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Não desista do seus sonhos

Não desista do seus sonhos

                                Não Desista dos Seus Sonhos

 

                                                  Hernandes Dias Lopes

 

 Candeia

 

índice

Dedicatória

Prefácio

Introdução

 

Capítulo 1

Quando os Nossos Sonhos São Adiados

 

Capítulo 2

Os Destruidores de Sonhos

 

Capítulo 3

O que Fazer para Alimentar os Sonhos

Conclusão

 

Dedicatória

 

Dedico este livro aos meus filhos Thiago e Mariana, presentes de Deus na minha vida e na vida de minha querida esposa Udemilta. Minha oração é que eles realizem na vida os sonhos de Deus.

 

Prefácio

 

Louvo ao Senhor pela bênção de ter me casa­do com um homem de Deus. Hernandes é um marido maravilhoso e um pai exemplar. Depois de doze anos de casamento, onde enfrentamos lutas tremendas e cruzamos vales escuros, posso ver nele um homem que não desiste de sonhar. Mas, acima de tudo, ele busca sonhar os sonhos de Deus. Nes­ses anos, já testemunhamos a realização de muitos sonhos em nossa vida e de muitos milagres na vida das pessoas que nos cercam, quando Deus inter­veio extraordinariamente, transformando vales se­cos em mananciais, noites escuras de desespero em manhãs ensolaradas de esperança.

Este livro foi escrito para encorajar aqueles que há muito desistiram de sonhar ou estão com os seus sonhos adormecidos. Desafio você a ler este livro com o coração aberto, com o objetivo de trazer à sua memória o que pode lhe dar esperança. Creio que o Senhor pode usá-lo para inflamar o seu cora­ção a também sonhar os sonhos de Deus.

Udemilta Pimentel Lopes

 

 

Introdução

 

Edmund Hillary foi um grande esportista da Nova Zelândia. Ele tinha um sonho ousado: escalar a montanha mais alta da terra, o monte Everest, com mais de 8.800 metros. Preparou-se, treinou e partiu para a sua inusitada empreitada em 1952. Contudo, não logrou êxito em sua tentativa. Seu sonho não se realizou. Tempos depois, foi con­vidado para fazer uma palestra para um grupo de pessoas na Inglaterra. Chegando ao grande auditó­rio, percebeu que propositadamente, haviam colo­cado uma grande gravura do monte Everest na pa­rede. Ao ver a imponência majestosa do quadro, abaixou a cabeça e dirigiu-se silencioso para a pla­taforma. Ao levantar-se para proferir o seu discur­so, Hillary deixou por um momento os seletos ou­vintes, dirigiu-se ao painel, olhou firmemente para a gravura do Monte Everest e disse: "Everest, tu me derrotaste da primeira vez, mas tu já cresceste tudo quanto podias crescer. Eu ainda estou crescendo. Da próxima vez, eu te vencerei." [1]

Em 29 de maio de 1953, às 11h, apenas um ano depois, Edmund Hillary era o primeiro homem da história a chegar ao topo do Monte Everest.[2] Em função disso, ele recebeu a mais alta condeco­ração oferecida pela Rainha da Inglaterra. Ele não desistiu do seu sonho. Ele não sepultou o seu so­nho na cova da impossibilidade. Ele não lavrou um epitáfio para o seu sonho, quando enfrentou o pri­meiro fracasso, dizendo: "Aqui jaz o meu sonho".

Você também tem sonhos. Muitos sonhos ali­mentaram o seu coração e o mantiveram vivo em tempos de crise. Talvez alguns dos seus sonhos se tenham perdido ao longo do caminho. Talvez, ou­tros sonhos se tenham transformado em pesadelos. Ou, quem sabe, você já sepultou na cova do esque­cimento alguns dos seus melhores sonhos. Até mes­mo já desistiu de alguns que durante muitos anos o mantiveram cheio de esperança. Quero desafiar você a resgatar aqueles sonhos que já estão no arquivo morto da sua história. Encorajo você a abrir os ar­quivos da sua memória e trazer à lume sonhos há muito esquecidos. Creio que muitos deles poderão ressurgir das cinzas.

Creio que o Deus dos impossíveis pode ressus­citar seus sonhos. Ele chama à existência as coisas que não existem. Para ele não há coisa demasiada­mente difícil. Tudo é possível ao que crê. Não se conforme com a decretação do fracasso em sua vida. Você foi predestinado para ser um vencedor. Não desanime, espere em Deus, ainda que contra todas as expectativas. O Senhor pode realizar um milagre em sua vida. Ele não abdicou do seu poder. Ele está assentado na sala de comando do universo, dirigindo a história. Ele conhece a sua vida e pode mudar hoje a sua sorte. Não desista de sonhar!

 

Capítulo 1

 

Quando o  Nossos Sonhos São Adiados

 

O texto de I Samuel 1 nos fala de uma mulher que tinha um sonho. Ana:era uma pessoa piedosa que amava a Deus. Era casada com Elcana. Mas havia um vazio na vida de Ana: ela não tinha filhos. Seu grande projeto de vida era dar à luz um filho. O seu sonho era legítimo, puro, digno. Ela queria ser mãe; mas era estéril. Na sua cultura, a esterilidade era uma maldição, uma vergonha, uma desgraça.[3] Por causa disso, Ana capitulou-se à tris­teza e à depressão. Ela chorava copiosamente e seu semblante descaiu. Ela não conseguia comer. Sua dor era profunda. As palavras já não brotavam dos seus lábios. Só conseguia balbuciar seus gemidos diante de Deus. Não obstante à sua angústia, Ana não entregou os pontos, não se conformou passiva­mente com a situação. Ela reagiu e lutou com ga­lhardia pelo seu sonho.

Mas por que Ana era estéril? Por que seu so­nho de ser mãe estava sendo adiado? Por que foi vitimada por uma doença incurável, que carregava um profundo peso de ostracismo social? A doença de Ana não era provocada por um pecado que ela teria cometido. Também não se originava de algu­ma maldição hereditária nem muito menos resul­tado de ação satânica. O texto bíblico é claro em afirmar que Deus a deixou estéril (v. 5) e que o pró­prio Senhor cerrou a sua madre (v. 6). Muitos hoje pensam equivocadamente que toda doença tem pro­cedência maligna.4 Esse não é o ensino das Escritu­ras. Nesse caso, o agente da doença de Ana é o Se­nhor. Deus mesmo a fez estéril. Deus mesmo adiou o seu sonho. A mão de Deus está presente como protagonista desta história de dor e lágrimas. Mas, por quê?

E um grande mistério entender como e por­que os nossos sonhos legítimos são adiados.[4] Esse será o centro da nossa atenção a partir de agora. Por que Deus, sendo amoroso e misericordioso, nos per­mite passar por situações dolorosas? Por que, às ve­zes, ele é o próprio agente dessas situações amargas? Por que, Deus sendo tão bom, adia a realização dos nossos sonhos mais acalentados? Deus não é sádi­co. Ele não tem prazer em ver os seus filhos sofren­do. Ele sempre tem o melhor para nós. Se um filho lhe pede um pão, ele não lhe dá uma pedra (Lc 11.11). Mas então por que ele adia a realização dos nossos sonhos? Talvez esse seja o grande dilema da sua alma: ver os seus sonhos sendo arrastados na correnteza do tempo. Como Ana, você tem proje­tos claros, sonhos legítimos, mas eles não se con­cretizam. Você luta, mas não vê os seus desejos cum­pridos. A Bíblia diz que a esperança que se adia adoece o coração (Pv 13.12). Talvez você já esteja cansado de esperar. Como Ana, você já está entran­do num processo de depressão. Não consegue mais comer, só chorar; não consegue trazer no rosto a beleza de um sorriso, pois o seu semblante já descaiu. É a batalha do vestibular que já foi perdida tantas

vezes; é a aspiração de ingressar numa faculdade, mas faltam os recursos financeiros; é o projeto do casamento que se adia; é o desejo de ver o cônjuge convertido; é o sonho de ver os filhos consagrados a Deus; é o anelo de conseguir a sua estabilidade financeira; é o plano de ter uma família unida pe­los laços do amor. Você olha para as circunstânci­as, entretanto, e não vê mudança. Olha para a ban­da do mar não vê sequer uma nuvem. As circuns­tâncias conspiram contra o seu desejo. A situação troveja aos seus ouvidos uma única mensagem: Não existe jeito. Não há saída. Não há solução à vista.

