para colocá-lo à prova. Confio nele sempre, por mais que ele tarde, e não lhe determino o alvo, o tempo, a medida ou o meio, mas, em fé verdadeira e franca, deixo tudo entregue a sua vontade divina.

Uma vez que ele é todo-poderoso, qual a necessidade que ele não me poderá suprir? Já que ele é Criador do céu e da terra e Senhor de tudo, quem poderá roubar-me ou causar-me dano? Sim, como não poderiam todas as coisas cooperar para o meu bem, se tenho o favor daquele a quem estarão sujeitas e obedecem todas as coisas?

Por ser ele Deus, é capaz e sabe fazer com que tudo coopere para o meu bem. Por ser ele Pai, quer fazer isso e realmente o faz de boa vontade. E porque não duvido, mas confio nele, certamente sou seu filho, servo e herdeiro eterno, e ser-me-á feito conforme a minha fé.

 

Leia em sua Bíblia: Efésios 5.31-33

O MATRIMÔNIO REFLEXO DO CASAMENTO ESPIRITIUAL DE CRISTO

“Grande é o mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja”. (v. 32)

 

Veja que elevado sermão e precioso exemplo a respeito do casamento ou estado matrimonial nos ensina Paulo a praticar: que se instrua e lembre aos que vão casar ou já casaram que, ao encararem esse estado, meditem nestas palavras e tenham diante dos olhos a imagem ou o exemplo desse casamento espiritual. Pois esse, certamente, merece ser chamado de enlace ou casamento grandioso ou glorioso, e um nobre e precioso enfeite (embora secreto e oculto), através do qual nos são dados, não bens mundanos, mas libertação do pecado e da morte, bem como participação em todas as bênçãos celestes. Enfeites corporais ou tesouros deste mundo nem de longe se comparam com isso, mesmo que você ganhe toneladas de ouro, sim, os tesouros de todos os reis e imperadores. Pois tudo isso a gente pode controlar e compreender. De modo semelhante, os noivos terrenos não são tão preciosos assim, pois são gente pobre e mortal. Não obstante, essa forma exterior e visível do casamento ou matrimônio terreno tem a função de nos ensinar a considerar e meditar no matrimônio celestial, cuja glória e resplendor ninguém consegue ver. Além disso, devemos espelhar-nos na união espiritual entre Cristo e a igreja, e aprender como os cônjuges devem comportar-se no estado matrimonial.

 

Leia em sua Bíblia: Efésios 5.25-30

CRISTO, O NOIVO

Para a apresentar a si mesmo como gloriosa. (v. 27)

 

Esta é, pois, a grande graça e o dom indizível que Deus deu aos cristãos, embora o mundo não se dê conta disso. Pois calcule só que honra e glória não deve ser esta: Cristo, o Filho de Deus, humilhando-se tanto assim e, em sua bondade, vem morar conosco. Ele simplesmente não se denomina nosso Senhor, nem pai, irmão ou amigo, mas adota o nome que expresse o mais sublime amor e a mais profunda amizade que possa haver no mundo: ele quer ser nosso noivo e assim deseja ser chamado; quer formar conosco um só corpo (como se diz no caso de marido e mulher), ou, para usar palavras da Bíblia, uma só carne e um só osso, palavras que jamais são usadas para descrever qualquer outra relação de parentesco ou amizade. Assim Cristo quis apresentar-se a nós da forma mais amável e amigável possível, oferecendo e prometendo o seu imenso amor, para que nos denominemos sua noiva e, com toda a confiança, possamos e devamos chamá-lo de nosso amado noivo, e nos gloriemos nisso.

Por isso, São Paulo apresenta o assunto numa pregação tão gloriosa, e o enaltece tanto assim que até parece que vão lhe faltar palavras. Por essa razão simplesmente conclui: “Grande é este mistério”. Em outras palavras: isso que Deus exprime por meio do estado matrimonial é algo por demais sublime, glorioso, indizível.

Segundo São Paulo, isto é o que Cristo fez por sua igreja. Nosso coração é por demais limitado e fraco, e a glória dessa união espiritual é grande demais para podermos compreendê-la.

 

Leia em sua Bíblia: Efésios 5.22-27

DO MATRIMÔNIO CRISTÃO

“Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela”. (v. 25)

 

Neste versículo, São Paulo resumiu e associou o estado matrimonial e a ressurreição, juntamente com todas as de Cristo em sua igreja. Também apresenta aos cônjuges, tanto a marido como mulher, este único exemplo: Cristo é o cabeça da igreja, como o marido é o cabeçada mulher, e a igreja cristã é sua noiva ou esposa. Deste modo, nos ensina a nós e a todos os que querem viver um matrimônio cristão e mais perfeito do que o dos gentios: que tenhamos diante dos olhos o modelo que Deus apresenta em Cristo a sua igreja, e que no matrimônio vivamos segundo esse modelo, louvando e agradecendo a Deus por estarmos nestes dois estados divinos, ou seja, no sublime, espiritual matrimônio com o Senhor Jesus Cristo, e neste matrimônio ordinário, físico no mundo da carne.

Pois Deus oferece elevada honra e glória ao estado matrimonial, ao apresentar e pintá-lo como exemplo e modelo da sublime e inexprimível graça e amor que ele demonstra e concede gratuitamente em Cristo, como o mais sublime sinal desta tão sublime e amável união entre Cristo e a Cristandade e todos os seus membros; uma união tão íntima que não há outra igual. E assim o apóstolo deixa suficientemente claro que o matrimônio é um estado divino, agradável a Deus porque o próprio Deus o instituiu. Além disso, toma-o por exemplo e modelo do casamento espiritual no qual se deve reconhecer seu amor e sua vontade para conosco, e no qual todos nós nos devemos espelhar diariamente. De modo especial, os cônjuges devem, no trato de um para com o outro, seguir esse modelo em seu estado matrimonial, como São paulo também os exorta nesse versículo.

 

Leia em sua Bíblia: Romanos 3.27-31

LEI E EVANGELHO

“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”. (v. 28)

 

Aqui é preciso saber que a Escritura Sagrada como um todo se divide em duas classes de palavras: os mandamentos ou a lei de Deus e as promessas.

Os mandamentos nos ensinam e prescrevem toda sorte de boas obras. Agora, dar mandamentos é uma coisa, cumprir os mandamentos é coisa bem diferente. Os mandamentos nos orientam corretamente, mas não nos ajudam; ensinam o que devemos fazer, mas não nos dão a força para cumpri-los. Por isso, os mandamentos nos foram dados com a finalidade única de fazer com que, por meio deles, o homem se convença de sua incapacidade de fazer o bem e aprenda a desesperar de si mesmo. E por esta razão também levam o nome de Antigo testamento. Assim, o mandamento “Não cobiçarás” demonstra que somos todos pecadores e que homem nenhum é capaz de se livrar da cobiça, por mais que se esforce. Isso lhe ensina a desesperar de si mesmo e a buscar em outra parte a ajuda necessária para se livrar da cobiça, e, assim, cumpra esse mandamento – algo que ele mesmo não consegue fazer – por meio de alguém outro. O mesmo se aplica também aos demais mandamentos: somos incapazes de cumpri-los.

Quando o homem vê e reconhece sua incapacidade através dos mandamentos, de sorte que fica temeroso, pensando em como cumpri-los (já que é necessário cumpri-los, sob pena de condenação), ele fica, deveras, humilhado e aniquilado, e, em si mesmo, não encontra nada que o possa salvar. Entra, então, em cena a outra palavra, a promessa divina, que diz: “Se você deseja cumprir todos os mandamentos, ver-se livre de sua cobiça e de seu pecado, olhe aqui, creia em Cristo, em quem eu lhe prometo graça, justiça, paz e liberdade plenas. Se você crer, receberá; se não crer, ficará sem nada. Porque encerrei todas as coisas na fé, de sorte que se alguém crê, terá tudo e será salvo; agora, se não crê, ficará sem nada”.

 

Leia em sua Bíblia: João 2.1-11

CRISTO DÁ SABOR À LEI

“Estavam ali seis talhas de pedra que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava duas ou três metretas. Jesus lhes disse: Enchei d’água as talhas. E eles as encheram totalmente. Então lhes determinou: Tirai, agora, e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram”. (vv. 6-8)

 

As seis talhas de pedra que os judeus usavam para se lavar são os livros do Antigo Testamento, que, por leis e mandamentos, apenas criavam uma piedade externa e lavavam o povo apenas por fora. Por isso, também o evangelista João diz que aquelas talhas serviam para as purificações, para expressar: É a pureza que se consegue pelas obras, sem fé, a pureza que jamais purifica o coração, antes o polui ainda mais. O fato de haverem seis talhas significa quanto esforço e trabalho têm como tal purificação os que lidam com obras. Pois nisso seus corações jamais encontram descanso, pois não têm o sábado, o sétimo dia, para descansar das obras e deixar Deus obrar em nós.

Transformar água em vinho significa tornar agradável a compreensão da lei. Isso acontece da seguinte forma: Antes de chegar o evangelho, todos compreendem que a lei exige nossas obras, e que temos que satisfazê-las por meio de obras. Dessa compreensão da lei resultam santarrões e hipócritas empedernidos e arrogantes, mais petrificados do que a cerâmica das talhas ou, então, consciências amedrontadas e inquietas. O evangelho, porém, transfigura a lei, de modo que passa a exigir mais do que somos capazes, a buscar homens diferentes daqueles que somos. Quer dizer: A lei exige a Cristo e conduz a ele, de modo que, primeiro, nos tornemos outra gente por sua graça e na fé, e depois então façamos boas obras.

Aí, então, vem o maravilhoso evangelho e transforma a água em vinho. A lei, agora, é saborosa, por ser tão profunda e elevada, tão santa, correta e boa, por exigir coisas tão grandes. Por isso ela passa a ser amada. O que antes era difícil, duro e impossível, agora é agradável e fácil. Pois agora vive no coração pelo Espírito Santo. A água já não está em talhas. Ela se tornou vinho, foi distribuída, bebida e alegrou os corações.

 

Leia em sua Bíblia: Marcos 10.13-16

JESUS ABENÇOA AS CRIANÇAS

“E então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava”. (v. 16)

 

Por que será que ele não toma nos braços um marmanjo, um rei, ou, então, qualquer um dos santos? Acontece que ele toma uma criança, na verdade uma criança bem pequena, que ainda não tem muita compreensão das coisas, e a abraça . Como isso deixa claro que seu reino é das crianças e que ele, o Senhor, é um duque e príncipe das crianças e deseja estar com elas. Com isso também quer dizer o seguinte: Se quiserem saber quem é o maior, já lhes digo: Se vocês ouvem de mim, são grandes, pois eu sou tudo; e quem receber a mim, recebe o Pai, Criador do céu e da terra; sim, recebe, ao mesmo tempo, céus e terra. Recebe a Deus, como todos os seus dons.

Assim aconteceu que a gente recebe, em primeiro, o menino, Cristo, e, por meio dele, o Pai celeste. Pois não ficarei para sempre entre vocês corporalmente, diz Jesus. em razão disso, quero pôr outra coisa diante de seus olhos, algo que vocês devem estimar como estimam a mim, a saber: “Qualquer que receber uma criança tal como esta, em meu nome, a mim me recebe, e quem receber a mim, recebe a meu Pai”.

Por que, então, deveria eu procurar a Cristo lá longe, ou até mesmo subir aos céus na ânsia de encontrá-lo? Tenho diante de mim tantas crianças cristãs que são imagem e morada de mau amado Senhor Jesus Cristo. Vendo a estas, estarei vendo o próprio Cristo. Se ouço o que dizem, estarei dando ouvidos a Cristo. Se lhes ofereço um copo de água, estarei dando de beber a Cristo. Se lhes dou de comer, estarei alimentando a Cristo. Se lhes dou o que vestir, estarei vestindo a Cristo. E assim, na igreja cristã, terei o mundo cheio de Cristo. Toda vez que olho e vejo crianças cristãs, vejo a Cristo. Se eu pudesse crer nisso!

 

Leia em sua Bíblia: João 2.1-11

O LIMITE DA OBEDIÊNCIA

“Mas Jesus disse a sua mãe: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chagada a minha hora”. (v. 4)

 

São palavras amargas, mas ele é doce, eu sei disso muito bem. Agora, note como nessa ocasião Jesus foi rude com sua própria mãe, confirmando que, em se tratando de Deus e do nosso serviço a ele, não se deve conhecer nem pai nem mãe. Porque, embora não haja sobre a face da terra autoridade superior à de pai e mãe, esta termina onde começa a palavra e a ação de Deus. Pois nas coisas que são de Deus, nem pai nem mãe, muito menos bispo ou qualquer outra pessoa deve ensinar e guiar, mas tão-somente a palavra de Deus. E se pai e mãe lhe ordenarem, ensinarem ou pedirem para fazer contra Deus ou a serviço de Deus algo que não é claramente ordenado e exigido por Deus, você deve responder assim: “Que tenho eu contigo?”

Pois é dever de pai e mãe – e foi justamente para isso que Deus os colocou neste estado – ensinar os filhos e guiá-los a Deus, não segundo sua própria imaginação ou devoção, mas conforme o mandamento de Deus.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 18.1-9

SE VOCÊS NÃO SE TORNAREM COMO CRIANÇAS

“Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. (v. 30)

 

Ah, querido Deus, o senhor é damasiadamente rude para conosco! Quisera o senhor tivesse mais consideração e deixasse de exaltar tanto assim as bobinhas dessas crianças! Onde é que o senhor ordenou e ensinou que uma tola de uma criança deva ser preferida a um sábio? Como pode Deus, nosso Senhor, manter seu juízo e sua justiça, tão decantada por Paulo: a justiça de Deus! a justiça de Deus!

É essa a tal justiça, que o senhor despreza os sábios e aceita os tolos? Nesse caso, só nos resta crer na palavra de Deus e dar-nos por vencidos. Deus, nosso Senhor, tem pensamentos mais puros do que nós. Para nos transformar nestas crianças, ele precisa, antes de mais, polir nossa rudez e decepar esses galhos ásperos que temos. Vejam, como são puros e singelos os pensamentos das criancinhas! Como elas encaram o céu e a morte sem qualquer receio! Vivem como se estivessem no paraíso. E nas crianças, que virão a ser gente importante, sempre se descobrem maneiras peculiares, maravilhosos.
Querido Deus, como não lhe devem agradar a vida e as brincadeiras dessas crianças! Sim, todos os seus pecados outra coisa não são do que perdão dos pecados.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 18.1-9

GANHAR O CÉU OU O INFERNO NOS PRÓPRIOS FILHOS

“E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe. Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe dependurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fora afogado na profundeza do mar”. (vv. 5s.)

 

Assim também é verdadeira a afirmação de que os pais podem ganhar o céu através dos próprios filhos, mesmo que não façam outra coisa além de serem pais. Se os pais educam os filhos para que sejam servos de Deus, terão as duas mãos cheias de boas obras por fazer. Pois quem são os famintos, os sedentos, aqueles que não têm roupa, os prisioneiros, os doentes, os estrangeiros, senão as almas de seus próprios filhos (Mateus 25.35-36)? Com eles, Deus transforma sua casa num hospital, colocando-o como diretor do mesmo, para que você cuide deles, os alimente e lhes dê de beber com boas obras e palavras, de sorte que aprendam a confiar em Deus, crer nele, temer e depositar sua confiança nele, honrar seu nome, não jurar nem amaldiçoar, trabalhar, participar do culto e ouvir a palavra de Deus; que aprendam a desprezar as coisas deste mundo, suportar desgraças com paciência, não Ter medo da morte nem amar a presente vida! Oh, que lar e que casamento feliz não é aquele onde existem pais assim! De fato, seria uma verdadeira igreja, excelente mosteiro, sim, um paraíso.

Por outro lado, nada mais fácil para os pais do que serem condenados ao inferno por causa de sua atitude em relação aos filhos, em seu próprio lar, se negligenciam os filhos e não lhes ensinam as coisas mencionadas acima. De que adianta matar-se jejuando, orando, fazendo romarias e praticando toda sorte de obras? Por ocasião da morte e do juízo final, Deus não vai perguntar a respeito disso aí; vai exigir, isso sim, os filhos que ele lhes deu.

 

Leia em sua Bíblia: Colossenses 3.18-25

O QUARTO MANDAMENTO

Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante do Senhor. (v. 20)

 

Deus conferiu ao estado paterno e materno uma distinção toda especial, colocando-o acima de todos os estados que estão abaixo de Deus. Assim, não ordena simplesmente que amemos os pais; manda honrá-los. Pois com respeito a irmãos ou irmãs e ao próximo em geral, não ordena coisa mais elevada que amá-los. Dessa maneira separa e destaca pai e mãe acima de todas as outras pessoas na terra e os coloca a seu lado. Pois honrar é coisa muito mais sublime do que amar. Honrar inclui não somente o amor, mas, também, modéstia, humildade e reverência como para com uma majestade que se esconde dentro da pessoa. Honrar requer não apenas que nos dirijamos aos pais de modo amável e respeitoso, mas, acima de tudo, que, de corpo e alma, demonstremos que os temos em alta conta, e que, depois de Deus, os consideremos as mais altas autoridades. Porque para honrar alguém de coração é preciso que realmente o consideremos elevado e grande.

Por isso é preciso incutir nos jovens que vejam nos pais representantes de Deus e lembrem que, por mais modestos, pobres alquebrados e excêntricos que sejam, não deixam de ser pai e mãe, dados por Deus. Não ficam privados dessa honra por causa de sua conduta ou em razão de falhas. Por isso não devemos olhar a pessoa como ela é, mas a vontade de Deus que assim estabelece e ordena. É verdade que fora disso somos todos iguais aos olhos de Deus, mas entre nós é necessário que haja essa dignidade e diferença ordenada. Razão por que Deus ordena que seja observada, que você me obedeça e eu tenha autoridade, pois sou seu pai.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 20.1-16

VOCAÇÃO E ELEIÇÃO

“Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos, porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. (v. 16)

 

O evangelho se dirige àqueles que pensam serem os primeiros perante Deus. por isso usa termos corajosos e atinge gente graúda, e chega a apavorar inclusive os maiores santos. Por essa razão, Cristo também confronta com eles os próprios apóstolos. Pois nesse círculo pode acontecer que alguém que seja pobre perante o mundo, fraco, desprezado, sofrendo, inclusive, um pouco por amor de Deus, sem nenhum sinal de ser alguma coisa, ainda assim, no coração e em secreto, se agrade muito a si mesmo, julgando-se o primeiro perante Deus, e vindo assim a ser o último. E, por outro lado, há quem seja tão tímido e retraído, julgando ser o último perante Deus, ainda que tenha dinheiro, honra e bens perante o mundo, sendo, porém, assim, o primeiro.

Eis, portanto, o resumo desse evangelho: Ninguém está tão elevado, nem atingirá um ponto tão alto, que não tivesse que temer de vir a ser o mais baixo. Por outro lado: Ninguém está tão baixo ou pode cair tão fundo, que não pudesse ter a esperança de vir a ser o primeiro. Aqui fica eliminado todo e qualquer mérito e se glorifica unicamente a bondade de Deus... Ao dizer: “Os primeiros serão últimos”, Jesus tira de você toda a arrogância e lhe proíbe elevar-se mesmo acima de uma meretriz, ainda que você seja Abraão, Davi, Pedro ou Paulo. Mas, quando diz: “Os últimos serão primeiros”, proíbe-lhe também todo desespero e que jamais se considere inferior a qualquer um dos santos, ainda que você seja Pilatos, Herodes, Sodoma e Gomorra.

 

Leia em sua Bíblia: Romanos 6.15-19

OS MEMBROS A SERVIÇO DA JUSTIÇA

“Assim como oferecestes os vossos membros para escravidão da impureza, e da maldade para a maldade, assim oferecei agora os vossos membros para servirem à justiça”. (v. 19)

 

Até mesmo a razão lhes ensina que, em virtude do fato de vocês não mais estarem sujeitos ao pecado e à injustiça, não devem mais servi-los nem obedecer-lhes com seus corpos e membros, isto é, como todo seu ser e vida corporal. Por outro lado, já que se entregaram em obediência a Deus e à justiça, vocês têm a obrigação de servi-los de corpo e alma. Dito de forma bem simples e linguagem bem clara: aquele que no passado era mau e levava uma vida contrária à vontade de Deus e à voz de sua consciência, deve, agora, viver vida piedosa e servir a Deus de boa consciência. Ou, como São Paulo diz em Efésios 4.28: “Aquele que furtava, não furte mais”. Outrora, diz ele, seus membros: olhos, ouvidos, boca, mãos, pés e todo o corpo eram escravos da impureza. Assim também vocês colocaram seus membros a serviço da injustiça ou toda sorte de vida e obras injustas, pois cometiam uma injustiça atrás da outra, com todo tipo de truques e trapaças. Agora, porém, mudem a vida segundo seu próprio juízo e compreensão. Se antes vocês gostavam de ver, ouvir e falar o que era vergonhoso e imoral, ou buscavam essas coisas, e com seus corpos serviam à imoralidade, agora, seus olhos e ouvidos devem doer ao verem e ouvirem coisas dessa natureza. Todo o corpo deve fugir disso, e suas palavras e obras devem ser castas. Assim sendo, todos os membros e tudo o que o corpo faz ou deixa de fazer deve servir à justiça.

E tudo isso para que seus membros e corpos se tornem santos, isto é, propriedade de Deus, destinados tão-somente a seu serviço, e para que todos eles, com o passar do tempo, cada vez mais e mais, com maior alegria, sirvam a Deus em obediência a ele a para sua honra, em tudo que é divino, louvável, honrado e virtuoso.

 

Leia em sua Bíblia: Romanos 6.4-11

MORTOS PARA O PECADO

“Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos”. (v. 8)

 

Veja, desta maneira Paulo relaciona a vida dos cristãos neste mundo com a morte de Cristo e os apresenta como pessoas que já morreram e estão sepultadas num caixão, ou seja, morreram para o pecado e não têm mais nada a ver com ele. E isso significa que o pecado morreu para eles e eles, por sua vez, morreram para o pecado, pois não andam mais nos caminhos pecaminosos do mundo. Na verdade, morreram duas vezes ou de duas maneiras. Uma é a morte espiritual para o pecado. Este é um morrer gracioso, consolador e bem-aventurado (embora seja dolorido e amargo para carne e sangue). Esta morte é doce e amável, pois nos traz nada mais e nada menos do que a celeste, pura e perfeita vida eterna. A outra é corporal; que não é morte, e sim muito mais um puro e suave sono imposto a esta carne porque, enquanto vivermos neste mundo, ela não cessa de resistir ao Espírito e à vida que ele dá.

É assim que a carne age enquanto vive neste mundo: expande-se e traz o pecado de arrasto; resiste e não quer morrer. Razão por que, no final, Deus tem de executá-la, para que também morra para o pecado. Também esta é uma morte tranqüila e suave; na verdade, outra coisa não é senão um sono. Pois o corpo não ficará na morte (porque a alma e o espírito já não estão mais na morte), mas no dia do juízo reaparecerá, limpo e purificado, e se reunirá ao espírito, para ser um corpo puro, obediente, livro de todo pecado e mau desejo.

 

Leia em sua Bíblia: Gênesis 23.1-16

O EVANGELHO NÃO ANULA A NATUREZA

“Sara morreu; veio Abraão lamentar Sara e chorar por ela”. (vv. 1s.)

