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Derramamento do Espírito

Derramamento do Espírito

                          DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO

                                                        Hernandes Dias Lopes

Editora Betânia

Leitura para uma vida bem-sucedida

Caixa Postal 5010 - 31611-970 Venda Nova, MG

 Publicado com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela Editora Betânia S/C Caixa Postal 5010

31611-970 Venda Nova, MG

 

Revisão: Prof. Antônio de Castro Filho

 

Terceira edição, 1996

 

Composto e impresso nas oficinas da

Editora Betânia S/C

Rua Padre Pedro Pinto, 2435

Belo Horizonte (Venda Nova), MG

 

Capa: Jairo Gonçalves Jr.

 

Printed in Brazil

 

 

 Dedico este livro aos Elias de Deus que, ao longo dos séculos, em tempos de sequidão,

humilharam-se, colocaram-se de joelhos e buscaram a face do Senhor com perseverança, até que as torrentes dos céus caíram copiosamente sobre a terra, trazendo restauração e vida.

 

O Autor

 

O Rev. Hernandes Dias Lopes é natural de Nova Venécia, Estado do Espírito Santo. Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano de Campinas, Estado de São Paulo. Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória, Estado do Espírito Santo. Membro da Comissão nacional de Evangelização da

Igreja Presbiteriana do Brasil. Escritor, conferencista em congressos, campanhas e cruzadas por todo o Brasil. Batalhador incansável pelo avivamento da igreja evangélica brasileira.

 

 

 

Batismo com Fogo Avivamento Urgente Quase Salvo, Porém Fatalmente Perdido O Deus Desconhecido

 

 

 

ÍNDICE

 

Prefácio

 

Introdução    

 

1. O derramamento do Espírito é uma promessa de Deus

 

2. O derramamento do Espírito é uma necessidade vital

 

3. O derramamento do Espírito virá sobre os sedentos

 

4. O derramamento do Espírito tem o seu preço

 

5. O derramamento do Espírito produz resultados extraordinários

 

Conclusão

 

 PREFÁCIO

 

O Prof. Charles Erdman, do Seminário de Princeton, Estados Unidos, deixou-nos este teste­munho de profunda inspiração: "Existe tremenda significação em duas passagens paralelas das Escri­turas: Habite, em vós ricamente a palavra de Cristo (Cl 3.16) e enchei-vos do Espírito (Ef 5.18)".

A ampla divulgação das Escrituras Sagradas em nossa terra já é motivo de não pequena exultação. Mas isso é apenas o começo. O maior desafio, a verdadeira batalha, é fazer com que esta Palavra de Cristo seja colocada no coração do povo brasileiro.

Igualmente auspicioso é o fato de que, cada vez mais, maior número de editoras estão publi­cando traduções de alguns poucos e excelentes livros sobre a pessoa e obra do Espírito Santo, para o já enorme e crescente público evangélico brasileiro.

Mas muito mais auspicioso ainda é que já estamos começando a ouvir profetas da terra. Eles estão se levantando com poderosa inspiração, verdadeira unção do alto e já com um bom acervo de conhecimentos bíblicos, teológicos e históricos sobre o grande tema.

Tenho lido os livros do Rev. Hernandes Dias Lopes e, agora, tenho o privilégio de prefaciar Derramamento do Espírito, que será a quarta publi­cação, no curto período de um ano. Já ouvi tam­bém algumas de suas mensagens, com júbilo no coração e gratidão ao Senhor, especialmente em virtude da firmeza, correção e atualidade dos seus ensinos, a julgar pelos melhores padrões de nossa teologia reformada.

Capacitado, com mente privilegiada, com invulgar beleza e fluência de estilo, ele pode dispor de notáveis recursos de comunicação. Sua paixão pela verdade divina e seu apego ao Autor da Verdade fazem dele assíduo freqüentador da "escola superior do Espírito", o único caminho para a vitalidade espiritual.

Ainda no começo de sua jornada profética, o autor já descobriu que nem mesmo as brilhantes composições de palavras humanas são capazes de comunicar, sozinhas, as manifestações de Deus, reveladas no seu mistério, ou de esgotar o sentido das verdades manifestas. "O sagrado não cabe em meras definições". Por isso, "Deus tem falado muitas vezes e de muitas maneiras".

No tratamento da pessoa e da obra do Espírito Santo, Deus tem falado também por meio de símbolos de nossa experiência diária. São sete os principais símbolos usados nas Escrituras: o fogo, as águas vivas, o vento, o óleo, a pomba, o selo e o penhor.

No seu primeiro livro, Batismo com fogo, o autor busca sua inspiração num dos mais es­tupendos fenômenos da natureza: o fogo, a misteriosa ação do Espírito que ilumina, aquece, purifica, se propaga e até mesmo se torna poder consumidor.

Agora, para tratar do "derramamento do Espírito sobre toda a carne" e dos novos derramamentos para renovar a criação e preservar a vida, ele se inspira no símbolo "as águas vivas" e o desenvolve com criatividade e beleza.

Em todos os seus livros, encontramos uma insistente inquietação, impaciência e acabru-nhamento em face do chocante contraste que observa entre o que Deus tem realizado, pelo seu Espírito, em outros cenários das igrejas reformadas, e o pálido desempenho das nossas igrejas, neste país, com quase um século e meio de existência.

Impelido pelo Espírito, o pastor Hernandes não vai parar. Ele não pode parar. Ele tem sido chamado para clamar.

 

 

 

Rev. Oton Guanais Dourado

Professor do Seminário Presbiteriano do Norte

Recife, PE.

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

É com temor e tremor que começo a escrever este livro. Sei que, se Deus não lhe falar, você perderá o seu tempo. Sei que, se não houver unção do Senhor nestas páginas, seu coração se tornará mais endurecido. Sei que só a voz de Deus lhe satisfaz, pois só a voz de Deus é tremenda, é poderosa, é cheia de majestade; só a voz de Deus faz tremer o deserto, despede chamas de fogo, despedaça os cedros do Líbano. Só ela pode atingir seu espírito e trazer-lhe quebrantamento.

Não basta ser um eco; é preciso ser uma voz. Não basta ser uma caixa de ressonância; é preciso ser trombeta de Deus. João Batista pregou no deserto, convocando sua nação ao arrependimento. Ele era voz de Deus. Sua mensagem foi bombástica e poderosa. Seu discurso era como machado colocado à raiz das árvores. Suas palavras eram diretas, penetrantes, ousadas. Pelos vales e colinas as multidões, eletrizadas, ouviam suas palavras soarem fortemente: "...Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas." (Lc 3.4.) Porque João Batista era uma voz e não apenas um eco, as multidões deixaram Jerusalém, com seu templo suntuoso, os sacerdotes, todo o mecanismo e os aparatos religiosos, e rumaram para o deserto. Não importa o lugar onde o homem esteja: se numa grande igreja ou numa pequena paróquia; se numa megalópole ou numa vila; se numa catedral ilustre ou no deserto; se num púlpito erudito ou num barco. O que na verdade importa é ser voz de Deus. Onde a trombeta do Senhor estiver soando, para ali os corações sedentos são atraídos.

Estou certo de que não basta proferir a Palavra; é preciso ser boca de Deus. Jeremias 15.19 diz: "Portanto, assim diz o Senhor: Se tu te arrependeres, eu te farei voltar e estarás diante de mim; se apartares o precioso do vil, serás a minha boca..." A condição para sermos boca de Deus é arre­pendimento, intimidade com ele e vida pura. Se essas qualificações não estiverem presentes em nossa vida, seremos como o sumo sacerdote Josué: estaremos ministrando a Palavra de Deus, mas desqualificados em nossa vida (Zc 3.1-3). Pode­remos até pronunciar a Palavra, mas ela não produzirá impacto.

Fico estarrecido e impressionado com as palavras que a viúva de Sarepta disse a Elias. A nação de Israel estava assolada por uma seca terrível. O juízo de Deus estava desmoronando a credibilidade de Baal, deus da fertilidade. O povo apóstata estava colhendo os amargos frutos do seu desvio espiritual. Havia três anos e meio não chovia em Israel. Tudo estava devastado pela implacável seca. Reinava fome e desespero na terra. Nesse contexto histórico Elias, milagrosamente, está sendo alimentado por corvos junto à torrente de Querite e, quando o ribeiro seca-se Elias, por man­dado de Deus, vai a Sarepta encontrar-se com uma viúva que deveria sustentá-lo e pede-lhe, então, um bocado de pão. Ela usa os últimos ingredientes que tem em casa para preparar uma refeição para o profeta. Deus opera um milagre na casa dessa senhora, multiplicando-lhe a farinha e o azeite. Todavia, mais tarde, o filho dessa mulher adoece e vem a morrer. Ela, angustiada, procura o profeta de Deus e ele, diante de uma situação irreversível, não descrê das possibilidades do Senhor, mesmo em face da morte. Elias ora pelo menino morto e Deus o ressuscita. Entrega-o então vivo à sua mãe, e ela, transbordando de alegria, diz-lhe: "...Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a Palavra do Senhor na tua boca é verdade." (1 Rs 17.24.)

Esse relato me faz tremer. Será que a Palavra de Deus é verdade na minha boca? Quando pronuncio a Palavra, há demonstração de poder? Paulo diz à igreja de Corinto: "A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder" (1 Co 2.4).

A Palavra de Deus é verdade na sua boca? Quando você profere a Palavra, ela produz impacto nos corações? Quando você lê a Palavra, ela arde em seu peito? Quando você prega a Palavra, ela atinge as consciências? Ela penetra como espada? Quebra a dureza dos corações como martelo? Queima os corações como fogo?

O grande drama da igreja hoje é que os pregadores falam com erudição, mas não têm unção. Têm palavras pomposas e eloqüentes nos lábios, mas não têm óleo sobre a cabeça. Discorrem sobre temas profundos, mas não são boca de Deus.

Na verdade, os pregadores estão frios; eles não ardem, não têm o coração aquecido como John Wesley. Parecem mais uma geladeira a conservar seu religiosismo intacto do que uma fogueira acesa a inflamar outros. Precisamos arder primeiro, se quere­mos ver a seara pegando fogo. O pregador precisa ser um graveto seco a pegar fogo. Depois que o fogo pega no graveto seco, até lenha verde começa a arder. Como precisamos hoje de homens batizados com esse fogo do Espírito! Benjamin Franklin gostava de ouvir George Whitefield porque dizia que ele ardia literalmente diante do auditório. Como podemos pregar com poder, se não estamos inflamados por Deus? Como a Palavra pode sair dos nossos lábios despedindo chamas de fogo, se estamos gelados? Como podemos despertar outros, se estamos dormindo? Como podemos desejar que os outros ouçam a voz do Senhor, se não somos boca de Deus?

Entendo que não basta carregar o bastão profético como Geazi. O bastão na mão de Geazi não possuía nenhum poder. Assim também, muitos hoje carregam o bastão profético, são ortodoxos, pregam uma sã doutrina e fazem lindas exposições, mas os mortos espirituais não ressuscitam. A morte ainda continua instalada no meio do povo. É certo que a ortodoxia é imprescindível. Não podemos transigir nessas questões absolutas. Mas só ortodoxia não basta: é preciso ter unção. Não basta fazer boa exegese do texto: é preciso ter o óleo do Espírito. Hão basta ter boa instrução: é preciso ter o orvalho do céu sobre a cabeça.

É angustiante perceber que a morte está presente em nossas igrejas. Existe um batalhão de pessoas não-convertidas em nossas congregações. A solução não é colocar flores sobre os cadáveres, enfeitá-los, perfumá-los, colocar roupas elegantes neles ou embalsamá-los. Eles precisam de vida.

É por isso que Eliseu foi à casa da mulher sunamita. Ali havia um menino morto. Geazi fracassara em seu trabalho. Eliseu, porém, se envolve com o menino morto, leva-o para o seu quarto, para a sua cama, ora, clama, persevera, até que Deus intervém e o menino levanta vivo.

Ah, precisamos entender que falta à igreja, nestes dias, o mesmo poder, não podemos enfrentar os desafios deste século sem esse revestimento de poder. Mas será que existe base bíblica para esperarmos da parte de Deus um avivamento hoje? Será que essa expectativa não é um sonho ilusório?

Estava pregando em Salvador, Bahia, em 1992, e uma repórter abordou-me:

- O senhor crê mesmo em avivamento?

- Sim, creio. Disse-lhe.

- Qual é a evidência que o senhor pode me dar de que esse avivamento pode trazer mudanças para a igreja e para toda a nossa nação?

- A história está repleta de exemplos incon testáveis dessas intervenções soberanas de Deus, levantando sua igreja das cinzas e reerguendo dos escombros cidades e nações. Hão foi isso que aconteceu em Genebra, no século XVI, sob a liderança de João Calvino, transformando uma cidade corrupta na mais viva maquete do reino de Deus na terra? Não foi isso que Deus realizou na Inglaterra, no País de Gales, na Escócia, nos Estados Unidos, na China, na Coréia do Sul, nas ilhas Novas Hébridas?

Nesses últimos anos, assistimos a uma pode­rosa intervenção de Deus, libertando a Romênia das mãos impiedosas e cruéis de Ceausescu, em apenas dez dias. Tudo começou no dia 15 de dezembro de 1989 e acabou no dia 25 de dezembro do mesmo ano. A mudança radical em toda aquela nação, que levou à queda de um ditador carrasco, foi iniciada por uma pequena igreja reformada, de oitenta membros, na cidade de Timishoara. A polícia secreta de Ceausescu cercou a casa do pastor Toderick para expulsá-lo da cidade. Os crentes, corajosamente, cercaram a casa do pastor. A polícia buscou reforço, e os cristãos da cidade uniram-se ao redor da casa, fazendo um grande cordão humano. À noite, quando a polícia chegou, com violência e de armas em punho, encontrou uma pequena multidão resistindo bravamente àquela atitude autoritária. Um jovem batista comprou velas e as distribuiu aos crentes presentes. As velas iam sendo acesas, à medida que a polícia, impiedosamente, atirava sobre a multidão, abatendo homens, mulheres e crianças. Esse jovem batista levou um tiro na perna. Correram com ele para o hospital. Precisaram, de imediato, amputar-lhe a perna para salvar-lhe a vida. Alguém, com­padecido dele, perguntou: "Você está arrepen­dido?" Ele disse: "Não. Eu perdi uma perna, mas acendi a primeira vela."