Contudo, quando parece que nada está acon­tecendo, com Deus no controle alguma coisa está acontecendo. Nossa vida não está solta ao léu, sem rumo. Não somos guiados por um destino cego. Não somos jogados de um lado para o outro ao sabor das circunstâncias. Nossa vida está nas mãos do Rei do universo. Ele é Todo-poderoso, é bom e fiel em todas as suas obras. Ele trabalha de tal for­ma em nossa vida que todas as coisas cooperam para o nosso bem. Ele sabe o que faz com a sua vida. Ele está no leme, não tenha medo da tempestade. Ele está no controle da sua história, não se desespere. Ele pode o impossível, não desista de seus sonhos. Ele tem sobejas razões para adiar a realização dos seus sonhos.

A questão é: por que Deus adia a realização dos nossos sonhos?

 

1.   Para que compreendamos que o Deus das bênçãos é melhor do que as bênçãos de Deus

Os problemas nos aproximam de Deus. É no vale que olhamos com mais intensidade para as al­turas. E na crise que recorremos com mais pressa a Deus. Quando os nossos sonhos não se realizam, temos necessidade de buscar a Deus. É nessas horas que aprendemos a profunda lição que Deus adia os nossos sonhos para que o coloquemos em primeiro lugar em nossa vida. O Deus das bênçãos é melhor do que as bênçãos de Deus. A intimidade de Deus é a maior necessidade da nossa vida. Estar com Deus é a maior prioridade da nossa agenda.

Os problemas não vêm para nos afastar de Deus, mas para nos levar à presença divina. Eles não são permitidos ou mandados por Deus para nos destruir, mas para gerar em nós dependência do Altíssimo. Deus adia a realização dos nossos so­nhos para nos manter perto dele e nos ensinar que tudo, sem ele, é nada.

Não aprendemos as maiores lições da vida em dias de festa, mas na escola do sofrimento. É no vale que aprendemos as mais profundas lições da vida. É quando os nossos recursos se esgotam que conhecemos a providência do Jeová Jiré. E quando temos consciência de que o homem é homem, é que sabemos que Deus é Deus. E quando somos fracos que somos fortes.

Sonhos não realizados, desejos não satisfeitos, via de regra, nos levam à presença de Deus. O sofri­mento não é um bem em si mesmo, mas Deus tra­balha em nossa vida de tal forma que o sofrimento se transforma em bem para nós. O sofrimento não é um fim em si mesmo. Ele é pedagógico, tem um propósito positivo. As tribulações produzem paci­ência, e a paciência deságua numa profunda experi­ência com Deus (Rm 5-3-5). Devemos, por isso, nos alegrar ao atravessar várias provações (Tg 1.2), pois elas nos colocam quebrantados, humildes e depen­dentes do Deus Todo-poderoso.

Estamos vivendo a cultura da centralidade do homem, em torno do qual tudo gira. Até a religião cristã está sendo seduzida por este antropocentrismo idolátrico. Essa visão humanista diz que Deus está a serviço do homem. Proclama que a vontade do homem deve ser sempre satisfeita. Essa teologia ensina que não é a vontade de Deus que deve ser feita na terra, mas a vontade do homem que deve ser feita no céu. E por isso que muitas pessoas se apresentam diante de Deus, fazendo orações que o colocam contra a parede: "Eu decreto, eu determi­no, eu ordeno, eu proíbo, eu rejeito, eu não aceito...". Essa visão, contudo, é falsa. Não é o ho­mem quem está no centro. E Deus quem está as­sentado no trono. Só ele é soberano. Ele faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade. Ele não aceita ser pressionado. Ele não tolera imposi­ções. A única coisa que nos cabe é nos lançar humildemente aos seus pés sabendo que quando os nossos sonhos são adiados é porque Deus quer nos ensinar a lição de que ele é melhor do que suas bên­çãos. A nossa maior necessidade não é de coisas, mas de Deus!

 

2.    Para que entendamos que tanto o ordinário como o extraordinário são presentes de Deus

Quando Samuel nasceu, Ana o viu como mi­lagre de Deus. Ela sabia que a sua gravidez não ha­via sido normal. Samuel era fruto de uma interven­ção sobrenatural e extraordinária de Deus em sua vida. Ana sabia que Samuel era fruto da resposta às suas orações (I Sm 1.27).

Precisamos ter claro em nossa mente que tan­to o ordinário quanto o extraordinário são bênçãos procedentes do Senhor. O simples fato de estarmos vivos é um milagre de Deus. O alimento que temos sobre a mesa é um prodígio da providência divina. Geralmente as pessoas só enxergam como milagre de Deus os fatos sobrenaturais. Por exemplo, quando um doente é curado de câncer. Mas não vêem como ação maravilhosa do Senhor o fato de sermos protegidos diariamente dos aleivosos perigos das doenças contagiosas, dos vírus e bactérias que nos cercam. Às vezes, só interpretamos como milagre o fato de uma pessoa sofrer um acidente grave e sair ilesa, mas não paramos para agradecer a Deus o fato de sairmos de casa todos os dias e voltarmos em segurança.

Certa feita, Blaise Pascal, o famoso filósofo e matemático francês, chegou para o seu pai e disse:

"Papai, aconteceu um milagre comigo hoje!"

"Sim, meu filho, o que foi?"

"É que eu fiz uma viagem de 15 quilômetros a cavalo. Num momento, o meu cavalo galopava fo­gosamente, tropeçou, caiu e eu não me machuquei."

"E verdade, meu filho, esse foi um grande mi­lagre", respondeu seu pai. "Mas aconteceu comigo um milagre maior."

"O que foi papai?"

"Eu também fiz uma longa viagem a cavalo. O meu cavalo galopou a toda velocidade e não trope­çou nem uma vez!"

Você tem visto a bondosa providência de Deus em sua vida nas coisas ordinárias? Você reconhece que tudo o que você tem é bênção do Senhor? Cor­remos o risco de achar que o que somos e temos é fruto da nossa inteligência, esforço e trabalho, e deixamos, por isso, de tributar a glória devida a Deus por essas bênçãos. Ana se apresentou a Eli e disse: "Por esse menino orava eu; e o Senhor me conce­deu a petição que eu lhe fizera" (I Sm 1.27).

 

3. Para que tenhamos a disposição de a consagrar a Deus o melhor que temos

Ana devolveu para Deus o filho que recebeu de Deus. Ela fez o voto e o cumpriu. Ela levou Samuel à Casa de Deus e o dedicou ao Senhor por todos os dias da sua vida. Não fosse o entendimento de que tudo é de Deus, vem de Deus e deve ser con­sagrado de volta a Deus e Samuel teria sido o centro da vida de Ana. Não fosse essa visão de Ana, Samuel teria sido o seu deus, a razão da sua vida.

Muitas pessoas transformam as bênçãos de Deus em ídolos. Prosperam e colocam o seu cora­ção na riqueza, deixando Deus de lado. Casam-se e fazem do cônjuge um ídolo, abandonando o Se­nhor. Têm filhos e vivem em função deles em vez de consagrá-los a Deus e criá-los para o Senhor. Mui­tas pessoas agarram-se tanto às bênçãos de Deus que se esquecem do Deus das bênçãos. Fazem do dinheiro um ídolo. Vivem como escravos de Mamom. Vivem para ele. Morrem por ele.

Quantos pais hoje têm a coragem de consa­grar seus filhos para Deus como fez Ana? Essa extraordinária mulher compreendeu que o sentido maior da vida do seu filho era realizar os sonhos de Deus, e não os seus próprios sonhos. Ela não buscou transferir para Samuel a compensação de suas frus­trações do passado. Ela não o usou como troféu para mostrar ao mundo sua vaidade. Ela não projetou em seu filho o idealismo de ver os seus sonhos cumpri­dos. Pelo contrário, Ana consagrou o seu melhor para Deus. Entregou a Deus o que tinha de mais precio­so. Ela criou Samuel para o Senhor. O puritano Thomas Watson dizia que nossos filhos devem ser mais filhos de Deus do que nossos filhos.[5] Parado­xalmente, eles se tornam cada vez mais nossos à me­dida que eles são mais de Deus. No Reino de Deus, você tem o que dá e perde o que retém.