 

Está escrito que Abraão lamentou e chorou por Sara, para que fique bem claro que não há nada de errado em ficar aflito, triste e enlutado quando falecem aqueles que amamos. Embora todos tenhamos de comer, estamos, assim mesmo, de tal forma ligados uns aos outros pelo amor, que cada qual deve se alegrar com a vida do outro, assim como também nos liga o fato de sermos pobres e termos de comer nosso pão no suor do rosto. Enquanto vivermos, o amor deve ser colocado em ação, preocupando-se com a pobreza ou qualquer outra necessidade do próximo.

Deus não deseja anular a natureza através do evangelho. Ao contrário, preserva o que é natural, dando-lhe, porém, a direção correta. É natural que um pai ame a seu filho, que a mulher ame a seu marido, e que se alegrem quando tudo vai bem, e que fiquem tristes quando algo vai mal. Em relação a Deus, segundo a fé, o cristão não se deixa abalar, mesmo que tudo vá águas abaixo; agora, segundo o amor, devemos nos importar como se fosse nossa própria necessidade, e agir com amor. Caso contrário, ou seja, se isso não nos servisse de lição, Deus não teria mandado escrever que o grande patriarca Abraão chorou a morte de sua mulher. Assim, Deus permite que nos perturbemos interiormente. Contudo, é de sua vontade que superemos essa perturbação por meio da fé e, dessa forma, não desanimemos nem nos afastemos de Deus.

 

Leia em sua Bíblia: Marcos 7.31-37

LÍNGUA E OUVIDOS

“Jesus, tirando-o da multidão, à parte, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e lhe tocou a língua com saliva”. (v. 33)

 

Aqui, Cristo se dedica especialmente a estes dois órgãos: ouvidos e língua. Pois, como se sabe, o reino de Cristo se fundamenta na palavra que não pode ser recebida nem compreendida a não ser por meio destes dois membros, os ouvidos e a língua. Esse reino exerce seu domínio no coração dos homens tão-somente por meio da palavra e da fé. Os ouvidos apreendem a palavra, e o coração crê nela; agora, a língua anuncia ou confessa a palavra que é crida no coração. Portanto, se as línguas emudecem e os ouvidos se fecham, não resta nenhuma diferença visível entre o reino de Cristo e o mundo.

Pois, no tocante à vida corporal ou exterior, a conduta de um cristão em nada difere daquela do não-cristão: ele constrói, planta, lavra o solo como os demais, e não realiza nenhuma obra ou feito especial em termos de comida, bebida, trabalho, sono ou qualquer outra coisa. Apenas esses dois órgãos estabelecem uma diferença entre cristãos e não cristãos: o cristão fala e ouve de forma diferente e sua língua exalta a graça de Deus e prega o Senhor Jesus Cristo, declarando que somente ele é o Salvador. O mundo não faz nada disso. Ao contrário, fala da avareza e de outros vícios, prega e engrandece sua própria pompa.

 

Leia em sua Bíblia: Marcos 7.31-37

O SUSPIRO DE CRISTO POR CAUSA DE TODAS AS ENFERMIDADES

“Então lhe trouxeram um surdo e gago, e lhe suplicaram que impusesse a mão sobre ele... depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá, que quer dizer: Abre-te”. (vv. 32s.)

 

Cristo suspirou não somente por causa da língua e dos ouvidos desse pobre homem. Tratava-se de um suspiro geral por causa de todos os corações, corpos e almas, e todos os homens, desde Adão até ao último que ainda virá a nascer. Deste modo, o motivo principal do suspiro de Cristo não é que no futuro essa pessoa ainda virá a cometer muitos pecados. Era porque nesse montão de carne e sangue diante de si, o Senhor viu claramente como no paraíso o diabo conseguiu infligir dano mortal ao corpo humano, tornando as pessoa mudas e surdas, e sujeitando-as à morte e ao fogo do inferno.

Naquele dia e em muitas outras ocasiões, Cristo teve diante dos olhos esse quadro da extensão do estrago que o diabo conseguiu fazer por meio da queda de um só homem no paraíso. Ele não olhou somente aqueles dois ouvidos, mas a grande multidão que nasce e ainda há de nascer. De modo que esse evangelho nos apresenta a Cristo como o Homem que aceita a você, a mim e a todos nós, assim como devemos aceitar a nós mesmos, como se ele estivesse envolvido no mesmo pecado e dano em que nós nos encontramos. E ainda nos mostra que ele suspira por causa do diabo invejoso que deu origem a toda essa deformação.

 

Leia em sua Bíblia: Jó 33.1-7

CRIATURA DE DEUS

"O Espírito de Deus me fez; e o sopro do Todo-poderoso me dá vida".(v. 4)

 

Esta é minha opinião e nisso creio: sou criatura de Deus, isso é, ele me deu e de contínuo conserva corpo, alma e vida, membros, tanto pequenos como grandes, todos os sentidos, razão e inteligência, e assim por diante; comida, bebida, vestimenta, alimento, mulher, filhos, empregados, casa, lar, e todas as criaturas. Tudo isso dá para satisfazer as necessidades de nossa vida. Ele faz com que nos sirvam o sol, a luz e as estrelas no céu, o dia e a noite, o ar, o fogo, a água, a terra e tudo o que ela produz, as aves, os peixes, os animais, os cereais e toda sorte de plantas. Também os demais bens corporais e temporais: bom governo, paz, segurança. De modo que este artigo nos deve ensinar que nenhum de nós tem a vida de si mesmo, nem coisa alguma do que acabamos de enumerar e do que pode ser enumerado e, também, que não está em nosso poder conservar qualquer dessas coisas, por pequena que seja, pois tudo está compreendido na palavra “Criador”.

Se quiséssemos entrar em pormenores, teríamos muito a dizer sobre quão pequeno é o número dos que crêem nesse artigo. Pois nós todos o passamos por alto, ouvimos e recitamos as palavras, mas não vemos seu sentido nem meditamos nele. Porque, se o crêssemos de coração, também agiríamos de acordo e não andaríamos por aí tão orgulhosos, com ar desafiador e vaidoso, como se devêssemos a nós mesmos a vida, a riqueza, o poder e a honra, de sorte que se tivesse que temer e servir a nós, como procede o infeliz e pervertido mundo.

Por isso, esse artigo a todos nós humilharia e nos encheria de assombro, se o crêssemos. Pois, dia a dia, pecamos com os olhos, os ouvidos, as mãos, corpo e alma, dinheiro, bens, e como tudo que temos.

Por isso devemos exercitar-nos diariamente nesse artigo, imprimi-lo em nossa mente e, em tudo o que vemos e no que de bom nos aconteceu, bem como nos momentos em que saímos de necessidades ou perigos, lembrar que é Deus quem nos dá e faz tudo isso, sentindo e vendo nisso seu coração paterno e seu imenso amor para conosco. Isto aqueceria nosso coração e o estimularia a ser grato e a faze uso de todos esses bens para honra e louvor de Deus.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 8.5-13

O MILAGRE DA FÉ

“Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta... Então disse Jesus ao centurião: Vai-te, e seja feito conforme a tua fé. E naquela hora o servo ficou curado”. (vv. 10 e 13)

 

Nesse exemplo do texto aconteceram dois milagres, ou, então, um milagre duplo. Um, feito pelo Senhor, outro, pelo centurião. Pois lemos aí que o próprio Jesus se admira da grande fé do centurião. Se, pois, Cristo considera isso um milagre e o louva, também nós o consideraremos assim. Encontrar um centurião com tal fé é para Jesus erva rara e caça excepcional.

As pessoas consideram grande milagre o fato de Jesus devolver a vista aos cegos, o ouvido aos surdos, a saúde aos leprosos. É claro, de fato, são grandes sinais. Jesus, porém, considera milagre maior o que acontece na alma do que as coisas que acontecem no corpo. Portanto, quanto mais vale a alma do que o corpo, tanto maior deve ser considerado este milagre em comparação com os milagres físicos.

Aconteceram, pois, aqui dois milagres; e Cristo os continuará fazendo diariamente, até o fim dos tempos. Os milagres físicos ele os faz raras vezes, como, aliás, os fez raras vezes enquanto estava na terra. Pois não curou a vista a muitos cegos, nem curou a todos os doentes. A muitos deixou cegos e doentes... Por isso tais milagres e sinais físicos não são eternos nem generalizados. Pois não é neles que está seu interesse. Ele os faz por amor de nós, para a cristandade começar a crer. Aqueles sinais, porém, que ele próprio considera milagres, esses permanecem para sempre, como, por exemplo, a fé do centurião de Cafarnaum. É uma obra milagrosa, uma grande obra milagrosa o homem ter uma fé tão maravilhosa, forte, correta. Por isso também elogia e exalta a fé desse centurião como se fosse o milagre dos milagres.

 

Leia em sua Bíblia: João 1.35-42

NOSSOS PECADOS ESTÃO SOBRE O CORDEIRO

“E, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus”. (v. 36)

 

Assim, nosso fundamento principal é que sabemos onde nossos pecados estão colocados. Porque a lei os coloca sobre nossa consciência, mas Deus os afasta de nós e os coloca sobre os ombros do Cordeiro. Pois, se são colocados sobre mim e sobre o mundo, estamos perdidos, porque o pecado é forte e poderoso demais. Mas Deus diz: “Eu sei que seus pecados lhe são pesados demais, por isso, eis que desejo tirá-los de cima de você e colocá-los sobre o meu Cordeiro”. Isso você deve crer, pois se assim fizer, estará livre do pecado. O pecado só pode estar em dois lugares: ou está com você, pesando sobre sua nuca, ou está colocado sobre Cristo, o Cordeiro de Deus. Se o pecado estiver sobre suas costas, você está livre e será salvo. Escolha, pois, o que preferir. Segundo a lei e a justiça, seus pecados deveriam permanecer sobre você; mas, por graça, são colocados sobre Cristo, o Cordeiro. Não fosse assim, e se Deus quisesse entrar em juízo conosco, estaríamos perdidos.

Esse é um texto claro, fácil de entender, e essas são palavras vigorosas.

 

Leia em sua Bíblia: Efésios 5.31-33

CADA QUAL AME E HONRE O SEU CÔNJUGE

“Não obstante, vós, cada um de per si, também ame a sua própria esposa com a si mesmo”. (v. 33)

 

Nem de longe chegarmos a um amor tal como esse, pois, como se diz, é demasiado sublime e grandioso. E assim como o casamento terreno é pequeno, também o amor que existe nele é pequeno em comparação com o casamento celestial. Temos que satisfazer-nos em seguir esse exemplo e viver de acordo com o modelo desse casamento, de sorte que, no estado matrimonial, cada um se disponha a pôr em prática e demonstrar seu amor para com a sua noiva ou esposa. E se houver nela algum defeito ou falha, que ele não leve isso a mal, mas use de bom senso, dizendo: “Como devo proceder? Ela é minha noiva. A essa altura preciso, na medida do possível, encobrir, purificar, enfeitar e melhorar e, nesse pequeno casamento, demonstrar o pequeno amor, como Cristo demonstra seu grande e indizível amor por sua noiva, a igreja, de quem também sou membro”.

Além disso, no estado matrimonial compete também à mulher, não somente amar o marido, mas, também, ser obediente e submissa, imitando o exemplo da união Cristo-igreja e pensando assim: “Meu marido é imagem do verdadeiro Deus e grande cabeça Cristo, por amor de quem vou respeitá-lo e fazer o que lhe agrada”.

Semelhantemente, o marido, por sua vez, deve amar sua esposa de todo coração, por causa do grande amor que vê em Cristo, dizendo assim: “Nem eu nem ninguém jamais amou assim. Por isso, segundo o exemplo de Cristo, quero, na medida de minhas capacidades. Amar a minha esposa como a minha própria carne. Cuidando, alimentando e servindo-a, evitando ser rude e excêntrico para com ela. Ao contrário, se ela não for perfeita e cometer alguma falha, vou usar de bom senso e ter paciência”. Esse, então, deixaria de ser um matrimônio terreno e humano ou racional para ser um matrimônio cristão, divino, desconhecido dos pagãos. Porque esses não percebem a grande glória e honra do matrimônio, que se trata duma imagem da sublime união espiritual de Cristo. Por isso cabe a nós, cristãos, honrar e exaltar muito mais esse estado, pois sabemos e conhecemos o esplendor e a glória conferidos a este estado.

Leia em sua Bíblia: Lucas 8.9-15

O DIABO ODEIA A PALAVRA

“A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem a seguir o diabo e arrebata-lhe do coração a palavra, para não suceder que, crendo, sejam salvos”. (v. 12)

 

Esta é a verdadeira negrura ou melhor, alvura do diabo. Pois trata-se de um diabo inteligente, lúcido, que não nos tenta com pecados grosseiros, mas com descrença. Pois no momento em que conseguiu destruir a fé, ganhou a parada. A pessoa precisa ter a palavra de Deus e apegar-se a ela por meio da fé. No instante em que permite que essa lhe seja tirada, não lhe resta nenhuma ajuda. Por isso observe que o diabo procura atacar apenas a fé. Os pagãos, os descrentes e não-cristãos ele não tenta, pois esses já estão grudados nele como escamas. Agora, vendo aqueles que têm a palavra de Deus, a fé e o Espírito, reconhece que nada conseguirá. Sabe muito bem que não pode vencer, ainda que as pessoas tropecem. Percebe que, mesmo que alguém caia em pecado grosseiro, não está perdido em razão disso, pois sempre ainda pode reerguer-se. Por isso conclui que deve fazer as coisas de forma diferente, tirando-lhes o bem maior. E quando consegue, então, levar alguém a duvidar que se trata da palavra de Deus, a parada está decidida a seu favor. Pois Deus pode perdoar-nos sempre que tropeçamos, desde que não nos afastemos da pura e genuína palavra de Deus que diz: isto é certo, isto é errado. O diabo sabe disso, e por esse motivo ataca primeiramente por esse lado. Tão logo o diabo lhe arrebata a fé, a pessoa por si só não pode mais rechaçá-lo; está fadada a praticar toda sorte de pecados.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 11.25-30

A PALAVRA EM FORMA DE SERVO

“Por aquele tempo exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”. (v. 25)

 

Peço fielmente a todos os cristãos piedosos e os admoesto a que não se escandalizem e também não se ofendam com as narrativas e histórias singelas que estão na bíblia, e não as coloquem em dúvida. Por mais insignificantes que possam parecer, certamente são palavra, obra, história e juízo da suprema majestade, poder e sabedoria divinos. Pois este é o livro que reduz todos os sábios e entendidos a ignorantes, e que só pode ser entendido pelo simples, como Cristo diz em Mateus 11.25. Por isso deixe de lado seus próprios pensamentos e sentimentos e tenha esse livro em alta conta, como o mais sublime e mais nobre tesouro, e como a mais rica de todas as minas, a qual jamais pode ser suficientemente escavada nem, tampouco, esgotada. Para que nela você encontre a sabedoria divina a qual Deus apresenta de forma tão singela na Bíblia, e para que ele desfaça e reduza a nada o orgulho de todos os sabichões. Neste livro você tem as fraldas e a manjedoura onde Cristo estava deitado. São, é bem verdade, fraldas simples e desprezíveis, mas precioso é o tesouro que está enrolado nelas.

 

Leia em sua Bíblia: João 7.14-24

OUVIR A PALAVRA DE DEUS

“Se alguém quiser fazer a vontade daquele que me enviou, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo”. (v. 17)

 

Esta é a vontade do Pai: que prestemos atenção no que o Cristo homem diz e demos ouvido à sua palavra. Você não deve sofismar a palavra de Deus, tampouco colocar-se acima dela ou torná-la objeto de disputas, mas, pura e simplesmente, ouvi-la. Então o Espírito Santo virá e deixará seu coração bem preparado, para que, de coração, você possa crer na pregação da palavra divina e dizer: Esta é a palavra de Deus e a pura verdade; e também arrisque sua vida por ela. Agora, se você quer que a gente ouça o que você tem a dizer, e com a razão humana anula a palavra de Cristo; se você se considera mestre da palavra, introduzindo nela doutrinas estranhas, investigando como deve ser interpretada e fazendo com que as palavras tenham o sentido que você quer; se você levar a sério a palavra apenas quando a coloca em dúvida e quer julgá-la segundo seu modo de entender, isso não significa ouvir nem ser aluno; isso é ser mestre.

Dessa forma, jamais se chega ao ponto de entendê-la e dizer: Esta é a palavra de Deus. Por isso, tranque a porta de sua razão e calque aos pés a sabedoria, não permitindo que, no que diz respeito a sua salvação, elas fiquem aí andando às apalpadelas, sintam ou pensem algo. Ouça tão-somente o que o Filho de Deus tem a dizer, qual é sua palavra, e atenha-se a ela. Ouvir, ouvir é o que importa. Fazer isso é cumprir à risca a vontade do Senhor nosso Deus. e ele prometeu dar o Espírito Santo àquele que ouve o Filho, iluminá-lo e dar-lhe vida, para que tenha a clara compreensão de que se trata da palavra de Deus! Deus o transformará num homem segundo o seu coração. Isso ele certamente fará.

 

Leia em sua Bíblia: Hebreus 11.8-22

A GRANDE TENTAÇÃO DE ABRAÃO

“Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas”. (v. 17)

 

Por ser o primeiro e maior dos santos patriarcas, Abraão tem que passar por tentações verdadeiramente patriarcais, que seus descendentes não teriam podido suportar.

Nessa passagem, a Escritura diz expressamente que Abraão foi tentado por Deus, não pela mulher, nem pelo ouro, nem pela prata, nem pela morte, nem pela vida, mas pela contradição das Sagradas Escrituras. Pois aqui, Deus se contradiz abertamente. Não diz que viria um ladrão para raptar seu filho secretamente, pois, neste caso, Abraão ainda poderia ter tido esperança de que seu filho viveria e voltaria para casa. Mas abraão recebe a ordem de matá-lo com suas próprias mãos, para que não restasse dúvida nenhuma que Isaque estava realmente morto.

Esta tentação não pode ser vencida, e é mais do que evidente que não a podemos compreender. Quando Deus manda matar o filho, não resta a mínima esperança. Ele simplesmente coloca Abraão diante da contradição. E que Deus até então parecia ser seu melhor amigo, revela-se agora inimigo e tirano.

Neste ponto, a razão humana simplesmente chegaria à conclusão de que ou a promessa era falsa ou a ordem não procedia de Deus, mas do diabo. Pois se Isaque deve ser morto, fica anulada a promessa. Agora, se a promessa é válida, então é impossível acreditar que a ordem de matá-lo tenha partido de Deus.

Abraão, apesar da manifesta contradição (pois não há meio-termo entre vida e morte), não se afasta da promessa, mas acredita que seu filho, que está para morrer, terá descendência. Desta forma, Abraão apega-se à promessa e reconhece que Deus pode trazer seu filho morte de volta à vida... Assim, Abraão compreendeu o artigo da ressurreição dos mortos, e, unicamente com este artigo, conseguiu superar aquela contradição que não pode ser superada de outra forma. E não é sem motivo que sua fé é exaltada pelos profetas e apóstolos. Ele pensou assim: Hoje tenho um filho; amanhã não terei nada senão cinzas. As cinzas ficarão espalhadas por não sei quanto tempo, mas, por outro lado, tornarão a receber vida, se não durante minha vida, então, talvez, mil anos depois de minha morte; pois a palavra me diz que terei descendência por meio desse Isaque reduzido a cinzas.

Esse consolo deve ficar. O que Deus disse, isso ele não muda. Se você é batizado, e se no batismo você tem a promessa de Deus, saiba que essa palavra é imutável, e dela você não deve afastar-se.

 

Leia em sua Bíblia: Isaías 35.1-10

TENTADOS POR CAUSA DA ELEIÇÃO

“Dizei aos desalentados de coração: Sede fortes, não temais”. (v. 4)

 

Se alguém está demasiadamente temeroso de que não é um eleito de Deus, ou se é tentado por causa de sua eleição, deve dar graças por esse temor e ficar contente por ter medo, pois pode saber com toda certeza que Deus não pode mentir, ele que disse: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado”, isto é, o espírito desesperado. “Coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus” (Salmo 51.17). Que está atemorizado, isso ele o sabe de experiência própria. Portanto, deve lançar-se resolutamente na veracidade de Deus que faz a promessa: deve esquecer, esquecer mesmo a ameaça de Deus, e então será salvo e eleito.

Quem ainda não tem o espírito purificado não deve entregar-se a esse tipo de meditação, para que não caia no abismo do terror e do desespero. Mas deve, antes, purificar seu coração pela contemplação das feridas de Cristo.

Este é um vinho bastante forte e a mais completa refeição, a comida pesada dos perfeitos, ou seja, teologia no sentido real da palavra, da qual o apóstolo fala em Coríntios 2.6: “Expomos sabedoria entre os experimentados”. Eu, porém, sou criança pequena que precisa de leite. Que siga meu exemplo aquele que, juntamente comigo, é criança pequena. Certeza suficiente temos nas feridas de Cristo.

 

Leia em sua Bíblia: João 12.44-50

O DEUS OCULTO E O DEUS REVELADO

“Quem me vê a mim, vê aquele que me enviou”. (v. 45)

 

Nada se pode crer a respeito de Deus, descobrir ou saber a não ser aquilo que foi revelado a respeito dele. Aqui temos que nos ater ao que diz o ditado: Aquilo que está acima de nós não nos afeta! São totalmente diabólicas essas formas de conhecimento que vêem coisas muito elevadas além e fora da revelação de Deus. De nada servem a não ser para lançar-nos na perdição, pois ocupam-se com um assunto que não pode ser investigado, a saber, o Deus oculto. Se deus oculta suas decisões e mistérios, por que então nos esforçamos tanto assim para que nos sejam revelados? Desde o início, Deus sempre se opôs a esse tipo de curiosidade. Sua vontade e decisão é esta:

“Deixarei de ser um Deus oculto para ser um Deus revelado, sem deixar, todavia, de ser o mesmo Deus. Vou fazer-me carne e enviar meu Filho. Esse vai morrer pelos seus pecados e ressuscitar dos mortos. E assim vou satisfazer o seu desejo que é saber se é predestinado ou não. Veja, aqui você tem meu Filho. Escute o que ele tem a dizer, olhe para ele, como está deitado na manjedoura, no colo da mãe, pendurado na cruz. Atente para o que ele faz e diz. Ali, você, certamente, me encontrará. Se você dá ouvidos à voz de Cristo, é batizado em seu nome e ama a sua palavra, então você certamente é predestinado e pode ter certeza de sua salvação”.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Timóteo 1.18-20

MANTENHA A FÉ

“Mantendo fé e boa consciência”. (v. 19)

 

Quando se trata da diversidade de pecados que continuam dentro dos santos, nesta vida, não devemos voltar os nossos olhos para a secreta eleição, ou providência, ou predestinação, como também é chamada. Pois as discussões em torno disso só levam à dúvida, à autoconfiança ou ao desespero. Se você é eleito, assim se argumenta, nenhuma queda pode fazer-lhe mal, e você permanece sempre na graça, e não pode perecer. Se você não foi eleito, seu caso está perdido. Essas são palavras terríveis, e é injusto fazer com que alguém pense assim. O evangelho, ao contrário, nos aponta a palavra expressa de Deus, na qual ele revela sua vontade e por meio da qual ele deseja ser conhecido e agir. É indiscutível que a palavra de Deus castiga os pecados e faz distinção de pecados e nos aponta o Salvador Jesus Cristo. Esta palavra expressa deve ser levada em conta e por meio dela devemos chegar à conclusão se estamos na graça ou não.