Dentro de uma semana, cerca de cem mil pessoas estavam nas praças, de joelhos, sob a liderança dos pastores, clamando num brado de guerra e triunfo: "Deus existe. Deus existe. Deus existe. Liberdade. Liberdade. Liberdade." Naquela mesma semana, caiu o ditador da Romênia e o país ficou livre. Hoje, cinco anos depois, a igreja de Cristo, até então perseguida ali, está florescendo extraordinariamente, e o país inteiro está-se erguendo das cinzas.

Creio firmemente que Deus pode intervir também no Brasil, derramando sobre nossa pátria querida um poderoso avivamento. Creio que ele pode pôr a igreja evangélica brasileira de pé, como um exército santo e cheio de poder. Creio que ele pode tirar nossa nação desse pântano de idolatria. Creio que ele pode libertar nosso país da feitiçaria e restaurar nosso povo, tanto no aspecto econômico quanto social, político, moral e espiritual.

Vamos examinar o que a Palavra de Deus tem a ensinar-nos sobre esse assunto tão vital e urgente.

 

 

 

1

O Derramamento do Espírito

É UMA PROMESSA DE DEUS

 

"Porque derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito, sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descen­dentes. " (Is 44.3.)

 

Há, na igreja de Deus, nesta última década do milênio, uma grande estiagem. Milhões de crentes estão secos, áridos como um deserto, sem verdor e sem frutos. Outros estão murchos, sem orvalho, sem unção e sem poder. Há uma sequidão como nos dias do profeta Elias. Há um raquitismo es­piritual. Há imaturidade. Há sensacionalismo. Há muitos crentes buscando água em cisternas rachadas, em doutrinas de homens, abandonando Deus e sua Palavra - verdadeiro manancial de águas vivas. Há muitos que só buscam conhecimento e não querem saber do poder de Deus. Há outros que só buscam poder e não querem conhecer com profundidade a Palavra. Uns correm para a ortodoxia gelada, outros para os experiencialismos. Há extremos perigosos. A maioria dos crentes cai para um lado ou para o outro e, assim, deixa de ter uma vida abundante de oração, não se deleita na Palavra e vive uma vida murcha e sem frutos.

 

1. O ruído de abundantes chuvas.

A despeito da crise, cremos que coisa nova da parte de Deus está saindo à luz. Já se ouve o ruído de abundantes chuvas. O céu pode estar claro, sem prenuncio de chuva, mas os Elias de Deus já estão ajoelhados no cume do Carmelo. Já vislumbramos no horizonte uma nuvem do tamanho da palma de uma mão, anunciando as chuvas torrenciais do Espírito. Assim como Elias orou no monte, o Senhor está levantando sua igreja para a oração. O braço onipotente de Deus está-se movendo, levando a igreja a dobrar-se sobre seus joelhos, em fervente oração. Coisas novas e maravilhosas já estão acontecendo. Vidas que eram murchas já estão recebendo um novo vigor. Ministérios apagados já estão sendo despertados e impactados pelo poder do Espírito. Igrejas inteiras já estão colocando-se de pé. Já se ouve o barulho no vale de ossos secos. O Espírito de Deus está soprando no vale e pondo em pé um exército numeroso. Um grande des-pertamento virá sobre nós. O deserto florescerá. Os vales secos reverdecerão. Pio ermo brotarão rios caudalosos. No lugar do espinheiro, crescerá o cipreste. No lugar da sarça - uma moita de espinho, brotará a murta - planta viçosa e bela.

Algo novo e tremendo está para acontecer na vida da igreja. Antes da colheita final, Deus vai mandar a chuva serôdia do seu Espírito. Algo que nunca vimos, mas que nossos pais já experimen­taram, virá sobre nós também.

Cremos que um poderoso avivamento do céu vai trazer uma renovação espiritual para a igreja nesses dias. O Espírito de súplicas será der­ramado sobre nós. Um avivamento de oração vai levantar a igreja para ser reparadora de brechas. Uma fome imensa da Palavra vai brotar de nossas entranhas. Um avivamento de louvor vai erguer a igreja para romper com toda a frieza e o formalismo morto. O povo de Deus vai adorá-lo com reverência, com alegria, com liberdade do Espírito, com ordem e decência. Um avivamento de santidade vai purificar a igreja de pecados não-tratados, não-confessados e não-abandonados. A igreja será bela por fora e por dentro. Seremos um povo de poder no testemunho. Seremos luz para as nações. Nossos lares serão mananciais de vida e nossa vida será regada de amor. Nossas casas serão templos do Deus vivo e não arenas de disputas e discussões. Nossos filhos serão san­tos e puros. Nossas filhas, recatadas, criteriosas, modestas, pedras angulares e colunas de palácio. Os homens serão santos, a erguerem mãos santas e sem mácula aos céus, em súplicas fervorosas. As mulheres serão piedosas e cheias da graça de Deus. Os jovens viverão com poder e serão padrão dos fiéis. As crianças crescerão no temor do Senhor.

Cremos que quando Deus derramar sobre nós seu Espírito, os corações insensíveis vão-se derreter em profundo arrependimento. O Senhor tornará a fazer os vasos quebrados. Haverá choro pelo pecado. Haverá confissão, conserto e restauração de vidas. Os porões sujos da mente serão varridos. Os pecados ocultos e enterrados debaixo das tendas serão trazidos à luz, confessados e abandonados. Haverá tristeza, choro e súplica. Haverá mudan­ça de vida.

Essas chuvas torrenciais do Espírito são possíveis ou são uma utopia? Vejamos o que Deus nos diz em Isaías 44.3: "Porque derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito, sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes."

O derramamento do Espírito não é algo que o homem possa fazer. Não é obra da igreja. Mão procede da terra. Ele vem do céu. Ele vem de Deus. Ele emana do trono. Avivamento é obra exclusiva do Senhor. A igreja não promove avivamento, não agenda avivamento, não cria avivamento. Avivamen­to não é fruto do labor da igreja, mas resultado da vontade soberana de Deus. Só ele pode derramar o Espírito Santo. É glorioso, portanto, observar que as Escrituras, que não podem falhar, trazem-nos essas infalíveis e gloriosas promessas.

 

2. O derramamento do Espírito é uma pro­messa segura de Deus.

O derramamento do Espírito é uma promessa clara, inconfundível e contemporânea. Você pode perguntar: Será que Deus fará isso por nós? Ele ainda voltará a ser gracioso conosco? Ele ainda reavivará sua obra no decorrer dos anos? Ele, na sua ira, ainda se lembrará da misericórdia?

O Deus fiel diz que sim. A Palavra que não pode falhar diz que sim. A história da igreja, pontilhada de poderosos avivamentos e abundantes derra­mamentos do Espírito, diz que sim. Esta é a afirmação incontestável de Isaías 44.3-5. O Deus soberano hipotecou sua honra e empenhou sua Palavra nessa promessa. Ele tem zelo em cumprir sua Palavra. As promessas de Deus são fiéis e verdadeiras. Em todas elas, nós temos o sim e o amém. Nenhuma de suas promessas jamais caiu por terra. Os céus e a terra passarão, mas a Palavra de Deus não passará sem que tudo se cumpra.

Quando Deus promete, ele cumpre; e ele diz: "...derramarei o meu Espírito..." Quando ele faz, ninguém pode impedi-lo: "Agindo eu, quem o impedirá?" Quando ele age, ninguém pode detê-lo. Em Jerusalém, o Sinédrio e os sacerdotes quiseram deter o braço de Deus e o crescimento da igreja, mas ela avançou no poder do Espírito Santo e encheu Jerusalém com a Palavra do Senhor. Em Roma, e por todo o império, os impe­radores, com fúria implacável e ódio assassino, quiseram acabar com a igreja. Perseguiram-na com excessivo rigor. Conspiraram contra ela com crueldade desumana. Muitos crentes foram jogados nas arenas para serem devorados pelos leões famintos. Outros foram enrolados em peles de animais para serem mordidos pelos cães. Outros foram pisoteados e rasgados pelos touros enfurecidos. Outros foram trucidados, incen­diados, afogados, estrangulados, crucificados e perseguidos com requinte de crueldade. Mas a igreja, com desassombro e poder, espalhou-se como fermento por todos os quadrantes do império. O sangue dos mártires foi a sementeira do evangelho.

Nos anos de 1553 a 1558, Maria Tudor, cha­mada Maria, a Sanguinária, rainha da Inglaterra, perseguia com ferocidade a igreja. Milhares de cristãos foram mortos, e muitos líderes, queimados vivos. Ela derramou rios de sangue, intentando acabar com a igreja de Deus. Todavia, longe de destruir a igreja, ela a promoveu. Aqueles que saíram da Inglaterra fizeram missões em outros lugares. Os que voltaram depois da sua morte, chamados puritanos mais tarde, vieram mais firmados nos princípios da reforma e iniciaram uma verdadeira revolução política, moral e espiritual na Inglaterra.

No século XVIII, os filósofos agnósticos na Inglaterra profetizaram o fim imediato e irreversível do cristianismo. Entretanto, quando eles entoavam o cântico fúnebre da morte da igreja, o Espírito Santo soprou sobre o vale de ossos secos e colocou a igreja de pé, como um exército vivo e poderoso. Veio do céu um glorioso avivamento e arrancou a igreja da vergonha de uma religiosidade falida. Quando o Senhor age, ninguém pode impedir. Quando o Espírito Santo sopra, ninguém pode detê-lo. Deus nos diz: "... derramarei o meu Espírito..." Ele é soberano. Ele é livre. Ele é fiel. Por isso, nós podemos, com confiança, buscar esse derramamento do Espírito.

 

3. O Derramamento do Espírito é uma promes­sa abundante de Deus.

O texto fala-nos que Deus vai derramar água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca. A promessa é de um derramamento do Espírito. O Senhor não fala de gotas nem de porções, mas de torrentes. Ele não dá seu Espírito por medida. Suas bênçãos não são mesquinhas.

Deus fala de torrentes. Ele mesmo vai abrir as comportas do céu e deixar que as chuvas torrenciais e copiosas do seu Espírito se derramem sobre nós abundantemente. Então, o deserto florescerá, no ermo rebentarão rios e a igreja experimentará não gotas, não filetes, não ribeiros, mas rios de água viva fluindo do seu interior.

O que o Senhor tem para nós é vida abundante, maiúscula e superlativa. É vida de poder. É algo extraordinário.

Não podemos pensar que esse derramamento ficou restrito apenas ao Pentecoste. O derrama­mento do Espírito é uma promessa vigente, contemporânea. Não podemos pensar que já recebemos tudo que deveríamos receber do Espírito Santo. Há mais para nós. Há infinitamente mais. Há algo tremendo que Deus pode fazer. Os céus podem fender-se (Is 64.1). O Espírito Santo pode ser derra­mado sobre nós e soprar no vale de ossos secos, fazendo um milagre extraordinário com o novo Israel de Deus. As águas do rio do Espírito, que brotam do santuário, podem subir dos nossos artelhos até os joelhos, dos joelhos aos lombos e, dos lombos, podem crescer até tornarem-se rios caudalosos, conduzindo-nos na direção da vida plena. Então, seremos conduzidos por esse rio e, por onde suas águas passarem, haverá vida (Ez 47.9). A igreja não pode se contentar com pouco. Não podemos nivelar a vida com Deus às pobres experiências que temos tido. O Senhor pode fazer infinitamente mais, conforme seu poder que opera em nós. Seus celeiros estão sempre abarrotados. Seus mananciais não se secam. Sua provisão não escasseia. Nosso Deus é sempre farto nas suas dádivas. O óleo não cessa de jorrar se houver vasos disponíveis. Oh! que possamos compreender que Deus tem uma vida abundante para nós. A suprema grandeza do seu poder nos pertence (Ef 1.19).

Vejamos essa verdade retratada na vida de Dwight Moody:

Ho dia 28 de maio de 1841, aos 41 anos de idade, falecia, subitamente, Edwin Moody, deixando a viúva pobre, endividada, com sete filhos de treze anos para baixo, e grávida do oitavo. O mais velho, Isaías, tinha treze anos; Cornélia tinha onze; George, oito; Ed, sete; Luther, seis; Dwight, cinco e Warren, quatro. Sete filhos irrequietos para vestir e alimentar. Betsy já estava no oitavo mês de gravidez quando seu marido morreu. no dia 24 de junho de 1841 nascia, não o oitavo filho, mas o oitavo e o nono, porque eram gêmeos: Samuel e Elisabeth.

Betsy Moody, aos 36 anos de idade, mãe de nove filhos, viúva, foi aconselhada a dar alguns filhos para outros criarem. Mas ela, com valentia, embora os credores lhe tivessem tirado os poucos bens que possuía, pôs no trabalho os filhos maiores, mandou os outros para a escola e lançou-se com heroísmo ao trabalho, de madrugada à noite, enquanto chorava copiosamente pela sua dolorosa situação. Seus cabelos logo se embranqueceram de tanto sofrer. Todavia, certa noite, leu na Palavra de Deus: "Deixa os teus órfãos, e eu os guardarei em vida; e as tuas viúvas confiem em mim." (Jr 49.11.) Esse texto a sustentou dali para frente.

Em trabalhos pesados do campo, aquela pobre família labutava durante o dia, para comer à noite.

Certo dia, porém, Dwight Moody resolveu deixar o campo e ir buscar uma sorte melhor na cidade. Ajuntou umas míseras moedas e foi para Boston. Ali enfrentou dificuldades, até que seu tio ofereceu-lhe um emprego na sapataria. Tornou-se um exímio vendedor de sapatos. Seu professor de Escola Dominical, Mr. Kimball, evangelizou-o, e ele entregou-se a Jesus. De Boston, Dwight Moody mudou-se para Chicago e ali teve com Deus profundas experiências. O Senhor começou a trazer-lhe profundo quebrantamento.

 

"Certa noite Moody, poderosamente trans­formado, descia uma rua de Nova Iorque. Jamais estivera bêbado, mas agora conhecia a exaltação que Satanás falsifica na embriagues. A cada passo que dava, um pé exclamava glória, e aleluia, respondia o outro. Os soluços irromperam: ó Deus, por que não me obrigas a andar sempre junto de ti? Livra-me de mim mesmo! Domina-me absoluta­mente!.

"E então seu coração encheu-se de um vento forte e veemente. Era uma euforia que ele não podia suportar. Tinha de isolar-se do mundo... Conhecia um amigo ali por perto, em cujo quarto poderia refugiar-se... Das horas que se seguiram, não será lícito ao homem falar, e ele raramente o fazia. " (Seara em Fogo, Boanerges Ribeiro, p. 82 e 83.)