No século passado nascia o filho caçula, entre nove irmãos, de uma família piedosa nos Estados Unidos. Aquele menino chamava-se Ashbel Green Simonton, o missionário pioneiro do presbiteria-nismo no Brasil. Seu pai, dr. William Simonton, foi presbítero, médico e deputado federal por duas legislaturas. Quando Simonton nasceu, seus pais o consagraram a Deus para o ministério.[6] Na juven­tude recebeu o chamado de Deus e entrou para o Seminário de Princeton, em New Jersey. Reve­lou-se um jovem brilhante, inteligente, culto e piedoso. Nos idos de 1857 a 1859 os Estados Uni­dos estavam vivendo um grande reavivamento. Foi nessa época que Simonton recebeu o chama­do de Deus para ser missionário no Brasil. Gran­des igrejas já o haviam convidado para ser pas­tor. Propostas promissoras já haviam chegado a ele. Mas a todas Simonton recusou. Alguns ten­taram em vão, demovê-lo, dizendo: "Simonton, você é louco de deixar sua família, sua igreja, o conforto do seu país, para ir para o Brasil, um país pobre e devastado por doenças endêmicas". Mas ele respondeu: "A maior loucura na vida de um homem é estar fora do centro da vontade de Deus. Não há lugar mais seguro, ainda que cercado de perigos, do que no centro da vontade de Deus".

Esse jovem pastor, fruto da consagração de seus pais, deixou a sua pátria para plantar nas plagas bra­sileiras a bendita semente do evangelho. Seu ideal foi maior do que a sua vida, por isso ele deu a vida por seu ideal.

O que você tem oferecido a Deus? E o seu melhor? Você tem colocado as primícias no altar de Deus? Ou tem comparecido diante do Senhor de mãos vazias? Na época de Malaquias, o povo de Is­rael oferecia a Deus os animais cegos e aleijados.

 

Entregavam o resto para Deus. O que você tem apresentado ao Senhor? Tudo o que você tem é de Deus. A casa que você mora, o carro em que você anda, o salário que você recebe, a família que você tem, a sua própria vida; tudo é de Deus. O que você tem devolvido ao Senhor? O que você tem consagrado de volta para Deus? Você tem colocado o seu melhor, como Abraão, no altar do Senhor? Você tem dado o seu melhor para Deus como Ana?

Deus não quer que você transforme num ído­lo uma bênção dada por ele. Estou certo de que Deus adia os nossos sonhos para que possamos fa­zer o voto de Ana: "Por esse menino orava eu, pelo que o trago como devolvido ao Senhor". O que você precisa devolver no altar do Senhor?

 

4.   Para que reconheçamos que os sonhos de Deus são maiores do que os nossos sonhos

O sonho de Ana era muito pequeno. Suas as­pirações não eram suficientemente ousadas. Ela queria apenas ver o seu ventre transformando-se num cenário de vida. Ela só aspirava gerar uma cri­ança, carregar no colo um filho e amamentar um rebento.

Mas, Deus não realizou o sonho de Ana no seu tempo, porque tinha algo maior para fazer em sua vida. Os pensamentos de Deus são mais elevados do que os nossos pensamentos. Os so­nhos de Deus são maiores do que os nossos so­nhos. O sonho de Deus para Ana não era apenas que ela fosse mãe, mas mãe do maior profeta da­quela geração. Samuel não seria um homem co­mum, mas aquele que traria o povo de Israel de volta para Deus, o último e o maior juiz de Isra­el. Samuel seria o homem que restauraria a credibilidade do sacerdócio tão desgastado com o ministério repreensível de Hofni e Fineias. Samuel seria o grande instrumento que Deus usa­ria para ungir Saul como o primeiro rei de Israel e Davi como o seu sucessor.

Ana chorava porque queria ver os seus sonhos realizados, mas Deus os adiou porque almejava algo melhor e mais elevado para ela. Quando pensamos que Deus está distante ou indiferente aos anseios mais profundos da nossa alma, quando achamos que ele não se importa com a realização dos nossos sonhos, ele está trabalhando em nós e por nós, fa­zendo maravilhas maiores do que poderíamos ima­ginar. O Senhor cavalga nas alturas para a nossa ajuda (Dt 33.26). Não há Deus como ele, que tra­balha para aqueles que nele esperam (Is 64Ã). Deus trabalha no turno da noite. Ele faz hora-extra para aqueles que esperam nele. Aos seus amados, ele os dá enquanto dormem (Sl 127.2). Mesmo quando você tem a sensação de que está sozinho na cami­nhada da vida, ele está carregando você no colo. Mesmo quando você sente que as coisas perderam o rumo, ele está no controle total da situação.

Quando os discípulos de Jesus estavam assom­brados no mar da Galiléia, exaustos de remar, bati­dos por ventos contrários, fustigados por ondas fu­riosas, na iminência de um desastroso naufrágio, Jesus aproximou-se deles, na quarta vigília da noi­te, andando por sobre as ondas e mostrando-lhes que as mesmas vagas que conspiravam contra eles estavam rigorosamente debaixo dos seus pés. O que nos ameaça e instila medo no nosso coração está sob os pés do Senhor. Ele é maior do que as nossas tempestades. Ele não se apavora com os problemas que nos entrincheiram. Ele não perde o leme do nosso barco no fragor da tempestade. Quando o Senhor nos permite passar por uma prova amarga, não é para nos ver sofrendo simplesmente. Ele não tem prazer em nosso sofrimento. Ele não é sádico. O propósito do Senhor é mostrar-nos o seu poder e acalmar o nosso coração, evidenciando-nos que ele está no controle da nossa vida.

José foi um jovem marcado pela injustiça. So­freu o desprezo e o ódio dos seus irmãos, que o jogaram vivo em uma cova e o mataram no cora­ção. Venderam-no como mercadoria barata para li­vrarem-se dele. Sustentaram durante vinte anos uma mentira para Jacó, dizendo que seu filho José havia sido devorado por uma fera do campo, a fim de que o pai desistisse de procurar o filho amado. No Egito, José sofreu outro golpe. Foi injustiçado pela sua patroa, que queria deitar-se com ele, mas José não cedeu aos seus apelos nem à sua pressão. En­tão, sentindo-se rejeitada, ela transferiu para José a culpa que era dela, jogando-o injustamente na pri­são. Na cadeia ainda foi vítima de outra injustiça, a ingratidão do copeiro-mor de Faraó, que se esque­ceu dele, não atendendo o seu apelo de rogar em seu favor junto ao supremo mandatário daquele po­deroso império. Por esta causa, José ficou mais dois anos mofando na prisão.

Mas por que Deus deixaria uma pessoa ino­cente mofar na cadeia? Por que Deus não ouviu o clamor de José quando ele queria sair da prisão? Sabe por que Deus não realizou o sonho de José no tempo que ele queria? Se José tivesse saído da prisão naquela época, o máximo que ele teria con­seguido na vida seria trabalhar como lavador de copos no palácio de Faraó. Mas Deus o deixou mais dois anos na prisão para tirá-lo de lá e torná-lo governador do Egito. Quando parecia que Deus não estava fazendo nada para livrar José da prisão, ele, na verdade, estava construindo a rampa para José subir ao palácio de Faraó, para ser governa­dor daquele vasto império. Deus não realizou os sonhos de José, porque os sonhos dele eram mui­to pequenos. Os sonhos de Deus são sempre me­lhores e maiores do que os nossos. Importa que os sonhos de Deus, e não os nossos, sejam realiza­dos. Os sonhos de Deus são perfeitos. Jamais se perdem nas curvas do caminho. Jamais se trans­formam em pesadelos.

 

5. Para que entendamos que Deus faz todas as coisas no seu tempo e conforme o conselho da sua vontade

Deus é soberano. Ele está assentado na sala de comando do universo. Ele está com as rédeas da história em suas mãos. Ele dirige as nações. Ele domina sobre a natureza. Não permite que nem uma folha caia de uma árvore sem a sua permissão. Sua vida não é dirigida por um destino cego. Você está nas mãos do Deus vivo.

No auge de sua crise, Ana teve uma profunda experiência com Deus. Depois de vislumbrar a ma­jestade de Deus e receber dele um grande milagre, prorrompeu num cântico de exaltação ao Senhor e fez uma afirmação extraordinária: Deus é quem dá a vida e quem a tira. E quem exalta e também faz descer. E ele quem levanta o pobre desde o pó ao monturo, para fazê-lo assentar-se entre príncipes (I Sm 2.6-8).