Pois onde existe fé, ali também deve haver boa consciência. É totalmente impossível que estas duas coisas existam lado a lado: a fé que confia em Deus e os maus propósitos, ou, como também se diz, a má consciência. A fé e a invocação de Deus são coisas muito sensíveis, e pode, facilmente, uma pequena ferida da consciência abalar a fé e a invocação, situação muito freqüente de todo cristão experimentado.

Portanto, onde existe fé e boa consciência, ali, certamente, habita o Espírito Santo. Todavia, essa confiança não se baseia em nossa dignidade pessoal ou numa boa consciência, e sim, em Cristo. Disso que conclui que estamos no estado da graça por causa de Cristo, devido a sua promessa. E assim pode haver verdadeira invocação, como escreve São João: “Se o nosso coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus; e aquilo que pedimos, dele recebemos” (1 João 3,21,22).

 

Leia em sua Bíblia: João 10.22-30

NAS MÃOS DE DEUS

“Aquilo que meu Pai me deu é maior que tudo; e da mão de meu Pai ninguém pode arrebatar”. (v. 29)

 

Pessoa nenhuma desse mundo pode escapar disto: se realmente pensa em Deus, seu coração estremece dentro do peito e lhe dá vontade de sair correndo mundo afora. Sim tão logo Deus é mencionado, fica como medo e se atemoriza. Não falo de gente rude, grosseira, mas de pessoas, cujo coração é atingido e que sentem seus pecados. (É só para essas que pregamos). Pois a consciência está aí, e ela sente e sabe que Deus é inimigo dos pecadores e quer condená-los, e que ela não pode fugir nem escapar da ira de Deus. Por isso, para fazer frente a esse temor, Cristo tem de intervir vigorosamente e enxertar no coração aquela doce, amável e consoladora palavra e, assim, afastar os pensamentos graves, amargos e terríveis, apresentando o Pai da forma mais graciosa possível que um coração pode desejar. Por isso, acatemos essa palavra e façamo-la penetrar no coração, como consolo e salvação de nossas almas.

Se você s apega a Cristo, certamente está no grupo daqueles que, desde o início, foram escolhidos por Deus para esse fim, para que fossem seus. Do contrário não viriam a ele, não dariam ouvido a essa revelação, nem a aceitariam.

Por isso, deixe que se preocupem com isso aqueles que não têm o evangelho e não querem dar ouvidos a Cristo. Saiba, porém, que sobre a face da terra há consolo maior do que este que ele mesmo lhe oferece e dá neste versículo aqui, a saber, que você pertence a Deus e é seu filho amado. Pois você tem prazer na sua palavra e seu coração está bem disposto para com ele. Pois se Cristo é gracioso para você e o consola, quem o está consolando é o próprio Deus Pai. Pois for exatamente para isso que ele também se revelou: para que você não precisasse procurar, investigar, nem ficar preocupado com o que ele, porventura, tenha decidido a seu respeito; mas para que você possa ver e saber tudo na palavra: a vontade de Deus e o que diz respeito à salvação.

 

Leia em sua Bíblia: João 15.12-17

ELE NOS ESCOLHEU

“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”. (v. 8)

 

Com isso se abate e se condena de vez todo o atrevimento dos falsos santos que tanto querem fazer e merecer a ponto de pretenderem reconciliar a Deus e ganhar sua amizade. Pois que fazem esses tais senão começar a quere ser os primeiros, de sorte que seus méritos vão à frente e a graça de Deus vem troteando atrás? Dão a entender que não é Deus quem nos escolhe, mas que nós vamos a sua procura no desejo de fazê-lo nosso amigo, para que possamos nos gloriar no fato de que Deus recebeu algo de bom de nós. Assim fazem todas as pessoas do mundo: por meio de obras, anteriormente praticadas, querem merecer a graça de Deus. mas está escrito: “Não foram vocês que me escolheram a mim”, ou seja, vocês são meus amigos não por iniciativa própria, e sim, por minha iniciativa. Porque se vocês fossem meus amigos por iniciativa própria, eu teria de reconhecer o mérito de vocês, agiram se vocês são meus amigos, devem isso unicamente a mim e o recebem através de mim, pois sou eu que os chamo para junto de mim e lhes dou tudo o que tenho, para que se gloriem, não nas obras e méritos de vocês e de todo o mundo, mas em minha graça e amor. Pois não foram vocês que me encontraram; ao contrário, eu tive que procurá-los e trazê-los para junto de mim, pois vocês estavam longe, não tinham conhecimento de Deus, encontravam-se no erro e estavam sujeitos à condenação como os demais. Mas eis que vim e os chamei para fora das trevas antes de vocês pedirem ou fazerem qualquer coisa nesse sentido. E agora, vocês são meus amigos, na medida em que eu lhes faço o bem, e vocês sabem que lhes dou tudo de graça, movida unicamente por misericórdia.

Leia em sua Bíblia: João 14.25-31

PAZ SOB A CRUZ.

“Deixo-vos a paz, a minha paz eu vos dou; não vo-la dou com o dá o mundo. Não se turbe o vosso coração nem se atemorize”. (v. 27)

 

Aqui vemos o ministério do Espírito Santo: ele é dado somente àqueles que estão atolados em sofrimento e miséria. Pois o sentido das palavras é este: “Vocês não devem pensar que eu vos dou uma paz como a dá o mundo”. O mundo afirma que a pessoa tem paz quando o mal é arrancado e afastado dela. Por exemplo: Se alguém é pobre e acha que essa pobreza lhe traz grande inquietação, procura uma maneira de se livrar dela, julgando que, no momento em que eliminar a pobreza, terá paz e desfrutará riquezas. Outro exemplo: Quando alguém está por morrer e a morte o assedia, põe-se a pensar: se eu pudesse afastar a morte, teria paz e continuaria a viver. Agora, uma tal paz, Cristo não nos dá. Ao contrário, ele permite que o mal persista, oprimindo as pessoas. Ele não o remove. Agora, ele usa outro expediente: transforma a pessoa e afasta a pessoa do mal, não o mal da pessoa.

Isso se dá da seguinte maneira: Se você está sofrendo, Cristo o afasta do sofrimento e lhe dá um ânimo tal que você chega até a pensar que está num jardim de rosas. Assim, em meio à morte há vida, e em meio à inquietação, paz e alegria. Eis porque essa é uma paz que excede todo o entendimento, como Paulo escreve em Filipenses 4.7.

 

Leia em sua Bíblia: 2 Timóteo 3.10-13

O SOFRIMENTO DOS SANTOS É COISA SANTA

“Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”. (v. 12)

 

Nós, porém, ensinamos que ninguém deve escolher para si mesmo ou impor-se uma cruz ou sofrimento. Agora, quando ele vem, que o carreguemos e suportemos com paciência. Dizemos também que nosso sofrimento não nos ganha méritos. Basta-nos saber que nosso sofrimento é agradável a Deus, para que nos tornemos semelhantes a Cristo. Assim podemos perceber que justamente aqueles que tanto enaltecem o sofrimento e a cruz são os que menos sabem, seja da cruz, seja de Cristo, porque tornam meritório seu próprio sofrimento. Meu caro, não é nada disso. Ninguém também é obrigado ou forçado a tanto. Se você não está disposto a sofrer de graça, sem ganhar mérito, então deixe o sofrimento de lado e, ao mesmo tempo, negue a Cristo. Agora, uma coisa você deve saber: se não está disposto a sofrer, também não pode ser servo de Cristo. Assim você pode escolher o que prefere; sofrer ou negar a Cristo.

Por último, o sofrimento dos cristãos é mais nobre e precioso do que o sofrimento de todos os demais homens, porque Cristo, submetendo-se ao sofrimento, santificou o sofrimento de todos os seus cristãos. Assim, portanto, através do sofrimento de Cristo, o sofrimento de todos os seus santos tornou-se coisa santa, pois é tingido pelo sofrimento de Cristo. Por isso devemos receber todo sofrimento como coisa santa, pois, de fato, é coisa santa.

 

Leia em sua Bíblia: Salmo 73.23-28

CONSOLO NA CRUZ

“Todavia, estou sempre contigo”. (v. 23)

 

Se por causa da palavra de Deus nos sobrevierem dificuldades, tribulação e perseguição – coisas que acompanham a santa cruz – os seguintes pensamentos deveriam, com a ajuda de Deus, servir-nos de consolo e fazer encarar tudo com ânimo e coragem, bem como levar-nos a entregar e confiar nossa causa à graciosa e paternal vontade de Deus.

Em primeiro lugar, que nossa causa está nas mãos daquele que diz expressamente: “Ninguém as arrebatará de minha mão”. Assim, não seria bom nem aconselhável que ela ficasse em nossas mãos, pois poderíamos e, de fato, iríamos perdê-la pela nossa displicência. Assim são verdadeiros todos esses consoladores versículos: “Deus é nosso refúgio e fortaleza”. Quem dos que esperam em Deus foi em tempo algum envergonhado? Todos aqueles que confiam em Deus serão amparados. Também: “Tu, Senhor, não desamparas os que te buscam”. Assim também é verdade que entregou seu único Filho por todos nós. Se isso é assim, que faremos então de nosso lamentável desânimo, preocupações e tristeza? Se Deus entregou seu único Filho por todos nós, como poderia ele vir a nos abandonar em coisas menores?

Deus é muito mais forte, potente e poderoso do que o diabo. São João diz assim: “Maior é aquele que está em nós do que aquele que está no mundo”. Se nós caímos, então, o próprio Cristo, o todo-poderoso Rei do universo, sofre junto conosco. E mesmo se essa causa viesse a fracassar, deveríamos, muito antes, preferir fracassar com Cristo a nos mantermos de pé ao lado dos poderes deste mundo.

 

Leia em sua Bíblia: Salmo 94.12-15

A CRUZ É BOA PARA NÓS

“Bem-aventurado o homem, Senhor, a quem tu repreendes, a quem ensinas a tua lei”. (v. 12)

 

É altamente necessário que soframos. Não apenas para que Deus possa demonstrar sua honra, seu poder e força contra o diabo. Mas também porque esse precioso tesouro que temos, se não viesse acompanhado de sofrimento e aperto, apensa nos faria roncar e levaria à auto-confiança. Como podemos ver – e isso, infelizmente, é um mal generalizado – muitos, atualmente, abusam do santo evangelho, como se, pelo evangelho, estivessem livres de tudo, a ponto de não precisarem mais fazer, das ou sofrer nada. Isto é pecado e uma vergonha.

Nosso Deus só pode fazer frente a essa maldade por meio da cruz. Ele tem de exercitar e acionar-nos, para que a fé aumente e se fortaleça e, assim, o Salvador fique mais e mais arraigado em nós. Pois assim como não podemos viver sem comida e bebida, também não podemos ficar sem tentação e sofrimento.

Portanto, já que é melhor ter uma cruz do que estar sem ela, ninguém deve se espantar ou atemorizar quando ela vem. Você tem boas e seguras promessas nas quais pode se consolar. Assim também o evangelho não pode avançar a não ser através de nós, no sofrimento e na cruz.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Pedro 4.12-19

A CRUZ DENTRO DO CORAÇÃO

“Alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo”. (v. 13)

 

Doença, pobreza, dor, etc., não devem ser consideradas cruzes. Agora, quando alguém é perseguido por causa de sua fé, isso sim, é cruz. Mas como encontrar essa cruz? Não nos mosteiros, e sim, no evangelho e sua correta compreensão. Isto é encontrar a cruz: conhecer a si mesmo ou conhecer a cruz. Onde você a encontra? No coração. Se ela não estiver no coração, a cruz externa de nada valerá. Aí está a cruz: “Quem quiser vir a mim, tome sua cruz e siga-me”. Você deve chegar ao ponto de dizer: “Ó Deus, quisera ser digno da cruz!” Você deve encará-la com uma alegria tal qual tiveram os queridos santos.

A honra da cruz deve ser inferior, no coração, ou seja, que eu agrade a Deus por Ter de sofrer. E isso deve partir duma vontade alegre em relação à cruz ou à morte.

Não é de se espantar que se tenha tanta disposição para morrer, quando todo mundo teme a morte? Isto se chama santificar a cruz.

 

 

Leia em sua Bíblia: Número 14.39-45

REMIR O TEMPO

“Por que transgredis o mandamento do Senhor? pois isso não prosperará”. (v. 41)

 

Tenho a impressão que em tempo algum a Alemanha ouviu tanto da palavra de Deus como agora. A história ao menos nada nos informa a esse respeito. Agora, se deixarmos passa isso em brancas nuvens, sem gratidão e honra, então a coisa preocupa, pois ainda enfrentaremos trevas e pragas piores. Alemães, comprem enquanto o mercado está diante de suas portas; armazenem enquanto é dia e o tempo está bom; façam uso da graça e da palavra de Deus enquanto estão disponíveis. Pois isto vocês precisam saber: a palavra e a graça são iguais à chuva esparsa e passageira que não volta ao lugar por onde já passou. Ela esteve com os judeus, mas isso, agora, são águas passadas e nada mais lhe resta. Paulo levou-a para a Grécia, mas isso também são águas passadas, e só lhe restam os turcos. Roma e a Itália também a tiveram, mas isso são águas passadas, e agora eles têm o papa. E vocês, alemães, não devem pensar que a terão para sempre, pois a ingratidão e o desprezo não a deixarão ficar. Portanto, agarre e segure quem puder; os preguiçosos terão dias difíceis pela frente.

 

Leia em sua Bíblia: João 12.44-50

O DESPREZO DA PALAVRA DE DEUS

“Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia”. (v. 48)

 

Nosso amado Senhor vê quão pobres e miseráveis somos. Se não temos este tesouro que é o santo evangelho, então aparece uma heresia após a outra.
Por outro lado, se temos o evangelho, surge uma outra desgraça muito mais terrível ainda: todos o desprezam e apenas a minoria o aceita para melhora de sua vida. Por isso somos gente pobre e miserável fora a fora. Se Deus não nos dá sua palavra, isso só pode vir em prejuízo da salvação de nossas almas. Por outro, se ele no-la concede, ninguém quer aceitá-la. Por isso nada melhor haveria do que se Deus nosso Senhor apressasse o dia do juízo e reduzisse tudo a ruínas, pois na caso desse mundo ingrato nada resolve: nem castigo, nem graça.

Por isso ele torna a admoestar e mais uma vez fixa um dia, dizendo: “Hoje, ao ouvirem sua voz, não endureçam seus corações”. Cada dia ainda é “hoje”, no qual Deus faz ouvir a sua voz, grita e chama para que não percamos a oportunidade.

Deveríamos, na verdade, ser muitissimamente gratos a Deus por essa graça, que ele se achega tanto assim a nós, está ao nosso lado, em casa, à mesa, na cama e onde dele tivermos necessidade, oferecendo e colocando ao nosso alcance toda a sua ajuda e tudo o que dele pudermos pedir. Sim, deveríamos valorizar e honrar esse amado hóspede, porque ele está conosco.

 

Leia em sua Bíblia: Amós 8.11-14

O SILÊNCIO DE DEUS É IRA

“Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. Andarão de mar a mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda parte, procurando a palavra do Senhor, e não a acharão”. (vv. 11s.)

 

A maior manifestação da ira de Deus é quando ele silencia por completo e não fala mais conosco, mas deixa que vivamos e façamos como bem entendemos.
Ah, Senhor Deus, é preferível que o senhor castigue com pestes e toda sorte de doenças terríveis a guardar silêncio. Deus diz: Estendi a minha mão e disse: Venham e ouçam. Mas vocês dizem: Não, não queremos. Eu lhes envio os meus servos, os profetas, Isaías, Jeremias, etc., e digo: Ouçam-nos. Sim, dizem eles, queremos matá-los. Eis aí lhes envio meu Filho. Pois bem, queremos crucificá-lo.

A mesma coisa estamos fazendo em nossos dias, como se pode ver. Estamos fartos e saturados da palavra de Deus. Não queremos dar ouvidos a mestres e pregadores piedosos e fiéis, que nos castigam e pregam a palavra de Deus de forma pura e não adulterada, nela persistem, são zelosos na condenação de doutrina falsa e com fidelidade advertem contra ela. Deus certamente nos castigará por causa disso.

Ah, Pai celeste, conserva-nos sempre nesta clara luz e não permitas que nos desviemos de tua palavra , nem incorramos em doutrina falsa!

 

 

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: Mateus 4.1-11

TENTAÇÃO E PROVAÇÃO

“Não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”. (Hebreus 4.15)

 
Quando o diabo me tenta, meu coração se consola e a fé se fortalece por saber daquele que venceu o diabo e veio socorrer-me e consolar-me. Assim, pois, a fé vence o diabo. Portanto, o primeiro artigo que importa é que Deus me ensine a fé, para que saiba que Cristo venceu o diabo por mim.
E depois: sabendo que o diabo já não tem poder sobre mim, mas que está vencido por causa da fé, também tenho que pôr-me à disposição para que também seja tentado. E isso terá por resultado o fortalecimento de minha fé e que o próximo encontre consolo e exemplo em minha vitória e tentação.
Lembrem-se disso: Quando alguém começa a crer, a tentação não demora. O Espírito Santo não o deixa descansando e festejando. Logo o exporá à tentação. Por quê? Para que a fé se comprove. Do contrário, o diabo nos levaria às voltas como uma palha ao vento. Quando, porém, Deus vem e pendura em nós um lastro, tornando-nos pesados de sorte que temos que ficar firmes no chão, o diabo e todo o mundo reconhecerão que é o poder de Deus que está fazendo isso. Assim, Deus revela sua glória e majestade em nossa fraqueza. Por isso, lança-nos ao deserto, ou seja, faz com que estejamos abandonados de todas as criaturas, de sorte que não vejamos de onde nos pudesse vir ajuda e chegamos a pensar, inclusive, de estarmos abandonados por Deus. Pois, como age aqui com Cristo, assim age também conosco. Esse caminho não é doce, mas de causar medo à pessoa.

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: 1 Coríntios 10.7-13

NUNCA LIVRES DAS TENTAÇÕES

“Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças”. (v. 13)

 

Agora, uma vez que o próprio Deus denomina nossa vida “tentação”, e já que temos de ser afligidos no corpo, na honra e nos bens, bem como sofrer injustiça, devemos aguardar isso com alegria e recebê-lo com sabedoria, dizendo: Olha, isso são coisas da vida. Que posso fazer? É uma tentação, continua sendo uma tentação, e não será diferente. Que Deus me ajude para que ela não me abale e derrube.
Veja: em vista disso, ninguém consegue ficar fora de alcance da tentação. Agora, a gente, certamente, pode defender-se, buscar conselho em oração e invocar a ajuda de Deus. No livro dos anciãos conta-se a história de um jovem irmão que queria livrar-se de seus pensamentos. Disse-lhe, então, o ancião: Querido irmão, você não pode impedir que os pássaros voem sobre sua cabeça, mas, certamente, pode impedir que façam seu ninho em seus cabelos. – Assim, também nós, como diz Santo Agostinho, não podemos evitar os ataques e as tentações. Mas, pela oração e invocação da ajuda de Deus, podemos impedir que vençam.
Por que Deus permite que as pessoas sejam assim tentadas a pecar? Resposta: para que a pessoa aprenda a conhecer a si mesma e a Deus. Conhecer a si mesma, isto é, que nada pode senão pecar e fazer mal. Conhecer a Deus, isto é, que sua graça é mais poderosa que todas as criaturas. E assim aprenda a pessoa a desprezar a si mesma e a louvar e enaltecer a graça de Deus.

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: Mateus 4.1-11

NOSSAS ARMAS: PALAVRA E ORAÇÃO

“Então Jesus lhe ordenou: Retira-te, satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto”. (v. 10)

 

Estas são as duas armas que vencem o diabo e das quais ele tem medo; continuamente ouvir a palavra de Deus, estudá-la e colocá-la em prática, instruir, consolar e fortalecer com a mesma; e, por outro, quando a tentação e a luta começam, levantar o coração (para essa mesma palavra), clamar e pedir a ajuda de Deus em oração. Assim que das duas uma esteja sempre em andamento, num contínuo diálogo entre Deus e o homem. Ou que ele fale conosco enquanto nós ficamos sentados quietos, ouvindo; ou que ele nos ouça falando com ele, pedindo o que nos falta.
Tanto num como noutro caso, isso é insuportável para o diabo, e ele não pode fazer frente a tanto. Por isso, os cristãos devem estar munidos de ambas, de sorte que seus corações, constantemente voltados para Deus, conservem sua palavra e, em constantes suspiros, orem um Pai nosso que não termina nunca. As tentações e as dificuldades com as quais o diabo, o mundo e a carne afligem o cristão constantemente, deveriam ensinar-lhe a estar sempre no ponto em que o inimigo o quer atacar; a vigiar e ficar atento, pois o inimigo não dorme nem descansa por um instante sequer.

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: Salmo 116.1-9

AS PIORES TENTAÇÕES

“Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim: caí em tribulação e tristeza. Então invoquei o nome do Senhor: Ó Senhor, livra-me a alma”. (vv. 3s.)


Quando Deus nos dá a fé verdadeira e nós passamos a viver na certeza de que temos um Deus gracioso em Cristo, estamos no paraíso. Agora, quando menos esperamos, a coisa pode mudar de figura, e somos abalados a ponto de pensarmos que sua intenção é arrancar o Senhor Jesus de nosso coração. Nesse momento, Cristo fica oculto aos nossos olhos, a ponto de não termos nele consolo algum, pois o diabo introduz em nossos corações os mais terríveis pensamentos a respeito de Cristo. E assim nossa consciência sente que perdeu a Cristo, e passa, então, a debater-se e a desanimar, como se tudo o que nos estivesse reservado fosse ira e castigo de Deus, que merecemos por causa de nossos pecados.
Sim, mesmo que não estejamos conscientes de pecados manifestos, o diabo pode muito bem transformar em pecado aquilo que não é, e, desse modo, atacar e atemorizar o nosso coração, martirizando-o com pensamentos como este: Quem pode dizer que Deus quer ter você a seu lado ou se quer dar-lhe Cristo?
E esta é, sem dúvida, a mais terrível e a pior das tentações que Deus envia para pôr à prova seus grandes santos. Numa situação dessas, tudo que a pessoa sente é que Deus a abandonou com sua graça e não a quer mais, e, para onde quer que olhe, nada vê senão ira e terror. Agora, nem todos passam por tentações terríveis como essas, e só consegue entendê-las aquele que se encontra no meio delas. Só os mais fortes conseguem resistir a golpes duros assim.

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: Romanos 8.31-38

VITÓRIA EM CRISTO

“Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (1 Coríntios 15.57)

Nesse ponto, o cristão deve aprender a assimilar e fazer uso do evangelho, de sorte que, no momento em que se inicia a luta, ou seja, quando a lei o ataca e o quer acusar, e quando sua própria consciência lhe diz: “Você faz isso e aquilo; você é um pecador e merece a morte”, etc., ele responda tranqüilamente: “Sim, infelizmente isso é verdade; sou um pecador e certamente mereço a morte. Nisso você tem razão. Agora, querer condenar e matar-me por causa disso, isso você não vai conseguir. Pois existe alguém que vai impedi-lo, e esse chama-se meu Senhor Jesus Cristo a quem, embora fosse inocente, você acusou e matou. Agora, você sabe muito bem que investiu contra ele e acabou queimando as mãos e, com isso, perdeu todo o seu direito sobre mim e todos os cristãos. Pois ele levou sobre si e venceu o pecado e a morte que não eram dele e, sim, meus. Por isso, você não pode fazer queixa nenhuma contra mim e não lhe dou direito algum sobre mim; pelo contrário, eu é que tenho direito sobre você, pois quer atacar-me sem motivo, você que já foi condenada e subjugada por Cristo para que não pudesse me tentar e acusar. Pois deixei de ser aquele homem a quem você procura como um simples filho de homem; agora sou filho de Deus. Pois fui batizado em seu sangue e na sua vitória, e revestido de todas as suas bênçãos.
Veja: assim os cristãos devem armar-se com essa vitória de Cristo e com ela rechaçar o diabo.