 

E o mesmo Moody comenta essa sua expe­riência: "... ah, que dia! não posso descrever o que me sucedeu, e raramente falo nisso... só o que posso dizer é que Deus se manifestou a mim, e tive tal experiência de seu amor que fui obrigado a pedir-lhe que retirasse de mim sua mão. Voltei a pregar; não eram novos sermões, isto é, não passei a apresentar verdades novas; mas centenas de pessoas se converteram. Eu não desejaria retroceder na vida para antes daquela experiência, ainda que me oferecessem o mundo por herança!" (Seara em Fogo, Boanerges Ribeiro, p. 83.)

 

A partir dali, Moody tornou-se o maior evan­gelista do mundo; um grande despovoador do reino das trevas.

Certa feita, Moody ouviu de Henry Varley: "O mundo está para ver o que Deus pode fazer com, por, por meio de e em um homem total e comple­tamente consagrado a ele." Essas palavras atingiram como flecha o coração de Moody, e ele se tornou esse homem que impactou os Estados Unidos e a Inglaterra com suas pregações poderosas, con­duzindo milhares de pessoas a Cristo.

Oh! como a igreja hoje precisa experimentar também essas riquezas insondáveis de Deus e esse poderoso e abundante derramamento do Espírito.

 

 

 

2

O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO

É UMA NECESSIDADE VITAL

 

A Bíblia usa diversos símbolos para caracterizar a pessoa e a obra do Espírito Santo, tais como a pomba, o sopro, o vento, o hálito, o óleo, o fogo, o orvalho e a água.

Aqui Isaías menciona a água como símbolo do Espírito Santo. Isso tem algumas implicações profundas e vitais no entendimento desse impor­tante assunto. Vejamos:

 

1. A água é absolutamente necessária à vida.

Não há vida física sem água, assim como não há vida espiritual sem o Espírito Santo. Foi o sopro, o ruach de Deus que nos deu vida. É o Espírito do Senhor que renova a face da terra e faz tudo flores­cer e frutificar (Sl 104.30). É o Espírito de Deus quem nos regenera e nos dá nova vida em Cristo (Tt 3.5).

Na agricultura, pode-se ter a melhor terra, a mais fértil, a mais produtiva. Pode-se utilizar a melhor tecnologia, os melhores insumos e os mais ricos adubos, mas, se não houver água, a semente morrerá mirrada no útero da terra.

Sem água, não há vida. Sem água, a semente não germina. Sem água, não há flores nem frutos. Assim, também, sem a chuva serôdia do Espírito, sem o derramamento do Espírito, sem a plenitude do Espírito, nossa vida ficará árida, seca, deserti-ficada. Não haverá frutos. Nosso esforço será inútil. Nosso trabalho, inócuo.

A igreja não pode avançar, prevalecer, saquear o reino das trevas e abalar o inferno sem a dinâmica do Espírito. Não é por força nem por violência, mas pelo Espírito de Deus que a igreja triunfa (Zc 4.6). Nossas organizações e nossos métodos não geram vida. Só o Espírito Santo pode produzir vida. Podemos ter boa estrutura, modernas organizações, teologia ortodoxa, boa música, mas, se o Espírito não for derramado, a vida não brotará em toda a sua plenitude.

Quando visitei pela primeira vez o Egito e Israel, fiquei muito impressionado com os contrastes que vi. Cruzamos o deserto do Saara. As areias escal­dantes refletiam o cenário de morte instalado no coração desse maior deserto do mundo. Entretanto, onde o rio Nilo rasga as entranhas do deserto e despeja suas águas pelas ribanceiras, tudo floresce e frutifica. De fato, o Egito é um presente do Nilo. Onde há água, há vida. Onde há água, não reina a morte. Onde há água, a semente brota com vigor e frutifica com abundância. É assim também no reino espiritual. Muitas vezes nossa vida se parece com o deserto do Saara. Tudo fica seco, murcho e sem vitalidade. Ficamos áridos e estéreis. Perdemos a alegria indizível e cheia de glória, assim como o deleite com as coisas celestiais. Ficamos com o coração frio e endurecido. Precisamos, então, com grande urgência, que o rio de águas vivas flua, também, do nosso interior. Onde os rios de Deus jorram, aí brota a vida plena e abundante.

Depois de cruzar o deserto do Saara, entrei no deserto do Sinai. Contemplei montes e vales, cavernas e abismos — tudo seco, pedregoso, sem vida. De repente, chegamos à divisa com o Estado de Israel, e o deserto não estava mais coberto de areias e pedras mortas; o cenário era de um jardim regado. Os trigais e os laranjais cheios de verdor anunciavam a exuberância da vida que brotava daquelas terras, outrora desertificadas. Encantado com a beleza do quadro fascinante - de um lado, deserto; do outro, plantações luxuriantes; perguntei ao guia turístico:

- Como explicar o fato de, no mesmo deserto, de um lado tudo estar seco e, do outro, tudo verde?

Ele, então, disse:

- Onde há água, não existe terra ruim; toda terra é boa.

Do mesmo modo, onde chega a água do Espírito, não há terra ruim. Nossa vida pode ser um deserto. Nosso coração pode estar árido e seco. A morte pode estar instalada em tudo o que somos e fazemos, mas, se o Espírito de Deus descer sobre nós, nossa vida será restaurada como as torrentes no Neguebe. Nosso deserto vai florescer. Nossa vida, então, será um jardim regado e um manancial. Ah! essa é a bênção que Deus quer nos conceder.

No Salmo 133, o Espírito é comparado ao óleo e ao orvalho. Onde o Espírito é derramado sobre os sacerdotes de Deus, aí o Senhor ordena a sua bênção e a vida para sempre.

Em João 7.38, Jesus fala de rios de água viva fluindo do nosso interior. Onde as águas desses rios, que brotam do santuário, chegam, levam a vida (Ez 47.9). Nós somos o santuário de Deus. Esses rios brotam do nosso interior, e essas águas, onde che­gam, fazem surgir a vida. Transportamos a vida dentro de nós.

A igreja hoje precisa experimentar essa vida abundante. Ela é prometida a todo aquele que crê em Jesus, como diz a Escritura (Jo 7.38). Precisamos ser canal da vida de Deus na vida das pessoas. Quando o Espírito é derramado sobre a igreja, ela frutifica e o mundo todo é abençoado (Sl 67). Não há outra esperança para o mundo. O homem sem Cristo está morto. Só o Espírito de Deus pode comunicar vida e só a igreja é o veículo do Senhor para alcançar os que jazem nas trevas da morte. Então é imperativo que a igreja esteja revestida do Espírito!

O Espírito Santo como comunicador da vida é também comparado ao sopro e ao vento. Foi o sopro de Deus que nos deu vida (Jó 33.4). A Bíblia diz que o homem foi feito do pó, é pó e há de ser pó; se fomos e haveremos de ser pó, então somos pó; porque o homem não é o que é, mas o que foi e o que há de ser. Só Deus é o que é. Só ele tem vida em si mesmo, é auto­existente e está fora da categoria de depen­dência, de limitações. Somente o Senhor pode dizer: "Eu sou o que sou." Mas como entender essa verdade?

É fácil compreender o pó que fomos. Deus fez o homem do barro. É fácil aceitar que o homem será pó (Ec 12.7). Basta ir a um cemi­tério e veremos nas sepulturas a frase lapidar: "Aqui jaz..." Mas como entender o pó que somos? O pó que anda, que corre, que ri, que chora, que entra, que sai? Na verdade, se fo­mos e haveremos de ser pó, então o somos! Quando Deus mandou Moisés a Faraó, para libertar o povo israelita do cativeiro, deu-lhe uma vara, através da qual Moisés faria vários milagres diante do monarca egípcio. Moisés lançou a vara ao chão, e ela tornou-se uma serpente. Os magos do Egito fizeram o mesmo sinal, mas a vara de Moisés devorou as varas dos magos do Egito. Contudo vara não tem boca nem garganta. Então, como diz a Bíblia que a vara de Moisés devorou as outras varas? É que se aquela serpente era vara e haveria novamente de ser vara, então não era serpente; era vara. Assim somos nós. Fomos pó e have­remos de ser pó: por isso, somos pó.

Mas o que levanta o pó? O vento. Quando o vento sopra, o pó se levanta e voa. Mas, se o vento deixa de soprar, o pó cai na rua, em ca­sa, no hospital. O pó que somos também não se levanta espiritualmente se o vento do Espí­rito não soprar sobre nós. No Pentecoste, o vento impetuoso do Espírito soprou, e aqueles homens medrosos puseram-se em pé com to­da ousadia. Ah! como precisamos que o vento do Espírito sopre sobre nós, trazendo-nos vida e erguendo a igreja com poder, para que ela abale o mundo com o testemunho do evange­lho!

 

2. A água é absolutamente necessária para limpar e purificar.

Precisamos admitir que o maior obstáculo ao derramamento do Espírito é o pecado da igreja. Antes de Elias orar pelas chuvas torrenciais de Deus, tirou primeiro o terrível Baal que estava inter­ceptando o fluir das bênçãos do céu.

Infelizmente, a igreja hoje não tem tido pro­funda convicção de pecado. Os crentes já não choram mais pelo pecado nem sentem a agonia do arrependimento. Muitos têm feito concessão ao pecado e vivido mancomunados com ele. É muito comum ver crentes envolvidos com práticas de pecado. O coração do povo está ficando endure­cido. Dizem: "Os tempos são outros. Não podemos levar r as coisas ao pé da letra nem ser tão radicais."

É por isso que vemos hoje crentes fazendo negócios escusos, burlando as leis, sonegando impostos, dando nota fria, comprando sem documentação legal, pagando e recebendo propinas, curvando-se diante da sedução do ganho fácil, ajoelhando-se no altar de Mamon, sucumbindo aos apelos e pressões de um mundo materialista.

É triste ver hoje empregados crentes fazendo corpo mole no trabalho, sendo relapsos e relaxados e deixando, assim, o testemunho do evangelho ser pisoteado pela sua falta de caráter.

Os patrões crentes, muitas vezes, agem como aqueles que não conhecem a Deus. Exploram seus empregados sem nenhum escrúpulo. Tratam-nos com dureza e injustiça.

Muitos estudantes crentes não se envergonham de ser alunos medíocres, de colar nas provas e de ser os piores referenciais de conduta em sala de aula.

Os cônjuges crentes, não raro, brigam, são amargos e até infiéis, como aqueles que não têm o temor de Deus. A infidelidade conjugai, para vergonha nossa, está entrando nos arraiais evangélicos. O divórcio, por razões não-bíblicas, está cada vez mais comum.

Nossos jovens não têm tido pureza no namoro. Nossas jovens também abortam, casam-se grávidas e colocam um véu branco para a cerimônia de casamento, quando já não são mais virgens. A castidade é uma raridade até no meio da juventude cristã. A falta de modéstia e decência no vestuário tem sido uma marca até dos filhos de Deus. As mulheres e jovens cristãs, muitas vezes, vestem-se sem decoro, expondo o corpo com sensualidade, defraudando pecaminosamente os irmãos.

O povo de Deus, muitas vezes, está perdendo o brio e a sensatez e já não cora mais de vergonha por ficar passivamente diante da televisão, assistindo a novelas indecorosas, blasfemas e demoníacas, assim como a outros programas inconvenientes e incompatíveis com a santidade de Deus.

Há crentes que vão à igreja, mas ali não têm prazer. Não se deleitam na intimidade de Deus. A igreja não passa de um clube a mais que fre­qüentam. Saem da casa de Deus, onde cantaram os louvores de Sião, e entram nos barzinhos e nas boates, buscando satisfação para seus corações nos guisados do mundo.

Não raro, vemos jovens crentes envolvidos com bebidas alcoólicas, com uso de drogas e com sexo no namoro, colocando o pescoço na coleira do pecado. O que é mais grave, porém, é que a igreja está-se acostumando a isso. Ela já não fica mais chocada com o pecado. Há uma crosta dura no coração do povo, que o está deixando insensível.

Estive pregando em uma grande igreja evangélica, onde os jovens passaram toda a noite de sábado dançando na inauguração de uma boate e, no domingo de manhã, debaixo da ressaca da noitada, estavam todos na igreja cantando louvores ao Senhor, achando que podiam conciliar as duas coisas sem nenhum conflito. A Palavra de Deus, todavia, nos diz que aquele que ama o mundo, o amor do Pai não está nele (1 Jo 2.15), pois quem é amigo do mundo é inimigo de Deus (Tg 4.4).

É muito comum ver também no arraial de Deus, na assembléia dos santos, o pecado da mentira, da vida dupla, do farisaismo e da hipocrisia. Há pessoas vivendo um papel de santidade, representando como ator uma vida bonita, piedosa mas, em casa, não conseguem esconder o que realmente são e, no fundo do coração, abrigam pecados ver­gonhosos e vis. Muitos usam máscaras para disfar­çar a crise que estão vivendo por dentro. Passam para os outros uma imagem linda, de uma vida superespiritual, mas por dentro tudo está desmoro­nando. O brilho da glória de Deus já não reflete aos outros em sua face. Querem dar a impressão de que a luz de Deus ainda está em seu rosto, como estava no rosto de Moisés (2 Co 3.13). Assim, muitos vivem uma vida irreal e mentirosa.

Outras vezes, encontramos no meio do povo de Deus o pecado da mágoa e do ressentimento. Quantas pessoas feridas no acampamento do Senhor. Quantos nutrem ressentimentos antigos no coração. Quantos vivem doentes porque se recusam a perdoar. Estão debilitados pelos seus sentimentos. Estão vivendo debaixo da tortura dos flageladores. Estão nas mãos de um carrasco, que não lhes dá descanso, nem de dia nem de noite. Vivem cativos do ódio. Vivem derrotados pelo diabo. Não têm paz. Não são livres. Vivem vidas secas e amargas. Não conhecem o prazer de ter o amor de Deus no coração.

Tenho percorrido a nossa nação e pregado em muitas igrejas. Por onde ando, tenho visto que existem muitas feridas abertas e não-curadas na família de Deus. Há pastores que estão amargando derrotas extraordinárias porque vivem saturados e entupidos de mágoa. Líderes, homens e mulheres, jovens e adoles­centes, vivendo um arremedo de vida porque a existência está azeda; há muito já perderam a doçura da vida. Há crentes que não se falam. Outros vivem com relações quebradas. Isso gera doença, produz morte.