Deus age no seu tempo. Ele não se deixa pres­sionar. Ele é livre e soberano. Muitas pessoas que­rem determinar o que Deus deve fazer, como deve fazer e até mesmo quando deve fazer. A resposta de Deus não vem segundo o nosso tempo, pela pres­são da nossa agenda. Deus tem o seu tempo certo de agir. Ele, muitas vezes, protela os nossos sonhos para realizar coisas maiores em nosso favor. No ca­lendário de Marta, Jesus havia chegado atrasado à aldeia de Betânia, quando Lázaro morreu. Mas Je­sus não chegou atrasado, ele chegou no tempo cer­to. A ressurreição de um morto é um milagre maior do que a cura de um enfermo. Deus não chegou atrasado no mar da Galiléia na quarta vigília da noite. Em virtude daquela tempestade, os discípu­los tiveram uma experiência mais profunda com Jesus e o adoraram (Mt 22.33). Deus não chegou atrasado à prisão de José. Ele estava edificando a rampa para José subir ao palácio de Faraó como governador. Deus não chegou atrasado na vida de Ana. Ele a deixou estéril para que ela o conhecesse e assim pudesse se preparar para ser a mãe do ho­mem mais importante daquela época.[7]

Ana tem uma compreensão da majestade de Deus em seu cântico. Ela passa a perceber que Deus não apenas faz as coisas no seu tempo, mas também, conforme o conselho da sua vontade. Ele é Deus exal­tado quando dá a vida e quando tira, quando cura a doença e quando deixa de curar, quando exalta e tam­bém quando rebaixa, quando responde a oração e quando adia os nossos sonhos.

É muito comum vermos as pessoas glorificando a Deus quando um doente é curado de câncer, mas ficam murchas e cheias de inquietações quan­do oram por um enfermo e Deus o leva. Ana com­preendeu que a glória de Deus deve ser proclamada não só quando ele dá a vida e exalta, mas também quando ele tira a vida e rebaixa.

A majestade de Deus também reside no fato de que, quando Deus age, ninguém pode impedir a sua mão. Talvez os médicos de Rama já tivessem dado o último diagnóstico para Ana, tirando-lhe todas as esperanças de ser mãe. Sua doença era incurável. To­dos diziam que ela precisava conformar-se com a sua situação irreversível. Mas Ana continuou crendo no Deus dos impossíveis. Ela não desistiu dos seus so­nhos, mesmo em face das impossibilidades huma­nas. Ela creu e Deus fez o milagre!

Deus não deixou de agir milagrosamente em nossos dias. O tempo dos milagres não cessou. Deus não encolheu a sua mão. Ele não abdicou do seu poder. Ele pode tudo quanto ele quer. E, quando ele age, ninguém pode detê-lo. Os médicos podem lhe dar um diagnóstico final: "Não há cura!" Mas, se Deus quiser, existe cura.

 

O mundo inteiro pode trombetear aos seus ouvidos: "A sua causa está per­dida". Mas, se Deus quiser, você triunfará. Os ini­migos de Daniel pensaram que, quando o rei Dario acabasse de assinar o edito, Daniel estaria com a sua morte lavrada, mas não contaram com a inter­venção sobrenatural de Deus para fechar a boca dos leões. Deus opera maravilhas. Ele continua curan­do enfermos, libertando cativos, dando vista aos ce­gos e transformando pesadelos em sonhos realiza­dos. Tenho visto pessoas condenadas à morte pela medicina sendo curadas por Deus. Tenho visto gente cativa sendo arrancada da garganta do inferno.

O Rev. Ronaldo de Almeida Lidório, ministro presbiteriano, com doutorado na Inglaterra, é um missionário transcultural poderosamente usado nas mãos de Deus. Ele e sua esposa Rossana foram para Ghana, na África, em 1993, para plantar uma igre­ja entre a tribo dos Konkombas, um povo nunca dantes tocado pelo evangelho.9 Enfrentando todos os desafios, esse casal deixou o conforto das gran­des cidades, o calor da família, o abrigo hospitalei­ro da pátria, e rumou para o interior da África para evangelizar um povo animista e feiticeiro, que vivia nas trevas espessas do ocultismo, sacrificando seus próprios filhos aos demônios.

 

 

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9 LIDÓRIO, Ronaldo. Konkombas, o nascer da igreja em uma tribo no oeste africano p. 18 — Junta de Missões Estrangeiras IPB-São Paulo-1998.

 

Superando todas as barreiras da cultura, da lín­gua e da religião, Rev. Ronaldo e sua esposa, sob a égide da graça de Deus e no poder do Espírito San­to chegaram ao campo missionário. Aquele povo não tinha uma língua estruturada. Eles estavam imersos num caudal de trevas e cegueira. Estavam presos por um cativeiro opressor. Então, os missio­nários se puseram a orar e pedir a Deus uma estra­tégia. O grande milagre começou a acontecer quan­do os Konkombas não conseguiram pronunciar os nomes Ronaldo e Rossana. Deram-lhes nomes afri­canos. Ao Rev. Ronaldo chamaram Uwumbor-bi-, que significa "o homem que diz que existe um Deus".10 Sempre que ele chegava a uma aldeia e alguém lhe perguntava pelo seu nome, ele respon­dia: "Eu sou o homem que diz que existe um Deus." Essa resposta provocava uma outra pergunta: "Qual é o seu Deus?". Ele prontamente respondia: "Con­voquem o povo da aldeia, porque hoje à noite eu vou lhes dizer quem é o meu Deus."

Deus mesmo abriu o caminho para a prega­ção. Não tardou para que uma mulher de outra aldeia, da tribo dos Fulanis-Krês, soubesse que havia na tribo de Koni um homem que falava de um Deus vivo. Ela fez uma longa jornada de três dias com uma filha de sete meses envolta num lençol, à beira da morte, rumo a Koni. A criança estava com o corpo coberto de feridas, a pele estava apodrecendo sobre o corpo caquético. A criança agonizava no portal da morte. Ela chegou a Koni e perguntou ao Rev. Ronaldo: "O senhor é o homem que diz que existe um Deus?". "Sim, sou eu."

 

 

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10 LIDÓRIO, Ronaldo, konkombas p.16-18,22-23 -Junta de Missões Estrangeiras IPB - São Paulo - 1998.

 

"Será que o seu Deus pode me ajudar? Já pro­curei todos os deuses que conheço e eles nada pu­deram fazer por mim. Minha filha está morrendo. Se o seu Deus pode alguma coisa, peça para ele cu­rar a minha filha".

Naquele momento, Rev. Ronaldo tomou a cri­ança em seus braços, desenrolou-a dos lençóis e viu o corpinho frágil coberto de chagas mortíferas. A pele estava necrosada. A criança agonizava. Então, o reverendo fez uma oração a Deus: "Senhor, este povo não sabe que tu és o único Deus vivo e verda­deiro. Este povo não sabe que Jesus, o teu Filho, venceu a morte e tem todo poder e autoridade no céu e na terra. Ó Deus, cura esta criança para teste­munho do teu poder e para a manifestação da tua própria glória."

Acabada a oração, Rev. Ronaldo envolveu novamente a criança nos lençóis e colocou-a no colo da mãe, que tomou o caminho de volta para a sua aldeia. Quando a mulher chegou em casa, ao de­senrolar a filha dos panos, verificou com imensa alegria que a sua filha estava totalmente curada. Não havia mais nenhum sinal da doença. A pele estava totalmente nova. Não havia nem sequer marca das feridas.[8]

Aquela mulher, diante do milagre operado na vida de sua filha, saiu clamando a plenos pulmões pelas cabanas de sua aldeia que havia encontrado o Deus verdadeiro. A partir daí, muitos feiticeiros co­meçaram a se converter. As dezenas, os pecadores mais endurecidos foram quebrantados pela mani­festação soberana do poder de Deus. Em menos de cinco anos de trabalho, o Rev. Ronaldo plantou onze igrejas entre os Konkombas, com mais de três mil membros, criou uma escola de alfabetizaçao e uma clínica, traduzindo ainda vários livros do Novo Tes­tamento para a língua Konkomba.