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: Hebreus 12.1-13

OLHAR FIRMEMENTE PARA JESUS

“Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia”. (v. 2)

 


Em todas as tentações devemos olhar para a imagem de Cristo. Pois Cristo avança, por mais que lhe doa, e se faz corajoso. Assim devemos pedir que também a nós ele dê coragem e ânimo, para que aprendamos a ser fortes em meio à fraqueza e sair vitoriosos no dia da adversidade. Assim, Cristo vem a nós não forma duma imagem, mas ele implanta em nós toda a sua coragem, para que também nós possamos ficar firmes. Por isso, venha o que vier, dificuldades e problemas de qualquer espécie, não devemos perder de vista que Cristo, nosso príncipe, enfrentou o mesmo e, corajosamente, saiu vitorioso. Por isso, também devemos pedir que ele nos dê coragem, para que, em meio a tais adversidades, sejamos fortalecidos e vençamos a morte.
De modo semelhante, Paulo nos apresenta a Cristo em todas as suas epístolas. Em primeiro lugar, como exemplo que devemos seguir; depois, como aquele que nos dá o espírito e a coragem que ele tem. E esta é a verdadeira doutrina cristã.
Isso nos deve ensinar o uso que devemos fazer da paixão de Cristo e que ninguém pode experimentá-lo devidamente, a menos que tenha estado em dificuldades e se exercitou com Cristo porque recebeu de Cristo a força para resistir. É assim que devemos entrar em Cristo e fazer uso dele.

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: Mateus 15.21-28

O PROFUNDO E SECRETO “SIM”

“A mulher cananéia, contudo, replicou: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então lhe disse Jesus: Ó, mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres”. (vv. 27s.)

 

Não é essa uma obra-prima? Ela apanha a Cristo em suas próprias palavras. Cristo a compara a um cachorro. Ela concorda e simplesmente pede que lhe permita ser um cachorro, como ele próprio dissera. Que é que ela podia fazer a essa altura? Não tinha saída. Para um cachorro a gente deixa as migalhas debaixo da mesa; é isso que lhe toca. Por isso, Cristo dá atenção à mulher e lhe faz a vontade, para que não seja cachorro, mas uma filha de Israel.
Isso está escrito para nosso consolo e ensino, para que saibamos a que profundidade Deus esconde de nós a sua graça e como não devemos julgá-lo à base de nossos sentimentos e pensamentos, mas exclusivamente por sua palavra. Pois ali você pode nota que, embora Cristo se mostre rude, essa ainda não é sua palavra final, como se tivesse dito não.Ao contrário, sua resposta de fato soa como um não, mas não é não, e, sim, uma resposta indefinida que fica no ar.
Com isso mostra-se como nosso coração se comporta em meio à tentação: como o coração sente, tal qual Cristo se apresenta aqui. Aparentemente temos um não bem seco. Mas isso não é verdade. Por isso, o coração precisa deixar de lado esses sentimentos e, com fé inabalável na palavra de Deus, perceber e agarrar-se ao profundo e secreto sim debaixo e além do não, a exemplo dessa mulher. Além disso, devemos concordar com a sentença que Deus pronuncia contra nós e, assim, saímos vitoriosos e o apanhamos em suas próprias palavras.

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: Filipenses 2.5-11

OBEDIENTE ATÉ A MORTE

“A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra”. (João 4.34)

A vontade de Deus cumprida por Cristo nada mais pode ser do que a obediência de Cristo, como diz Paulo: “Ele foi obediente em nosso lugar”. Nessa vontade, todos nós fomos santificados: “Por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos” (Romanos 5.19).
“Jesus a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (v. 8).
Tudo isso ele não fez porque nós fôssemos dignos ou merecedores (pois quem pretenderia ser digno de tal serviço e de tal pessoa?), mas para se torna obediente diante do Pai. Com uma só palavra, São Paulo abre-nos o céu e permite ver o abismo da majestade divina, contemplar a vontade e o amor indizível e misericordioso do coração paterno para conosco, para que sintamos como desde a eternidade agradou a Deus o que Cristo, essa pessoa maravilhosa, deveria fazer por nós, e agora fez de fato.
Como não nos derreteria de alegria o coração? Quem não amaria, exaltaria e agradeceria? E, depois, porventura, não nos devemos tornar apenas servos de todo mundo, mas tornar-nos menores e inferiores a nada ao vermos que Deus nos considerou tão caros, derramando com tanta abundância sua vontade paterna sobre a obediência de seu Filho, e demonstrando-o assim?

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: Mateus 26.36-42

NÃO COMO EU QUERO, E SIM COMO TU QUERES

“... faça-se a tua vontade”. (v. 42)

Quem é capaz de cumprir esse sublime mandamento de abandonar tudo e em momento nenhum querer que se faça sua vontade? Respondo: por isso aprenda quão importante e necessário, e com que seriedade e disposição deve ser feita essa oração, e como é importante que nossa vontade seja suprimida, para que se faça tão-somente a vontade de Deus. E assim você precisa confessar que é pecado, que impede que a vontade de Deus seja feita, e deve suplicar ajuda e graça, para que Deus lhe perdoe naquilo em que você deixa a desejar, e lhe ajude para que possa chegar lá. Porque, se a vontade de Deus deve ser feita, então é necessário que a nossa deve ser suprimida, porque as duas são opostas entre si. Note bem o exemplo de Cristo, nosso Senhor: no jardim, ele pediu a seu Pai celeste que afastasse dele o cálice. Não obstante ele diz: “Não se faça a minha vontade e, sim, a tua” (Lucas 22.42). Se a vontade de Cristo, que, certamente, era boa, sim, que foi a melhor de todas em todo o tempo, precisa ser suprimida para que se faça a vontade divina, como poderíamos nós, pobres vermes, nos gloriar em nossa vontade, que jamais está livre de maldade e sempre merece ser impedida?

 

Leia em sua Bíblia: Leia em sua Bíblia: 1 João 5.13-17

COMO SE DEVE ORAR DE FORMA CORRETA

“E esta é a confiança que temos para com ele, que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”. (v. 14)

A necessidade que leva o Senhor a fazer esse pedido é uma necessidade terrena, corporal. Agora, em tudo que diz respeito ao corpo devemos submeter nossa vontade à vontade de Deus, pois, como diz São Paulo, não sabemos orar como convém. Assim, muitas vezes nos é altamente necessário que Deus nos mantenha sob a cruz e em situação de aperto. E porque somente Deus sabe o que é bom e necessário para nós, devemos colocar sua vontade em primeiro plano e a nossa em segundo e, por meio da paciência, demonstrar nossa obediência.
Mas quando não se trata de coisas corporais, e sim, do que é eterno: que Deus nos conserve em sua palavra, nos santifique e perdoe pecados e nos conceda o Espírito Santo e a vida eterna, aí a vontade de Deus é clara e certa: ele deseja que todas as pessoas reconheçam seu pecado e, por meio de Cristo, creiam no perdão dos mesmos.
Por essa razão, quando se trata de pedir isso, não é necessário que a gente submeta isso à vontade de Deus, como se ele pudesse tanto querer quanto não querer. Devemos saber e crer que ele no-lo quer dar de boa vontade e sem vacilar.

 

Leia em sua Bíblia: Números 21.4-9

A IMAGEM DA GRAÇA

“Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava”. (v. 9)

Semelhante você deve olhar apenas para a morte de Cristo, e achará vida. Não olhe para o pecado que está no pecador, ou em sua consciência, ou naqueles que acabam permanecendo em seus pecados e são condenados. Você, certamente, seguiria seus passos e acabaria sendo vencido. Você deve desviar seus pensamentos e ver o pecado apenas na imagem ou no quadro da graça. Essa imagem você deve imprimir em sua mente e conservar diante dos olhos.
Essa imagem da graça outra coisa não é senão o Cristo crucificado e todos os seus amados santos. Como se entende isso? No sentido de que Cristo, na cruz, toma sobre si os pecados que você cometeu, carrega-os em seu lugar e os destrói. Isso é graça e misericórdia. E crer nisso firmemente, tê-lo diante dos olhos, não duvidar, isso se chama olhar para a imagem da graça e imprimi-la em sua mente.
Veja, aqui os pecados deixam de ser pecados, pois são destruídos em Cristo. Assim, a imagem da vida e da graça de Cristo é nosso consolo face à imagem do pecado e da morte.

 

Leia em sua Bíblia: Colossenses 1.13-20

ELE EXPIOU NOSSOS PECADOS

“Deus nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”. (vv. 13s.)

Sobre o pecado pairava eterna e imutável condenação (pois Deus não quer e não pode gostar do pecado, e sua ira por causa do pecado permanece para sempre e é irrevogável). Por isso tal redenção não foi possível sem um tesouro e um valor que liquidasse o pecado, tomasse a ira de Deus sobre si e pagasse o preço, removendo, dessa forma, o pecado e apagando-o. Nenhuma criatura pode fazê-lo, e nesse caso não houve outra solução ou ajuda senão que o Filho único de Deus assumisse nossa miséria e se fizesse homem, para tomar sobre si essa grave e eterna ira e, por causa dela, sacrificasse seu próprio corpo e sangue.
Isso ele fez por sua grande e inestimável misericórdia e amor por nós. Ele se entregou a si mesmo e tomou sobre si a sentença de ira e morte eternas. Esse pagamento e oferta são tão preciosos e valiosos perante Deus por se tratar de seu único Filho amado, igual ao Pai em divindade e majestade. Assim, reconciliado por meio disso, Deus concede graça e perdoa os pecados de todos os que crêem em seu Filho. Assim sendo, desfrutamos desse precioso pagamento e dos méritos de Cristo obtidos e dados por um profundo e indescritível amor. De sorte que nesse ponto não podemos gloriar-nos de nada que existe em nós mesmos, mas devemos, com toda alegria e sem cessar, agradecer e louvar aquele que pagou esse preço, para que nós, pecadores condenados e perdidos, fôssemos salvos.

 

Leia em sua Bíblia: Gálatas 1.1-5

A SERVIDÃO DO PECADO

“Cristo se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai”. (v. 4)

 

Amigo, assimile bem estas palavras: “Cristo se entregou a si mesmo, etc.” e medite sobre elas atenta e cuidadosamente. Assim, você, com certeza, virá a compreender que a palavra “pecado” inclui a eterna ira de Deus bem como todo poder e força do invejoso satanás. Pois o fato de ele infligir tanta miséria e dor ao mundo, a ponto de em momento algum de nossas vidas estarmos livres dele e, constantemente, termos de estar preparados para toda sorte de desgraças, tudo isso se deve ao pecado. Por isso, o pecado não é algo tão pequeno e simples como a cega e confiante razão humana sonha e imagina.
Por conseguinte, esse versículo termina de forma extremamente violenta: todos os homens são prisioneiros do pecado, como São paulo diz em Romanos 7.14. E mais ainda: que o pecado é um poderoso e terrível senhor e tirano que domina sobre todos os homens em todo mundo, ao qual ninguém pode resistir, por mais nobre, sábio, culto e poderoso que seja. Sim, mesmo que todas as pessoas do mundo se unissem, com sua força não seriam capazes de vencer esse tirano. Antes pelo contrário, todos têm de se submeter e se deixar matar e devorar por ele. Apenas Jesus Cristo é o herói que pode vencer esse terrível e imbatível inimigo. Agora, o amado Senhor precisa pagar um preço muito alto, pois tem de dar uma própria vida.

 

Leia em sua Bíblia: Filipenses 2.5-11

NOSSO SALVADOR TEM DE SER DEUS E HOMEM

“Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou usurpação o ser igual a Deus, antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens”. (vv. 6s.)

Em primeiro lugar, precisamos um Salvador que pode livrar-nos do poder do diabo, o deus e príncipe deste mundo, do pecado e da morte, ou seja, um Salvador que é verdadeiro, eterno Deus, por meio de quem todos os que nele crêem são justificados e salvos. Pois se ele não é mais e não está acima de Moisés, Elias, Isaías, João Batista, etc., ele não é nosso Salvador. Mas, se ele, na qualidade de Filho de Deus, derrama seu sangue por nós, para nos remir e purificar dos pecados, e nós o cremos e o esfregamos debaixo do nariz do diabo quando esse nos amedronta e aterroriza por causa dos nossos pecados; então, o diabo logo é vencido, tem de se afastar e deixar-nos em paz.
Por outro lado, temos que ter um Salvador que também é nosso irmão, feito de carne e sangue como nós, que se fez igual a nós em tudo, mas sem pecado. E isso também cantamos, confessamos e dizemos em nosso credo. Para que assim eu possa dizer com alegria no coração: Creio em Jesus Cristo, Filho único de Deus, que está sentado a sua direita e intercede por mim, que também é feito de carne e sangue como eu, sim, é meu irmão. Pois, por nós, homens, o por nossa salvação ele desceu do céu, se fez homem e morreu pelos nossos pecados.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 20.20-28

ELE – NOSSO SERVO

“Tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos”. (v. 28)

 

Aprenda a amar esse quadro. Não há maior sujeição ou servidão do que esta: o Filho de Deus se torna servo e toma sobre si os pecados de cada ser humano, por mais pobre e miserável ou desprezado que seja. Seria algo de grandioso e de causar espanto, de fazer com que todo mundo ficasse de olhos, ouvidos, nariz e boca abertos e não se cansasse de pensar sobre isso, se o filho de um grande e poderoso rei viesse à casa dum mendigo, cuidasse dele em sua doença, limpasse sua sujeira e fizesse todas aquelas coisas que, de outra forma, o mendigo teria que fazer. Não seria isso uma grande humildade?
Por isso, bem que valeria à pena a gente cantar, pregar e falar sobre isso sempre, e, ao mesmo tempo, amar e louvar a Deus por esse feito. Pois que outra coisa temos aí senão isto: o Filho de Deus se torna meu servo e se humilha tanto assim que toma sobre si e leva a minha miséria e o meu pecado, sim, o pecado e a morte de todo mundo, e se dirige a mim dizendo: “Você não é mais pecador, mas eu, eu tomo seu lugar; você não cometeu pecado, e sim, eu; o mundo inteiro está envolto em pecado, mas você não tem pecados, e sim, eu. Todos os seus pecados devem ser colocados sobre mim e não sobre vocês”. Ninguém consegue compreender isso. Na vida futura contemplaremos o amor de Deus em eterna bem-aventurança.

 

Leia em sua Bíblia: João 13.1-5

O FILHO DO HOMEM VEIO PARA SERVIR

“Sabendo Jesus que o Pai confiara tudo às suas mãos, e que ele viera de Deus e voltava para Deus, levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido”. (vv. 3-5)

São palavras acertadas e excelentes estas com que João quer mostrar quais os pensamentos que ocupavam Jesus antes de levar os pés aos discípulos... Foram pensamentos elevados a ponto que poderiam ter arrebatado do mundo de forma que não se lembrasse de pessoa alguma.
Mas, justamente nesse momento, ao ocupar-se com tais pensamentos da glória eterna, levanta-se, de repente, da mesa, tira a túnica, toma um avental, deita água numa bacia e começa a lavar os pés aos discípulos...
Entendam-se os seus pensamentos e obras! Seus pensamentos são os seguintes: Eu sou Deus e Senhor sobre tudo; antes que passe um dia, o diabo estará no fim com a sua trama. Depois disso, ele e todos os meus inimigos estarão a meus pés e deixarão meus cristãos em paz. Qual, porém a obra que faz? Ele, o maior de todos os senhores, faz o serviço normalmente executado por empregados e empregadas: lava os pés aos seus discípulos.
Portanto, Jesus quer mostrar-nos com seu exemplo o seguinte: Como ele se desfaz de toda sua glória, esquecendo-a e não a usando por honra, poder e pompa próprios, mas, com ela, serve a seus servos – que assim também procedamos nós: que não nos orgulhemos de nossos dons nem os usemos para honra própria, mas que, como eles, sirvamos de boa vontade ao próximo e os aproveitemos para seu benefício.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Pedro 2.18-25

ELE NOS DEIXOU EXEMPLO

“Pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos”. (v. 21)

No momento em que seu coração é confirmado em Cristo e se torna inimigo do pecado, movido por amor, e não por simples medo da dor, o sofrimento de Cristo deve tornar-se um exemplo para toda sua vida que, agora, deve ser encarada de forma diferente. Se dor ou doença o afligirem, considere quão pouco isso é comparado com a coroa de espinhos e os cravos de Cristo. Se tiver de fazer o que não lhe agrada, ou deixar de fazer o que gosta, lembre como o Cristo preso e manietado é levado de cá para lá contra a sua vontade. Se for tentado pelo orgulho, medite em como o seu Senhor é zombado e desprezado na companhia dos malfeitores. E se for acossado por desejos impuros e prazeres carnais, pense cm como a delicada carne de Cristo é açoitada, traspassada e ferida. Se for tentado por ódio e inveja, ou procura vingança, lembre-se de como Cristo orou por você e todos os seus inimigos, como forte clamor e lágrimas, ele que teria tido motivo suficiente para vingança. Se estiver às voltas com tribulação ou outra contrariedade, quer física quer espiritual, anime-se, dizendo: “Ora, por que não haveria de passar por uma pequena aflição, se, de medo e tristeza, o meu Senhor está suando sangue no jardim?” Somente um servo preguiçoso e sem-vergonha ficaria deitado na cama enquanto meu Senhor se debate em meio a agonias mortais.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 26.51-56

PARA QUE SE CUMPRA A ESCRITURA

“Acaso pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandará neste momento mais de doze legiões anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder?” (vv. 53s.)

Um anjo teria bastado para proteger a Cristo do poder dos judeus. No entanto, Jesus diz que poderia ter mais de doze legiões de anjos. Isso são mais de 70 mil anjos. Um anjo teria bastado para defender a Cristo do mundo todo.
Mas Cristo diz: “Embainha a tua espada. Como se cumpriria a Escritura?” É como se quisesse dizer: Se eu não sofresse, não se cumpriria a Escritura. No entanto, a Escritura tem de ser cumprida. Por isso tem de ser assim. – Esta é, portanto, a razão por que Cristo sofre: não porque foi forçado a tanto, ou porque Deus não encontrou outro meio de manifestar seu louvor e sua honra, mas para que se confirmasse que Deus é verdadeiro e cumpre sua palavra anunciada pelos profetas. Deus quis fazê-lo segundo sua melhor boa vontade. Teria tido condições e poderia tê-lo feito de forma diferente, mas isso não era sua vontade.

 

 

Leia em sua Bíblia: Romanos 5.1-11

O SACRIFÍCIO DE CRISTO

“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”. (v. 8)

 

Cristo sacrificou-se a si mesmo na cruz, tornou-se um pecador e maldição; ele que é a única semente bendita pela qual o mundo é abençoado, quer dizer, pela qual o mundo há que ser redimido de pecado e morte. Ele está pendurado na cruz entre dois criminosos, considerado igual a eles, e morre morte vergonhosa. Isso ele faz por bem de todo o gênero humano, para livrá-lo da maldição eterna. Portanto, ele é ambos: o maior e único pecador sobre a terra, pois leva os pecados do mundo inteiro; e, ao mesmo tempo, o único justo santo, pois ninguém é justificado e santificado perante Deus senão por ele.
Quem, portanto, crê que seus próprios pecados e os pecados de todo mundo pesam sobre seu Senhor amado e que, por causa desses pecados, o Senhor se deixa batizar, pregar à cruz, derramando nela seu sangue por nós, para que, dessa maneira, ele, o único portador e expiador de pecados, nos purifique dos pecados, tornando-nos agradáveis a Deus e bem-aventurados – quem assim crê, tem o perdão dos pecados e a vida eterna, e o batismo, a cruz e o sangue de Cristo tornam-se sua propriedade.

 

Leia em sua Bíblia: Isaías 53.1-4

ELE TOMOU SOBRE SI AS NOSSAS ENFERMIDADES

“Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si”. (v. 4)

 

Este é um texto claro, vigoroso. Nossas dores e enfermidades são o sofrimento desse rei. Ele carrega o fardo que nós deveríamos ter carregado para sempre. As dores que nós tínhamos merecido, a saber, que deveríamos sofrer, passar fome e sede, bem como morrer eternamente, tudo isso é colocado sobre ele. Seu sofrimento vale para mim, para você, para todos. Pois ele sofreu por nós. Mas “nós o considerávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido”.
E isso é verdade. Pois Moisés mesmo diz: “Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro”. Por isso, quando ele estava pendurado na cruz, eles o chamaram de condenado e maldito. Não pode ajudar a si mesmo; como poderia ajudar a outros? Mas eles se enganaram a seu respeito, pois ele leva sobre si as nossas dores. Segundo a aparência exterior, tudo indica que ele é maldito. Agora, segundo o espírito, ele leva sobre si as minhas dores, as suas dores e as de todos os homens. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. Ele é castigado – nós temos paz. Eu, você e todos os homens provocamos a ira de Deus; é isso que ele tem de expiar, para que nós, libertos dos pecados, pudéssemos ter paz. Ele tem de sofrer – nós somos libertados.
Amor e misericórdia tão grandes assim não deveriam ser tão vergonhosamente esquecidos.

 

Leia em sua Bíblia: Isaías 53.5-7

O INOCENTE NO LUGAR DOS CULPADOS

“Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. (v. 5)

 

Aceite isso, console-se com isso e creia que isso aconteceu por sua causa e em seu benefício. Pois aqui se diz, não uma ou duas vezes, mas muitas vezes: o que ele sofre isso ele sofre inocentemente. Agora, por que Deus tolera uma coisa assim? Sim, por que Deus ordena e realiza algo assim? Para que nisso você encontrasse consolo. Cristo não sofre por si mesmo, mas por você e por todo o mundo. Esse é o motivo por que tudo acontece de forma tão contraditória. Ele é o Filho de Deus, totalmente santo e sem qualquer pecado, motivo por que deveríamos, simplesmente, morrer e ser condenados. Mas Deus inverte a situação. Aquele que não tem pecado, em quem nada há senão graça, tem de se tornar maldição e levar sobre si o castigo do pecado; nós, porém, estamos na graça e somos filhos de Deus através dele. Eis por que devemos reter esse consolo e, de forma toda especial, estimar o testemunho da inocência de Cristo. Por isso podemos consolar-nos na sua inocência frente ao pecado e toda desgraça. Pois uma tal inocência é indício seguro de que desfrutamos de seu padecimento, e que o bondoso Senhor e gracioso Redentor sofreu por nós pagou a nossa culpa.