O povo de Deus está precisando de restaura­ção e de purificação. Só o Espírito pode convencer-nos de pecado (Jo 16.8,9). Só as torrentes do Espírito podem trazer-nos essa purificação. A solução não é o legalismo, baixar normas mais rígidas, mas uma mudança íntima, produzida pelo Espírito Santo. Quando o Espírito é derramado, há sede de santidade. Há abandono do pecado e uma atração irresistível para a luz, para um viver novo.

A igreja precisa estar alerta para o fato de que o pecado é o pior de todos os males. Ele é maligníssimo (Rm 7.13) e coloca Deus contra nós (Js 7.12). Se Deus está contra a igreja, por causa do pecado, esta é a sua derrota mais trágica. Podemos ter o mundo inteiro e todo o inferno contra nós, mas se o Senhor estiver do nosso lado, seremos vitoriosos. Se Deus estiver contra nós, quem poderá nos valer? Deus não tolera o mal. Ele não é conivente com o pecado e não tem prazer na vida de um povo que rejeita a santidade (Ml 1.9,10).

O pecado deixa a igreja impotente, fraca, medrosa, covarde, sem resistência e sem forças para vencer o inimigo. A igreja que faz concessão ao pecado é tímida, não tem poder nem autoridade para pregar. Seu discurso é vazio. Seu testemunho é oco, chocho. O pecado, na verdade, entristece a Deus, afronta Jesus, apaga o Espírito, fortalece o inimigo e enfraquece a igreja. Daí a necessidade imperativa e urgente de purificação da igreja. Não há derramamento do Espírito sem abandono do pecado. Pedir avivamento sem tratar de forma séria o pecado é ofender a Deus. Orar por avivamento sem se dispor a mudar de vida é frivolidade espiritual. O avivamento começa quando a igreja se prostra em choro, pela convicção de sua iniqüidade, e clama a Deus pela purificação de seus pecados.

 

3. A água é absolutamente necessária para refrescar e revitalizar.

Muitas vezes a vida da igreja fica murcha. Passam-se anos e décadas e os crentes não saem do lugar. Não crescem. Não se santificam. Não produzem frutos. Não declaram guerra ao pecado. Não despovoam o reino das trevas. Não geram filhos espirituais. Não oram. não meditam na Palavra. Não são cheios do Espírito. Vivem uma vida estéril, raquítica. Carregam fardos pesados, gemem sob 0 peso dos mesmos problemas, não encontram vida abundante, não sabem o que é intimidade com Deus, não têm fome do maná do céu, não têm sede de Deus, não têm paixão pelas almas, não priorizam o reino nem investem nele.

Ah! como é triste ver que a igreja está como uma vinha murcha, como uma noiva amarrotada e cheia de máculas. A igreja precisa receber um novo alento, precisa de óleo fresco sobre a sua cabeça, precisa do orvalho do Hermon, trazendo-lhe a vida e a bênção de Deus. O orvalho é um símbolo do próprio Deus (Os 14.5). O orvalho é um símbolo glorioso da restauração do Senhor sobre o seu povo! Eis algumas lições que o texto de Oséias 14.5-8 nos mostra:

 

3.1 O orvalho vem sem alarde.

Ele não é precedido por trovões bombásticos nem por relâmpagos serpenteantes. O orvalho cai mansamente e, onde desce, tudo se renova. As plantas murchas recebem novo alento. Assim também é a visitação do Espírito de Deus. Quando ele é derramado sobre nós, recebemos novo alento, novo brilho e novo vigor.

 

3.2 O orvalho cai à noite.

São nas noites escuras da vida, quando a crise é maior, as trevas são mais espessas e os vales mais profundos, que o Senhor vem sobre nós com mais intensidade, transformando nossos vales em mananciais e cobrindo-os com as primeiras chuvas (Sl 84.5-7). Quando nossas forças se esgotam e nossos recursos chegam à falência, Deus, então, derrama sobre nós seu óleo fresco e nos vivifica.

 

3.3 O orvalho vem do céu.

O orvalho cai das alturas de Deus para a terra sedenta e ressequida. Também só do Senhor pode vir o nosso alento. É do céu que emerge a nossa restauração. É do trono de Deus que vem a nossa cura.

 

3.4 O orvalho é abundante.

Na Palestina o orvalho é abundante, sobre­tudo para compensar a ausência de chuvas. Quando Deus vem sobre o seu povo, manifesta-se poderosamente.

Quando o orvalho do Senhor cai sobre a igre­ja, ela espalha essa influência para regiões lon­gínquas.

O Salmo 133 fala que, quando o orvalho do Hermon cai no extremo norte da Palestina, o monte Sião, plantado no coração de Jerusalém, há quase 200 km, é beneficiado. Assim também, quando a igreja é impactada por Deus, ela se torna bênção para o mundo inteiro. Quando a igreja sai do seu marasmo e recebe vida em abundância, ela distribui essa fragrância de Deus com fartura para as mul­tidões.

Quando Deus renova a igreja com esse orvalho do Espírito, algumas coisas maravilhosas acon­tecem em seu meio:

 

a) Crescimento

"...ele florescerá corno o lírio..." (Os 14.5.) Quando a igreja é banhada pelo orvalho do Espírito, ela floresce, cresce, desabrocha, sai do casulo, das quatro paredes, e alarga o espaço da sua tenda.

O Derramamento do Espírito é Uma Necessidade Vital 45

 

b) Estabilidade

"...lançará as suas raízes como o cedro do Líbano." (Os 14.5.)

A igreja, quando é restaurada por Deus, não só cresce para o alto - em comunhão com Deus, ou para os lados — crescimento numérico, mas cresce também em profundidade. Torna-se firme, arrai­gada, madura e consciente. Suporta com bravura e fidelidade inabalável os vendavais furiosos que conspiram contra ela. Mão se deixa arrastar pelos ventos de doutrinas estranhas à Palavra, nem vive atrás de experiencialismos sensacionalistas.

 

c) Beleza e esplendor

"...o seu esplendor será como o da oliveira..." (Os 14.6.)

Quando a igreja recebe novo alento pelo orvalho de Deus, ela se renova, se revigora. Brota-lhe um entusiasmo contagiante. A oliveira é uma das árvores mais resistentes. Ela suporta todas as intempéries, sem perder a beleza. Nasce e floresce em lugares áridos e pedregosos. Quando parece que já está morrendo, brota das raízes um novo rebento e forma-se novamente uma árvore bela e frondosa. Assim é a igreja avivada por Deus. Quando o orvalho cai sobre ela, ela se ergue do chão, das cinzas, da desonra, e veste-se de beleza como uma bela noiva, adornada para o seu esposo.

 

d) Fragrância

"... sua fragrância, como a do Líbano" (Os 14.6.) A igreja restaurada por Deus é o bom perfume de Cristo. Ela exala o cheiro do céu e espalha essa santa influência do Deus vivo. Como o perfume, ela produz impacto, contagia, atrai e torna o ambiente mais agradável.

 

e) Refrigério para os cansados

"Os que se assentam de novo à sua sombra voltarão; serão vivificados..." (Os 14.7.)

 

A igreja, quando é banhada pelo orvalho do céu, não só recebe novo alento, mas torna-se instrumento de Deus para restaurar outras pessoas. Ela torna-se um lugar de cura, de refrigério, de abrigo. Deixa de ser um deserto, para ser um oásis. Deixa de ser um lugar de atar fardos sobre as pessoas, para ser um lugar de alívio. Deixa de ser um lugar de legalismo neurotizante, para ser uma comunidade terapêutica. Deixa de ser um gueto fechado, para ser uma comunidade que acolhe os inacolhíveis, abraça os inabraçáveis e recebe os escorraçados por toda sorte de preconceito, oferecendo-lhes vida nova e abundante em Jesus.

 

f) Frutificação

"... de mim se acha o teu fruto." (Os 14.8.) Quando Deus desce com poder sobre a sua igreja, ela é curada da sua esterilidade. O fruto da igreja não é resultado de seu labor e ativismo. Ele vem de Deus. É obra dele. Nosso trabalho, como dizia Lutero, "vão será, se Deus não for conosco". Sem Cristo, nada podemos fazer. Nosso esforço, sem a ação de Deus, não produz fruto. Precisamos depender mais do Senhor se queremos mais eficácia em nosso trabalho.

Que sejamos encorajados a buscar com so­freguidão esse orvalho do céu, essas torrentes res­tauradoras de Deus. Então, um milagre tremendo acontecerá: "A areia esbraseada se transformará em lagos, e a terra sedenta, em mananciais de águas..." (Is 35.7). Quando Deus nos restaurar, "O deserto e a terra se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como o narciso. Florescerá abundantemente, jubilará de alegria e exultará..." (Is 35.1,2a). Sacudiremos, então, a desonra de sobre nós e salta­remos de alegria. "... os montes e os outeiros rom­perão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas." (Is 55.12.) Mossa sorte será mudada: "Em lugar do espinheiro, crescerá o cipreste, e em lugar da sarça crescerá a murta; e será isto glória para o Senhor e memorial eterno, que jamais será extinto." (Is 55.13.)

É hora, portanto, de clamarmos como o salmista: "Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe." (Sl 126.4.) O Neguebe é o maior deserto da Judéia. É arenoso e pedregoso, cheio de montes e vales. Quando chega o período do inverno, as correntes de águas degeladas descem dos montes, rasgando o ventre do deserto, abrindo sulcos nas areias estéreis. Ali formam-se os wadis ou oásis, onde crescem as palmeiras e farta vegetação. Ali no coração do deserto, onde as águas fluem, tudo re­verdece e frutifica. Ali os beduínos encontram repouso e descanso. Ali os viajantes encontram direção. Ali os animais matam a sede. Assim como as águas fluem do deserto, levando vida, assim também os rios de água viva podem fluir do nosso coração, levando vida a outras pessoas.

Onde os rios de Deus brotam, tudo se faz novo: a sequidão transforma-se em correntes caudalosas, a vida estéril frutifica, a fraqueza converte-se em poder. Quando Deus intervém, a restauração é completa.

 

4. A água é absolutamente necessária para matar a sede.

Sem essas torrentes de Deus, sem o enchi­mento do Espírito, somos incompletos, vazios e insatisfeitos. Podemos ter projeção na sociedade, ser líderes de renome na igreja, ter carisma e ser admirados por muitos. Todavia, estaremos incompletos, insatisfeitos, até que experimentemos essa bênção superlativa do enchimento do Espírito Santo. Só o Espírito de Deus pode satisfazer-nos e matar nossa sede. Quando John Hyde estava a bordo do navio, navegando para a índia, para ali consagrar sua vida como missionário, recebeu um telegrama. Abriu-o com ansiedade, esperando encontrar alguma palavra encorajadora. Ficou perplexo e aborrecido ao ler a frase concisa que lhe fuzilou o peito: "John Hyde, você está cheio do Espírito Santo?"

Ele, irritado, amassou o telegrama, enfiou-o no bolso e pensou: "Isto é uma afronta. Eu sou um pastor consagrado. Sou um pregador de renome. Estou indo dedicar minha vida como missionário. É claro que estou cheio do Espírito."

Desceu ao convés e deitou-se, tentando desligar-se da inquietante pergunta. Mas a questão bradava em seu coração: "Você está cheio do Espírito Santo?" Nessa hora, John Hyde começou a chorar, prostrou-se de rosto no chão e começou a clamar: "Ó Deus, eu preciso ser cheio do Espírito. Derrama sobre mim o teu Espírito. Eu não posso ir para a Índia sem o teu revestimento de poder."

Quebrantado, sedento, ele buscou a plenitude do Espírito. Chegou à Índia com o coração ardendo de paixão pelas almas. O poder de Deus invadiu a sua vida e, com ousadia, fez-lhe um pedido: "Senhor, eu quero ganhar uma vida para Jesus por dia." Ho final do primeiro ano, ele batizou mais de 400 pessoas regeneradas pelo Espírito Santo. No segundo ano, pediu duas pessoas para Jesus por dia e, no final daquele ano, recebeu mais de 700. Depois, pediu três pessoas por dia, e Deus lhe deu. Pediu quatro por dia, e o Senhor lhe concedeu. Esse missionário presbiteriano compreendeu que sua capacidade, seus títulos e sua fama não podiam conseguir nada sem o enchimento do Espírito.

Não foi assim também com John Wesley? Ele trabalhou ardentemente como missionário na Georgia, Estados Unidos, mas só depois que foi revestido do poder do Espírito, sua vida foi satisfeita e seu ministério passou a ser bênção para a Inglaterra e para o mundo.

O grande teólogo, educador e político holandês, Abraão Kuiper, que escreveu um dos maiores clássicos sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo, disse: "Se os pregadores não atentarem para a obra do Espírito Santo, darão pedra ao invés de pão aos seus rebanhos."

Sem a plenitude do Espírito, os pregadores só têm palha a oferecer ao povo. Sem a plenitude do Espírito, nossas pregações tornam-se discursos va­zios, que enchem os ouvintes de cansaço e tédio. Sem a unção do Espírito, os sermões são mortos; e sermões mortos matam. Pregações sem unção do Espírito endurecem o coração. Nossos púlpitos hoje estão sem poder. Nossos pregadores estão vazios de Deus. Nossos seminários estão mais preo­cupados em formar pensadores e filósofos do que homens que dependam do Senhor. O povo está faminto. Muitos estão como ovelhas irrequietas, procurando pastos mais verdes. Muitos pastores estão dando comida velha para as ovelhas. É preciso dar ao povo maná fresco todo dia. Para isso, é necessário que os pastores estejam aos pés do Senhor, com os ouvidos afinados para ouvirem a sua voz, e que conheçam a intimidade de Deus em oração. Só assim nosso povo será conduzido aos pastos verdejantes. Só assim as almas famintas vão se fartar. Só assim nosso povo vai deixar as cisternas rotas e voltar-se para o Senhor, verdadeiro manan­cial de águas vivas.

 

 3

O Derramamento do Espírito

'VIRÁ SOBRE OS SEDENTOS’

 

Isaías 44.3 diz que Deus derramará água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca. Este é um princípio tremendo. As torrentes do céu só cairão sobre aqueles que têm sede de Deus. A Bíblia diz que vamos encontrar o Senhor quando o buscarmos de todo o nosso coração: "Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração." (Jr 29.13.)