Depois de sofrer vinte e quatro malárias, uma malária cerebral e um envenenamento, as igrejas mantenedoras escreveram para Rev. Ronaldo pedin­do encarecidamente que ele voltasse ao Brasil. Ele respondeu: "Não posso ir agora. Deus abriu uma nova porta para pregar, visitarei uma nova aldeia."

Para lá ele foi com um presbítero Konkomba. Ao final de alguns dias de pregação, apenas uma viúva idosa e algumas crianças se entregaram a Cristo. Pelo fato de as viúvas serem alvos de grande ostracismo e desprezo na cultura Konkomba, Rev. Ronaldo vol­tou para Koni abatido e triste. Foi quando o presbítero lhe disse: "O senhor nos ensinou a con­fiar na soberania de Deus, por que então agora está abatido?" Três dias depois que haviam voltado a Koni, um mensageiro apareceu pedindo ao Rev. Ronaldo para voltar àquela tribo. Pensando tratar-se de uma perseguição aos novos convertidos por parte dos feiticeiros, o mensageiro logo lhe disse: "A questão é que aquela viúva convertida não co­meu e nem dormiu durante três dias e três noites, mas, de palhoça em palhoça, saiu pregando com grande poder e agora temos lá setenta e seis pessoas que se entregaram a Cristo. Precisamos que o se­nhor volte lá para começar a igreja." Aquela foi a décima primeira igreja plantada entre os Konkombas.

Quando Deus age, ninguém pode deter o seu braço. O nosso coração deve descansar nessa verdade bendita. Como Ana, devemos exaltar o Senhor e, prostrados, devemos adorá-lo por seus grandes feitos (I Sm 1.28)!

 

 

Capítulo 2

 

Os Destruidores de Sonhos

 

Sonhar é viver. Quem não sonha já desistiu da vida. Quem não alimenta sonhos no coração está sem rumo na história, como um barco à deri­va. Você precisa ter um alvo para seguir, uma causa pela qual está disposto a viver e morrer. Não pode­mos desistir dos nossos sonhos pelo fato de existir conspiração contra eles. José do Egito sonhou e por isso foi odiado e perseguido, mas nos vales escuros da vida foram os seus sonhos que nutriram a sua alma de esperança. Ana também encontrou resis­tência ao seu sonho. Você também tem sonhos que acalentava e o caminho para realizá-los está juncado de espinhos. Há muitos destruidores de sonhos ao longo da nossa jornada. Como O Peregrino de John Bunyan, o caminho para o céu está cercado de muitos perigos.

I Samuel capítulo 1 fala-nos sobre alguns des­ses destruidores de sonhos:

 

1.   A provocação

Penina era rival de Ana. Penina tinha filhos e filhas, ao contrário de Ana, que não tinha nenhum descendente (I Sm 1.2). Ana era doente. Ela era estéril (I Sm 1.5,6). Elcana tentava compensar o sofrimento de Ana, dedicando-lhe acendrado amor (I Sm 1.5). Esse fato, contudo, aumentava a rivali­dade e a hostilidade de Penina por Ana. Além do drama da sua dor, de ver os seus sonhos sendo adi­ados, de carregar a vergonha e o opróbrio da esteri­lidade, Ana ainda enfrentava a desconfortável situ­ação de ser fustigada, provocada e molestada cons­tantemente por Penina. Penina a irritava exces­sivamente (I Sm 1.6,7). Não perdia uma oportu­nidade de humilhá-la. Rancorosa, vingativa e ciu­menta, Penina não respeitava o sofrimento de Ana. Ela tinha um mórbido prazer em ver Ana sofrendo. Ela era uma assassina de sonhos.

As provocações de Penina atingiram Ana com tal profundidade que ela ficou deprimida. Não con­seguia mais comer. Seu semblante descaiu e ficou carregado de tristeza. Ana tornou-se uma mulher amargurada de espírito. Ela não conseguia parar de chorar e mergulhou a sua alma nas águas turvas da depressão.

Qual foi o combustível que Penina usou para incendiar o coração de Ana? Que armas ela usou para provocá-la? Possivelmente, dizia à rival: "Veja Ana, você é uma mulher tão piedosa, você ora tanto, vai tanto à Casa de Deus, mas você está doente, é estéril, não pode ter filhos. Eu não faço nada disso e estou com a minha aljava cheia de filhos."

A provocação de Penina visava desestabílizar Ana emocionalmente e abalar a sua fé em Deus. Suas setas venenosas tinham por objetivo matar os sonhos de Ana.

A mesma situação foi vivida pelos filhos de Coré (Sl 42), quando estavam entrincheirados por problemas difíceis. Seus inimigos os colocaram con­tra a parede e perguntaram: "O teu Deus, onde está?" (Sl 42.3). Hoje você também é confrontado com perguntas perturbadoras: você não é crente fiel, você não vai à Casa de Deus? Você não confia que Deus é amor e onipotente, então por que ele não lhe socorre? Você não entrega o seu dízimo, não serve a Deus com integridade? Por que, então, está passando por dificuldades financeiras? Por que está desempregado? Por que seu casamento está acabando? Por que os seus filhos estão dispersos? Onde está o seu Deus? Se ele ama você, por que ele não intervém em sua vida?

Os filhos de Coré viram essas provocações como uma doença que lhes esmigalhavam os ossos (Sl 42.10). Eles se renderam ao choro (Sl 42.3). Talvez essa seja a sua situação. Além de estar enfrentando uma dificuldade terrível que conspira contra a sua vida, ainda encontra no caminho assassinos de so­nhos. As vezes, aqueles que deveriam ser seus aliados e consoladores transformam-se em algozes, como os amigos de Jó.[9] As vezes, aqueles que deveriam lhe oferecer um ombro hospitaleiro e um peito amigo, para se agasalhar, transformam-se em ameaça para a realização de seus sonhos.

A provocação de Penina tinha dois objetivos: achatar a auto-estima de Ana e desestabilizá-la emo­cional e espiritualmente. A provocação é a arma dos fracos. É o expediente daqueles que se sentem infe­riores, mas não querem admiti-lo. A provocação é a tentativa de diminuir o outro para tentar melhorar a sua própria imagem. É o sentimento que invade a alma daqueles que se alegram com sofrimento alheio e sentem uma mórbida compensação com o fracasso dos outros. Penina era uma mulher infeliz e insegura que tentava destruir as pessoas que cru­zavam o seu caminho. A provocação é fruto da in­veja e sempre deságua no oceano da amargura. Ela cresce no solo fertilizado pelo ódio e busca sempre a vingança.

A vida piedosa de Ana ressaltava a mediocri­dade de Penina. As virtudes de Ana faziam sobres­sair a futilidade de Penina. Em vez de Penina imitar as virtudes de Ana, resolveu atacá-la. Em vez de condoer-se com o seu problema, passou a aguçar ainda mais a sua dor.

 

Existem muitas pessoas hoje que são um retra­to existencial de Penina. Gente que não chora com os que choram. Gente carregada de inveja e ciú­mes. Gente que tripudia e massacra aqueles que vi­vem na retidão, buscando com isso uma falsa com­pensação para suas doentias frustrações. Gente que não suporta ver o sucesso dos outros. Talvez você cruze com gente assim pelos caminhos da vida. Não deixe que esses inimigos roubem os sonhos do seu coração.

 

2.   A incompreensão

Ana foi mal interpretada pelo sacerdote Eli, e isso dentro da própria Casa de Deus. Ana estava orando, chorando diante de Deus, derramando a sua alma diante do Senhor, mas não foi compreendida por aquele que deveria estar chorando com ela (I Sm 1.12-14) .

A religião de Israel estava em crise naquele tem­po. Depois de quarenta anos de ministério, o sacer­dote Eli já estava velho demais para acompanhar de perto o seu rebanho. Seus filhos, Hofni e Fineias, sacerdotes, eram homens impuros, adúlteros, de­vassos, filhos de Belial.[10] Todos os anos Ana subia à Casa do Senhor, em Silo, e nunca Eli ou seus fi­lhos perceberam o drama dessa mulher. Ana estava sem assistência pastoral. Ela não tinha um pastor que se interessasse pelo seu problema, com quem ela pudesse compartilhar as suas necessidades. Sua dor era só sua. Ela não tinha um ombro hospitalei­ro na sua comunidade que lhe pudesse servir de suporte. Ana estava não apenas só, mas ainda foi mal interpretada pelo sacerdote Eli. Quando Eli a viu orando com amargura de alma, derramando o seu coração diante do Senhor, ele a tratou como se ela estivesse bêbada e embriagada (I Sm 1.12-14).