 

Leia em sua Bíblia: Salmo 22.1-8

ABANDONADO POR DEUS

“Mas eu sou verme, e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo”. (v. 6)

 

Também Paulo refere-se a isso em Filipenses 2. Ele diz que Cristo se esvaziou de sua forma divina, isto é, não fez uso de seu divino poder, nem tampouco buscou força toda-poderosa, mas a colocou de lado, pois sofreu. Durante esse esvaziamento e humilhação o diabo se lançou contra ele com sua poder infernal. O Homem e Filho do homem ali está, levando sobre si o pecado do mundo. E porque o consolo e o poder divino o abandonaram, o diabo arreganhou os dentes contra o inocente cordeiro e tentou devorá-lo. E, assim, o justo e inocente homem tem que tremer e vacilar como um pobre e condenado pecador, sentir em seu meigo e inocente coração a ira e o juízo de Deus contra o pecado, provando a morte e a condenação eterna em nosso lugar, e, em suma, sofrer tudo aquilo que um miserável pecador merece e teria de sofrer eternamente.
Através disso nos foram conseguidos o reino de Deus, vida eterna e salvação, como diz Isaías no capítulo 53: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito”. Seu corpo e sua alma trabalham, como ele mesmo diz, em meio a grandes e pesadas dores; mas ele faz isso em nosso grande benefício e para sua própria grande glória. Pois vence seus inimigos e sai vitorioso, e com o seu conhecimento justifica a muitos.

 

Leia em sua Bíblia: Hebreus 9.23-28

PELO SACRIFÍCIO DE SI MESMO

“Agora, porém, ao se cumprirem os tempos, manifestou-se uma vez por todas, para aniquilar pelo sacrifício de si mesmo, o pecado”. (v. 26)

 

Esse conhecimento e essa fé alegram o coração, que pode dizer com absoluta certeza: Estou livre da todos os pecados, pois foram colocados sobre os ombros de Cristo. É claro que eles não podem estar ao mesmo tempo sobre Cristo e sobre nós. Por esse motivo, ninguém pode dizer que consegue expiar pecados por sua própria justiça. Pois expiar e apagar pecados compete exclusivamente a Cristo. E Cristo não é obra minha, sua, nem de qualquer outro homem. Também não são obra nossa seu corpo e sangue que ele sacrificou por nosso pecado, mas ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem que toma sobre si o pecado de todo mundo, vai, afoga e aniquila o mesmo no batismo e na cruz, e faz com que lhe seja anunciada esta mensagem de que ele deu o seu corpo por você e derramou o seu sangue para remissão dos pecados. Se você crê nisso, seus pecados lhe são perdoados, você é santo e justo, e recebe o Espírito Santo, para que, doravante, possa resistir ao pecado. E, mesmo que o pecado em sua fraqueza, isso não será lançado em sua conta, desde que, no mais, você permaneça na fé.
Isso se chama remissão dos pecados.

 

Leia em sua Bíblia: Gálatas 4.21-5.1

LIBERTOS POR SUA MORTE

“Para e liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão”. (v. 1)

 

Cristo nos libertou, não de uma servidão humana, mas da ira eterna. Onde? Na consciência. Aqui, nossa liberdade tem que ficar e ela não vai além disso. Pois Cristo nos libertou em sentido teológico e espiritual, isto é, ele nos libertou de modo que nossa consciência está livre, é feliz e não teme a ira vindoura. essa é a verdadeira liberdade que jamais alguém pode valorizar tanto quanto deveria. Pois quem tem palavras suficientes para exprimir algo tão grandioso assim: a pessoa tem certeza de que Deus não está irado com ela, sim, jamais voltará a ficar irado; que Deus é e quer ser para sempre um Pai gracioso e misericordioso por causa de Cristo. Esse é, da fato, uma gloriosa e incompreensível liberdade, que o majestoso Deus seja gracioso com alguém.
Disso resulta uma outra liberdade, a saber: por meio de Cristo somos libertos da lei, do pecado, da morte, do poder do diabo e do inferno. Pois assim como a ira de Deus não nos pode amedrontar, pois dela fomos libertos por Cristo, também a lei e o pecado não nos podem acusar nem condenar.

 

Leia em sua Bíblia: Hebreus 5.1-6

O ETERNO SACERDOTE

“Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. (v. 6)

 

Sacerdote é palavra tão poderosa e querida, que sobre a terra não pode haver palavra mais amável e agradável. Soa muito melhor aos ouvidos chamar Cristo de Sacerdote do que de Senhor. Sacerdote é poder espiritual, o que significa nada mais do que isso: o sacerdote vem e toma sobre si todos os males do povo, como se fossem seus próprios. Depois intercede por todos perante Deus e recebe dele a palavra pela qual pode consolar a todos e ajudar-lhes. Sacerdote soa mais agradável e consolador do que papai e mamãe, sim, esse nome encera tudo o mais para nós. Pois sendo sacerdote, faz com que Deus seja nosso Pai e ele próprio nosso Senhor. Se considero a Cristo um sacerdote, eu sei que ele nada faz senão estar no céu como nosso trono da graça, onde intercede por nós ininterruptamente perante o Pai, interferindo a nosso favor e dando bom testemunho. Esse é o melhor consolo que um homem pode alcançar, e não há mensagem mais doce para o coração.

 

Leia em sua Bíblia: Hebreus 9.11-15

SEU CORPO E SANGUE

“Muito mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo”. (v. 14)

 

O autor se refere a dois tipos de sacerdócio. O antigo sacerdócio era material, com adornos, casa, sacrifícios, perdão e demais coisas de ordem material. O novo sacerdócio é espiritual, com adornos, casa sacrifício e demais coisas de natureza espiritual. Pois quando Cristo exerceu sacerdócio e ofereceu sacrifício na cruz, não se apresentou vestido de seda, ouro e pedras preciosas, mas de amor divino, sabedoria, paciência, obediência e todas as demais virtudes. Isso foi visto apenas por Deus e por aqueles que tinham o Espírito, pois se trata de adorno espiritual.
Porque, embora as pessoas tenham visto o corpo e sangue de Cristo como se vê qualquer outra coisa material, não puderam ver que se tratava de um sacrifício e que Cristo estava oferecendo esse sacrifício. Seu sacrifício foi diferente daquele oferecido por Adão, onde não somente o novilho, o cordeiro, a ave, o pão, etc., eram materiais, mas também se via claramente que se oferecia sacrifício e que aquilo era um sacrifício. Mas Cristo se sacrificou a si mesmo, no coração, diante de Deus, algo que ninguém viu nem notou. Por isso, seu corpo e sangue são sacrifício espiritual.
Assim também o tabernáculo ou a casa e as igrejas de Cristo são espirituais, isto é, estão nos céus ou diante da face de Deus. Pois na cruz Cristo estava pendurado, não num templo, mas diante da face de Deus, onde ainda continua até hoje. Outrossim, o altar é, num sentido espiritual, a cruz. Porque o madeiro as pessoas certamente podem ver, mas que se tratava do altar de Cristo, isso ninguém percebeu. Assim também a sua oração, o derramamento de seu sangue, seu incenso, tudo isa era espiritual, pois tudo se deu através de seu Espírito. Disso resulta que também o fruto ou proveito de seu sacrifício e ministério, a saber, a remissão dos pecados e nossa justificação, eram de ordem espiritual.

 

Leia em sua Bíblia: Hebreus 9.11-15

Seu Sacerdócio protege da Ira Divina

“Pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”. (v. 12)

 

Pelo seu reinado e domínio, Cristo nos protege de todo o mal em todas as circunstâncias. Agora, por meio de seu sacerdócio ele nos protege de todos os pecados e da ira de Deus, toma o nosso lugar e se oferece a si mesmo para reconciliar a Deus. Assim, por meio dele, temos confiança em Deus e a nossa consciência não se apavora nem se atemoriza diante da ira e do juízo divino, como diz São Paulo em Romanos 5.2: “Por meio dele temos paz para com Deus e acesso, pela fé, a esta graça”.
Cristo nos dá essa confiança em Deus e apazigua nossa consciência, assim que nem Deus nem nós mesmos estamos contra nós. Isso é algo muito mais grandioso do que o fato de ele impedir que as criaturas nos causem dano. Porque culpa é algo muito pior do que dor, e o pecado é muito pior do que a morte. Pois é o pecado que traz a morte, e sem pecado não haveria morte, ou, a morte ao menos não nos faria mal.
Essa é realmente uma grande ousadia, que alguém possa recorrer a este sacerdote para protegê-lo de seus pecados, sua má consciência, a terrível ira e o juízo de Deus, e que possa dizer e confessar com fé inabalável: Você é sacerdote para sempre.

 

 

Leia em sua Bíblia: João 19.17-22

Sacrifício pelos Nossos Pecados

“O Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”. (Isaías 53.6)

 

Este sumo sacerdote é, ao mesmo tempo, sacerdote e sacrifício, pois na cruz sacrifica seu corpo e sua vida. Com efeito, o fato de estar pendurado na cruz, despido e nu, inchado e coberto de sangue, com uma coroa de espinhos cravada na sua fronte, não parece indicar que se trata de um sacerdote. Mas, mesmo assim, ele é o verdadeiro sacerdote e bispo que se oferece a si mesmo e, em grande amor, entrega seu próprio corpo para ser consumido como que por fogo, para a redenção de toda a humanidade. O antigo sacerdócio era esplendoroso, mas esse sumo sacerdote não tem esplendor algum. Seu altar é a cruz e a forca, um altar vergonhoso, terrível e fora do comum. Por isso, aos olhos do mundo, ele é um sacerdote simples, desprezível. Seu altar é tão blasfematório e desonroso que as pessoas se atemorizam diante de seu sacrifício.
Assim, portanto, temos esse sumo sacerdote Jesus Cristo com seu altar e sacrifício, condenado à morte de forma vergonhosa pelos judeus e soldados. E, não obstante, sobre seus ombros repousam os pecados de todos nós. Ali estamos, eu, você e todos os homens, desde o primeiro homem, Adão, até o fim do mundo.

 

Leia em sua Bíblia: Gálatas 3.6-14

Maldição em nosso Lugar

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro”. (v. 13)

 

Quem, pois, quer escandalizar-se na cruz? Quem estaria disposto a considerar essa morte vergonhosa? Quem não agradeceria a Deus do fundo do coração por seu filho estar pendurado no madeiro e sofrer a maldição que nós, por causa dos pecados, tínhamos merecido? Ele está ali pendurado como uma pessoa amaldiçoada, inimigo de Deus, a quem Deus fez sobrevir vergonha, necessidade e angústia. E ele está ali, diz Paulo, por minha e por sua causa, para que pudéssemos alcançar a salvação. Aprenda bem esta diferença, para que você não julgue de acordo com o que seus olhos vêem, mas segundo o que a palavra de Deus lhe diz. A julgar pelas aparências, a morte do Senhor Jesus Cristo é vergonhosa e, como o próprio Deus a denomina, morte maldita. O madeiro sobre o qual ele morre é maldito e amaldiçoado. Mas por quê? Porque nele estão pendurados todos os nossos pecados. O madeiro é maldito. O que nele está pendurado é maldito. Também o motivo pelo qual ele está pendurado no madeiro é maldito. Porque a maldição acompanha o pecado, e quanto mais pecados são colocados sobre o Senhor, tanto maior também é a maldição. Agora, para nós essa é uma morte bendita, que afasta de nós a maldição e nos traz a bênção de Deus.

 

Leia em sua Bíblia: João 16.1-7

Sua ida ao Pai

“Mas agora vou para junto daquele que me enviou”. (v. 5)

 

Essa expressão, “vou para junto do Pai”, compreende toda a obra de nossa redenção e salvação, para a qual o Filho de Deus foi mandado do céu e que ele realizou e continua realizando a nosso favor até o fim, a saber: seu sofrimento, morte e ressurreição e todo seu reino na igreja. Pois essa ida ao Pai outra coisa não é senão que ele dá a si mesmo em sacrifício para efetuar pagamento pelos pecados por meio do derramamento de seu sangue e sua morte. E, depois disso, em sua ressurreição, sai vitorioso e tem domínio sobre o pecado, a morte e o inferno; e, vivo, se assenta à direita do Pai, onde, de forma invisível, governa sobre tudo que há nos céus e na terra; e, por meio da pregação do evangelho, congrega e estende sua cristandade e, qual mediador eterno e sumo sacerdote, representa os crentes junto ao Pai e por eles intercede, pois esses ainda se acham em meio a fraqueza e pecado. Além disso, ele concede a força e o poder do Espírito Santo, para que o pecado, o diabo e a morte possam ser vencidos.
Veja, esta é a justiça dos cristãos diante de Deus: Cristo vai para junto do Pai, ou seja, sofre por nós, ressuscita e, assim, nos reconcilia como o Pai, de sorte que, por sua causa, temos perdão dos pecados e graça. Nada disso é obra ou mérito nosso, mas tão-somente sua ida para junto do Pai a nosso favor. Essa é uma justiça alheia (que não foi conseguida, merecida, e que nem poderia Ter sido merecida por nós), dada e atribuída a nós, para que seja nossa justiça, por meio da qual somos agradáveis a Deus e filhos queridos e herdeiros seus.

 

Leia em sua Bíblia: Hebreus 7.20-28

Seu Sacrifício vale para sempre

“Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote, assim como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores, e feito mais alto do que os céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu”. (vv. 26ss.)

 

O sacrifício de Cristo, oferecido uma vez por todas, vale para sempre, e nós somos livres porque cremos nesse sacrifício. Colocar qualquer coisa ao lado dele é pura ofensa a Deus. O próprio Cristo é o sacrifício que ele ofereceu na morte, para nos purificar dos pecados eternamente. Por isso, quando seu sofrimento chegou ao fim e o sacrifício foi oferecido, começou sua honra. Na cruz, desaparecem sua honra, sua boa reputação, seus grandes feitos. Todas as pessoas começam a duvidar se, ao ajudar os outros, fez isso pelo poder de Deus ou pelo poder do diabo. Ali, ele perde a consciência, e a morte tem domínio sobre ele. Porque, se este é para ser um sacrifício, então é preciso que seu sangue seja derramado. O cordeirinho tem de ser imolado. O sacrifício custa sangue. Agora, a luta de Cristo dura apenas um instante. Por isso ele faz o seguinte apelo sacerdotal: “Ah, querido Pai, mesmo que eles tenham e voltado contra mim, perdoa-lhes”.
E o que fez Cristo depois disso? Toma assento no tribunal de Deus. Quando todos o abandonaram e estão pensando que, no caso dele, está tudo terminado, justamente então ele começa seu reinado eterno, representa-nos junto ao Pai, intercede por nós quando somos acusados por causa dos pecados. Uma sentença é proferida contra nós; a consciência atemorizada sente que o pecado provoca a ira de Deus. Nessa situação, nada nos pode ajudar senão o sacrifício de Cristo, que intercede por nós junto ao Pai, dizendo: “Querido Pai, o pecador é fraco e vive angustiado. Quero que você o dê para mim; eu paguei por seu pecado, ele confia em meu eterno sacrifício”.
Agora, quem se afasta desse sacrifício, esse está perdido para sempre.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 21.1-9

A Glória do Rei

“Então lhe disse Pilatos: Logo tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. (João 18.37)

 

Cristo, o Rei, põe em jogo corpo e bens, e vida e tudo. Você deve aprender que isso acontece porque seu reino não é desse mundo. Enquanto você está aqui na terra, não deve fruir sua fé cristã de sorte que tenha toda abundância e nada lhe falte. Pois olhe o seu Rei, o Senhor Jesus, em que condições se encontra? Onde está sua glória? Que vida leva? Está sendo muito honrado? Por acaso, não é verdade que ele só conhece sofrimento, escárnio e desprezo, e tem que morrer vergonhosamente? Ele tem só um pedacinho e com esse ele governa, mas somente entre muito poucas pessoas, a saber, como o testemunho da verdade, com o santo evangelho. Através desse derrama nos corações o Espírito Santo, perdoa os pecados e dá a esperança da vida eterna. Tudo isso, porém, é questão de fé e promessa; não se pode ver nem agarrá-lo, não se encontra na palma da mão. É assunto da esperança.
Quem reconhece que esse Rei e seu reino são dessa espécie, esse se sujeita de boa vontade sob a cruz. Pois não sabe apenas que o mesmo aconteceu a seu Senhor Jesus, o Eterno Rei, estando, por isso, disposto a sofrer – visto que o servo não terá privilégios acima de seu Senhor; mas também conhece a consolação – ainda que aqui haja sofrimento, na eternidade haverá alegria e glória. Isso torna os cristãos intrépidos inclusive em meio a tentação e tristeza.

 

Leia em sua Bíblia: 2 Coríntios 7.5-10

Judas e Pedro

“Porque a tristeza, segundo Deus, produz arrependimento para a salvação que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte”. (v. 10)

 

Judas leva sobre os ombros um fardo mais pesado do que Pedro. Por isso, ele desespera e pensa que nunca mais haverá consolo ou ajuda para ele. E assim, tomado de remorso, vai e se enforca. Pobre homem! Mas, por quê? Porque foi preguiçoso em ouvir a palavra de Deus. ele a desprezou e, ao ouvi-la, não mudou sua vida nem um pouco. No momento em que precisou de consolo, não tendo a palavra, não tinha ajuda.
Agora, Pedro também chora amargamente. Está angustiado e com medo por causa de seus pecados, mas tinha sido mais aplicado em ouvir a palavra do Senhor Jesus Cristo e gravou-a fundo na memória. Por isso, agora, nessa hora de aperto, lança mão da palavra e se apega a ela, encontra consolo na mesma e tem esperança de que Deus será gracioso para com ele. Esta é a verdadeira ajuda numa necessidade dessas, e foi o que faltou ao infeliz Judas. Agora, que Pedro se apegou à palavra e à graça de Deus, isso o próprio Senhor indica em Lucas 22.32: “Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”.
Portanto, a essa altura convém aprender o que é o verdadeiro arrependimento. Esse é o começo do arrependimento: o coração reconhece o pecado e sente por causa do mesmo, de sorte que a gente não tem prazer no pecado, nem gosta dele e tampouco continua nele, mas, com sinceridade, preocupa-se com o fato de ter cometido pecado e deixado de cumprir a vontade de Deus. agora, nós mesmos não temos forças para operar isso em nós; precisa o Senhor fixar os olhos em nós, como naquela noite fixou os olhos em Pedro.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 26.57-68

Julgado pelas Autoridades Constituídas

“E os que prenderam Jesus, levaram-no à casa de Caifás, o sumo sacerdote, onde se haviam reunido os escribas e os anciãos”. (v. 57)

 

Assim, pois, nosso querido Senhor Jesus Cristo sofreu, não às ocultas, tampouco nas mãos daqueles que não tinham autoridade nenhuma. Sofreu publicamente e nas mãos daqueles que detinham cargos públicos, para que não nos escandalizemos ao vermos que tanto a autoridade espiritual quanto a secular são contra Deus. Dizemos e confessamos isso no credo apostólico: Creio em Jesus Cristo, que padeceu sob Pôncio Pilatos. Assim foi em todos os tempos e ainda é hoje, a saber: os cristãos e verdadeiros mártires são mortos pela autoridade constituída, tanto espiritual quanto secular.
Nenhum profeta foi morto à traição, mas todos foram mortos pelas autoridades legalmente constituídas. Todo o sangue derramado por causa de Cristo é derramado por aqueles que são reis, príncipes, juízes, conselheiros, etc., no âmbito secular, e pelos bispos, pregadores, etc., no âmbito espiritual. Morte profética é aquela infligida pela autoridade constituída.
Agora, que acontecerá quando os papéis se inverterem? Então, deus também vai fazer com eles o que eles gostam e deixará de fazer aquilo que gostariam que ele fizesse. Lançaram-se contra Deus e não quiseram que ele ficasse, embora Deus quisesse que eles ficassem. Agora, por não quererem deixar que Deus ficasse, tiveram de perecer.

 

 

 

Leia em sua Bíblia: João 19.38-42

Seu descanso será glorioso

“No lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim e, neste, um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto. Ali, pois, por causa da preparação dos judeus e, por estar perto o túmulo, depositaram o corpo de Jesus”. (vv. 41s.)

 

Este é um grande serviço: tomam conta do corpo de Jesus sem vida e não temem o poder de Pilatos. Vão e fecham o sepulcro. Cristo descansa, Deus tem de agir. Assim foi o sepultamento de Jesus.
Deus, nosso Senhor, certamente permite que se honrem os mortos e não simplesmente se joguem fora como se faz com os cachorros. Porque o corpo cuja alma se fundamenta na palavra de Deus terá de ressuscitar. Porque vivemos não só de pão, mas de toda a palavra de Deus. Nisso baseia-se a ressurreição.
Agora, não devemos nos esquecer disto: Todas as mulheres, sim, todos os apóstolos duvidaram de Cristo e ninguém acreditou que ele ressuscitaria. É o que também disseram aqueles dois que estavam a caminho de Emaús. Pois, se tivessem tido alguma esperança, não o teriam embalsamado e deitado num sepulcro. E se isso tivesse sido obra humana, Deus não o teria feito e na Escritura esse dia também não teria chamado o grande dia. Este artigo é muito mais grandioso do que o primeiro, que diz que Deus criou os céus e a terra. E, também, ninguém pode ser salvo a menos que creia que Deus ressuscitou Jesus Cristo. Esta fé não é obra humana, mas é operada por Deu, como Paulo e as Escrituras repetidas vezes afirmam.
Agora, aquela palavra sobre seu domínio precisa se cumprir.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 28.1-10

O vencedor

“Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”. (1 Coríntios 15.55-57)

 

Essa é uma mensagem singular e tão incrível que a razão não o pode captar. Ela há que ser crida – essa mensagem de que Cristo vive e está morto assim mesmo, mas morto de tal modo que a morte tem que morrer nele e perder todo o seu poder. Pois estamos diante de um homem – louvado seja Deus! – que é atacado pela morte igual a todos os homens, matando-o; mas enquanto o mata, a própria morte tem que morrer e ser devorada, e o Cristo morto viverá eternamente.
Da mesma forma como o Senhor Jesus venceu a morte, venceu também o pecado. Pois quanto a sua própria pessoa, Cristo é justo; visto que, porém, que assume o pecado de estranhos, torna-se também ele pecador. É por essa razão que o pecado o ataca. Ele, o Senhor Jesus, deixa apanhar-se de boa vontade para ser levado à cruz, para morrer, do mesmo modo como se ele próprio tivesse merecido a morte e cometido pecado. No entanto, a santidade, escondida debaixo de pecados de outros, é tão grande que o pecado não a pode vencer. O pecado faz uma investida. No entanto, acerta na pessoa errada, a saber, a morte, que se acaba e morre no corpo dele...
É essa maravilhosa vitória que hoje comemoramos. Agora, tudo depende de crermos nisso de coração.

 

Leia em sua Bíblia: Mateus 28.1-10

Ele não está aqui

"Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: Não temais! Por que sei que buscais a Jesus que crucificado. Ele não está aqui: ressuscitou, como havia dito. Vinde ver onde ele jazia". (vv. 5s.)