O avivamento começa exatamente quando a igreja sente que está vazia, seca e árida. Então, como solo seco e sedento, ela clama pelas chuvas torrenciais do Espírito.

Deus não derrama seu Espírito sobre uma igreja auto-suficiente, arrogante e soberba. Ele age como Maria declarou no seu cântico: enche de bens os famintos e despede vazios os ricos (Lc 1.53).

À igreja de Laodicéia, que se considerava rica e abastada, e que não precisava de coisa alguma, Jesus declara: "...tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu." (Ap 3.17.)

Avivamento não é autogloriíi cação, mas quebrantamento. Mão começa quando a igreja vive fazendo propaganda de suas virtudes e de suas obras para ganhar o aplauso dos homens, mas quando se humilha debaixo da onipotente mão de Deus.

Hoje estamos vendo muitos crentes empol­gados com a teologia da prosperidade. Muitas pessoas estão correndo atrás da bênção e não buscando ser bênção. Buscam com avidez as bênçãos de Deus e não o Deus das bênçãos. A maior de todas as bênçãos não são as benesses do Senhor, mas o próprio Senhor. Essa foi a grande conclusão de Asafe, depois de uma crise espiritual que quase o levou ao naufrágio: "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra." (Sl 73.25.) Essa também foi a conclusão a que chegou Habacuque, um profeta que orou por avivamento (He 3.2,17,18).

Muitos crentes correm atrás de sinais e maravilhas, mas não anelam a intimidade com Deus. Na verdade, essa perspectiva é antropocên­trica. O Senhor é despojado de sua glória e arrancado do seu trono. Deus passa a ser apenas um instrumento, um meio para atender a todos os desejos soberanos do homem. Isso é distorção da verdade. É um engano perigoso. É a antítese do avivamento bíblico.

Na busca do genuíno avivamento, essas distorções são corrigidas. O homem passa a ter sede de Deus mais do que das suas bênçãos.

A sede é algo tremendo. Mão há nada que torture mais uma pessoa do que a sede. Não há sofrimento maior do que estar num lugar ermo, deserto, sem água, e ser assolado pela sede como foram Hagar e Ismael (Gn 21.14-19). Nessas horas, o corpo treme, a língua cola-se ao céu da boca, a garganta resseca-se, e todos os poros clamam por água. Nessa hora, nada é mais urgente. Nada satisfaz. A sede não pode ser contornada, subs­tituída ou postergada. Só a água satisfaz.

Assim também acontece na vida espiritual. Nada pode substituir Deus em nossa vida. Devemos ansiá-lo avidamente. Então, quando todos os poros da nossa alma estiverem clamando pelas torrentes do Espírito; quando a sede de Deus for tão forte em nós, que a maior e a mais urgente necessidade do nosso ser for o próprio Deus, o avivamento virá do céu e as torrentes do Espírito cairão sobre nós.

O derramamento do Espírito é para os sedentos. O Senhor dará o Espírito àqueles que lho pedirem. Se sua alma está com sede de Deus, como a corça anseia pelas correntes das águas (Sl 42.1), e se seu coração está suspirando pelo Senhor mais do que os guardas pelo romper da manhã (Sl 130.6), os céus se fenderão sobre a sua cabeça e o Espírito Santo será derramado copiosamente sobre sua vida.

Essa promessa do derramamento do Espírito não ficou esquecida no arquivo morto das promessas do Senhor. Ela é uma promessa viva, atual e de suma importância. A Palavra de Deus diz: "...derramarei o meu Espírito, sobre a tua pos­teridade e a minha bênção, sobre os teus des­cendentes." (Is 44.3.)

Nós fazemos parte dessa promessa. Somos descendentes de Abraão. Essa promessa é vigente. É para nós. Paulo diz em Gálatas 3.29: "E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa." O profeta Joel, con­temporâneo de Isaías, refere-se a esse derrama­mento do Espírito (Jl 2.28-30), que se cumpriu no dia do Pentecoste (At 2.1-40), e Pedro, no seu célebre sermão, enfatiza que aquele derramamento do Espírito não era restrito àquele evento, mas haveria de repetir-se. Assim expressou Pedro: "... e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar." (At 2.38,39.)

Avivamento é um derramamento do Espírito de Deus. É uma espécie de repetição do Pentecoste. É o Espírito descendo sobre pessoas. Hoje muitos de­fendem que, pelo fato de já termos recebido o Es­pírito Santo, quando da nossa regeneração, o que precisamos fazer é render-nos ao que já temos. Mas, como dizia D. Martyn Lloyd-Jones: "... o avivamento não vem como resultado de o homem render-se ao que já tem; é o Espírito Santo sendo derramado sobre ele, descendo sobre ele, como aconteceu no dia de Pentecoste." (D.M.Lloyd-Jones, Os Puritanos - Suas Origens e Sucessores, p. 296.)

Eis como Howell Harris, grande avivalista metodista do século XVIII, no País de Gales, descreve a experiência que teve no dia 18 de junho de 1735, três semanas depois da sua conversão: "De repente senti derreter-se dentro de mim o coração, como cera junto ao fogo, senti amor a Deus, meu Salvador. Senti também, não somente amor e paz, e sim um desejo de morrer e estar com Cristo. Depois brotou no fundo de minha alma um clamor que antes não conhecera jamais —Aba, Pai! Nada pude fazer, senão chamar a Deus, meu pai. Fiquei sabendo que eu era seu filho, e que ele me amava e me ouvia. Minha mente ficou satisfeita, e eu bradei: agora estou satisfeito! Dá-me forças, e te seguirei através das águas e do fogo" (D.M.Lloyd-Jones, Os Puritanos — Suas Origens e Sucessores, p. 297). Ali o amor de Deus foi derramado em seu coração.

Será que a nossa doutrina do Espírito Santo deixa algum lugar para o avivamento? Admite o derramamento do Espírito?

Quando olhamos para a Bíblia, vemos de forma incontestável que o mesmo Espírito que foi derramado em Jerusalém, no Pentecoste (At 2.1-4), desceu também em Samaria (At 8.14-17), derramou-se em Cesaréia, na casa de Cornélio (At 10.44-47), e veio com poder na cidade de Éfeso (At 19.6).

Quando descortinamos a história da igreja, não é diferente a conclusão a que chegamos. Ho século XII, vemos um glorioso avivamento entre os valdenses, na França, no século XVI, um abundante derramamento do Espírito na Reforma. O que dizer do extraordinário derramamento do Espírito na Inglaterra, quando as torrentes do Senhor inun­daram aquele país, usando poderosamente a vida de George Whitefield e John Wesley? Como explicar a tremenda intervenção de Deus, num estupendo avivamento que varreu o País de Gales no século XVIII, com Daniel Rowland, Howell Harris e William Williams? Que coisas extraordinárias Deus operou em Northanpton, Massachusetts, no século XVIII, pelo abençoado ministério de Jonathan Edwards.

Esse homem foi um verdadeiro gigante: foi o maior filósofo da América, um vigoroso teólogo, um ar­dente evangelista e um grande pastor.

Eis como ele mesmo relata suas experiências gloriosas com Deus: "Uma vez, quando cavalgava nas matas pela minha saúde, em 1737, tendo apeado do meu cavalo num lugar retirado, como tem sido o meu costume comumente, para buscar contemplação divina e oração, tive uma visão, para mim extraordinária, da glória do Filho de Deus, como mediador entre Deus e o homem, e a sua maravilhosa, grande, plena, pura e suave graça e amor, e o seu terno e gentil amparo. Esta gloriosa experiência durou cerca de uma hora; o que me manteve a maior parte do tempo num mar de lágrimas, e chorando em voz alta. Senti uma ardência na alma, um anseio por ser esvaziado e aniquilado; jazer no pó e encher-me unicamente de Cristo; amá-lo com um amor santo e puro; confiar nele; viver dele; servi-lo e segui-lo; e ser per­feitamente santificado e tornado puro, com uma pureza divina e celestial. Várias outras vezes tive visões da mesma natureza, as quais tiveram o mesmo efeito" (D. M. Lloyd-Jones, Os Puritanos - Suas Origens e Sucessores, p. 363).

Que torrentes abundantes Deus derramou nas selvas americanas, sobre os índios Peles-Vermelhas, em resposta às orações fervorosas e angustiadas de David Brainerd!

Ah! como explicar o despertamento dos pietistas, com Spener, e o tremendo derramamento do Espírito entre os morávios, que iniciou com Ludwig Von Zinzendorf e desaguou num poderoso movimento de oração e missões que abalou o mundo todo?

Ah! que coisas maravilhosas o Senhor realizou no século XIX: o ministério ungido de George Müller, em Bristol, na Inglaterra, abrindo orfanatos; as peregrinações missionárias de Hudson Taylor, no interior da China, levando cura para o corpo e para a alma de milhares de chineses; o extraordinário trabalho de conquista de almas realizado por John Hyde, na índia; por Carlos Studd, na China, índia e África; por Alexandre Duff, na índia, e tantos outros gigantes de Deus!

Oh! que maravilhas Deus operou na vida e no ministério de Charles Grandison Finney e Dwight Moody, nos Estados Unidos! Que gloriosa obra na vida de Robert Mckeyne, na Escócia! Neste século, houve também grandes derramamentos do Espírito. No ano de 1904, o Senhor derramou copioso avivamento no País de Gales, usando a vida de Evan Roberts. Na mesma época, Deus fendeu os céus e derramou chuvas abundantes do seu Espírito em Xangai, na China, usando Jonathan Gofforth. Em 1946, houve um extraordinário avivamento nas ilhas Novas Hébridas, quando o Espírito Santo caiu pode­rosamente sobre a vida de Duncan Campbell. Em 1966, o Senhor serviu-se de Erlo Stegen para começar um glorioso avivamento entre os zulus, na África do Sul. Visitei a Missão Kwa Sizabantu, em 1991, e vi com alegria as marcas indeléveis daquele abençoado avivamento, ainda em vigor.

Ó, querido leitor, essa promessa do derrama­mento do Espírito sempre foi atual na história da igreja. Ela é para nós hoje também. Podemos experimentar essas torrentes do Espírito. Basta que tenhamos sede de Deus e o busquemos de todo o nosso coração.

 

4

O Derramamento do Espírito

TEM O SEU PREÇO

 

Mão há derramamento do Espírito sem preço. Avivamento não é algo superficial. Ele não é dado sem que primeiro haja um sério preparo da igreja. Avivamento é preparar o caminho do Senhor para que ele se manifeste (Lc 3. 4). Avivamento implica mudança radical de vida.

Existem diversas pessoas anunciando hoje um avivamento de muito barulho, muita festa, muita emoção, muito movimento, pouca consistência e nenhuma mudança de vida.

Há aqueles que buscam um avivamento inti­mista, subjetivista, sensacionalista, de experiências arrebatadoras, de calafrios na espinha, de crises de choro, de sopros poderosos, de visões celestiais, de revelações arrepiantes e línguas estranhas, mas não querem mudar de vida; não têm sede de santidade.

Uns estão confundindo avivamento com dons espirituais. Os dons são importantes, são contem­porâneos, são distribuídos soberana e livremente pelo Espírito Santo (1 Co 12.11), mas a presença deles na igreja não é evidência de avivamento. Muitos têm os dons, mas não produzem o fruto do Espírito. Têm carisma, mas não têm caráter cristão. A igreja de Corinto era dotada de todos os dons (1 Co 1.7), mas era imatura e carnal (1 Co 3.1-3).

Vemos hoje muitas pessoas buscando o dom de variedade de línguas, entendendo que ele é a evidência do batismo com o Espírito Santo, a prova irrefutável do revestimento de poder e o selo distintivo do avivamento, não é este, obviamente, o ensino do Novo Testamento. A evidência do poder do Espírito manifesta-se numa vida santa e comprometida com o testemunho ousado do evangelho (At 1.8).

Outros confundem avivamento com um culto animado, com bastante som, muita música, muita agitação e pouca ordem, onde o que importa é sentir-se bem.

Há ainda aqueles que andam sedentos por um avivamento de milagres, curas, exorcismos e sinais extraordinários. Correm as igrejas. Mudam de denominação. Estão sempre atrás da bênção e se esquecem de ser bênção. Erlo Stegen diz no livro Reavivamento na África do Sul: "Se você não é bênção onde está, será maldição onde for."

Creio que o livro de Joel é um referencial para nós sobre o que é o derramamento do Espírito e o seu verdadeiro preço. Se queremos ver as torrentes de Deus caírem sobre a igreja, não podemos con­tornar esse caminho, escapar por atalhos ou remo­ver essas marcas.

 

1. O derramamento do Espírito é precedido de uma consciência de crise.

Joel está descrevendo uma crise avassaladora que sobreveio a Israel, como conseqüência do juízo de Deus sobre o pecado do povo. Essa crise é descrita de três formas:

1.1 Vieram quatro bandos de gafanhotos (Jl 1.4).

O cortador, o migrador, o devorador e o destruidor. Esses agentes do juízo de Deus devastaram as plantações, deixando um rastro de desolação e morte.

1.2 Veio uma seca implacável (Jl 1.10-18).

Assolou todo o país, deixando uma marca indelével de fome, miséria e pobreza.

1.3 Veio o cerco de um inimigo numeroso (Jl 1.6;2.1-11.)

Esmagou o povo impiedosamente, espoliando e arruinando a nação.

É no âmago dessa crise dolorosa, no meio desse cenário de dor e desonra, que Joel levanta sua voz para convocar a nação a buscar a Deus. Toda aquela tragédia era resultado do pecado do povo. Só a volta para o Senhor poderia reverter aquela amarga situação.

Assim também, precisamos ter consciência de que a igreja está passando por crise. Ela está desolada (Is 62.4). Está, como Ziclague, ferida e saqueada pelo inimigo (1 Sm 30.1-6). A igreja parece, hoje, com Sansão - um gigante que ficou sem visão e sem forças — e está dando voltas sem sair do lugar (Jz 16.20,21). Há fome e inquietação no arraial de Deus. Há uma seca avassaladora. As ovelhas já não sabem mais o que são pastos verdes. Estão comendo palha e alimentos secos. O inimigo tem cirandado no meio da congregação dos santos. Escândalos escabrosos afloram com muita freqüên­cia no meio do povo de Deus. Há pecados ocultos e coisas horrendas sendo feitas e praticadas por pessoas que empunham o estandarte do Senhor (Ez 8.3-13). Há falta de amor, de comunhão e de simplicidade no meio do povo de Deus. A igreja, ao invés de ser imitadora da Nova Jerusalém, aberta a todos (Ap 21.13) e fechada ao pecado (Ap 21.27), tem sido fechada ao pecador e aberta ao pecado.