Eli cometeu dois erros graves com Ana: pri­meiro a julgou mal, depois a acusou sem ouvi-la. Ana foi vítima de uma hermenêutica precipitada e sem lucidez de um sacerdote senil. Responder an­tes de ouvir é estultícia e vergonha. Ana foi acusada de um pecado que não cometeu, pela pessoa que deveria estar sofrendo com ela, chorando diante de Deus por ela. Ela foi repreendida com aspereza, quando deveria ser alvo de consolação. Ela foi ata­cada quando deveria estar sendo acolhida. Foi julgada com rigor quando deveria estar sendo pastoreada com amor.

Há muitas pessoas feridas porque não en­contraram na igreja uma comunidade terapêuti­ca, mas um lugar de censura, acusações e incompreensão. A igreja, em vez de ser um lugar de cura, tem se transformado para muitos num cenário de doença e culpa. Há líderes religiosos que não apascentam as ovelhas de Deus, mas as tratam com rigor e dureza. Não são terapeutas da alma, mas assassinos de sonhos, que atam fardos pesados nos ombros de pessoas já feridas pela vida.

Muitas pessoas também sobem à Casa de Deus só para chorar, mas voltam vazias de consolação, secas de esperança, com a alma mais ferida, porque não encontraram lá Palavra de Deus, remédio para o coração, mas apenas tradições humanas, censuras e acusações, fruto da indiferença, do egoísmo, do desamor, do preconceito e do engano.

Há muitos líderes religiosos que são destrui­dores de sonhos. Eles abortam no nascedouro pro­jetos que poderiam revolucionar o mundo. Há muitos líderes que sufocam qualquer nova lideran­ça emergente. Há pastores que são a rolha do reba­nho:14 estão sempre impedindo que o povo respire espiritualmente; estão sempre matando os sonhos no coração das pessoas. Eles se sentem os donos da verdade e desandam a boca para atacar e ferir todos aqueles que não se alinham com a sua visão.

Não deixe o seu sonho morrer. Não permita que os destruidores de sonhos introjetem no seu coração o vírus maldito do desânimo. Não deixe que também a amargura tome conta da sua alma, pelo fato de não receber apoio daqueles que deveri­am estar ao seu lado. Levante a cabeça. Não perca de vista o alvo. Não abra mão dos seus sonhos.

João Soares da Fonseca narra uma história in­teressante no seu livro Conta outra: "Um garoto padecia de uma terrível surdez parcial. Certo dia, ao voltar da escola, trouxe consigo um recado para seus pais. Em secas linhas, a professora sugeria que o melhor que fariam seria tirar o menino da escola. E explicava porque: ele não tem inteligência para aprender nada. Em vez de deprimir-se com o pessi­mismo do recado, a mãe do garoto simplesmente afirmou: 'E claro que o meu filho Tom tem inteli­gência para aprender. Eu mesma serei a professora dele'. A partir daí, além da tarefa da criação, to­mou sobre os ombros também a instrução escolar do seu filho. Tom aprendeu, cresceu, tornou-se um bom profissional. E, quando morreu, anos mais tarde, o país inteiro o homenageou, apagando as lâmpadas por um minuto, lâmpadas que ele pró­prio havia inventado. Tom — era assim que a famí­lia de Thomas Edison o chamava - inventou não somente a lâmpada, mas também a câmara foto­gráfica, o mimeógrafo, o fonógrafo, o transmissor a carvão, o filme movimentado, o gravador, o mi­crofone e mais de mil outras coisas ."[11]

 

 

 

3.   A conformação

Elcana tentou consolar Ana, mas ao mesmo tempo conspirou contra o seu sonho. Disse para ela parar de chorar e desistir do sonho de ser mãe, visto que ele próprio era melhor para ela do que dez filhos (I Sm 1.8). Elcana representa aqueles que tentam agir pela lógica, mas não exercitam fé. É o protótipo daqueles que agem com boas intenções, mas não esperam nenhuma intervenção sobrenatu­ral de Deus. Ele queria que Ana desistisse do seu sonho e se conformasse passivamente com a sua es­terilidade, mudando o foco de sua atenção para o marido. Elcana agiu com egoísmo ao mesmo tempo que buscou consolar a sua mulher.

Elcana tentou esvaziar o coração de Ana de toda esperança. Ele estava dizendo a ela que, de fato, o seu problema era insolúvel, que não havia nada a ser feito. Portanto, ela não deveria mais chorar pelo seu problema, mas, sim, desistir do seu sonho de ser mãe e pensar mais no marido. Desta forma, Elcana em vez de unir-se à sua mulher para clamar a Deus por um milagre, tentou matar os sonhos do coração dela.

Elcana agiu como um homem religioso, mas sem fé. Para ele os fatos não podiam ser muda­dos. Ele agiu com sensibilidade, mas sem discernimento. Há muitos conselheiros que são verdadeiros assassinos de sonhos. São lógicos, racionais, mas lhes falta ousadia para crer no Deus que age milagrosamente. Eles são guiados pela razão e não pela fé. Crêem nos fatos visíveis, mas não esperam os milagres de Deus. Conformam-se com a situação. Entregam os pontos. Desis­tem dos seus sonhos e ainda procuram matar o sonho dos outros.

A fé não olha para as circunstâncias. Fé é crer no impossível, ver o invisível e tocar no intangível. Fé é crer que Deus pode mudar o cenário de um ventre estéril, transformando-o em um jardim regado de vida. Fé é não desistir de esperar em Deus mesmo quando todas as circunstâncias parecem conspirar contra a esperança. Fé é saber que, se Deus quiser, ele pode mudar a nossa sorte, enxugar as nossas lágrimas, curar a nossa enfermidade, restau­rar a nossa família e realizar os nossos sonhos. Ana não desistiu de sonhar. Ela não acatou o confor­mismo incrédulo e passivo do seu marido. Não jo­gou a toalha, não se deu por vencida, não se con­formou com a derrota. Ana nos encoraja a lutar pelos nossos sonhos, ainda que aqueles que estão mais perto de nós e deveriam ser nossos cooperadores, se coloquem na contramão dos anelos da nossa vida. Os grandes destruidores de so­nhos estão muitas vezes dentro da nossa casa e até mesmo dentro da igreja, como no caso de Ana. Aqueles que nos são mais íntimos são os primeiros a armarem emboscada contra os nossos sonhos. Devemos estar alerta!

 

4.    O desânimo

O último destruidor dos nossos sonhos pode estar dentro de nós mesmos. Muitas vezes cansa­mos de esperar e desistimos muito cedo ou até mes­mo no limiar da bênção. Saul cansou de esperar Samuel para fazer o sacrifício pelo povo e assumiu o papel de sacerdote, arruinando sua vida e o seu reinado (I Sm 13.8-14). Pedro desistiu de esperar Jesus na Galiléia e resolveu voltar à pesca (Jo 21.3). Ana,' porém, não desistiu. Ela não se acomodou. Ela não ensarilhou as armas. Ela não se rendeu ao desânimo.

A impaciência pode destruir-nos. Sansão mor­reu porque a impaciência o tornou vulnerável (Jz 16.16-31). Sara, por impaciência, empurrou Abraão para os braços de Hagar (Gn 16.1-4). Depois de quatro mil anos, a história ainda testemunha os efei­tos devastadores da decisão precipitada de Sara. Os judeus e os árabes até hoje se rivalizam. Talvez você esteja cansado de esperar um casamento, cansado de esperar uma mudança na sua vida conjugai, can­sado de esperar um tempo de bonança na área fi­nanceira. Cuidado para que a impaciência e o desâ­nimo não roubem os seus sonhos. Vigie o seu pró­prio coração. O seu maior inimigo muitas vezes é você mesmo. Se você desistir de lutar, desistir dos seus sonhos, só olhar para as dificuldades e não crer que Deus pode intervir, você se tornará um fracas­so, como aqueles dez espias de Israel que se consi­deraram gafanhotos diante dos gigantes de Canaã (Nm 13.31-33).