 

Os queridos anjos fazem uma bela pregação, pois são bons pregadores. Agora, o resumo de sua pregação é este: Vocês procuram Jesus no túmulo, mas ele, agora, se tornou um homem bem diferente. Vocês crêem no Crucificado, mas nós vamos dizer-lhes onde ele se encontra agora. “Ele ressuscitou dos mortos e não está aqui”. Nesta vida vocês não vão encontrá-lo. Aqui, isto é na morte, não se deve buscar a Cristo. Para ver, apalpar ou ir ao encontro do Cristo são necessários olhos, mãos, pés diferentes. O lugar onde ele estava deitado (diz o anjo) certamente posso mostrar-lhes, mas ele não está mais aqui. Agora, seu nome é: “Ele não está aqui”, como São Paulo também escreve aos Colossenses 3.1-2: “Portanto, se foram ressuscitados juntamente com Cristo, busquem as coisas lá do alto; pensem nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra”.
Cristo não está aqui. Logo, o cristão também não deve estar aqui. Por isso, homem algum pode enquadrar Cristo ou o cristão num modelo fixo, rígido. Pois é dito: “Ele não está aqui”, ele deixou para trás cascas, justiça própria, piedade, sabedoria, lei e outras coisas mais, de tudo isso ele se livrou. Você não deve procurá-lo na coisas que estão sobre a terra, pois não passam de cascas, e ele jamais voltará a revestir-se de cascas. Por isso, o cristão também não pode ser enquadrado nisso aí, na medida em que é cristão. Ao contrário, assim como Cristo está acima de todas as coisas, também o cristão está acima de tudo. Cristo, por seu próprio poder , venceu e deixou para trás todas as coisas. E porque cremos nisso, também nós, a exemplo dele, somos chamados “ele não está aqui”. Como São Paulo diz: “Não pensem nas coisas que são aqui da terra; porque vocês morreram, e a sua vida está oculta juntamente com Cristo”. Estas são palavras maravilhosas. A vida de vocês está oculta, não numa caixa, pois neste caso a acharíamos, mas naquela que não está em parte alguma. Nossa vida deve estar acima de toda sabedoria, justiça, piedade humanas. Enquanto se fechar em si mesmo, você não é salvo. Isso significa, então, que nossa vida está escondida muito além do alcance de nossos sentimentos, coração, olhos e sentidos.

 

Leia em sua Bíblia: Romanos 4.18-25

Ressuscitou por causa da nossa justificação

“Cristo foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação”. (v. 25)

 

Quando olhos para os meus pecados, eles me sufocam. Por isso devo olhar para Cristo, que tomou sobre si os meus pecados e se tornou bênção. E agora, os pecados não estão mais sobre minha consciência, mas sobre Cristo, a quem procuram sufocar. Vejamos, então, o que os pecados fazem com Cristo. Derrubam-no e o matam. Ó Deus, que é feito de meu Cristo e meu Salvador? Eis que Deus o traz para fora e o ressuscita. E não só lhe dá vida, mas também assento no céu, e faz com que tenha domínio sobre todas as coisas. E que foi que aconteceu com o pecado? Está pendurado na cruz. Se confio nisso, tenho, a exemplo da Cristo, uma consciência feliz, pois estou livre do pecado. Que a morte, o diabo, o pecado e o inferno se atrevam a me fazer algum mal! Na medida em que estou em Adão, certamente podem fazê-lo; terei de morrer em breve. Mas Cristo tomou sobre si o meu pecado e morreu por causa do mesmo, de sorte que não pode me fazer mal. Pois Cristo é forte demais para eles. Eles não conseguem segurá-lo. Cristo vem para fora e os deixa deitados no chão. Sobe aos céus, leva cativo o pecado e toda desgraça, e dos céus domina sobre tudo para todo o sempre. Assim tenho uma boa consciência, sou feliz e estou salvo, não tenho mais medo nenhum desses tiranos, pois Cristo tomou o meu pecado e o levou sobre si. Mas eles não podem ficar sobre Cristo.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Coríntios 15.12-19

Sem a Páscoa permanecemos em nossos pecados

“E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados”. (v. 17)

 

Creia firmemente que Cristo tomou sobre si o pecado que você cometeu e a morte que você merece. É assim que esta obra da ressurreição é dada a mim, a você e a todos os que crêem em Cristo. Se eu não fizer assim, estarei cometendo uma grande injustiça contra meu Senhor Jesus Cristo, deixando de me valer de seu triunfo e sua vitória. Esta não deve ser uma vitória inútil, pois ele, certamente, quer realizar muitas coisas por meio dela, a saber, que em todas as tentações, pecados e temores eu não veja outra coisa senão a feliz ressurreição de Cristo.
Quem pode, dessa forma, apropriar-se da vitória de Cristo, esse já está salvo. Quem não tem a Sexta-feira Santa e o dia de Páscoa, para esse, nenhum dia do ano pode ser um bom dia, isto é: quem não crê que Cristo padeceu e ressuscitou por ele, esse está perdido. Pois o que nos torna cristãos é o fato de podermos olhar para Cristo e dizer: Querido Senhor, você tomou sobre si o meu pecado e se fez Martim, Pedro e Paulo, e assim destruiu e afogou meu pecado. É ali que devo e quero ir procurar meu pecado, pois foi para lá que você me mandou ir. Na Sexta-feira Santa, certamente ainda posso ver meu pecado, mas no dia da Páscoa surgiu um novo homem e um mão totalmente nova, e, ali, não se vê mais pecado algum. Tudo isso você me deu de presente, e me tem prometido que triunfou sobre meu pecado, minha morte e meu diabo.

 

Leia em sua Bíblia: João 20.11-18

O ressuscitado é nosso irmão

“Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos, e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus”. (v. 17)

 

Ora, se Cristo é nosso irmão, então eu gostaria de saber que mais nos falta. Porque aqui se aplica o mesmo que vale no caso de irmãos na carne. Estes têm bens em comum. Têm um pai, uma herança, pois do contrário não seriam irmãos. Assim também nós temos bens em comum em Cristo e temos um Pai e uma herança, a qual, ao contrário de outras heranças, não diminui ao ser repartida, mas fica cada vez maior, pois é uma herança espiritual.
E qual é a herança de Cristo? A ele pertence a vida e a morte, pecado e graça e tudo que há nos céus e na terra, eterna verdade, poder, sabedoria, justiça. Ele governa e domina sobre tudo, sobre fome e sede, sobre alegria e tristeza, sobre tudo que se possa imaginas, nos céus e na terra, não somente sobre o que é espiritual, mas, também, sobre o que é material. Resumindo: Ele tem tudo em suas mãos, tanto as coisas eternas quanto as temporais. E se creio nele, torno-me, juntamente com ele, participante de todos os bens, e recebo, não somente uma parte ou um pedaço, mas, a exemplo dele, tudo, ou seja: eterna justiça, eterna sabedoria, eterno poder, e me torno um senhor e tenho domínio sobre tudo.

 

Leia em sua Bíblia: João 20.19-23

O ressuscitado é nosso consolo

“Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos, com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio, e disse-lhe: Paz seja convosco”. (v. 19)

 

De que é que os discípulos têm medo? Têm medo da morte. Sim, estavam em maio à morte. Agora, qual é a origem desse medo da morte? Tem sua origem no pecado. Porque se não tivessem pecado, não teriam ficado com medo. A morte também não lhes poderia fazer mal algum, pois o aguilhão da morte, com o qual ela mata, é o pecado. Mas o que lhes faltava, como falta a nós todos, é o correto conhecimento de Deus. pois se tivessem levado Deus a sério, não teriam ficado com medo e estariam confiantes. Mas quem não crê em Deus, esse tem de ficar com medo da morte e não pode, jamais, ter uma consciência feliz e confiante.
Quando, pois, alguém está com esse medo e pede ajuda a Deus, Deus não pode senão ajudar, assim como nesse caso em que Cristo não ficou muito tempo afastado dos discípulos amedrontados, mas logo estava ali, confortando-se e dizendo: “Paz seja com vocês! Tenham bom ânimo, sou eu, não tenham medo”. Assim sucede também quando nós estamos com medo: Deus nos levanta do chão e nos prega o evangelho, por meio do qual nos devolve uma consciência feliz e confiante.
Onde está Cristo, ali o Pai e o Espírito certamente também se fazem presentes. Ali deve haver graça pura, nada de lei; pura misericórdia, nada de pecado; vida pura, nada de morte; puro céu, nada de inferno. Aqui eu me consolo com a obra de Cristo como se eu mesmo a tivesse realizado.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Tessalonicenses 4.13-18

A ressurreição de Cristo e nossa ressurreição

“Pois se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará juntamente em sua companhia os que dormem”. (v. 14)

 

Assim como em sua ressurreição, Cristo levou tudo consigo, de sorte que tanto céu como terra, sol e lua e todas as criaturas têm de ressurgir e ser renovados, ele também nos trará a nós em sua companhia. O mesmo Deus que ressuscitou a Cristo dos mortos também vivificará nossos corpos mortais, bem como o de todas as criaturas. Estas, agora, estão sujeitas à vaidade e com ardente expectativa aguardam a nossa glorificação, para, também, serem redimidas desta existência passageira e alcançarem a glória. No nosso caso, mais da metade da ressurreição já ;e fato consumado, pois a cabeça e o coração já estão lá no alto, restando apenas a menor parte, ou seja, que o corpo seja enterrado, para que também este seja renovado.
Ninguém nega que o corpo de uma pessoa morta não tem lá muito valor. Agora, a fé me dá uma compreensão mais nítida do que aquela que me vem através dos olhos e dos sentidos. Pois aí temos o texto que diz: Ele ressuscitou. Ele não ficou no túmulo nem tampouco sepultado na terra, mas ressuscitou dos mortos. E isto não em benefício próprio, mas por nossa causa, para que sua ressurreição seja nossa e para que nele também nós ressuscitemos e não fiquemos no túmulo e na morte, mas celebremos com ele, em nossos corpos, um páscoa que nunca termina.

 

Leia em sua Bíblia: 1 João 5.1-5

Renascimento

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenere para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”. (1 Pedro 1.3)

 

Como ou por intermédio de que aconteceu tal renascimento? Pela ressurreição, diz o texto, pela ressurreição de Cristo dentre os mortos, como se dissesse: Deus, o Pai, nos gerou novamente, não de semente perecível, mas de semente imperecível, a saber, da palavra da verdade, que é poder de Deus que gera de novo, vivifica e salva a todos que nisso crêem. Que palavra é essa? É justamente essa palavra que está sendo pregada no meio de vocês, a mensagem que diz que Cristo morreu pelos pecados de vocês e pelos do mundo inteiro, e que ressuscitou ao terceiro dia, para, por sua ressurreição, trazer justiça, vida e bem-aventurança.
Quem, pois, crê nessa pregação, a saber, que Cristo morreu e ressuscitou para o seu bem, nesse a ressurreição de Cristo demonstrou seu poder, pois é por ela nascido de novo, o que quer dizer, foi criado novo à imagem de Deus, recebe o Espírito Santo, reconhece a misericordiosa vontade de Deus, tem um coração, mente, ânimo, vontade e pensamentos como nenhum santo de obras os tem. Pois não será bem-aventurado pelas obras da lei, menos ainda por sua justiça própria, mas pela paixão e ressurreição de Cristo.
É isso que se chama de pregação verdadeiramente apostólica.

 

Leia em sua Bíblia: João 3.1-10

Renascidos da água e do espírito

“Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. (v. 5)

 

Não pense que você entrará no reino de Deus se não nascer de novo da água e do Espírito. Estas são palavras secas e grandes que temos de nascer de novo, isto é, passa do nascimento do pecado par o nascimento da justiça. Do contrário jamais entraremos no reino dos céus. Esse nascimento da justiça deve vir seguido de boas obras.
O Senhor Jesus Cristo fala longamente a respeito desse assunto com Nicodemos, mas este não consegue entendê-lo. Também não se pode entendê-lo, a menos que se passe por essa experiência e tenha renascido espiritualmente.

 

Leia em sua Bíblia: Tiago 1.16-18

Renascidos por meio da palavra da verdade

“Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra de verdade, para que fôssemos como que primícias das sua criaturas”. (v. 18)

 

A maior e principal coisa que Deus fez por nós e nos concedeu do alto é esta: Ele nos gerou e nos fez seus filhos e herdeiros, de sorte que somos e nos chamamos “filhos nascidos de Deus”. Como, ou de que forma sucedeu isso? Por meio da palavra da verdade.
Assim nos tornamos as primícias de suas criaturas, ou seja, uma nova criação e obra de Deus. Com isso, ele distingue sua criação do mundo ou das criaturas humanas.
Deus tem ainda uma outra nova criatura ou criação, que leva esse nome porque é feita por ele e é obra sua, sem qualquer ajuda ou cooperação humana. Por isso o cristão chama-se nova criatura de Deus, criada pelo próprio Deus acima e além de todas as demais criaturas e obras. Agora, isto é assim que nesta vida temos apenas o início e começo, e Deus tem de trabalhar nela dia e noite até que esteja pronta e se torne de fato uma nova criatura divina, pura e radiante como o sol, sem qualquer pecado ou defeito e completamente inflamada de amor divino.

 

Leia em sua Bíblia: João 3.31-36

Renascidos para a vida eterna

“Quem crê no Filho tem a vida eterna”. (v. 36)

 

A gente deveria pregar sobre este texto durante cem mil anos e proclamá-lo sempre de novo. Sim, jamais se pode pregar que chega a esse respeito, pois Cristo promete vida eterna imediata àquele que crê. Ele não diz: Quem crê em mim terá a vida eterna, mas: tão logo você crê em mim, você já tem essa vida. Cristo não fala de dons futuros, mas de dádivas presentes, a saber: se você crê em mim, é salvo e já recebeu o dom da vida eterna.
Tenho a vida eterna antecipadamente. Se não a recebo neste mundo, também não a receberei no mundo vindouro. É preciso alcançar e recebê-la aqui neste corpo. Como se consegue esta vida? Deus toma a iniciativa e se torna seu mestre, pregando-lhe a palavra. Ele dá início à vida eterna, pregando-lhe a palavra oral e externa. Em seguida, ele lhe dá também o coração, que aceita e crê na palavra. Este é o começo. E essas palavras que você ouve e em que confia não o levam a outro lugar senão à pessoa de Cristo; mais adiante você não poderá ir. Se você crê nele e se apega a ele, é salvo da morte corporal e espiritual e já tem a vida eterna.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Pedro 1.22-25

É preciso nascer

“Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade... pois fostes regenerados, não de semente corruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente”. (vv. 22ss.)

 

Vocês não são mais o que eram anteriormente, e sim, gente nova. Isso não se deu por meio de obras, mas, para que isso acontecesse foi necessário um nascimento pois o novo homem não pode ser fabricado; tem de crescer ou nascer. É assim como no caso do carpinteiro, que não pode fabricar a árvore, mas ela tem de brotar do solo por si mesma.
Eis o que o apóstolo quer dizer: Pelo fato de serem novas criaturas, vocês devem se portar de forma diferente e levar uma vida nova. Se antes viviam em ódio, devem, agora, andar em amor e, em tudo, fazer justamente o contrário do que faziam antes.
Como sucede isso? Assim: Deus envia a palavra, o evangelho, e faz a semente cair nos corações dos homens. Onde a palavra é acolhida, ali o Espírito Santo se faz presente e cria uma pessoa nova. Ali surge uma pessoa totalmente diferente, com novos pensamentos, palavras e ações. Assim você é completamente transformado. Aquilo que antes você evitava, agora, passa a procurar; e aquilo que outrora buscava, agora, passa a evitar. Pois desta forma você começa a arder am amor divino e se torna uma pessoa diferente, completamente renascida, e tudo o que há em você é mudado. Agora, você tem tanto prazer na castidade quanto antes tinha na impureza, e assim por diante, com todos os seus desejos e inclinações.

 

Leia em sua Bíblia: Tito 3.1-7

O lavar regenerador

“Segundo sua misericórdia, ele os lavou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”. (v. 5)

 

Ele chama esse lavar regenerador, renovador do Espírito Santo, para que fique caracterizada em sua plenitude a grandeza e a força da graça. E esse lavar é algo tão grandioso que criatura nenhum pode fazê-lo; é obra do Espírito Santo. Puxa, meu caro Paulo, como você arrasa a livre vontade, as boas obras e os grandes méritos dos santos orgulhosos! Como você exalta a nossa salvação e, ao mesmo tempo, coloca-a tão perto de nós, sim, dentro de nós! Com que pureza e clareza você prega a graça! Por isso, por mais que alguém se esforce, nada vai conseguir renovar a pessoa e mudar o homem senão o lavar regenerador do Espírito Santo.
Veja: isto é pregar a respeito da graça de Deus de forma livre e plena. De nada adianta remendar com obras; é preciso transformar completamente a natureza. Por isso também acontece que aqueles que têm a fé verdadeira precisam sofrer muito e morrer, para que a graça revele sua natureza e presença.
A graça de Deus é algo realmente grandioso, forte, poderoso e ativo. Ela leva, conduz, impulsiona, arrasta, transforma, opera tudo no homem e, de fato, se faz sentir e notar. Ela permanece oculta, mas suas obras são manifestas. Obras e palavras mostram onde ela se encontra, assim como os frutos e as folhas revelam a qualidade e a natureza da árvore.

 

Leia em sua Bíblia: 1 João 5.1-5

Da vida vitoriosa

“Tudo o que é nascido de Deus vence o mundo”. (v. 4)

 

Com essas palavras, João exorta os cristãos no sentido de que, uma vez que crêem, também se disponham a demonstrar o poder e a atuação dessa fé por meio de suas atitudes e seu modo de vida. Pois ele escreveu essa epístola especialmente para censurar os falsos cristãos, aqueles que gostam de ouvir quando se ensina que somos salvos unicamente por Cristo e que as nossas obras e realizações não podem merecer a salvação e, então, pensam que no momento em que ouviram isso, também são cristãos e não precisam fazer absolutamente nada nem entrar na luta. Não percebem que da fé e por meio da fé devem surgir pessoas renovadas, que vencem o mundo e o pecado.
Aqui se exclui a possibilidade de alguém ser nascido de Deus e, ao mesmo tempo, continuar vivendo aquela vida antiga, morta, mundana e, segundo o desejo do diabo, viver e permanecer em pecados como outrora. Ao contrário, é preciso resistir ao diabo e a todo o seu reino. Por isso, se você não vence o mundo, mas é vencido por ele, então você pode até se gloriar na fé e em Cristo, mas sua própria atitude depõe contra você que você não é filho de Deus.

 

Leia em sua Bíblia: João 10.12-16

O Bom Pastor

“Eu sou o bom Pastor”. (v. 14)

 

Esse é um evangelho muito consolador. Mostra e ensina-nos o Senhor Jesus de modo muito agradável quanto a sua pessoa, a obra que realiza e suas intenções para com o povo.
Se você perguntar se Cristo é piedoso, posso responder que sim, sem sombra de dúvida, e apresentá-lo como sendo a minha piedade, e confiar nisso com teimosia. Pois nisso sou batizado, e tenho aqui no evangelho a garantia e dos documentos de que sou uma ovelhinha amada, e ele o pastor bom e fiel, nada exigindo de mim, não me fustigando, sem ameaças nem metendo medo. Revela-me tão-somente sua doce graça, coloca-se abaixo de mim, tomando-me sobre si, de sorte que estou deitado em suas costas e me deixo carregar por ele. Por que, pois, iria temer ameaças e trovÕes de Moisés e, inclusive, do diabo? Pois estou sob aquele que tudo possui, que me suporta e sustenta, de sorte que não me posso extraviar, porque continuo sendo uma ovelhinha e não nego o Pastor nem dele me afasto.

 

Leia em sua Bíblia: Isaías 53.4-7

Buscar e salvar o que está perdido

“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”. (v. 6)

 

Meu caro amigo, se nós podemos apascentar e governar a nós mesmos, guardar-nos do erro, alcançar graça e perdão dos pecados por mérito próprio, resistir ao diabo e toda desgraça, vencer o pecado e a morte por nós mesmos, então a Escritura deve estar mentindo quando afirma que somos ovelhas perdidas, dispersas, machucadas, fracas e indefesas. Nesse caso, também não precisamos de Cristo como pastor que nos procure, reúna, guie, trate, cuide, dê força para enfrentar o diabo. Então, ele também seu sua vida por nós em vão. Pois, se podemos fazer e conseguir tudo isso por força própria e piedade pessoal, então podemos dispensar completamente a ajuda de Cristo.
Agora, aqui você tem justamente o contrário, ou seja, que você, ovelha perdida, não pode, por si mesmo, voltar para junto do pastor. Por si mesmo, você só pode extraviar-se e, se Cristo, o bom pastor, não saísse à sua procura e o trouxesse de volta, você, simplesmente, acabaria sendo presa do lobo. Mas eis que ele vem, procura, encontra e leva você de volta ao seu aprisco, ou seja, por meio da palavra e sacramento o leva à cristandade, dá sua vida por você, conserva-o, doravante, no caminho certo, para que você não incorra em erro. Aqui, não se ouve nada a respeito de suas forças, suas boas obras e méritos, a menos que você considere extraviar-se, estar indefeso e perdido como sendo força, boa obra e mérito. Nisso aí, Cristo age, ganha méritos e manifesta o seu poder sem participação de ninguém. Ele sai à procura, carrega sobre os ombros, guia e, por meio de sua morte, ganha-lhe a vida. Somente Cristo é forte que chega para impedir que você pereça ou seja arrebatado de sua mão (João 10). Você não pode fazer nada nesse sentido. A única coisa que pode fazer é espichar as orelhas, ouvir e receber com gratidão esse extraordinário tesouro, bem como aprender a reconhecer nitidamente a voz de seu pastor, segui-lo e não dar ouvidos à voz do estranho.

 

Leia em sua Bíblia: João 10.7-15

Somente Ele é o Bom Pastor

“O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então o lobo as arrebata e dispersa”. (v. 12)

 

São muitos e, infelizmente, até demais, aqueles que são chamados de pastores e assumem a tarefa de apascentar e guiar almas. Agora, somente eu sou o bom pastor, diz Jesus. Todos os outros não são bons pastores, e sim, pastores incompassivos e cruéis, pois deixam as pobres ovelhas entregues ao pode do lobo. A mim, porém, vocês devem aprender a conhecer como o pastor amado, fiel, piedoso, gracioso, doce e consolador, diante de quem seus corações devem saltar de alegria e ter a certeza de que, através de mim, vocês são salvos de todo peso, medo, dificuldade e perigo. Não quero e não posso permitir que vocês se percam. O fato de eu dar a minha vida pelas ovelhas, prova isso, diz Cristo. Portanto, apeguem-se a mim com alegria e não permitam que nenhum outro governe suas consciências. Mas dêem ouvidos a mim, que lhes falo essas palavras consoladoras e demonstro através de meu modo de ser que não tenho a intenção de pressionar, atormentar ou sobrecarregá-los como Moisés e outros, mas de forma mais amável possível conduzir e guiá-los, proteger e ajudá-los.

 

Leia em sua Bíblia: João 10.14-18

Conheço as minhas ovelhas

“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas”. (vv. 14s.)