A igreja está em crise na doutrina, na ética e na evangelização. Doutrinas de homens têm entrado nas igrejas. O relativismo ético tem sido característica de muitos cristãos. A igreja está sem autoridade e sem entusiasmo para evangelizar. Por isso está murchando, diminuindo em muitos lugares.

Se queremos um derramamento do Espírito, precisamos, primeiro, compreender que estamos em crise e colocar nosso rosto no pó.

 

2. O Derramamento do Espírito é marcado por uma volta para Deus.

Qual é o processo dessa volta para Deus?

2.1 Volta para uma relação pessoal com Deus. "...convertei-vos a mim... " (Jl 2.12.) O caminho do avivamento é aberto quando voltamos as costas para o pecado e a face para o Senhor. Não há derramamento do Espírito sem retorno para Deus. Não é apenas um retorno à igreja, à doutrina, a uma vida moral pura, mas uma volta para uma relação pessoal com Deus. A maior prioridade da nossa vida é voltarmo-nos de todo o nosso coração para o Senhor; é gozar­mos da intimidade de Deus. Jesus, quando constituiu os doze apóstolos, determinou-lhes, prioritariamente, que estivessem com ele; só depois os enviou a pregar (Mc 3.14,15). O Deus da obra é mais importante que a obra de Deus. O Senhor está mais interessado na nossa relação com ele do que em nosso ativismo religioso.

Muitos hoje estão como Pedro no Getsêmani, seguindo a Jesus de longe. Não querem se comprometer, não querem se envolver. Deus não tem sido o centro das atenções e das aspirações do seu povo. Cada um corre atrás de seus próprios interesses, como nos dias do profeta Ageu (Ag 1.9), e deixa o Senhor de lado. É por isso que precisamos desse derramamento do Espírito!

2.2 Volta com sinceridade para Deus.

"... de todo o vosso coração..." (Jl 2.12.) São muitos aqueles que, num momento de forte emoção, após um congresso, um encontro, um retiro espiritual ou uma mensagem inspirativa, fazem promessas lindas para Deus. Comprometem-se a orar com mais fervor, a ler a Palavra com mais avidez, a testemunhar com mais ardor. Outros derramam lágrimas no altar do Senhor, fazem votos solenes de que andarão com ele em novidade de vida, mas todo esse fervor desaparece tão rápido como a nuvem do céu e o orvalho que se evapora da terra; e já no pátio da igreja, antes mesmo que o sol desponte, anunciando um novo dia, tudo já caiu no esquecimento.

Os crentes hoje são muito superficiais. Não levam Deus a sério. Falam com frivolidade. Prometem o que não desejam cumprir. Honram a Deus só de lábios, negam-no com sua vida e não se voltam para ele de todo o coração.

Há aqueles que só andam com Deus na base do aguilhão. Só se voltam para ele no momento em que as coisas apertam. Só se lembram do Senhor na hora das dificuldades. Mão se voltam para ele porque o amam ou porque estão arrependidos, mas porque não querem sofrer. A motivação da busca não está em Deus, mas neles mesmos e no que podem receber dele. Para estes, o Senhor é descartável (Os 5.15; 6.14).

Deus não tolera uma religiosidade assim. Ele não aceita coração dividido. Somos ou não somos totalmente dele.

2.3 Volta com diligência para Deus.

"... e isto com jejuns..." (Jl 2.12.)

Quem jejua está dizendo implicitamente que a volta para Deus é mais importante e mais urgente que o sustento do corpo.

O jejum é instrumento de mudança, não em Deus, mas em nós. Leva-nos ao quebrantamento, à humilhação e a ter mais gosto pelo pão do céu do que pelo pão da terra.

Jejum não é greve de fome, regime para ema­grecer ou ascetismo. Também não é meritório. Ele sempre se concentra em finalidades espirituais.

Nosso jejum deve ser para Deus: "...Quando jejuastes... acaso, foi para mim que jejuastes, com efeito, para mim?" (Zc 7.5.) Deve também provocar em nós uma mudança em relação às pessoas à nossa volta (Is 58.3-7). Se o nosso jejum não é para Deus e se não muda a nossa vida em relação às pessoas que nos cercam, então fracassamos.

O jejum é uma experiência pessoal e íntima (Mt 6.16-18). Há momentos, porém, que ele torna-se aberto, declarado, coletivo. Joel conclama o povo todo a jejuar nesse processo de volta para Deus (Jl 2.15). O rei Josafá, numa época de profunda agonia e de ameaça para o seu reino, convocou toda a nação para jejuar, e o Senhor lhe deu o livramento (2 Cr 20.1-4, 22). A rainha Ester convocou todo o povo judeu para jejuar três dias, e Deus reverteu uma sentença de morte já lavrada sobre os judeus exilados (Et 4.16). Em sinal de arrependimento, toda a cidade de Nínive voltou-se para o Senhor com jejuns (Jn 3.5-10).

Em 1756, o rei da Inglaterra convocou um dia solene de oração e jejum, por causa de uma ameaça por parte dos franceses. John Wesley comenta esse fato no seu diário, no dia 6 de fevereiro:

"O dia de jejum foi um dia glorioso, tal como Londres raramente tem visto desde a restauração. Cada igreja da cidade estava lotada, e uma solene gravidade estampava-se em cada rosto. Certamente Deus ouve a oração, e haverá um alongamento da nossa tranqüilidade."

Em uma nota ao pé da página, ele escreveu mais tarde: "A humildade transformou-se em regozijo nacional porque a ameaça da invasão dos franceses foi impedida."

Certamente o jejum é uma bênção singular.

Charles Haddon Spurgeon escreveu: "Nossas temporadas de oração e jejum no tabernáculo têm sido, na verdade, dias de elevação; nunca a porta do céu esteve mais aberta; nunca os nossos corações estiveram mais próximos da glória."

Há alguns anos, um pastor presbiteriano, da Coréia do Sul, esteve no Brasil e contou sua dolorosa experiência de estar vários anos trabalhando arduamente na mesma igreja sem ver frutos. Buscou a Deus, humilhou-se e compreendeu que precisava voltar-se mais para junto do trono. Resolveu, então, num ato ousado, fazer um jejum de quarenta dias. Comunicou o fato à igreja e à família, subiu a um monte e ali ficou orando a Deus, lendo a Palavra e sondando seu coração. Até o décimo oitavo dia, tudo parecia suave. Do décimo oitavo ao vigésimo quarto dia, uma fraqueza imensa tomou conta do seu corpo. Quase se desesperou, mas continuou firme. Do vigésimo quinto ao quadragésimo dia, uma doce paz invadiu sua alma, um gozo inefável tomou conta do seu coração. O céu se abriu sobre sua cabeça e ele glorificou ao Senhor com alegria indizível.

Após o jejum, reiniciou seus trabalhos na igreja. Seus sermões não eram novos de con­teúdo, mas havia uma nova unção. A Palavra de Deus atingia com poder os corações. De repente, a igreja começou a quebrantar-se, os pecadores vinham de todos os lados. Em três anos aquela igreja saiu da estagnação e já estava com seis mil membros.

Temos jejuado? Aqueles que aspiram a uma vida mais profunda com Deus não podem prescindir do jejum. Os homens que andaram com o Senhor e triunfaram sobre o inferno foram pessoas de oração e jejum.

2.4 Volta com quebrantamento para Deus.

"... com choro e com lágrimas..." (Jl 2.12.)

O povo de Deus anda com os olhos enxutos demais. Muitas vezes desperdiçamos nossas lágrimas, chorando por motivos fúteis demais. Outras vezes, queremos anular as emoções da nossa experiência cristã. Achamos que o choro não tem lugar em nossa vida. É por isso que estamos tão secos. Se compreendemos o estado da igreja e a nossa própria situação e não choramos é porque já estamos endurecidos.

Temos chorado como Jacó chorou no Jaboque, buscando uma restauração da sua vida? (Os 12.4.) Temos chorado como Davi chorou ao ver sua família saqueada pelo inimigo? (1 Sm 30.4.) Temos chorado como Neemias chorou ao saber da desonra que estava sobre o povo de Deus? (Ne 1.4.) Temos chorado como Jeremias chorou ao ver os jovens da sua nação desolados, vencidos pelo inimigo, e as crianças jogadas na rua como lixo? (Lm 1.16; 2.11.) Temos chorado como Pedro, por causa do nosso próprio pecado de negar a Jesus muitas vezes por covardia? (Lc 22.62.) Temos chorado como Jesus, ao ver a impenitência da nossa igreja e da nossa cidade? (Lc 19.41.)

Conhecemos o que é chorar numa volta para Deus? Nosso coração tem se derretido de saudades do Senhor? Há tempo de rir e tempo de chorar (Ec 3.4). Creio que este é o tempo de chorar, não de desespero, mas de arrependi­mento.

2.5 Volta com sinceridade para Deus.

"Rasgai o vosso coração e não as vossas vestes..." (Jl 2.13.)

Nessa volta para Deus, não adianta usar o subterfúgio da teatralizaçao. O Senhor não aceita encenação. Ele não se impressiona com nossos gestos, nossas palavras bonitas, nossas emoções sem quebrantamento. Diante dele não adianta usar fachada e fazer alarde de uma piedade for­jada, como o fariseu (Lc 18.11-14). Ele vê o co­ração (1 Sm 16.7). Diante dele não adianta "rasgar seda": é preciso rasgar o coração. Para Deus não é suficiente apenas estar na igreja (Is 1.12) e ter um culto animado (Am 5.21-23). É preciso ter um coração rasgado, quebrado, arrependido e trans­formado.

Como é triste constatar que há pessoas que passam a vida toda na igreja e nunca se humilham diante do Senhor. Outros representam o tempo todo um papel que não vivem de verdade. Esbanjam santidade, mas no coração são impuros. Fazem alarde da sinceridade, mas interiormente são hipócritas. Advogam fidelidade, mas no íntimo são infiéis.

O apóstolo Pedro tratou com muito rigor o pecado de hipocrisia na vida de Ananias e Safira. Eles se mostraram muito solidários e altruístas ao venderem uma propriedade e entregarem o valor aos apóstolos. Mas o que queriam na verdade era glória para eles mesmos. Retiveram parte do dinheiro e mentiram, dizendo que estavam entregando tudo (At 5.1-11).

Pião houve pecado que Jesus denunciasse com mais veemência do que a hipocrisia. Os fariseus, na sua hipocrisia, rasgavam as vestes em sinal de abundante espiritualidade, mas o coração estava insensível.

O que adianta cantarmos e falarmos palavras bonitas para Deus se não somos sinceros diante dele? Como podemos esperar um derramamento do Espírito se nosso coração não se rasga perante o Senhor?

 

3. A urgência da volta para Deus.

"Ainda assim, agora mesmo..." (Jl 2.12.)

A despeito da calamidade, da crise, da seca, da fome, da devastação provocada pelo inimigo, agora e não amanhã é o tempo de voltarmos para Deus.

A crise não deve nos empurrar para longe de Deus, mas para os seus braços. A frieza da igreja e o endurecimento dos corações não devem ser motivos desanimadores, mas impulsionadores para buscarmos o derramamento do Espírito. Os aviva-mentos sempre aconteceram em tempos de crise. É quando os recursos da terra se esgotam que as comportas do céu se abrem. Por isso, erguamos nosso clamor como o profeta Oséias: "... é tempo de buscar ao Senhor, até que ele venha, e chova a justiça sobre vós." (Os 10.12.)

O tempo de voltar para Deus é agora. Nada é mais urgente do que esse encontro com o Senhor. Deus nos quer agora. Avivamento é para hoje. O tempo de Deus é agora, a despeito da crise. Não podemos agir insensatamente como Faraó. Quando o Egito estava atormentado pela praga das moscas, ele pediu a Moisés para orar a Deus, para que a terra fosse liberta daquela calamidade. Moisés lhe perguntou: quando você quer que eu ore? Ele respondeu: amanhã (Êx 8.8-10). Muitos cristãos também estão deixando para amanhã a sua volta para Deus. Estão protelando sua entrega total ao Senhor. Estão deixando de usufruir das bênçãos hoje, por negligência e dureza de coração.

O acerto de vida é urgente. Joel ordena: "Tocai a trombeta em Sião..."(Jl 2.15.) A trombeta só era tocada em época de emergência. Mas estejamos atentos ao fato de que a trombeta é tocada em Sião e não no mundo. O juízo começa pela casa de Deus (1 Pe 4.17). Primeiro a igreja precisa voltar-se para o Senhor, depois o mundo o fará. O avivamento começa com a igreja e, a partir dela, atinge o mundo. Quando a igreja acerta sua vida com Deus, do céu brota a cura para a terra (2 Cr 7.14).

 

4. O encorajamento da volta para Deus.

"...porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em ir ar-se, e grande em benignidade..." (Jl 2.13.)

Podemos esperar um derramamento do Espírito com base na infinita misericórdia do Senhor. Avivamento, segundo o profeta Habacuque, é Deus lembrar-se da sua misericórdia, na sua ira (He 3.2). Segundo Isaías, avivamento é Deus afastar de nós sua ira e voltar para nós o seu rosto (Is 64.7-9). Se houver arrependimento em nosso coração, temos a garantia de que o Senhor usará de misericórdia para conosco e restaurará nossa sorte.

 

5. Quem deve voltar-se para Deus.

"...congregai o povo, santificai a congre­gação..." (JI 2.16.) '

"...chorem os sacerdotes, ministros do Senhor..." (Jl 2.17a.)

Ninguém deve ficar de fora dessa volta para Deus. Todo o povo deve ser congregado. Toda a congregação deve ser santificada.

Todavia, o profeta começa a particularizar os que devem fazer parte dessa volta:

5.1 Os anciãos.

A liderança precisa estar à frente, na vanguarda daqueles que desejam um derramamento do Espírito. Os líderes são os primeiros que precisam ter pressa para acertar sua vida com Deus. Os anciãos são os primeiros que devem colocar o rosto em terra (Js 7.6). A igreja é o retrato da liderança que tem. Ela nunca está à frente de seus líderes. Os líderes devem ser os primeiros a comparecer às reuniões de oração e às noites de vigílias, colocando-se na brecha da intercessão pelo povo. A liderança precisa ser modelo para o rebanho (lPe 5.1-4).