O tempo pode ser uma ameaça para os nossos sonhos. "William Carey trabalhou na índia e teve que esperar sete longos anos até batizar o primeiro hindu. Adoniram Judson, na Birmânia, também só viu o primeiro convertido depois de sete anos de trabalho. O templo do rei Salomão demorou sete anos e meio para ficar pronto. Nele trabalharam 183.600 homens. A grande pirâmide do Egito foi construída durante setenta e cinco anos. A cons­trução da estátua da liberdade, no porto de New York, vinte anos."16 Cuidado para que a passagem do tempo não enfraqueça os seus sonhos.

Ana tinha tudo para ficar desanimada: era es­téril, sua rival a provocava excessivamente, seu ma­rido não acreditava que Deus pudesse realizar um milagre, o sacerdote a acusou de estar embriagada. Mas, Ana superou todas as dificuldades e venceu, porque não desistiu do seu sonho!

 

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FONSECA, João Soares da, Conta Outra p. 177,178

 

Capítulo 3

 

O que Fazer para Alimentar os Sonhos

 

Nossos sonhos precisam ser regados pela chuva da esperança e aspergidos pelo orvalho da fé. podemos ligar nossa vida no piloto auto­mático. Precisamos romper em fé, saltar mura­lhas, vencer gigantes, triunfar sobre os destruidores de sonhos e não desistir jamais. Não podemos acei­tar passivamente a decretação da derrota na nossa vida. Não podemos nos conformar com o caos. O nosso Deus não é colecionador de derrotas, é cam­peão invicto em todas as batalhas. Ele trabalha por nós. Ele está com o leme da nossa vida em suas mãos. Ele pode todas as coisas. Se Deus é o nosso parceiro, devemos ter grandes sonhos. Se Deus está conosco, então somos maioria absoluta. Se ele ca­minha conosco, nossa jornada será vitoriosa.

Ana nos ensina três princípios para alimentar os nossos sonhos enquanto estamos na sala de es­pera.

 

1.   Devemos continuar crendo na intervenção soberana e sobrenatural de Deus

Ana orou vários anos pela sua enfermidade, sem ver nenhuma evidência da sua cura. Ela sofreu todo tipo de pressão para desistir de esperar de Deus um milagre. Contudo, nem os destruidores de sonhos, nem a demora de Deus esvaziaram o seu coração de esperança. Ela continuou orando (I Sm 1.10,12,15) e crendo que Deus poderia realizar algo extraordi­nário.

Não deixe a chama da esperança apagar-se no seu coração. O impossível dos homens é possível para Deus. O Senhor é maior do que os nossos pro­blemas. Para ele não há coisa demasiadamente difí­cil. Volte a crer na intervenção de Deus. Volte a orar com fervor. Claude Pepper, congressista ame­ricano, disse certa vez: "Viver é como andar de bi­cicleta, só cai quem pára de pedalar."[12] Não desis­ta, volte às trincheiras da luta, volte a buscar a Deus, volte a jejuar, volte a derramar a sua alma diante do Senhor. Volte a crer que ele pode intervir milagro­samente em sua vida. Lute pelos seus sonhos. Não abra mão deles.

A viúva de Sarepta estava vivendo a crise da fome. Na sua casa só havia um bocado de azeite e uma porção de farinha, para fazer a última refeição e aguardar a morte inevitável. Mas ela não se sen­tou num canto da casa desanimada, aceitando a decretação do fracasso na vida. Ela saiu para apa­nhar lenha, para fazer o último bolo. Ela ainda acre­ditava que Deus poderia realizar um milagre. Ela não parou de pedalar e o prodígio aconteceu. Deus multiplicou a farinha na sua panela e o azeite na sua botija, antes de derramar chuva sobre a terra (I Rs 17.8-16).

Norman Vincent Peale, escreveu o seu pri­meiro livro "O poder do pensamento positivo" e procurou uma editora para publicá-lo. Ninguém se interessou pelo livro. Ele, desanimado, voltou para casa e jogou os originais no lixo, dizendo: "Aí devem ficar os meus sonhos". Sua esposa, Rute, bem mais otimista, tomou os rascunhos do lixo e disse-lhe: "Eu creio nos seus sonhos." Ela bateu de porta em porta, até que encontrou uma editora que se interessou pelo livro. Resultado: quarenta milhões de exemplares foram vendidos só na primeira edição.18 Não desista de seus sonhos.

Na saga da política americana, um homem se destaca, — Franklin Delano Roosevelt. Ele tinha o sonho de ser presidente dos Estados Unidos. Con­tudo, uma doença o colocou na cadeira de rodas, mas não foi capaz de roubar o seu sonho. Muitos lhe diziam que ele jamais poderia alcançar o seu objetivo, mas ele não desistiu. Resultado: até hoje ele foi o único homem que conseguiu ser eleito e reeleito quatro vezes consecutivas como presidente dos Estados Unidos.19 Não desista dos seus sonhos. O fracasso só é fracasso quando você não aprende com ele. Os problemas só o derrotam se você desis­tir da luta.

Abraão Lincoln sofreu muitas derrotas até ser eleito presidente dos Estados Unidos. Ele não de­sistiu do seu sonho e tornou-se o maior estadista daquela nação. Vejamos a sua trajetória até a Casa Branca. Em 1818, sua mãe morreu. Em 1831, ele fracassou nos negócios. Em 1832, concorreu a de­putado estadual - e perdeu. Em 1832, perdeu tam­bém o emprego. Em 1833, tomou dinheiro em prestado para começar um negócio e, por volta do final do ano, estava falido.

 

 

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18 SILVA, Nélio da. Transformando fracassos em vitórias, p. 19,20

- Mapel - Rio de Janeiro, 1996

19 CANFIELD,Jack&HANSEN,MarkVictor. Histórias para

abrir o coração p. 259 — Ediouro — Rio de Janeiro, 1997

 

Passou os dezessete anos seguintes pagando dívidas. Em 1834, candidatou-se novamente a deputado estadual — e desta vez foi vitorioso. Em 1835, sua noiva morreu e ele ficou desolado. Em 1836, ele teve um colapso nervoso e ficou acamado durante seis meses. Em 1838, foi indicado para porta-voz da Câmara Estadual, foi derrotado. Em 1840, indicado para o Colégio Elei­toral - foi igualmente derrotado. Em 1843, candi­dato ao congresso, perdeu. Em 1846, candidato ao congresso novamente — desta vez ganhou — foi a Washington e fez um bom trabalho. Em 1848, can­didato à reeleição para o congresso enfrentou nova derrota. Em 1854, candidato ao Senado dos Esta­dos Unidos perdeu a eleição. Em 1856, tendo soli­citado a indicação para vice-presidente na conven­ção nacional do seu partido, obteve menos de cem votos. Em 1858, candidatou-se ao Senado dos Esta­dos Unidos e perdeu novamente. Em 1860, eleito presidente dos Estados Unidos.20

O que você tem feito com os seus sonhos? Faça como Ana: suba à Casa de Deus e ore, e cho­re, e derrame a sua alma diante do Senhor, até que os céus lhe sejam obsequiosos!

2.   Devemos abrir o coração para crer na promes­sa infalível da Palavra de Deus

Ana revelou uma grande maturidade em relação ao sacerdote Eli. Ele a tratou como se ela estivesse embriagada. Ela, porém, não saiu da Casa de Deus magoada, falando mal do sacerdo­te.

 

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20 CANFIELD, Jack & HANSEN, Mark Victor. Canja de Ga­linha para a alma, p. 227,228 — Ediouro S.A. Rio de Janeiro, 1995.

 

Não abrigou no coração as palavras insensa­tas de Eli. Não saiu do templo dizendo: "Nunca mais eu volto a este lugar". Ela não deixou o seu coração azedar, mas respondeu para Eli: "Eu não estou bêbeda, não estou embriagada. Não me trates como uma filha de Belial. Eu sou uma mulher amargurada de espírito e venho derramando a minha alma diante do Senhor" (I Sm 1.15,16)

O mesmo sacerdote que acabara de falar uma bobagem agora se transforma em profeta de Deus e traz uma mensagem do céu para Ana: "Vai em paz para a tua casa e o Deus de Israel lhe conceda a petição que lhe fizeste" (I Sm 1.17) Ana acolheu aquela palavra como Palavra de Deus e como res­posta às suas orações, e sua vida foi transformada. A Palavra profética foi um remédio para a sua alma. Aconteceram com Ana três fatos, que revelam o milagre em sua vida. Primeiro, ela voltou a co­mer; ela se preocupou com o seu corpo. Segundo, ela mudou o seu semblante, suas emoções foram curadas. Terceiro, ela se deitou com o seu marido, e Deus se lembrou dela.