 

Quem é que conhece e reconhece as ovelhas mesmo quando estão submersas e atoladas em sofrimento, vergonha. Humilhação, morte, escândalo, etc., de sorte que nem elas se conhecem a si mesmas? Certamente ninguém a não ser Cristo. Ele as consola, dizendo que, apesar de tudo aquilo que faz com que o mundo e nossa própria carne e sangue se escandalizem, conhece suas ovelhas, não se esquece delas nem tampouco as abandona.
E para imprimir isso mais e mais em nosso íntimo, ele apresenta esta comparação: “assim como meu Pai me conhece a mim”. Também este é, sem dúvida alguma, um conhecimento altamente oculto: que Deus, o Pai, conhece seu amado Filho unigênito, que jaz na manjedoura como filho do mais miserável dos mendigos, que não somente passa por desconhecido aos olhos de todo o seu povo, mas também é desprezado e rejeitado; sim, ele que está suspenso entre céus e terra de forma tão vergonhosa e humilhante, despido e nu, no meio de dois assassinos, como o pior blasfemo e agitador, maldito de Deus e de todo o mundo, a ponto de dirigir-se a Deus com grande e angustiante clamor: “Meu Deus, meu Deus, como tu me abandonaste”. E, mesmo assim, ele diz, nesta passagem: “Meu Pai me conhece” (mesmo em meio a esse sofrimento e vergonha e apesar dessa aparência escandalosa) como seu único Filho, enviado por ele para ser o sacrifício e dar a minha vida em favor da salvação e para o resgate de minhas ovelhas. Assim também eu o conheço e sei que ele não se esqueceu de mim nem me abandonou, mas livrará e conduzirá por vergonha, cruz e morte para honra, vida e glória eternas.
Assim também as minhas ovelhas, em sua miséria, humilhação, sofrimento e morte, devem aprender e aprenderão a me conhecer como seu amado e fiel Salvador, que também sofreu como elas estão sofrendo e que deu sua vida por elas. E, certamente, confiarão em mim, que não as esqueci nem abandonei em suas necessidades, mas que em tudo isso quero ampará-las maravilhosamente e, assim, conduzi-las à glória e vitória eterna.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Pedro 2.18-25

O Pastor se angustia por causa de nós

“Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo das vossas almas”. (v. 25)

 

Se quisermos ter esperança, ser fortalecidos e consolados, devemos aprender a reconhecer a voz de nosso pastor e ignorar todas as demais vozes que só nos afastam do caminho certo, empurram-nos e nos jogam de lá para cá. Devemos apenas dar ouvidos e assimilar este artigo que nos apresenta a Cristo de forma mais amável e consoladora possível. Isso para que possamos dizer com absoluta certeza: Meu Senhor Jesus Cristo é o único pastor e eu, infelizmente, sou a ovelha perdida que se afastou do rebanho; estou angustiado, com medo, e gostaria de ser salvo, ter um Deus gracioso e paz de consciência. Mas agora, aqui, me é dito que ele sente por mim o mesmo que eu sinto por ele. Eu estou angustiado e preocupado em como posso vir a ele e receber ajuda. Ele, por sua vez, está angustiado e preocupado e não deseja outra coisa senão levar-me de volta para junto de si.
Veja: Se pudéssemos notar que seu coração é assim, e se pudéssemos imprimir essa imagem em nossos corações, a saber, que ele tem por nós esse imenso desejo, essa angústia e saudade, não nos perturbaríamos diante dele nem teríamos medo de nada, mas, com toda alegria, correríamos ao seu encontro e ficaríamos tão-somente ao seu lado, não dando ouvidos a nenhuma outra doutrina e a nenhum outro mestre.

 

Leia em sua Bíblia: João 21.15-23

Pastoreia as minhas ovelhas

“Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, te me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas”. (v. 16)

 

Meu Deus, como podemos ser tão cegos a ponto de não levarmos esse amor a sério? Pois quem poderia ter imaginado que Deus se humilha tanto assim e aceita aquilo que fazemos aos pobres como sendo feito a ele pessoalmente? Assim, o mundo está cheio de Deus. Em todos os becos, bem à frente de sua porta, você encontra Cristo. Não fique aí parado, olhando boquiaberto para o alto, dizendo: Pois é, se eu só conseguisse enxergar o Senhor nosso Deus, uma vez que fosse, como eu não estaria disposto a servir-lhe de todas as formas possíveis! Você mente, diz João em sua epístola (1 João 4.20), pois diz que ama a Deus e odeia o próximo que passa necessidade bem à sua frente. Escute aqui, ó homem miserável, você quer mesmo servir a Deus? Pois ele está dentro de sua casa, na pessoa de seus criados e filhos. Ensina-lhes a temer e amar a Deus e a confiar unicamente nele. Console o próximo que está aflito e doente. Preste-lhe assistência com seus bens, sabedoria e habilidades. Veja bem: Quero estar bem perto de você, em cada pobre que necessita de sua ajuda e instrução. É ali que eu estou. O pouco ou muito que você faz a ele, estará fazendo a mim. Nem mesmo o copo de água fria será dado em vão, pois você colherá os frutos mil vezes, não por causa de sua obra, mas por causa de minha promessa.

 

Leia em sua Bíblia: João 16.16-23

Alegria no Espírito Santo

“Assim também vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar”. (v. 22)

 

Tudo depende de nós confiarmos em nosso amado Senhor Cristo e aceitarmos como verdade a sua palavra que, mesmo que nos afetem desgraça e tentação, isso é de nenhuma importância. Assim nos consolamos no sofrimento. Pois não se pode gozar de alegrias quando antes não se passou por dor e sofrimento.
É maravilhoso como o Senhor revela a seus discípulos a alegria que os aguarda. “Outra vez vos verei”, diz ele. Isso aconteceu no dia da santa Páscoa, quando o viram em vida nova, eterna. Da mesma forma Cristo vê também a nós, e o nosso coração se alegra quando nos apropriamos de sua ressurreição e vemos como ele venceu por nós pecado, a morte e o diabo, para que, por meio dele, vivamos também nós eternamente. Essa é a verdadeira alegria permanente e eterna, alegria que transforma tristeza em alegria e que jamais nos será tirada. Por isso não devemos ser impacientes e desanimados quando estamos sob a cruz. Pois Cristo ressuscitou e está sentado à direita de seu Pai, para nos defender contra o diabo e todo o sofrimento e nos tornar eternamente bem-aventurado. Conceda-nos isso o fiel Deus e Pai, por meio de seu Filho e nosso Salvador, Jesus Cristo. Amém.

 

Leia em sua Bíblia: João 16.19-20

O mistério da alegria

“Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria”. (v. 20)

 

No mundo há diferentes tipos de tristeza. Agora, a verdadeira tristeza, a maior de todas, é quando o coração perde a Cristo de vista e dele não espera mais nenhum consolo. São poucos os que passam por uma tentação terrível como essa. Num caso assim, todo o consolo se foi e toda alegria se acabou e não há quem ajude, nem o céu, nem o sol e a luz, nem anjo ou outra criatura qualquer, nem mesmo o próprio Deus. O mundo, no entanto, se alegrará.
Veja: Aqui Cristo dá essa alegria ao mundo, ao passo que a seus cristãos ele dá a maior tristeza. E, ao mesmo tempo, nos pinta o mundo forma terrível e assustadora, como aquele filho do diabo cuja maior alegria seria ver Cristo fracassar e seus cristãos serem vergonhosamente condenados a se perderem.
Por isso, Cristo nos diz nesta passagem: Vocês ouviram falar de ambas as coisas: da alegria que terá o mundo e da tristeza que vocês sentirão. Por isso, aprendam e assimilem isso, para que, no momento em que tiverem de passar por isso, possam ter paciência e receber real consolo em meio a esse sofrimento. Eu preciso submetê-los a esta prova e deixar que experimentem o que acontece quando o coração me perde de vista e eu morro em seus corações, para que aprendam a conhecer ao menos um pouquinho desse mistério. Pois do contrário vocês jamais conseguirão terminar seu estudo a meu respeito. Será difícil para vocês entender esta sublime obra; que o Filho de Deus vai ao Pai, isto é, morre e ressuscita por vocês, para que, assim, conduza também a vocês para o céu.

 

 

 

Leia em sua Bíblia: João 16.21-24

A parábola da alegria

“A mulher que está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de Ter nascido ao mundo um homem”. (v. 21)

 

Devemos examinar esse exemplo com todo cuidado. Porque tal como acontece neste caso, sucede também na tentação e, especialmente, na angústia da morte. Veja como Deus trata com uma mulher que está para dar à luz. Ninguém a ajuda nessa hora de dor. Também, ninguém pode fazê-lo. Sim, criatura alguma pode livrá-la dessa situação, pois depende unicamente do poder de Deus. A parteira e outros que se acham à sua volta podem, é claro, consolá-la, mas não podem afastar as dores do parto. Ela tem de passar por isso e arriscar a sua vida. Pode tanto morrer como pode dar à luz uma criança. Ela se encontra realmente em meio à angústia de morte e está completamente rodeada de morte.
O mesmo acontece quando as consciências se angustiam ou se deparam com a morte: razão, criatura ou obra nenhuma pode nos ajudar, e não importa de que espécie seja. Não resta nenhum consolo, a ponto de você pensar que está abandonado por Deus e por todas as criaturas, sim, que Deus e todas as criaturas se voltaram contra você. Nessa hora, você tem de ficar tranqüilo e apegar-se unicamente a Deus. Ele deve livrá-lo dessa situação e nenhuma outra criatura, seja do céu, seja da terra, poderá fazê-lo. E Deus ajuda no momento que ele julga apropriado, assim como faz com a mulher, dando-lhe um rosto sorridente, assim que não se lembra mais das dores. E se, antes, tudo que havia era morte e miséria, agora não há senão vida e alegria. Assim também acontece conosco: em meio às tentações e à angústia de morte, Deus, e somente ele, nos torna felizes e nos dá paz e alegria onde antes não havia senão desgraça e angústia.

 

Leia em sua Bíblia: João 15.7-11

Gozo Completo

“Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo”. (v. 11)

 

Aqui é preciso que, de todo coração, a gente se apegue à palavra e se console com a preciosa promessa de que ele, juntamente com o Pai, quer estar ao nosso lado, protegendo-nos, para que nenhuma desgraça nos atinja, nenhuma força do diabo e do mundo nos subjugue ou arrebate de sua mão. Assim, sempre achamos consolo e temos motivo de alegria e, à medida que o tempo passa, ficamos mais felizes e não deixamos que sofrimento ou adversidade de nenhuma espécie nos entristeça ou faça desanimar. Sim, suportar toda sorte de sofrimento por amor de Cristo torna-se algo suave e gostoso. Do contrário, o cristão não terá neste mundo nenhuma alegria que seja plena e correta. Pois mesmo que você tivesse toda alegria do mundo de uma só vez, isso de nada lhe valeria na hora de fazer frente a uma tentação ou desgraça. Porque a alegria do mundo baseia-se unicamente em bens, honra e prazeres incertos e passageiros. E a alegria só dura enquanto se tem esses bens. Mas, desfaz-se e desaparece quando sopram ventos contrários e quando é preciso enfrentar um pequeno contratempo. Agora, a alegria cristã permanece eternamente (a exemplo de seu fundamento, que também é eterno). Em meio à aflição e ao infortúnio desta vida, ela persiste e aumenta, de sorte que, com o coração cheio de júbilo, a gente pode deixar de lado e fazer pouco caso da alegria do mundo.

 

Leia em sua Bíblia: Gálatas 5.22-26

O fruto do espírito é... Alegria

“Mas o fruto do Espírito é: ... alegria... (v. 22)

 

Isso nos deve ensinar que Deus não deseja gente tristonha e odeia pensamentos e palavras tristes, bem com aquela doutrina que nos oprime. Ele, por sua vez, enche nossos corações de júbilo. Porque não enviou seu Filho para fazer com que ficássemos tristes, e sim, para que ficássemos alegres. Esta também é a razão por que os profetas, apóstolos e o próprio Senhor Jesus Cristo, em muitas passagens, nos admoestam, sim, até mesmo ordenam que jubilemos e sejamos alegres. Zacarias 9.9: “Alegra-te muito, ó filha de Sião, exulta, ó filha de Jerusalém”. Nos Salmos, repetidas vezes: “Exultemos no Senhor”. Paulo escreve em Filipenses 4.4: “Alegrem-se sempre no Senhor”. Em Lucas 10.20, Cristo diz: “Alegrem-se porque os seus nomes estão arrolados nos céus”. Quem tem essa alegria do Espírito, esse tem bastante alegria em seu íntimo por meio da fé em Cristo. Tem certeza de que ele é o nosso Salvador e Sumo Sacerdote, e demonstra essa alegria naquilo que diz e faz.

 

Leia em sua Bíblia: Atos 9.10-19

Alegria sob a cruz

“Pois eu lhe mostrarei quanto importa sofrer pelo meu nome”. (v. 16)

 

Se você deseja ser co-herdeiro com o Senhor Jesus Cristo, mas não está disposto a sofrer com ele, ser seu irmão e se tornar semelhante a ele no sofrimento, então ele, certamente, não o aceitará como irmão e co-herdeiro no dia do juízo final. Ao contrário, lhe perguntará que fim levaram a coroa de espinhos, a cruz, os pregos e açoites que você deveria ter suportado. Perguntará se você foi um horror para o mundo todo, assim como ele e seu membros o foram desde o princípio do mundo. Se você não puder dar provas de tudo isso, ele também não poderá considerá-lo seu irmão. Resumindo: É preciso sofrer junto com ele. Todos devem se tornar semelhantes ao Filho de Deus, pois do contrário não seremos exaltados em glória juntamente com ele.
Eu e todos os cristãos devemos ter os sinais, os pregos, a coroa de espinhos, os açoites, etc., não desenhados na parede, mas encravados na nossa carne e sangue.
Aqui, São Paulo também admoesta cada cristão a que leve as marcas do Senhor Jesus Cristo. Outrossim, consola os cristãos para que não se assustem mesmo que todo sofrimento humano recaia sobre eles, como de alguns anos para cá, vez por outra, tem sido a experiência de nossos irmãos. Agora, o pior ainda está por vir, quando chegar a hora dos nossos inimigos e do poder das trevas. Mas, deixe estar, não há como escapar ao sofrimento se quisermos ser glorificados. Mas eles verão o proveito que terão pelo fato de nos terem assinalado!

 

Leia em sua Bíblia: João 16.23b-28

Alegria Completa

“Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa”. (v. 24)

 

A alegria só será completa no dia em que pudermos ver o nome de Deus completamente santificado. Mas isso só terá lugar na outra vida, onde não haverá nada senão pura e perfeita alegria e nenhum pingo de tristeza. Agora, na presente vida temos isso apenas em parte. Temos apenas uma gotinha, na fé, que é o começo ou o antegozo, pois recebe o consolo que Cristo nos salvou e que por meio dele ingressamos no reino de Deus. Agora, tudo isso é muito pequeno em termos de poder e resultado. A alegria não quer vir ao natural, e, como acontece na fé e na vida, não pode ser tão pura assim, porque sempre de novo caímos e temos de suportar o peso da tristeza de uma consciência intranqüila. E, assim, a alegria não chega a ser pura, ou se torna tão pequena que a gente mal consegue sentir essa alegria começada em nós.
Por isso é preciso acrescentar também esta outra parte: Devemos orar, pedindo ajuda e poder, para que, finalmente, possa haver alegria pura, completa, perfeita. Essa alegria você não a deve buscar em si mesmo ou neste mundo, porque a alegria do mundo é impura e, finalmente, termina com a morte. Mas vocês devem buscá-la em oração, diz Cristo, pedindo em meu nome que se concretize aquilo para que vim ao mundo e chamei e ordenei vocês: Que o nome, o reino e a vontade de Deus se façam em todo o mundo, e para que termine de vez a incessante oposição do diabo, do mundo e da carne.

 

Leia em sua Bíblia: João 16.5-15

Em Cristo tudo é bom e bem-aventurado

“Quando, porém, vier o Espírito Consolador, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo; do pecado, porque não crêem em mim”. (vv. 8s.)

 

Cada qual está no perigo de ser condenado ao inferno, por culpa exclusiva da própria pessoa. não porque fosse pecador culpada da condenação por causa de Adão e de sua descrença anterior, mas porque não quer aceitar o Salvador, Cristo, que assume nosso pecado e nossa condenação. Se não tenho fé nisso, aquele pecado que leva à condenação tem que permanecer, porque não aceito aquele que me pode livrar da culpa. Sim, o pecado e a condenação s tornam duplamente maiores e mais graves, justamente porque não quero ter fé neste amado Salvador que pode ajudar-me, nem aceitando sua oferta de salvação.
Agora, pois, bem-aventurança e condenação dependem de crermos em Cristo ou não. A descrença faz com que fiquemos com todos os pecados, de sorte que não podem ser perdoados. A fé, porém, anula todos os pecados, de sorte que, fora dessa fé, tudo é pecado e condenável, e assim continua sendo, por melhor que sejam a vida e as obras que a gente possa fazer. Ainda que tais obras sejam louváveis em sim, e ordenadas por Deus, elas são pervertidas pela descrença, já não podendo, por isso, agradar a Deus, quando, por outro lado, na fé, toda obra e vida do cristão agradam a Deus. em resumo: Fora de Cristo tudo está condenado e perdido; em Cristo, porém, tudo é bom e bem-aventurado, de maneira que nem o pecado (que continua em carne e sangue, herdado de Adão) pode prejudicar nem condenar.

 

Leia em sua Bíblia: João 16.5-11

Convencer o mundo da justiça

“Quando vier o Consolador, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo:... da justiça porque vou para o Pai, e não me vereis mais”. (vv. 8,10)

 

Para poderem subsistir perante Deus e serem declarados justos, receber poder dos pecados e vida eterna, os cristãos não deveriam conhecer outra justiça senão esta ida de Cristo para o Pai. Por ela nada mais é do que o seguinte: Ele tomou nosso pecado sobre suas costas e por causa dele deixou-se matar na cruz, foi sepultado e desceu ao inferno; mas não se deixou prender pelo pecado, a morte e o inferno, pois ressuscitou e subiu aos céus, onde, agora, à direita de Deus, reina poderosamente sobre todas as criaturas.
É bem verdade que esta justiça é escondida e oculta, não somente para o mundo e o pensamento humano, mas, também, para os próprios santos. Pois não se trata de pensamento, palavra ou obra em nós mesmos, mas está muito longe e acima de nós: É a ida de Cristo ao Pai. Ela foi posta fora do alcance de nossos sentidos e compreensão, de sorte que não pode ser vista ou sentida; só pode ser recebida por meio da fé na palavra que anuncia que o próprio Cristo é a nossa justiça, para que nos gloriemos diante de Deus, não em nós mesmos, mas unicamente neste Senhor.

 

Leia em sua Bíblia: João 16.8-15

Convencer o mundo do juízo

“Quando vier o Consolador, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo:... do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado”. (vv. 8,11)

 

Este julgamento procede da autoridade e do poder do Senhor Jesus Cristo, assentado à direita do Pai. A sentença de que o príncipe deste mundo e tudo que lhe pertence já está condenado e não pode fazer nada contra Cristo é anunciada publicamente através da pregação da palavra de Deus. O diabo não tem escolha: Tem que deixar Cristo ser Senhor, e vai ficar para sempre sob os pés de Cristo, permitindo que este lhe esmague a cabeça.
O mundo faz de conta que nada aconteceu. Despreza a sentença proferida contra o diabo e todos os seus membros, fazendo dela motivo de zombaria porque não a pode ver. Cristo, por sua vez, não incomoda e, tranqüilamente, permite que o desprezam. Todavia, não sem mostrar ao diabo e ao mundo que ele é o Senhor, aquele que pode neutralizar o furor e o bramido do diabo e derrubar os seus inimigos, até que todos estejam sob o seu domínio. Mas ninguém crê nisso, a não ser os cristãos, que aceitam a palavra de seu Senhor como verdadeira, reconhecem seu poder e domínio, e se consolam em seu Senhor e Rei. Os demais não terão outra recompensa além da que procuram junto a seu senhor, o diabo: Serão jogados no mais profundo abismo do inferno, em trevas eternas, e perecerão por causa de sua luta contra os cristãos.

 

Leia em sua Bíblia: Salmo 98

O cântico novo

“Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcançam a vitória”. (v. 1)

 

Este é o cântico novo do novo reinos, de novas criaturas, novas pessoas, nascidas não da lei e das obras, mas de Deus e do Espírito, que são e fazem maravilhas em Cristo Jesus, nosso Senhor.
E, porque o Espírito Santo manda que todos nós cantemos, é certo que ele também nos manda aceitar tais maravilhas, feitas e anunciadas para nosso bem e salvação. Por isso condena-se aqui a dúvida e a descrença, aquela atitude que diz: Sei lá, se Deus, através de sua destra ou braço (isto é, através de seu Filho), fez tais maravilhas e conseguiu tais vitórias em meu benefício. Ouça, (diz o Espírito): Por você, por você, por você ele o fez. Você, você, você deverá cantar, alegrar-se e render graças. Este é o meu desejo e vontade.

 

Leia em sua Bíblia: 2 Samuel 23.1-7

O salmo da congregação

“Palavra de Davi, filho de Jessé, palavra do homem que foi exaltado, do ungido do Deus de Jacó, do mavioso salmista de Israel. O Espírito do Senhor fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha língua”. (vv. 1s.)

 

A fé não descansa nem tira férias. Ela se manifesta, fala, prega. Com júbilo, ela se põe a compor lindos salmos, canta belos hinos para, com alegria, louvar e agradecer a Deus bem como mover e ensinar aos demais. Agora, isto não se refere apenas à beleza e à suavidade dos salmos sob o ponto de vista da gramática e da música, isto é, palavras ordenadas de forma graciosa e artística e canto ou música que soa bem e agrada aos ouvidos, bom texto e bela melodia. Antes, é quando se considera sua teologia e conteúdo espiritual que os salmos se revelam de fato lindos e maravilhosos. É claro, a música ou melodia também ajudam, como criatura e Dom de Deus que são, especialmente, quando a congregação canta e quando se leva a coisa a sério.
Davi chama seus salmos de salmos de Israel. Não os atribui a si mesmo nem tampouco quer a honra tão-somente para si. Israel deve receber, julgar e reconhecê-los como seus. Pois é necessário que uma palavra ou hino seja aceita ou não pela casa de Deus ou pelo povo de Deus. assim, nós, cristãos, falamos de nossos salmistas.
Santo Ambrósio compôs muitos hinos bonitos, os quais são hinos da igreja porque esta os aceitou e os usa como se ela própria os tivesse composto. Por isso não dizemos, assim canta Ambrósio, Gregório, Prudêncio, Sedúlio, mas, assim canta a igreja cristã. Pois trata-se apenas de hinos que Ambrósio, Sedúlio e outros cantam em conjunto com a igreja, e a igreja com eles. E quando eles morrem, a igreja, que permanece, continuará cantando os hinos que eles compuseram.

 

Leia em sua Bíblia: Colossenses 3.12-17

Os salmos

“Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações”. (v. 16)

 

Os salmos não nos apresentam a fala simples, comum dos santos, mas a melhor, aquela que usaram para falar com Deus com grande fervor sobre assuntos dos mais importantes. Este é o maior presente que os santos nos deram nos salmos: podermos saber o que sentiam e como falaram com Deus e com as outras pessoas.
Pois o coração humano é semelhante a um navio sobre o mar revoltoso, jogado de lá para cá por ventos tempestuosos dos quatro cantos da terra.
Tais tempestades ensinam a orar com fervor e a abrir o coração e pôr tudo para fora. Pois quem está mergulhado no medo e cercado de perigos fala dos problemas com palavras bem diferentes daquelas que seriam empregadas por alguém que está vibrando de alegria. E aquele que está vibrando de alegria, quando se refere a coisas alegres, fala e canta de forma bem diferente daquele que está mergulhado no medo. Quando vemos uma pessoa triste rir ou uma pessoa alegre chorar, dizemos que isso não vem do fundo do coração, que isto não revela o que se passa em seu íntimo.
O que são os salmos em sua maioria senão fervorosas orações feitas em meio a tais ventos tempestuosos? Onde é que vamos encontrar palavras mais lindas sobre alegria do que nos salmos de louvor ou gratidão? Ali, os santos abrem seus coração e pode-se ver algo semelhante a jardins floridos, sim, como o próprio céu. Ali, desabrocham, qual lindas flores, toda sorte de palavras bonitas e felizes, que se dirigem a Deus e falam de sua bondade.
Por outro lado, onde é que vamos encontrar palavras que exprimem tanta tristeza, queixa e miséria como as palavras dos salmos de penitência? Aqui pode-se, isto sim, ver no coração dos santos algo que se parece com a morte, sim, com o próprio inferno. Como tudo ali é escuro e tenebroso à vista do furor de Deus! Assim, quando falam de temor e de esperança, os salmistas usam palavras tais que nenhum pintor seria capaz de reproduzir num quadro, e orador algum, nem mesmo Cícero, seria capaz de descrever.