5.2 Os filhinhos, os jovens.

Faraó quis reter na escravidão a juventude, achando que lugar de jovem é no Egito (Êx 10.10,11). Muitos hoje acham que jovem tem mais é que curtir a vida e desfrutar dos manjares do mundo, pois a juventude passa e eles precisam ter prazer na mocidade. Por isso, muitos jovens estão sendo profanos, como Esaú, e trocando o direito de primogenitura por um prato do guisado do mundo (Hb 12.16,17). Outros, como Sansão, estão quebrando os votos de consagração que fizeram a Deus, envolvendo-se em relações pecaminosas e escorregadias que poderão levá-los à falência espiritual (Jz 16.1, 4, 18-25).

Se queremos mesmo um derramamento do Espírito, precisamos ter uma juventude com a fibra de José, que prefere ser preso a ir para a cama com uma mulher que não é a sua esposa (Gn 39.12). Precisamos ter uma juventude do timbre de Daniel, que resolve firmemente no seu coração não se contaminar, ainda que isso seja um risco para o seu sucesso (Dn 1.8).

O lugar de jovem crente ter prazer não é nos antros do pecado., nos subúrbios dos vícios, nas camas dos motéis ou na roda dos escarnecedores, mas na presença de Deus, pois só aí há plenitude de alegria (Sl 16.11). O lugar dos jovens crentes é no altar de Deus, buscando esse revestimento do poder do céu.

5.3 As crianças.

Até as crianças em fase de aleitamento precisam estar com sua mãe, nesse processo de busca. Nossos filhos precisam amar os altares de Deus, desde a mais tenra idade. Nossas crianças não podem ser entre­gues à babá eletrônica, mestra de nulidades e perversões, as mais aberrantes. Nossas crianças precisam amar ao Senhor. Nós, pais, devemos inculcar a Palavra de Deus na mente de nossos filhinhos (Dt 6.4-9). Precisamos ter o mesmo zelo de Joquebede, que aproveitou a infância do seu filho, Moisés, para plantar no seu coração as gloriosas verdades de Deus; e isso determinou, mais tarde, o curso de sua vida e da história do povo israelita (Hb 11.23-29). Precisamos ter o mesmo compromisso que Lóide e Eunice tiveram com Timóteo, ensinando-lhe as sagradas letras desde a infância (2 Tm 1.5; 3.14,15).

5.4 Os noivos no dia do casamento.

Voltar-se para Deus e acertar a vida com ele é mais urgente do que se casar no dia do casamento. Não há compromisso mais vital e mais premente do que esse. Nada mais pode ocupar a primazia da sua agenda.

5.5 Os sacerdotes e ministros.

Os sacerdotes e os ministros são convocados a chorar e orar em favor do povo. Nossos pastores andam secos demais, pregam com os olhos enxutos demais, oram pouco demais. Um dos maiores obstáculos para o avivamento tem sido os pastores. Estão tão acostumados com o sagrado que já não são mais impactados pela Palavra de Deus. Estão tão confiados no seu intelectualismo que já não dependem mais do Senhor.

C. H. Spurgeon dizia para seus alunos que se os pastores não forem homens de oração, seu rebanho será digno de pena. Entretanto, quando o pastor se humilha diante de Deus e começa a buscar avivamento, a congregação toda é contagiada. Quando ele vai para a casa do Senhor e ali chora, derramando lágrimas em favor da igreja, o Espírito começa a mover-se no meio do povo.

Quando olhamos para a história do povo de Israel, constatamos que, sempre que líderes piedosos estavam à frente, o povo andava com Deus. Porém, quando os líderes se desviavam, o povo todo se afastava do Senhor.

Quando o ministro não leva Deus a sério, em vez de bênção, ele traz maldição para o rebanho (Ml 2.2). Quando o ministro se aparta do Senhor, o povo passa a ser destruído (Os 4.6-10). Quando o ministro deixa de andar com Deus, em vez de guia espiritual, ele passa a ser um laço e uma armadilha perigosa para o povo (Os 5.1,2).

É tempo de os pastores colocarem o rosto no pó e de os ministros se angustiarem por causa da sua sequidão e esterilidade. Também é tempo de os sacerdotes chorarem pelo povo de Deus e clamarem por socorro até que o Senhor restabeleça nossa sorte.

 

6. O que acontece depois da volta para Deus.

Quando a igreja se volta para Deus e acerta sua vida com ele, ele se compadece do seu povo (Jl 2.18-27); ao invés de fome, há fartura (vv. 2.19, 24); ao invés de opressão do inimigo, há libertação (v. 20); ao invés de tristeza e de choro, há alegria (v. 21); ao invés de seca, há chuvas abundantes (v. 23); ao invés de prejuízo, há restituição (v. 25); ao invés de vergonha, há louvor (v. 26); ao invés de lamentação e de solidão, há a plena consciência de que Deus está presente (vv. 26,27).

Vejamos agora o que acontece depois da volta e da restauração:

6.1 O derramamento do Espírito.

"E acontecerá depois que derramarei o meu Espírito..." (Jl 2.28.)

O derramamento do Espírito não acontece antes, mas depois; só depois que a igreja se volta para Deus, se arrepende do seu pecado e acerta sua vida com o Senhor. Orar por avivamento sem tratar do pecado é ofender a Deus. Buscar o derramamento do Espírito sem voltar-se para Deus e abandonar o pecado é atentar contra a santidade do Senhor.

6.2 A quebra de preconceitos.

O Espírito de Deus nos afasta do pecado e nos aproxima das pessoas. Onde o Espírito de Deus domina, reina o amor, quebram-se as barreiras, rompem-se as cadeias dos preconceitos e triunfa a comunhão. Vejamos mais detidamente a aborda­gem do profeta Joel:

a) Quebra do preconceito racial.

"... derramarei o meu Espírito sobre toda a carne..." (Jl 2.28.)

"Toda a carne" aqui não é quantitativamente falando, mas qualitativamente. O Espírito de Deus é derramado sobre todos aqueles que se voltam para o Senhor em todas as raças, povos, tribos, línguas e nações. Essa bênção não é apenas para os judeus; é também para os gentios. A des­cendência de Abraão, sobre quem Deus prometeu o derramamento do Espírito (Is 44.5), não é segundo a carne (Rm 2.28,29); todo aquele que crê em Cristo é filho de Abraão e herdeiro dessa gloriosa promessa (Gl 3.29; At 2.38,39). Agora já não há judeu nem grego (Gl 3.28). Agora a parede da separação e o muro das inimizades já foram derrubados (Ef 2.14). Agora todos os que crêem são concidadãos dos santos e membros da família de Deus (Ef 2.19). Por isso, quando o Espírito foi derramado na casa de Cornélio, Pedro não teve dúvidas de batizá-los e recebê-los na comunhão da igreja (At 10.34,35, 44-48).

b) Quebra do preconceito sexual.

"... vossos filhos e vossas filhas profetizarão..." (Jl 2.28.)      

O Espírito é derramado sobre filhos e filhas. não há distinção. Não há separação. Não há acepção. na igreja de Deus não há espaço para a margi­nalização das mulheres. Elas também falam em nome do Senhor, conforme os oráculos de Deus, e podem profetizar, como profetizaram as filhas de Filipe (At 21.8,9).

c) Quebra do preconceito etário.

"... vossos velhos sonharão e vossos jovens terão visões." (Jl 2.28.)

Deus usa o velho e o jovem. Ele não se limita à experiência do velho nem apenas ao vigor do jovem. Ele torna o jovem mais sábio que o velho (Sl 119.100) e o velho mais forte que o jovem (Is 40.29­31).

Onde Deus derrama seu Espírito, os velhos recebem novo alento. Como Calebe, deixam de viver apenas de lembranças e começam a ter sonhos na alma para olharem para a frente, buscando novos desafios (Js 14.6-14).

d) Quebra do preconceito social.

"Até sobre os servos e sobre as servas derra­marei o meu Espírito naqueles dias." (Jl 2.29.)

O Espírito de Deus não é elitista. Ele vem sobre o rico e o pobre, sobre o doutor mais ilustrado e o analfabeto. Quando o Espírito Santo é derramado sobre as pessoas, elas podem ser rudes como os pescadores da Galiléia, mas, na força do Senhor, revolucionam o mundo. "...Deus escolheu as cousas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as cousas fracas do mundo para enver­gonhar as fortes; e Deus escolheu as cousas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus." (1 Co 1.27-29.)

Mesmo que tenhamos limitações na cultura e formação intelectual, o Espírito Santo pode usar-nos ilimitadamente. A obra de Deus não avança com base na nossa sabedoria e força, mas no poder do seu Espírito (Zc 4.6).

 

 5

O Derramamento do Espírito

PRODUZ RESULTADOS EXTRAORDINÁRIOS

 

Quando Deus fende os céus e desce, os montes tremem na sua presença (Is 64.1), as nações se estremecem diante do Todo-poderoso e os ad­versários do Senhor se apercebem de sua majestade absoluta (Is 64.2).

Vejamos quais são os resultados desse avivamento que aguardamos:

 

1. Conversões abundantes.

"E brotarão como a erva, como salgueiros junto às correntes das águas. " (Is 44.4.)

Um dos sinais visíveis e irrefutáveis do der­ramamento do Espírito é o tremendo e espantoso crescimento da igreja. Os corações mais endu­recidos são quebrados e os pecadores mais rebeldes são arrastados com cordas de amor aos pés do Salvador, em profunda convicção de pecado. O próprio Deus varre dos corações endurecidos a incredulidade, e os que se salvam brotam como a erva e como os salgueiros junto às correntes das águas. Em tempos de avivamento, Deus trabalha para a igreja. Ele mesmo atrai os pecadores de forma irresistível. A igreja vê mais conversões em um só dia pela ação do Espírito do que em dezenas de anos de trabalho extenuante na força da carne. As pessoas, até então indiferentes e insensíveis, são convencidas de pecado. Os corações passam a ter sede de Deus e, em agonia de alma, as pessoas procuram colocar sua vida em harmonia com ele. As multidões famintas abandonam suas crenças vãs e buscam o Senhor, o manancial das águas vivas.

Foi assim no Pentecoste. Quando o Espírito desceu, quase três mil pessoas se renderam a Cristo num só dia (At 2.41). Quando o Senhor visitou a Missão Kwa Sizabantu, na África do Sul, em 1966, num poderoso derramamento do Espírito, imediatamente os feiticeiros mais embrutecidos pela cegueira do diabo vieram correndo, chorando, clamando pela misericórdia de Deus. Aos borbotões, as pessoas vinham de todos os lados, ao ponto de os missionários não terem tempo para comer, tamanha era a urgência com que os pecadores se apressavam para acertar sua vida com Deus. As casas já não comportavam a multidão que era atraída pela própria mão de Deus. Essas pessoas ficavam em campo aberto, debaixo das árvores, noite e dia, com ansiedade na alma, com um propósito único: entregar a vida ao Senhor Jesus. Hoje, nessa missão, há um templo para quinze mil pessoas, e são muitos os que ainda são alcançados por Jesus ali.

Quando o braço onipotente de Deus se mani­festa num avivamento, as barreiras são quebradas, os antros do pecado são invadidos, as portas do inferno são arrombadas, o império das trevas é saqueado e os pecadores cativos de suas paixões e vícios degradantes são levados aos pés de Jesus, onde recebem vida nova e abundante.

O poder do Espírito é como uma dinamite que explode o coração mais endurecido. Mesmo com um coração duro como ferro e insensível como pedra, não se pode resistir a essa ação do Espírito Santo. Se alguém se confessa ateu, terá seus olhos abertos para ver que Deus é real e que não pode viver sem ele. Se alguém é agnóstico, vai compre­ender que a intimidade do Senhor é para aqueles que o temem. Sendo alguém incrédulo, vai perceber a fé salvadora florescer com vigor no seu coração. Sendo idolatra, vai reconhecer que os ídolos nada são e que não existe senão um só Deus vivo e verdadeiro. Alguém que é espiritualista vai arrepender-se de estar preso pelas cordas da feitiçaria e vai buscar, arrependido, o perdão de Jesus. Alguém que se embrenhou nos caminhos sinuosos de falsas e perigosas seitas vai correr, quebrantado e arrependido, para os braços do Salvador. Aquele que está amarrado pelas ataduras de suas paixões carnais e dominado por vícios degradantes vai conhecer o poder libertador do nome de Jesus. O que viveu na igreja, mas apenas representou um papel de convertido, vivendo uma vida dupla, vai ver as máscaras caindo e, então, a vida de Deus vai explodir em seu coração.

Devemos saber que ninguém é um caso difícil para Deus. Se ele derramar sobre nós o poder do seu Espírito, cairemos de joelhos, com o rosto em terra, como Saulo de Tarso, pedindo a misericórdia do Senhor (At 9.3-6).

Essa é a realidade de todos os avivamentos que Deus concedeu à sua igreja. Quando John Knox chegou à Escócia, em 1559, depois da terrível perseguição de Maria Tudor, muitas vezes sua mulher o chamava para comer e ele, prostrado, com o rosto em terra, dizia: "Como posso comer se o meu povo está indo para o inferno?" Prosseguia na sua oração e clamava a Deus debaixo de lágrimas copiosas; "Dá-me a Escócia para Jesus, senão eu morro." no ano seguinte, em 1560, a Escócia já não era mais a mesma. A religião oficial não era mais a católica, mas a presbiteriana. Multidões renderam-se a Cristo, em resposta às orações e à pregação de John Knox.

Quando John Wesley, o evangelista do coração aquecido, se levantava para pregar, as multidões eram fuziladas por tamanha convicção de pecado que os homens mais endurecidos se derretiam em choro copioso, buscando o socorro de Deus. A Palavra esmigalhava como martelo os corações mais insensíveis, feria como espada as consciências mais cauterizadas, inflamava como fogo os corações mais gelados; e pecadores aos montes corriam para os braços de Jesus.

Quando Jonathan Edwards, depois de jejuar e orar por uma semana, pregou o sermão "Pe­cadores nas mãos de um Deus irado", a multidão presente chorava, gritava e gemia sob forte convicção de pecado; caíam dos bancos, pros-trando-se de joelhos, rogando ao Senhor mise­ricórdia.

Quando David Brainerd, embrenhado no cora­ção das selvas, cheio do poder do Espírito, pregava aos índios canibais, rudes e endurecidos, viu as torrentes de Deus descerem sobre aquele solo ressequido; e milhares de almas saíram da garganta do inferno.