E digno de nota que a cura de Ana não se deu na hora que Eli lhe falou. Ali ela creu e tomou pos­se da bênção. Deus curou primeiro o coração de Ana, antes de curar-lhe o corpo. Deus curou pri­meiro as emoções de Ana, antes de curar-lhe o ven­tre. Só mais tarde, quando Ana coabitou com o ma­rido, é que Deus se lembrou dela e, então ela con­cebeu e deu à luz a um filho, a quem deu o nome de Samuel (I Sm 1.19,20).

Se você deseja ver os seus sonhos realizados, creia nas promessas da Palavra de Deus. Ela é que gera fé no seu coração. A Palavra de Deus é terapia para a sua alma. E remédio para o seu coração, com­bustível para alimentar os seus sonhos.

Quando Jesus foi ao encontro dos discípulos no mar da Galiléia, na quarta vigília da noite, antes de acalmar o mar, o Mestre acalmou o coração dos discípulos. As vezes, a tempestade que está dentro de nós é mais intensa do que a tempestade que está lá fora. Antes de Jesus mudar a situação, ele muda o nosso coração. Antes de fazer sossegar o mar, ele aquieta a nossa alma. A consciência da presença de Jesus acalma o nosso coração, ainda que o mar con­tinue agitado. Ana tomou posse da promessa de Deus e voltou para casa curada da sua depressão, na confiança de que Deus já realizara o milagre em sua vida. A fé é a certeza de coisas e a convicção de fatos. A fé não é auto-sugestionamento, não é pensamento positivo, não é meditação trans­cendental. A fé tem um objeto — Deus; tem um fundamento — a promessa infalível da Palavra que não pode falhar.

 

3-   Devemos voltar as trincheiras da luta

Ana parou de chorar, voltou a sorrir, começou a respirar o oxigênio da vida e caminhou na direção do milagre. Ela voltou para casa, coabitou com o seu marido e Deus abriu o seu ventre para conce­ber. Ana não apenas foi mãe do maior profeta da­quela geração, como também, gerou outros três fi­lhos e duas filhas (I Sm 2.21). A bênção de Deus foi muito além da sua expectativa.

É hora de você sair da caverna da depressão. É hora de sacudir a poeira, parar de chorar e voltar às trincheiras da vida. A vida é maravilhosa, é um pre­sente de Deus, é um milagre diário do céu. Sabo­reie a vida com prazer. Não perca uma gota sequer dessa sublime aventura. Você tem valor. Você foi criado para ser um vencedor. Não desanime, não jogue a toalha, não entregue os pontos, não arreie as armas. O melhor está para acontecer. Com Deus o melhor está sempre por vir. Não caminhamos para o ocaso, mas para um glorioso alvorecer. O choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria vem pela manhã. Não desista dos seus sonhos. A sua crise do hoje pode ser o limiar de um milagre ama­nhã.

Aos trinta e cinco anos de idade, Og Mandino estava financeiramente falido, abandonado pela mulher e pela filha, bêbado, caí­do numa sarjeta, pensando em suicidio.[13] Dez anos depois, estava no topo da fama mundial, escreven­do livros de encorajamento lidos no mundo inteiro, mostrando que não podemos desistir dos nossos sonhos.[14] No seu livro autobiográfico, ele dá um conselho prático para você valorizar a vida e ter otimismo para enfrentar as dificuldades. O conse­lho dele é o seguinte. Logo de manhã, você deve tomar nas mãos o melhor jornal da sua cidade para ler. Mas você não deve começar a leitura pelas notí­cias políticas, porque possivelmente isso o deprimirá ainda mais. Também, você não deve começar a leitura pelas notícias econômicas; talvez essas informações apenas lhe roubem o entusiasmo. Semelhantemente, você não deve começar a leitura pelas páginas policiais, pois talvez fique com medo de sair de casa. Outrossim, não deve iniciar pelas páginas esportivas, pois talvez seu time esteja em baixa e tenha sofrido uma goleada no último jogo. Og Mandino aconselha: você deve começar a leitura pela página do obituário. Sim, da lista das pessoas que morreram. Não salte nem um nome sequer. E quando você chegar ao final da leitura, descobrirá algo extraordinário: o seu nome não está naquela lista. E as pessoas ali arroladas dariam tudo para estar no seu lugar, mas estão mortas. Você está vivo e, se você está vivo, um milagre pode acontecer na sua vida hoje. Se você está vivo, seus sonhos po­dem ser realizados!

 

 

Conclusão

 

Esta palavra de encorajamento que você acaba de ler é um pedaço da minha vida e da minha história. Eu sou fruto de um sonho. Quando nasci, nos idos de 1958, no interior do Estado do Espíri­to Santo, minha família morava num lugar despro­vido de recursos. Naquela época tudo era muito difícil no lugarejo que os meus pais viviam. Quan­do uma pessoa ficava doente, era levada de padiola23 para buscar tratamento há mais de 20 quilômetros de distância. Minha mãe estava grávida do seu últi­mo filho. Em estado adiantado de gravidez, ela fi­cou gravemente enferma. Estava à beira da morte, quando meu pai percebeu que ela não agüentaria uma viagem de padiola. Mandou um mensageiro ir à vila mais próxima buscar o farmacêutico. Ele che­gou, examinou a minha mãe e disse: "Não tem jeito, ela vai morrer. O seu caso é muito grave." Meu pai, aflito, insistiu com ele para tratar de minha mãe. Ele então disse: "A única solução é sacrificar a criança que está no seu ventre. Se não tirar a crian­ça, morre ela e o filho." Meu pai, atordoado pela dolorosa notícia, comunicou à minha mãe a opi­nião do farmacêutico. Ela, com determinação e fé disse: "Eu não abro mão da vida do meu filho. Es­tou pronta a dar a minha vida por ele. Estou pronta a morrer com ele." Naquele momento de dor, mi­nha mãe fez um voto a Deus, dizendo: "Senhor, se tu poupares o meu filho, eu o consagrarei a ti para ser um pastor, um pregador da tua Palavra." Deus ouviu a oração de minha mãe.

 

 

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23 Um lençol amarrado a duas varas; maca.

 

Ela foi curada, e eu nasci com saúde. Fui criado na roça, trabalhando na lavoura. Contudo, desde cedo tive muita vonta­de de estudar. No lugar onde morava, todavia, nin­guém ia além do primário. Minha querida profes­sora, que me alfabetizou, mudou-se para Vitória, a capital do Espírito Santo e convidou-me para mo­rar em sua casa. Com doze anos de idade, sem an­tes nunca ter dormido uma noite fora de casa, subi na carroceria de um caminhão e fui morar numa humilde casa, à beira de um mangue. Passei difi­culdades, mas levei adiante os meus estudos.

Na verdade, eu tinha um sonho. Queria ser advogado e político. Não perdia um comício se­quer. Gostava de ouvir os oradores. Ao completar os meus dezoito anos, tirei o meu título de eleitor e me filiei a um partido político. Todavia, aos dezenove anos, Deus colocou a sua mão sobre mim e chamou-me para o ministério. Deus mudou o curso da minha vida. Compreendi então que é mais importante realizar os sonhos de Deus do que os meus próprios sonhos.

Minha mãe faleceu em 1996, aos setenta e sete anos. Um ano antes de ir para o Senhor, ela me chamou e me contou essa história. Glorifiquei a Deus porque minha mãe não abriu mão do seu so­nho. E por isso que você está lendo este livro. Hoje estou certo de que sou fruto de um sonho e que o mais importante na vida não é realizar os meus pró­prios sonhos, mas os sonhos de Deus, pois os so­nhos de Deus são perfeitos e muito maiores do que os meus.

É tempo de sonhar grandes sonhos para Deus. É tempo de viver os sonhos de Deus. William Carey, o pai das missões modernas, declarou certa ocasião: "O tamanho do seu sonho determina o tamanho do seu Deus."24

 

 

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24 SILVA, Nélio da, Transformando fracasso em vitórias p.66.