 

Leia em sua Bíblia: Salmo 33.1-12

A música

“Entoai-lhe novo cântico, tangei com arte e com júbilo”. (v. 3)

 

A música é um dos mais belos e gloriosos dons de Deus. Ela é inimiga de Satanás, através da qual pode-se espantar muita tentação e maus pensamentos. O diabo não a aprecia.
O música é uma das mais belas artes. A melodia dá vida ao texto. A música espanta o espírito da tristeza, como se pode ver na história do rei Saul.
A música é o melhor remédio para quem está triste, pois devolve paz ao coração, renova e refrigera.
A música é um belo e glorioso presente de Deus, muito semelhante à teologia. Eu não trocaria meus poucos dons de música por nada neste mundo. Deveríamos ensinar esta arte aos jovens, pois ela os torna gente boa e habilidosa.
“Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor toda a terra!” Porque Deus fez com que nossos corações e mentes se enchessem de júbilo através de seu amado Filho, o qual ele deu por nós para salvação dos pecados, da morte e do diabo. Quem, de fato, crê nisso, não pode senão cantar e falar disso com prazer e alegria, para que outros possam ouvir e descobrir o porquê. Mas quem não quer cantar e falar disso, mostra que não crê e não pertence ao novo testamento, e testamento da alegria.

 

Leia em sua Bíblia: João 16.23-33

A oração da Igreja

“Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo”. (Tiago 5.16)

 

Ninguém acredita como é forte e poderosa a oração, e que ela é capaz de realizar, a não ser aquele que fez a experiência e o tentou... Eu bem o sei. Todas as vezes que orei com seriedade, perseverando de fato na oração, fui sempre ouvido em abundância, e sempre alcancei mais do que pedi! Por vezes, Deus demorou, é verdade. Mas sempre acabou ouvindo-me. Como é poderosa a oração verdadeira de um cristão piedoso! Como é poderosa perante Deus quando um pobre pecador fala assim com a excelentíssima majestade do céu, não precisando assustar-se, mas sabendo que Deus o recebe com sorriso amigável por causa de Jesus Cristo, seu Filho amado, nosso Senhor e Salvador! Não há necessidade que o coração e a consciência evoquem o passado, nem de ficar em dúvida por causa de sua indignidade, nem de apavorar-se. No coração podemos estar certos, concluímos e cremos que já fomos ouvidos no que oramos na fé em Cristo.
Por isso, amados irmãos, orem no coração e, por vezes, também com a boca, pois (por Deus!) a oração sustenta o mundo. Sem ela, as coisas seriam diferentes. Em casa não sou assim tão corajoso e animado, pois sempre tenho que admoestar antes; na igreja, porém, entre o povo, a prece vem do coração e tem penetração certa.

 

Leia em sua Bíblia: Isaías 30.18-26

Ore!

“À voz do teu clamor, ouvindo-a, o Senhor te responderá”. (v. 19)

 

Você precisa aprender a orar e não ficar aí sentado ou deitado no banco, sozinho, cabisbaixo, sacudindo a cabeça, deixando que os pensamentos o devorem, preocupando-se e procurando uma saída sem ver outra coisa senão sua triste e miserável situação. Vamos lá, anime-se! Ajoelhe-se, levante os olhos e as mãos para os céus, tome um salmo ou a Pai-Nosso e, com lágrimas, apresente seu problema a Deus, faça sua queixa, ore. Salmo 142: “Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação”. Salmo 141: “Suba à tua presença a minha oração, como incenso, e seja o erguer de minhas mãos como oferenda vespertina”. Aqui você pode perceber que orar, apresentar seu problema a Deus, erguer as mãos em oração são ofertas das mais agradáveis a Deus. ele quer que você lhe apresente suas necessidades. O que ele não quer é que você fique aí, corroendo-se e se torturando debaixo do peso de sua aflição, fazendo com que um problema acabe se transformando em dois, sim, dez ou até mesmo cem. É da vontade de Deus que você seja fraco demais para carregar e superar seus problema. Assim você aprenderá a buscar forças nele, e ele será glorificado em você através do poder que ele dá. Veja, é isso que faz de alguém um cristão!

 

Leia em sua Bíblia: João 16.20-24

Oração em nome de Jesus

“Em verdade, em verdade vos digo, se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome”. (v. 23)

 

Quando você for orar, ajoelhe-se ou fique de pé e dirija-se a Deus com ousadia e atrevimento (desde que você se reconhece pecador e deseja melhorar), dizendo: Senhor Deus, Pai celeste, eu te peço, e não aceito recusa, a coisa há que ser assim e amém, isso aí e nada mais. Do contrário não quero orar nem teria orado. Não que eu tenha direito a isso ou fiz por merecer, pois sei muito bem e confesso que nada mereço além fogo do inferno e tua eterna ira por causa dos meus muitos e graves pecados. Neste ponto, porém, sou, pelo menos, um pouquinho obediente, porque tu me ordenas e constranges a orar em nome de teu amado Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Baseado nesse desafio e consolo de tua imensa bondade, e não em minha própria justiça, ajoelho ou apresento-me diante de ti e peço... etc.
Por outro lado, fomos suficientemente instruídos de que não devemos tentar a Deus na oração. Ou seja: Não devemos determinar tempo, medidas, objetivos, maneira ou pessoa, como quando, onde ou através de que ele nos deva atender. Com toda humildade, devemos deixar isso aos cuidados de Deus, pois ele, em sua divina e incompreensível sabedoria, certamente vai fazer tudo bem. E não devemos duvidar que a oração é de fato ouvida, mesmo que as aparências pareçam indicar o contrário.

 

Leia em sua Bíblia: Marcos 11.20-26

Amém - Assim seja

“Por isso vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco”. (v. 24)

 

A respeito da palavrinha amém: Em português, a palavrinha amém significa certamente ou verdadeiramente. Convém meditar sobre ela. Ela expressa a fé que devemos ter sempre que oramos. Por isso, quando alguém vai orar deve fazer um teste e examinar-se para ver se realmente acredita que será ouvido ou se tem dúvidas. Caso duvidar ou, sem convicção alguma, decidir aventurar-se assim mesmo, sua oração de nada adiantará. Porque o coração não para quieto e Deus não pode derramar nenhuma certeza dentro do mesmo, assim como não se pode dar nada à pessoa se não parar quieta sua mão. E procure imaginar como você se sentiria se alguém que lhe pediu algo com insistência, na última hora, dissesse: Não acredito que você vá me atender. E isso que você tinha prometido com toda certeza! Você certamente tomaria aquela oração por zombaria, voltaria atrás em sua promessa e, talvez, até repreenderia aquela pessoa. E será que Deus, que promete com toda certeza ouvir nossas orações, vai gostar quando nós oramos e, através de nossa dúvida, o fazemos de mentiroso, quando na própria oração trabalhamos contra a oração e ofendemos a sua verdade, à qual apelamos em nossa oração?

 

Leia em sua Bíblia: Salmo 110

Ascensão

“Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés”. (v. 1)

 

Cristo está assentado nos céus, esperando até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. Este é o seu ofício propriamente dito. Ele não dorme, mas vigia por nós. Ele também não quer nenhum substituto, pois ele mesmo quer desincumbir-se desta tarefa. Quando alguém se dirige a ele, ele quer estar ali, pronto para ajudar. Se alguém está com algum problema, que se dirija a Cristo e receberá ajuda. O dia do juízo final não chegou e os inimigos, a carne, o pecado, a morte, ainda permanecem. Mas, no dia derradeiro, Cristo entregará o reino ao Pai. Agora, ele governa os cristãos dentro de seus corações, consola-os na aflição, purifica-os e intercede por eles. No dia derradeiro, todos os seus cristãos reinarão com ele, assentados à direita de Deus. Só então, o último e real inimigo será esganado.
Aqui na terra ainda encontraremos fé vacilante, ansiedade pelo sustento e desespero sempre que Deus parece estar distante. Qual é o nosso consolo neste mundo? Cristo, nosso sacerdote, que morreu por nós e cuida de nós, vê que nossos inimigos querem nos destruir. Por isso, ele os afasta e clama ao Pai que se coloque do nosso lado. Quando a consciência percebe isto termos acesso garantido ao Pai em toda e qualquer angústia. O que nos falta são olhos suficientemente fortes para podermos olhar através das nuvens, para dentro dos céus, e ter a certeza de que Cristo é nosso advogado.

 

Leia em sua Bíblia: Romanos 8.26-30

A resposta de Deus vai muito além da nossa compreensão

“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexpressíveis”. (v. 26)

 

Não é mau sinal, mas o melhor sinal possível quando nossas orações são respondidas de uma forma que parece contrariar nosso pedido. Da mesma forma, não é bom sinal quando nossas orações são atendidas ao pé da letra. O motivo disso é que a vontade e a sabedoria de Deus vão muito além da nossa vontade e sabedoria.
Assim, pode acontecer que, ao orarmos por alguma coisa e Deus nos ouve e começa a atender, ele o faz de uma forma que contraria todas as nossas idéias, todos os nossos pensamentos. Parece que Deus está irado conosco depois da nossa oração mais do que antes, e que, no que diz respeito ao que pedimos, estamos em pior situação do que antes de orarmos. Tudo isso, Deus faz apenas porque é esta a sua maneira de agir: Primeiro destrói e aniquila o que há em nós, antes de presentear-nos co seus dons.
Quando não há mais esperança e tudo começa a acontecer ao contrário de nossas orações e desejos, iniciam aqueles gemidos inexprimíveis. Então, o Espírito “nos assiste em nossa fraqueza”. Porque, sem a assistência do Espírito, nos seria totalmente impossível suportar essa forma que Deus usa para ouvir e atender nossas orações. Aqui se diz à alma: Coragem! Fique firme! Anime-se e espere pelo Senhor!
Mas quem tem o Espírito recebe ajuda através do mesmo. Quando Deus age, sua ação permanece oculta e incompreendida. E sua ação só pode ser ocultada quando se apresenta de uma forma contrária a nossa compreensão e modo de pensar.

 

Leia em sua Bíblia: João 14.18-20

Cristo está no Pai, nós estamos em Cristo

“Naquele dia vós conhecereis que eu estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós”. (v. 20)

 

Este é o primeiro ponto importante e o artigo fundamental, a saber, que Cristo está no Pai. Que ninguém tenha dúvidas sobre o que este homem diz e faz; o que diz e faz é dito e feito nos céus perante todos os anjos, na terra, perante todos os tiranos, no inferno, perante todos os diabos, no coração, perante todas as consciências culpadas e pensamentos próprios. Porque no momento em que se tem certeza de que também o Pai quer o que Cristo pensa, fala e quer, pode-se desafiar qualquer inimigo e maldade. Porque em Cristo tenho o coração e a vontade do Pai. Se você se apegar e fixar os olhos nisso, verá e encontrará Cristo no Pai e o Pai em Cristo, e não verá nem sinal de ira, morte ou inferno, mas, tão-somente, graça, misericórdia, céu e vida.
O outro ponto. Uma vez estando a par disso., vocês poderão ir um passo além e saberão que eu sou o vosso Salvador. E isso da seguinte forma: Suas vidas, suas necessidades, o fato de serem pecadores, estarem condenados e enredados na morte, tudo isso está em mim e está no lugar certo. Agora, o que está em mim não pode ser outra coisa senão justiça, vida e salvação. Através da fé, vocês passam a estar em mim com sua morte, pecado e miséria. Embora em si e de si mesmos vocês não passem de pecadores, em mim, vocês são justos. Embora a vida de vocês esteja marcada pela morte, em mim, vocês têm a vida. Embora sintam falta de paz, em mim, vocês têm a paz. Embora, por causa de si mesmos estejam condenados, em mim, vocês são abençoados.

 

Leia em sua Bíblia: João 15.26-16.4

A promessa do Espírito

“E sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o espírito de graça e de súplica”. (Zacarias 12.10)

 

Duas coisas há que realizar o Espírito em todos os cristãos: Em primeiro lugar terá que ter o seu coração e certeza de que tem um Deus gracioso. Em segundo lugar, que também possam socorrer a outros pela oração. O primeiro faz com que sejam reconciliados com Deus e tenham para si tudo de que necessitam. Tendo isso, deverão, posteriormente, também tornar-se deuses e salvadores do mundo, por meio da oração.
Pois quando um cristão começa a conhecer a Cristo como seu Senhor e Salvador, por meio do qual está salvo da morte, incluído em seu reino e instituído seu herdeiro, seu coração fica tão cheio de Deus, que gostaria que todos os demais também chegassem a esse ponto. Pois o cristão não conhece maior alegria do que esse tesouro: conhecer a Cristo. Por isso sai, ensina e admoesta os outros, enaltece e confessa seu conhecimento de Cristo perante todo o mundo, ora e suspira, para que também eles alcancem tal misericórdia.
Esse é um espírito inquieto em meio à maior calma, isso está na graça e na paz de Deus que o cristão não pode ficar quieto e parado; ele sempre está buscando e se esforçando, com todas as suas forças, para propagar mais o louvor e a honra de Deus entre o povo, para que outros também recebem esse espírito da graça e lhe ajudem a orar por meio desse mesmo espírito.

 

Leia em sua Bíblia: João 14.21-27

Deixo com vocês a minha paz

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. (v. 17)

 

Esta é uma palavra de despedida muito linda e consoladora. Ele não lhes deixa cidades e castelos, nem prata e ouro, mas sua paz como o maior tesouro nos céus e na terra, para que eles não se atemorizem nem pranteiem sua ausência, mas tenham em seus corações aquela paz real, tão linda e tão desejada. Pois no que depender de mim (diz ele), vocês não terão outra coisa a não ser paz e alegria. Porque minha pregação e minha presença entre vocês tiveram por objetivo fazer com que vissem e reconhecessem que amo vocês de todo coração e desejo tão-somente o bem de vocês e que meu Pai é gracioso para com vocês. Isto é o melhor que posso deixar e dar a vocês. Porque nenhuma paz se compara à paz de coração. Como diz o ditado: “Um coração alegre vale mais que toda a alegria do mundo”; e “nada dói tanto quanto um coração ferido”.

 

Leia em sua Bíblia: João 15.1-7

Orar com Cristo e orar sem Cristo

“Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será feito”. (v. 7)

 

É realmente miserável o mundo sem Cristo, onde se conclui: Muito esforço e trabalho e nada realizado; muitas orações, busca e insistência e, apesar de tudo, nada alcançado, nada encontrado, nada feito. Pois batem à porta errada. Porque, o que fazem e pedem, fazem-no como outra obra qualquer, sem fé. Eles não têm consolo nem confiança, sim, falta-lhes a convicção de que Deus se agrada do que estão fazendo ou que vai atendê-los. Por isso não podem orar. E como eu já disse repetidas vezes, orar é obra exclusiva da fé e ninguém pode fazê-lo exceto o cristão. Pois os cristãos oram, não confiando em si mesmos, mas naquele nome em que foram batizados, o nome do Filho de Deus, e têm a certeza de que sua oração é agradável a Deus porque ele mandou orar em nome de Cristo e prometeu atender. Os não-cristãos não sabem disso. Oram em seu próprio nome. Querem preparar-se durant longo tempo para serem dignos e acabam transformando tudo em mera obra. E tão logo perguntados se têm certeza de que foram ouvidos, respondem: Eu fiz oração, mas só Deus sabe se fui ouvido. Mas será que isso é oração, quando você não sabe o que está fazendo e muito menos o que Deus pensa disso?
Com o cristão, todavia, é diferente. Ele ora baseado no mandamento e na promessa de Deus, apresenta seu pedido a Deus em nome de Cristo, sabe que será atendido, e sua experiência é de que em toda e qualquer necessidade recebe ajuda.

 

Leia em sua Bíblia: João 16.12-15

O Espírito opera em e através de nós

“Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade”. (v. 13)

 

Esta mensagem é realmente gloriosa. Mas, de momento, vocês ainda não a compreendem (diz Jesus), porque ela é sublime demais e ninguém pode aceitá-la por iniciativa própria. Posteriormente, todavia, quando eu for glorificado por meio da ressurreição e quando vier o Espírito Santo, vocês o compreenderão perfeitamente e saberão em seus corações que eu, por estar no Pai, me livrei de tudo que é mortal. E vocês que permanecem em mim experimentarão o mesmo. Pois assim como tudo está morto no Pai, e nada há o que é capaz pecado, diabo, morte, também há que estar morto em mim e, de igual modo, em vocês, porque estão em mim. Por último, vocês também aprenderão que eu estarei em vocês. Porque somente em mim vocês terão ânimo e intrepidez, consoladora confiança e certeza de que o Pai é gracioso para com vocês e não está irado. Ao saberem disso, vocês também terão a certeza de que suas palavras, pregação, vida e ação são corretas e boas, pois são minha própria voz e ação. Porque sou eu quem fala, prega, batiza e faz tudo o mais em e através de vocês.

 

Leia em sua Bíblia: João 17.1-8

O Espírito glorificará a Cristo

“Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer”. (v. 4)

 

Se Cristo não tivesse sido glorificado, também o Pai não o teria sido, e a glória do Pai teria perecido com Cristo. A glória do Pai e do Senhor Jesus Cristo estão intimamente ligadas e entrelaçadas. A glória de ambos é uma só, indivisível, de sorte que o Filho é glorificado pelo Pai e o Pai é glorificado no Filho e através dele.
A exemplo da oração de Cristo, nossa cabeça, nós, que estamos ligados a ele, também devemos orar, pedindo que ele seja glorificado em nós. Pois o que fizeram com ele enquanto esteve na terra, também sucederá conosco: Por sua causa (porque o glorificamos e louvamos com nossa doutrina e vida) devemos nos submeter a desprezo, condenação, e morte, para que seu nome e sua santa palavra sejam perseguidos e blasfemados em nós. Mas para que sua honra seja preservada e, em cumprimento a sua palavra, ele vai nos ajudar e inverterá os papéis, para que a injustiça do mundo seja revelada e o mesmo seja condenado; nós, porém, conduzidos à maior honra e glória. Assim, sua honra e louvor sobressaem e se manifestam mais e mais através do Espírito Santo e do testemunho dos cristãos em todo o mundo. Esta é a obra que o Pai lhe confiou para fazer: ele tomou sobre si toda a vergonha e culpa, sofrimento e morte, com a finalidade de honrar o Pai. E tudo isso por amor de nós, para que pudéssemos ser salvos e ter vida eterna.

 

Leia em sua Bíblia: João 17.9-14

Aqueles por quem Cristo roga

“Não rogo pelo mundo, mas por aqueles eu me deste”. (v. 9)

 

Aqui, Cristo nos declara por quem ele roga, a saber, por aqueles que aceitaram sua palavra, amam-no de todo coração e apegam-se firmemente à sua palavra. Estes podem ter a alegre certeza de que estão, de fato, incluídos nesta oração e de que vão permanecer com o Senhor Cristo.
Por outro lado, como é terrível esta dura afirmação: “Não rogo pelo mundo”. Cuidemos que não estejamos entre aqueles pelos quais ele não quer rogar. Disso só pode resultar sua perdição, pois Cristo depões contra eles e nada quer saber deles.
O mundo deveria ficar estarrecido e tremer de medo diante de tal sentença. Mas ele zomba e faz disso uma piada. Permanece em sua tremenda e obstinada cegueira, tranqüilamente desprezando a mensagem, deixando-a passar em brancas nuvens como se fossem palavras de um bobo qualquer.

 

 

Leia em sua Bíblia: João 17.15-21

Consolo sob a Cruz

“Não peço que os tires do mundo; e, sim, que os guardes do mal. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. (vv. 15, 17)

 

A cristandade como um todo não passa de um p[unhado de gente, pessoas que devem estar dispostas a sofrer e a suportar mais do que todos os outros homens a dor resultante da ação do diabo e do mundo. Diante disso, quem seria capaz de sentir, perceber ou concluir que eles estão justificados diante de Deus. Certamente, cérebro algum será capaz de fazê-lo. Isto precisa ser anunciado pelo Espírito Santo, o que é chamado Espírito da Verdade porque contra tais aparências e sentimentos ele fortalece e preserva os corações na fé. Se não fosse assim, jamais alguém teria acreditado ou ainda viria a crer que esse Jesus Cristo é verdadeiro Deus, assentado à direita do Pai nos céus, que também foi crucificado vergonhosamente como ladrão pelo seu próprio povo. Ou, então, como poderíamos dizer de nós mesmos, com certeza que nós (aqueles que crêem nesse Cristo crucificado), pessoas condenadas e amaldiçoadas por todo mundo, sentenciadas à morte como inimigos de Deus e amigos do diabo, somos, de fato, filhos amados de Deus e santos? Pois é algo que nós mesmos não sentimos, e nosso coração nos diz bem o contrário, uma vez que ainda somos tão fracos e pecaminosos. No entanto, é obra e poder do Espírito Santo – o Espírito que confirma isso em nossos corações – que podemos aceitar por verdade o que a palavra nos diz, e que podemos vivier e morrer nessa certeza.

 

Leia em sua Bíblia: Atos 2.1-13

A Igreja do Espírito Santo

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo”. (v. 4)

 

Nessa santa e alegre festa de pentecostes comemoramos agradecidos a nosso amado Senhor o grande e infinito benefício que nos demonstrou na terra, ao revelar a nós, pobres homens, desde o céu, sua santa e querida palavra – não uma palavra qualquer, mas uma palavra especial e diferente, contrária à lei de Moisés. Pois nesse dia começou o reino de Cristo, por intermédio dos apóstolos, e foi revelado a todo mundo por meio do evangelho. Sem dúvida, em sua pessoa, Cristo teve o seu reino desde a eternidade; hoje, no dia de pentecostes, porém, ele foi revelado a todo o mundo pelo Espírito Santo, por meio dos apóstolos. Tal revelação veio a nós com grande coragem, destemor e alegria por parte daqueles pobres pecadores, os apóstolos, os mesmos que antes abandonaram e negaram a Cristo, por medo, e que eram tímidos, assustados e desesperados.
Hoje, no dia de pentecostes, teve início o alegre, bem-aventurado e amável reino de Cristo, cheio de alegria, coragem e certeza.

 

Leia em sua Bíblia: 1 Coríntios 1.26-29

O Inusitado início do Cristianismo

“Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar os fortes”. (v.27)

 

Assim, Cristo inicia seu reino através de leigos que não tinham instrução alguma e simples pecadores que não tinham estudado as Escrituras Sagradas. Parece absurdo que a igreja cristã começou com aqueles pobres coitados e com a escandalosa pregação de Jesus de Nazaré, crucificado, ridicularizado, cuspido, caluniado, maltratado de todo mais vergonhoso e, afinal, pregado na cruz e morto como agitador e blasfemo, como indica o letreiro no alto da cruz: “Jesus Nazareno, o rei dos judeus”. No dia de pentecostes prega-se publicamente a respeito desse Jesus. Os apóstolos dizem que Jesus foi vítima de violência e injustiça; que os que o crucificaram e mataram são diabos e inimigos de Deus, pecando gravemente e provocando a terrível ira de Deus. E através desta pregação começa o reino de Cristo e a igreja cristã.
É uma coragem admirável que demonstram os apóstolos e discípulos, e um grande consolo poderem pregar publicamente a respeito de Cristo no dia de pentecostes. Quem maai seria t