Hoje a igreja está fraca e sem poder. Por isso, não há crescimento. O crescimento vem de Deus. É ele quem acrescenta à igreja os que vão sendo salvos (At 2.47). Mas quando as janelas do céu se abrem e o Senhor derrama o seu Espírito, multidões são despertadas, o reino das trevas é despovoado e a igreja alarga o espaço da sua tenda (Is 54.2).

Ah, como aspiramos ver, nestes dias, essas maravilhas de Deus! Só um derramamento do Espírito pode reerguer a igreja e trazer as multidões perdidas e famintas ao colo do bom pastor.

 

2. Testemunho ousado pela Palavra.

"Um dirá: eu sou do Senhor..." (Is 44.5.) Hoje, apenas cinco por cento dos crentes já ganharam uma pessoa para Cristo. Os outros noventa e cinco por cento estão omissos, calados, encavernados, acovardados e amordaçados. Muitos vivem escondidos, não têm coragem de se comprometer com Jesus. Seguem o Mestre de longe.

Todavia, quando o Espírito Santo vem e inflama o coração, os crentes tímidos perdem o medo, saem da toca, do casulo, das quatro paredes, e vão lá fora, onde os pecadores estão, nos becos, nas praças, nas ruas, nas escolas, nas universidades, nos hospitais, nas fábricas, nas lojas, nas casas, e testemunham com ousadia e autoridade, dizendo: Eu sou do Senhor. Minha vida pertence a Jesus. Estou comprometido com ele. Jesus é o Senhor da minha vida, do meu lar, dos meus negócios. Ele é o prazer maior da minha vida. Ele é a minha alegria, a minha paz, a minha herança, o meu tesouro mais precioso.

A igreja está presente em todos os segmentos da sociedade. Como fermento, ela pode permear toda a massa. Se cada crente, cheio do Espírito, se levantar para dar testemunho vibrante do evangelho, haverá uma tremenda revolução. Os alicerces do inferno serão balançados. A igreja apostólica invadiu todos os quadrantes do império romano, em menos de cinqüenta anos, porque cada crente tornou-se uma testemunha ousada de Jesus (At 8.1-4). Ninguém pode deter a igreja se ela compreende essa verdade e a coloca em prática.

Imaginemos o impacto que as pessoas sen­tiriam se os alunos e professores evangélicos, cheios do poder de Deus, se levantassem em sala de aula, nas escolas e nas universidades, dizendo: Eu sou do Senhor. Milhares de alunos, ao verem a obra de Deus na vida desses cristãos, se renderiam a Cristo.

É impossível ser revestido do poder do Espírito Santo e ficar acomodado. Howeel Harris, por exemplo, no dia 30 de março de 1735, foi à igreja paroquial de Targarth, no País de Gales, e ali ouviu o ministro anunciando que a ceia do Senhor se realizaria no domingo seguinte. O pastor, sabedor de que muitos irmãos estavam ausentando-se da ceia, disse à congregação: "Muitos deixam de comparecer à ceia do Senhor porque não se sentem preparados. Quem não está preparado para participar da ceia, não está preparado para orar. Quem não está preparado para orar, não está preparado para viver. Quem não está preparado para viver, não está preparado para morrer."

Esse aviso explodiu como bomba no coração de Howeel Harris e, no mesmo instante, ele rendeu-se a Cristo. No dia 18 de junho de 1735, outra experiência gloriosa lhe aconteceu, quando estava lendo a Bíblia e orando na torre de Llangasty. Ali o Espírito de Deus foi derramado sobre ele com poder. Seu coração começou a arder de compaixão pelas almas. Como não sabia pregar, começou a visitar os enfermos, lendo para eles alguns livros evangélicos. A unção de Deus era tão forte sobre ele que, à medida que ia lendo, as pessoas que o escutavam iam-se convertendo. Daí a pouco, as pessoas iam-se ajuntando em grandes grupos para ouvirem as suas leituras. Mais tarde, Deus o dotou de grande eloqüência, e ele veio a ser um dos maiores pregadores daquele século, levando a Cristo milhares de vidas. Enfrentou oposições, perseguições e ameaças de morte, mas, com ousadia, testemunhou com poder em todo o seu país. Até o funeral desse valoroso homem trouxe sobre a sua terra um poderoso despertamento. Mais de vinte mil pessoas estavam presentes. A ceia do Senhor foi celebrada. Centenas de pessoas foram convertidas a Cristo, numa manifestação viva de Deus no meio da grande multidão presente.

Quando Deus envia sobre a igreja o seu Espírito, ele tem um firme propósito: que a igreja tenha poder para testemunhar, "...recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas tes­temunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra." (At 1.8.)

O sinal evidente de uma pessoa revestida de poder não é falar em outras línguas, mas amar profundamente as almas perdidas e testemunhar a elas com ousadia.

A palavra testemunha significa mártir. Nós, portanto, recebemos poder não apenas para viver e pregar, mas sobretudo para morrer, se preciso for, pelo testemunho do evangelho. Quem foi batizado com esse poder do céu não recua diante dos perigos, não retrocede diante de ameaças, não se acovarda diante de açoites, cadeias e prisões. Quem conhece o poder de Deus não treme diante do poder da morte. A Bíblia diz que "...o justo é intrépido como o leão" (Pv 28.1). Ainda que os homens, na sua fúria e perversidade, o açoitem, o maltratem, o firam e o matem, ele não cessa de falar do nome de Jesus.

Foi assim com o pré-reformador John Huss. Ele conheceu o poder do evangelho através dos escritos de John Wycliff. Começou, então, a pregar, na Boêmia, a salvação pela fé em Cristo Jesus. Os bispos o perseguiram. Intimidaram-no. Constran­geram-no a se retratar de suas pregações evan­gélicas. Mas ele jamais retrocedeu. Prenderam-no em um calabouço. Angustiaram-lhe a alma e afli­giram seu corpo com escassez de pão. Mas John Huss, sereno e seguro, manteve-se firme. Enviaram-lhe uma proposta para que abandonasse sua pregação e, em troca, receberia imediata liberdade. Ele respondeu sem detença: "Se me soltarem hoje, amanhã estarei nas praças pregando o evangelho novamente."

Pronunciaram, então, sua sentença de morte. Os bispos zombaram dele mas, como um príncipe de Deus, permaneceu imperturbável. Exortaram-no a retratar-se novamente, mas ele voltou-se para o povo e disse: "Com que cara, pois, contemplaria os céus? Como olharia para as multidões de homens a quem preguei o evangelho puro? Não! Aprecio mais a salvação do que esse pobre corpo, ora destinado à morte."

Os bispos, então, o amaldiçoaram e colocaram em sua cabeça uma carapuça em que estavam desenhadas figuras horrendas de demônios com a palavra "arqui-herege".

"Com muito prazer", disse Huss, "levarei sobre a cabeça esta coroa de ignomínia, por teu amor, Jesus, que por mim levaste uma coroa de espinhos."

Quando o levavam para a estaca, os prelados disseram: "Agora, votamos tua alma ao diabo."

"E eu", disse John Huss, "entrego o meu espírito em tuas mãos, ó Senhor Jesus, pois tu me remiste,"

Então foi entregue às autoridades seculares e levado para o lugar da execução, acompanhado por um numeroso séquito. Ali seu corpo ardeu em chamas, enquanto cantava: "Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim", até que sua voz silenciou na terra e foi entoar louvores a Jesus no céu.

Oh! aguardamos o tempo em que cada crente, impactado pelo poder do Espírito, dirá como aqueles quatro leprosos no arraial dos siros: "...Não fazemos bem: este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã, seremos tidos por cul­pados; agora, pois, vamos, e o anunciemos..." (2 Rs 7.9.)

 

3. Testemunho ousado pela vida.

"... o outro ainda escreverá na própria mão: eu sou do Senhor..." (Is 44.5.)

A grande tragédia dos nossos dias é que muitas pessoas dizem que são do Senhor, proclamam com eloqüência que pertencem a Jesus, mas, quando se examina mais acuradamente como elas vivem no namoro, no casamento, nos negócios, nos estudos, no trabalho, no lazer, chega-se a uma conclusão contrária. Elas dizem que são do Senhor, mas sua vida prova o contrário; falam uma coisa e vivem outra. Testemunho não é apenas o que falamos: é o que somos. Dwight Moody dizia: "Piada fecha tanto os lábios como a vida." Outro grande gigante de Deus, um dos pilares do movimento metodista, John Fletcher, afrmava: "As verdades que eu prego aos outros são as mesmas das quais me alimento."

Isaías diz que as pessoas escreverão na própria palma da mão: "Eu sou do Senhor". O que é que prova que somos do Senhor? O que fazemos testifica de quem somos. Se um detetive acompa­nhasse nossos passos, ouvisse nossas palavras, visse nossas ações e reações, observasse nosso comportamento dentro do lar, nossas atitudes nos negócios, o modo de ganhar e gastar o dinheiro, a maneira de tratar o cônjuge, os filhos, os pais, os irmãos, os vizinhos, chegaria à conclusão de que realmente somos do Senhor?

Suportaríamos uma investigação em nossa vida íntima, particular, como aquela que os inimigos de Daniel lhe fizeram, para só chegarem à conclusão de que ele era do Senhor? (Dn 6.4.)

Infelizmente, muitas pessoas que falam de Jesus não vivem com ele, levam vida dupla. Representam diversos papeis. Usam mascaras. Tem um comportamento em casa e outro na igreja. Pregam santidade na igreja e vivem de forma desonesta. São como Naamã, heróis no campo de guerra, leprosos em casa. Com os de lota, são educados e polidos; com a família, ,são grosseiros e amargos. Lá fora, são pessoas bonitas, dignas e honradas; dentro do lar, ao tirarem as máscaras, estão cheias de lepra repulsiva. Falam uma coisa e vivem outra. São fariseus. São hipócritas.

Se queremos ver os pecadores rendendo-se a Cristo, precisamos ter vida santa. Precisamos testemunhar não apenas com palavras bonitas, mas com vida certa. Hoje os crentes estão perdendo o referencial de santidade. Estão tão entusiasmados com o mundo que o imitam e seguem seus modelos. Muitos querem servir a Deus no Egito mesmo (Êx 8.25). Outros não querem romper com o pecado de vez; querem ficar perto do Egito, transigindo com o pecado (Êx 8.28). A igreja, muitas vezes, ao invés de levar a luz de Cristo para o mundo, está trazendo as trevas do mundo para dentro dela. Ao invés de ser um povo santo e diferente, está copiando o mundo, no falar, no vestir, no cantar e no agir. Muitas vezes, a própria igreja está quebrando o muro que a distingue do mundo. Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Se somos do mundo, então deixamos de ser igreja de Deus.

Existem muitos crentes que falam de Deus, mas estão como Sansão, envolvidos até o pescoço com impurezas e toda sorte de mundanismo. Uns são como os irmãos de José: passam anos e mais anos acobertando seus pecados, fazendo os outros sofrerem por causa de suas maldades e mentiras. Outros são como Absalão: vivem cheios de amar­gura com os pais, por causa das tragédias familiares não-resolvidas. Outros, ainda, são como Caim: vivem com o coração azedo de inveja e rancor. Todos estes falam de Deus com os lábios, mas o negam com a vida. São como os ateus práticos (Tt 1.16).

Todavia, quando Deus derrama o seu Espírito sobre a igreja, ela é curada dessa terrível enfermi­dade, é restaurada dessas distorções e passa a viver na luz. Sua vida torna-se coerente, transparente e então, ela testemunha de Jesus com os lábios e com a vida!

Ah, como aguardamos com ansiedade esses tempos de refrigério da parte do Senhor! Ah, como desejamos ver uma igreja que seja santa como Deus é santo! Ah, como anelamos contemplar uma igreja que vai abalar o mundo pela santidade do seu viver! Que o Senhor abra os nossos olhos, alargue as estacas do nosso coração e estique as cordas da nossa alma, para atendermos ao forte clamor da sua Palavra. Que em cada lugar onde estivermos, as pessoas vejam a glória de Deus em nós e a confirmação irrefutável, através de nossos atos, de que de fato somos do Senhor. Se a igreja com­preender essa verdade e vivenciá-la, isso abalará o mundo, despovoará o reino das trevas e causará alegria no céu.

 

 

 

 

 

 

CONCLUSÃO

 

Agora que chegamos juntos ao fim dessa caminhada, pergunto-lhe: e daí, como você vai ficar? Este será apenas um livro a mais que você vai ler este ano? Vai fechá-lo e esquecer tudo que lhe foi dito? Vai continuar vivendo do mesmo jeito? Vai tapar os ouvidos a mais esta trombeta de Deus? Vai fechar o coração a mais este apelo? Qual será a sua decisão? Neutro, você não pode ficar. Você sairá destas páginas mais quebrantado ou mais endu­recido? Não quer fazer como Elias, subir à presença do Senhor, meter a cabeça entre os joelhos e prostrar-se diante do Deus todo-poderoso, rogando-lhe que ponha um fim nestes anos de sequidão da igreja, enviando-nos restauradoras e copiosas torrentes do seu Espírito?

Esse foi o intento do meu coração ao escrever-lhe essas páginas. Esse é o fogo que arde em meu peito. Esse é o soluço de minha alma. Essa é a minha ardente expectativa.

Não desanime. Não retroceda. Não seja in­crédulo. Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, mas ele bombardeou os céus com suas orações, e as chuvas de Deus caíram sobre Israel, fazendo a terra germinar os seus frutos (Tg 5.17,18).

Você não gostaria de acertar agora sua vida com Deus, confessando e abandonando seus pecados? Não quer engrossar as fileiras daqueles que estão de joelhos, olhando para o céu, aguardando esse poderoso derramamento do Espírito?

Então prossigamos! Não desanimemos, ainda que o céu pareça estar tão claro que nenhuma nuvem seja vista no horizonte. Não desista, ore! Não descanse nem dê descanso ao Senhor (Is 62.6,7). Suba à torre de vigia e espere (Hc 2.1,2). Busque a Deus até que os céus se fendam (Is 64.1). Não cesse de orar até que ele faça chover justiça sobre nós (Os 10.12). Já se ouve o ruído dessas abundantes chuvas. Elas breve chegarão. O Espírito será derramado. Então nossa sorte será mudada, a igreja será uma coroa de glória na mão do Senhor, os pecadores converter-se-ão a Cristo e Deus será glorificado. Aleluia. Amém!